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CAPÍTULO 2: As Representações Sociais e pesquisa em educação

2.6 Representações Sociais e o fracasso escolar

A prática centrada unicamente na avaliação enquanto simples instrumento de medição compromete o sucesso escolar, pois dá ênfase ao resultado em detrimento do processo, podendo contribuir para o agravamento do fenômeno identificado como fracasso escolar.

Ao longo dos tempos, as histórias de fracasso escolar tiveram respaldo em aspectos psicológicos ligados ao estudante ou à sua família. Estudos atuais indicam que novos fatores podem contribuir para agravar o desempenho dos estudantes, atribuindo sua origem tanto às variáveis internas, centradas no estudante e em sua família, quanto às externas (relacionadas a aspectos estruturais e funcionais da instituição responsável pela educação formal desse estudante).

Collares (1988), no artigo “ajudando a desmistificar o fracasso escolar”, traz a temática do fracasso escolar enquanto problema relacionado a fatores extra e intra-escolares. A autora afirma a necessidade de desmistificar as causas externas do fracasso escolar, pela articulação destas àquelas existentes no próprio âmbito escolar, como forma de relativizar e até mesmo a inverter muitas das formas de se compreender este fracasso, dentre as quais poderíamos exemplificar a atual caracterização do fracasso escolar como "problemas de aprendizagem" e que deveria, nesta perspectiva, se configurar também e talvez, principalmente, como "problemas de ensinagem", que não se produzem exclusivamente dentro da sala de aula.

No artigo “O estado da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar (1991-2002): um estudo introdutório”, Angelucci et al., (2004) apresentam um estudo que revelou as concepções de fracasso como problema psíquico; técnico; e como questão institucional e política. Revelou ainda que permanece o predomínio de concepções psicologizantes e tecnicistas de fracasso escolar em algumas teses; em outras, coexistem concepções inconciliáveis que resultam em um discurso fraturado, dando a perceber a falta de coerência

entre elas; como há também teses que avançam a pesquisa crítica do fracasso escolar, inserindo-o nas relações de poder existentes numa sociedade de classes.

Em todo e qualquer nível de ensino, ao pensarmos em fracasso escolar imediatamente nos remetemos às consequências que provocam na vida do estudante. No ensino superior, o fracasso escolar traz desdobramentos que poderão contribuir para o histórico de reprovações destes e, em alguns casos, refletir na decisão de permanecer ou não na universidade.

Encontramos produções que apontam a questão da pobreza como um dos agravantes para o problema (ALVES MAZZOTTI, 2008a). Com relação a responsabilização à questões externas a escola, Nicolaci-da-Costa (1987, apud MAZZOTTI, 2008a, p. 41) denuncia que

curiosamente, as pesquisas sobre “fracasso escolar” tendem a priorizar as representações obtidas junto à equipe escolar e às famílias, deixando de fora aqueles que ocupam o lugar central nesse processo, ou seja, os alunos. Na mesma medida em que se constata a necessidade de ouvir os estudantes, observa- se uma lacuna referente aos argumentos atribuídos às causas do fracasso, denunciando uma carência de respaldo para as explicações a respeito desse fenômeno, levando a conclusões e inferências baseadas em suposições nem sempre comprováveis, tidas por Patto (2000, p. 155 apud ALVES MAZZOTTI, 2008b, p. 529) como “suposições fundadas em preconceitos”.

Estas suposições comprometem os resultados das pesquisas sobre o tema e dificulta um acompanhamento mais rigoroso a respeito desse fenômeno no sentido de tentar saná-lo.

Ao pesquisar sobre as causas do fracasso escolar, Mazzotti (2003, p. 2) observou que:

A presença de preconceitos e estereótipos na literatura sobre “fracasso escolar” das crianças pobres é preocupante, na medida em que estes são transmitidos aos professores nos cursos de formação, ajudando a alimentar crenças e a orientar práticas. E isto se torna mais grave quando se sabe que preconceitos e estereótipos constituem importantes mediadores da exclusão.

Embora esta pesquisa de Mazzotti (2003) não tenha como foco o ensino superior, consideramos que possa trazer contribuições no sentido de possibilitar reflexões a respeito das possíveis causas quanto ao fracasso escolar neste grau de ensino. Na referida pesquisa, a autora buscou identificar as representações sociais de professores e de alunos repetentes. Ficou evidenciada, a atribuição do fracasso escolar à falta de apoio da família na orientação e acompanhamento dos estudos e ao sistema escolar, por oferecer conteúdos desinteressantes e por não oferecer apoio e nem melhores condições de trabalho aos professores. Ao falar dos

efeitos da reprovação, a autora indica que a autoestima do estudante acaba sendo afetada, o que pode agravar a situação e levar o estudante ao abandono dos estudos.

No ensino superior, supõe-se que estes fatores, anteriormente relacionados à ausência da família e falta de acompanhamento dos estudos já tenham sido superados. No entanto, as reprovações continuam a acontecer. Em decorrência do mau desempenho, ao qual podemos atribuir várias causas, pode ocorrer o processo de retenção, em que o estudante, em virtude de reprovação ou reprovações, acaba mantendo-se no curso por mais tempo que o previsto para integralização do currículo, ou a evasão.

Conforme nos demonstra a pesquisa realizada por Polydoro (2000), o fenômeno da evasão se torna mais preocupante a partir do momento em que o indivíduo, ao deixar a universidade, passa a priorizar outras ações em sua vida, tornando a possibilidade de retorno à universidade cada vez mais remota. De acordo com a autora, muitos estudantes optam pelo trancamento enquanto forma de prorrogar uma saída definitiva da universidade. Porém, a maioria depara-se com problemas de ordem financeira e diante da necessidade de trabalhar acaba dando outro rumo para a sua vida fora da universidade, trazendo como consequência o trancamento definitivo do curso. Os resultados decorrentes da análise dessa pesquisa demonstraram que apenas 9,65% dos estudantes que efetuaram trancamento ou cancelamento retornaram a faculdade, considerando um período de cinco anos.

Igualmente preocupante, a retenção em determinado período em decorrência de reprovações, se torna outro fator passível de inviabilizar o sucesso acadêmico, na medida em que pode representar o primeiro indício para o movimento de saída do estudante da universidade. Sendo assim, entendemos que seja importante buscar descobrir se essas reprovações são influenciadas ou não pelas representações sociais construídas por esses estudantes a respeito da avaliação da aprendizagem.

Assim, retomando o objetivo desta pesquisa que é identificar e analisar as representações sociais dos estudantes com histórico de reprovação a respeito da avaliação entendemos que, dado o aporte teórico que permeia a análise, embasado na Teoria das Representações Sociais, os depoimentos desses estudantes deixam de significar meras opiniões. Tornam-se elementos que apontam caminhos para que reflitamos a respeito de um processo avaliativo que, para além de atribuir valor, considere as ansiedades e contemplem mais as necessidades e especificidades destes estudantes, e busque colaborar para a ressignificação da avaliação, contribuindo assim para sua permanência e conclusão do curso.

Por meio da Teoria das Representações Sociais pretendemos identificar quais as representações que os licenciandos estão construindo sobre a avaliação da aprendizagem. Os

caminhos percorridos para identificá-las, bem como a análise dos resultados abordados nos capítulos,a seguir.

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