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CAPÍTULO I: TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

1.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NA EDUCAÇÃO

Discussões no âmbito educacional ocorrem desde o surgimento das escolas que se originaram a partir de uma necessidade social, em busca de uma transformação coletiva e individual. A educação é considerada como um “alicerce da formação dos cidadãos” (SANTOS; ANDRADE, 2003, p. 37).

Diante dos desafios atuais, muito se discute sobre o papel da escola, das instituições de Ensino Superior na vida e na formação do ser humano. Estudar as representações sociais na área educacional é de fundamental importância, visto que elas “trazem indicações potenciais para as intervenções educativas” (COSTA; GOMEZ, 1999, p. 161). Esses

estudos podem contribuir para as práticas didáticas, pedagógicas e sociais, a relação professor-aluno, o processo ensino e aprendizagem que, se positiva, favorece a construção de uma aprendizagem reflexiva/significativa, mas, se for negativa, provoca fracassos, dificuldades de aprendizagem, bloqueios na formação dos indivíduos.

Para Gilly (2001, p. 321), o interesse em investigar as representações sociais, suas noções teóricas para a compreensão dos acontecimentos na Educação, “consiste no fato de que orienta a atenção para o papel de conjuntos organizados de significações sociais no processo educativo”. Tal estudo possibilita o entendimento da ação dos fatores sociais sobre o processo educativo e suas influências em seus resultados, permitindo a compreensão de como as pessoas se organizam e agem no seu ambiente educacional (CARVALHO, 2003). Portanto, as instituições educacionais tornaram-se um campo favorável para o estudo das influências das representações sociais, sobre a prática que se realiza nos seus espaços. Gilly (2001, p. 322) salienta que,

Além de seu interesse para a Educação, os trabalhos na área educacional contribuem para o estudo de questões gerais relativas à construção e as funções das representações sociais. […] o sistema escolar sempre sofreu, em maior ou menor grau, as marcas originários de grupos sociais que ocupam posições diferentes em relação a ele: discurso dos políticos e dos administradores, discurso dos agentes institucionais dos diferentes níveis da hierarquia, dos discursos dos usuários. […] a área educacional aparece como um campo privilegiado para observar como as representações sociais se constroem, evoluem e se transformam no interior de grupos sociais e para elucidar o papel dessas construções nas relações desses grupos com o objeto de sua representação.

Se a escola surgiu a partir de uma necessidade social, conforme apontado anteriormente, ela então tem a sua função social precípua de ensinar. Essa prática social é marcada por histórias de vida das pessoas que lá se encontram, valores e motivações que estão penetrados na relação ensinar e aprender entre sujeitos e objetos de conhecimento (CARVALHO, 2003). No cenário contemporâneo, a escola passa a ter três funções que se complementam: socializadora, instrutiva e educativa.

A função socializadora permite a adaptação dos indivíduos ao convívio social. Essa função deve contribuir para o desenvolvimento de um pensamento reflexivo diante das mudanças de valores e atitudes da sociedade capitalista, de forma que o indivíduo possa aplicá-la no seu contexto real extrapolando os espaços da escola. A função instrutiva tem relação com a formação intelectual do aluno mediante o processo ensino e aprendizagem adotado pela instituição educacional, despertando-o para uma curiosidade científica e cultural que vem sendo produzida ao longo dos anos, a partir da experiência humana. A função educativa só se concretiza se a instituição de ensino contribuir de forma integral na

formação intelectual, cultural e social na vida dos alunos, de forma que eles consigam construir e reconstruir de forma reflexiva seu pensamento crítico e sua atuação consciente na sociedade. Essa função vai além de uma aprendizagem de conteúdo para que o indivíduo consiga fazer um concurso, uma avaliação que requer determinados conhecimentos (SANTOS; ALMEIDA, 2005).

O indivíduo constrói suas representações sociais a partir da sua relação com o mundo intelectual e com o mundo social e que se refletem nas suas práticas sociais. Dessa forma, considerar a conjuntura educacional no qual o indivíduo se encontra é de fundamental importância para interpretar as representações sociais que correspondem às teorias sobre os objetos cotidianos do indivíduo que justificam o seu comportamento e sua relação com esses objetos diante de seu contexto social.

Almeida (2005c, p. 194-195) afirma que

A prática pedagógica de fato é uma atividade que pode influir nas representações sociais do educando, reforçando ou transformando a visão que os indivíduos têm de si mesmo e do mundo em que vivem. [...] É necessário, portanto, a promoção de uma formação de professores e uma prática docente que se volte criticamente para a questão do habitus e das representações sociais do educador, e, por conseguinte, para o problema da construção identitária dos educandos, de modo a possibilitar que os/as educandos/as escolham criticamente o seu lugar social e histórico na sociedade em que vivem.

Campos e Loureiro (2003, p. 114) informam que

Tanto os professores quanto os alunos são sujeitos sociais, cujas relações com o conhecimento e sua transmissão estão medidas pela importância deles para os processos concretos de vida tanto de uns quanto de outros, no interior dos grupos sociais em que concretamente produzem suas vidas.

A preocupação em analisar as representações sociais dos professores e dos alunos diante do ensino e da aprendizagem não se deu pelo simples fato de se pensar em uma ascensão social do professor ou do aluno a partir de uma aprendizagem mecânica. Mas, para entender a importância da relação ensino e aprendizagem e o seu significado em processos concretos de vida dos grupos sociais, aqui em questão.

Esse conhecimento é essencial para a reformulação das práticas educativas, para desmistificar paradigmas com relação à EaD, visto que os professores, assim como os alunos, poderão compreender as relações entre suas representações e sua prática social, do aqui e agora, do obscuro, do alheio, do inédito, do ignorado, com o propósito de tornar o não-familiar em algo familiar, finalidade principal da Teoria das Representações Sociais.

Por isso, Cerqueira (2007, p. 16) afirma que “o estudo das representações voltado para a área educacional abre oportunidades de maior compreensão sobre a relação professor-aluno, contribuindo para reflexão dos sistemas simbólicos que interferem na interação escolar”.

Essa compreensão deve partir de uma proposta da multidimensionalidade, considerando não só a dimensão técnica, mas a humana, a político-social, que envolve todo o universo dos personagens do contexto educacional. Dessa forma, privilegiar no estudo investigativo o “como fazer” didático e o “como fazer” o ensino e a aprendizagem, contemplando a afetividade, os valores, a empatia, assim como todas as atitudes, que possibilitem uma relação positiva na prática do ensino, é de fundamental importância (RANGEL; TEVE, 1999).

Rangel (1999, p. 61) evidencia que

A relação teoria-prática é relevante ao alcance da multidimensionalidade do processo ensino e aprendizagem, considerando-se que as referências teóricas são necessárias à consciência do significado das ações. É também nesse sentido que se pode pensar em mudanças (pela reflexão) de representações e da sua consequência na produção de comportamentos, no interesse de alcançar (e explicitar nas ações) a visão da multidimensionalidade do processo de ensino e aprendizagem.

O estudo das Teorias das Representações Sociais no âmbito educacional envolve muitas discussões e temáticas, uma vez que essas representações possibilitam a compreensão dos fatores sociais, psicológicos e cognitivos que influenciam a formação de conceitos e significados com relação ao ensino e à aprendizagem adotados pela instituição de ensino, seja ela na modalidade presencial ou a distância.

Partindo desse pressuposto, acredita-se que investigações científicas sobre representações sociais, tendo como foco o professor e aluno, que são os principais personagens sociais da EaD, pode colaborar para uma intervenção educativa a partir de reflexões sobre o ensino oferecido à sociedade. Segundo Costa e Gomez (1999, p. 175), “rever a escola é rever práticas, ideias, imagens, conceitos, é reconhecer quando as representações interferem em processos de mudança na direção de um novo rumo para a vida social, que clama por liberdade, justiça, solidariedade e amor”. Esse é o caminho para uma educação emancipatória, deixando de ser uma utopia e vindo a ser uma realidade social.

Dessa forma, é de grande importância conhecer o que vem a ser Educação a Distância como uma proposta educativa e seus caminhos históricos, para compreender melhor as representações sociais que os personagens desse contexto têm em relação ao

ensino e à aprendizagem oferecidos por instituições de Ensino Superior que trabalham com a modalidade a distância. Esse assunto será abordado no próximo capítulo.

   

CAPÍTULO II: EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Ora, os meios de comunicação, os instrumentos tecnológicos – como, por exemplo, a máquina de ensinar – são criaturas nossas, são invenções do ser humano, através do progresso científico, da história da ciência. O risco aí seria o de promovê- los, então, a quase fazedores de nós mesmos.

(Paulo Freire)

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