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Reprodução do anúncio nº 1

No documento MARIA DE LOURDES NOLASCO CARDOSO (páginas 79-83)

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DO CORPUS E PROCEDIMENTO PARA

4.1 Análise do discurso das charges e dos anúncios publicitários

4.1.2 Análise dos anúncios publicitários

4.1.2.1 Reprodução do anúncio nº 1

4.1.2.1.1 Quadro enunciativo argumentativo do anúncio nº 1

4.1.2.1.2 Análise do ponto de vista da Semiolinguística

4.1.2.1.2.1 Dimensão explícita

O anúncio publicitário em análise foi publicado no jornal Estado de Minas, no dia 09/10/11. No dispositivo triangular que organiza o discurso propagandista publicitário, estão a instância publicista (o portal UAI, empresa mineira) e a agência de publicidade. No outro vértice estão a instância concorrente (o portal UOL, empresa paulista) e a instância público (o consumidor de publicidade e do produto).

Em primeiro plano, está a imagem de um caipira, usando chapéu de palha, um matinho na boca, calça pega-frango, segurando um queijo na mão, visão estereotipada da maneira de ser e de viver do mineiro pelo paulista, construída pelo EUc (agência de publicidade e o portal UAI), encenada pelo EUe2, que se coloca delocutivamente, como uma espécie de voz social.O espaço em que a imagem do mineiro está lembra um curral (cercas, boi), porém, ao fundo, aparecem prédios, lembrando cidade e não campo.

No plano verbal, o título do anúncio “Um Mineiro segundo um paulista”, enunciado pelo EUe1, “inocenta- o” da responsabilidade do que será dito logo à

EUc EUe1 TUd TUi

frente. Entra em cena o EUe2 (um ponto de vista atribuído à concorrente UOL), numa repetição do imaginário social discursivo por meio de frases feitas ou expressões fixas atribuídas ao modo de ser e de falar do mineiro (estereótipo): “Uma metade é caipira e a outra é da roça”; “Come quietinho, quietinho”; “Parece um rato, adora queijo”; “um trem”; “Outro trem”; “Mais um trem”.

No final do anúncio, temos uma referência à instância publicista: “Só quem é de Minas sabe realmente como são os mineiros”; “Assine UAI. Cobertura dos times mineiros, acesso exclusivo ao melhor conteúdo de Minas na internet e as vantagens do Clube do Assinante.”; “Assine UAI a partir de R$0,99 + modem grátis” e a informação do telefone para assinaturas.

4.1.2.1.2.2 Dimensão implícita

A estratégia de captação do auditório-TUi (consumidor) se desenvolve a partir do recurso da estereotipia (AMOSSY, 2011; LYSARDO-DIAS, 2007), iniciado a partir da frase declarativa afirmativa: “Um mineiro segundo um paulista”. Uma aposta presente no contrato comunicacional do “semiengodo”, na crença compartilhada de que para os paulistas, mineiros são caipiras (“Uma metade é caipira e a outra é da roça”; “Come quietinho, quietinho”). Outros recursos usados na dimensão explícita: a imagem estereotipada do mineiro, a comparação (“Parece um rato, adora queijo”), modalizadores (segundo) associados à dimensão implícita (interdiscurso, pressuposição, implícitos) servem para “fazer-crer” que a instância concorrente desconhece o povo mineiro e sua cultura.

4.1.2.1.3 Análise do ponto de vista da argumentação no discurso: os meios de persuasão

Essa organização do Logos, associado ao Ethos discursivo construído pelo EUc e encenado pelo EUe1, é aquele que vem alertar sobre o EUe2 como aquele que não sabe nada sobre mineiros. Isso pode causar certa repulsa em relação aos paulistas ou refutação lúdica ao imaginário sociodiscursivo paulista em relação ao mineiro e o que eles têm a dizer (Pathos). Cabe agora ao TUi, leitores do jornal, participar dessa visão para que se possa conferir a essa organização o seu poder de persuasão.

Dessa forma surge no espaço do dizer mais EUe, que assume o discurso do concorrente, dentro de uma visão estereotipada que o paulista tem a respeito do mineiro e da mineira. Percebe-se que a forma como a instância de produção escolheu dispor a organização textual busca a adesão do consumidor ao projeto comunicativo inscrito no contrato comunicacional da publicidade. O mineiro, então, é representado como aquele cuja “metade é caipira e a outra é da roça”, ou seja, não há escapatória: mineiro é um caipira genuíno.

Reforçando esse argumento sobre o jeito de ser de quem nasce em Minas, está em primeiro plano um mineiro de calças “pega-frango”8, chapéu de palha, matinho no canto da boca, num espaço que representa um curral. Ao fundo desse espaço, estão vários prédios. Através da dimensão implícita, é possível recuperar o sentido construído por essa imagem, graças ao que Charaudeau define como “filtro construtor de sentido”, que é a crença compartilhada pelos mineiros de que os paulistas consideram Belo Horizonte uma roça evoluída. Mais uma estratégia de “fazer crer” do EUc diante do TUi de que a concorrente é bastante desinformada.

As marcas linguísticas são outra estratégia utilizada na visada da incitação com o objetivo de “fazer crer” ao TUi que a operadora concorrente não sabe nada de mineiro e, por isso mesmo, não pode oferecer o melhor conteúdo. Quando ele afirma que mineiro come queijo, não nos parece algo negativo; é até saudável. A questão está na comparação entre mineiros e ratos (“Parece rato: adora queijo”), uma vez que esse bicho, considerado nojento por seus hábitos, também adora queijo.

Outra característica mineira do falar mineiro, o uso da palavra trem de forma repetitiva, é explorada no anúncio no intuito de incitar a instância de recepção,

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Expressão usada em Minas para aqueles que, por falta de dinheiro, usam calças menores (mais curtas) que seu número.

TUi (internautas mineiros), a se convencer de que para os paulistas, além de caipira, somos também desprovidos de intelectualidade, pois temos um vocabulário bastante restrito, tendo, constantemente, o hábito de fazer o uso do substantivo “trem” para tudo.

Finalizando essa análise, chamo a atenção para as considerações de Marcuschi (2008, p. 167) ao referir-se ao discurso publicitário. Ele afirma que esse tipo de discurso opera na subversão. O provedor “Uai” encontrou uma forma de reenquadrar o produto oferecido, afastando da forma usual como vem sendo apresentado por empresas concorrentes: fala-se apenas do conteúdo puro e simplesmente. O provedor UAI e a agência de publicidade, com o recurso da estereotipia, procuram dar maior visibilidade ao seu produto diante do enorme “mar de ofertas” que circula nesse mercado tão competitivo e exigente.

No documento MARIA DE LOURDES NOLASCO CARDOSO (páginas 79-83)