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Reprodução dos hábitos familiares na educação formal das instituições de ensino

2. O DESEMPENHO ESCOLAR E A FAMÍLIA DOS EDUCANDOS

2.3 Reprodução dos hábitos familiares na educação formal das instituições de ensino

Uma das realidades mais vivenciadas em todo ambiente sócio-educativo de ensino- aprendizagem é o conflito em não saber lidar, nem tratar as questões permanentes e existentes nos lares familiares. Estas por sua vez, se perpetuam nas escolas de forma generalizada, disseminante e na maioria dos casos inconsciente, por parte do corpo gestor e docente da Instituição.

Com base nessa situação, diversos estudos no Brasil, a exemplo dos publicados nas revistas de Pesquisa e Educação (2003), pela autora Carvalho(2003), os quais apontam para discussões indispensáveis e de extrema importância a respeito dos impactos das dificuldades, fracassos e repetências dos alunos no seu comportamento, aceito e reproduzido pela escola, no que se refere às posturas de gênero. Além disso, os mesmos estudos revelam motivos para uma adaptação favorável dos alunos, meninos ou meninas, em escolas de classes regulares.

De início, as características comportamentais dos meninos, mais indisciplinados e desorganizados se distanciam das meninas, segundo (Silva et al,1999), pois, as mesmas facilitariam o que chama do “ser aluno”, de maneira autêntica, o que os franceses consideram como “ofício do aluno” , já que viriam prendadas da própria organização familiar e da socialização primária, sendo mais preparadas para exercer o papel de alunas por serem mais: passivas, obedientes, calmas, silenciosas, ordeiras, caprichosas e minuciosas.

Desse jeito, os meninos correspondem ao lado oposto da feminilidade passiva, mas na grande maioria das classes de ensino são colocados, mesmo diante da situação citada acima, em dois pólos, os dos “excelentes” e o dos “muito complicados”, com grandes dificuldades, sendo que as meninas permanecem no círculo mediano, ou seja, não são tão brilhantes, mas também não dão muito problema, de acordo com Carvalho (2001b).

A autora continua relatando que a relação entre o ser masculino ou feminino com o fato de ter um caderno bonito ou uma nota boa nas avaliações, não são muito reforçadas em casa quanto são na escola, deixando clara a necessidade de reflexões sobre esses elementos escolares e até que ponto os professores reconhecem suas posições como aspecto de construção e reprodução de atitudes e comportamentos vinculados aos padrões impositivos do gênero no ambiente escolar, além dos outros ambientes sociais.

Uma das explicações mais requisitadas nesses estudos realizados a respeito das melhores adaptações dos meninos e meninas ao processo de escolarização parte de motivos

muitas vezes banalizados pelos membros presentes no corpo escolar. Isso porque muitos professores já conduzidos pela falta de motivações no exercício da profissão, acabam por generalizar todas as realidades pessoais dos seus alunos.

Assim, as constatações do baixo acesso das meninas à escola possuem prováveis conseqüências das mesmas serem mais confinadas em casa, seja por trabalhos domésticos ou por uma educação restrita e conservadora quanto às circulações das meninas nos ambientes externos ao seu lar doméstico, a qual se opõe à realidade dos meninos de classes populares, na medida em que estes são permitidos em suas residências desde crianças a saírem para jogar bola ou empinar pipa na rua.

Essa prática ou rotina familiar vem por possibilitar segundo Madeira apud Heilborn (1997)- p.38, uma maior valorização do espaço público externo da escola, enquanto as meninas teriam a tendência de valorizar o espaço escolar de maneira positiva para uma maior socialização com os colegas e pessoas, para o exercício do lazer, não controlado pela família, e enfim para uma conquista de “igualdade” mesmo que simbólica frente ao tratamento diferenciado que elas recebem diante dos meninos no ambiente familiar.

Além disso, ainda se busca afirmar uma percepção que muitas mulheres assumem hoje, quanto a extrema importância e dedicação à escolaridade como forma ou mecanismo eficiente de inserção no mercado de trabalho, sendo esta mais qualificada do que tem sido, já que sofrem muito com a concorrência e exigência do mercado se comparadas aos homens. Com isso, torna-se possível enxergar mediante os conflitos do gênero entre os sexos, o que Carvalho (2001b) considera “como uma saída de um estereótipo negativo de feminilidade, com idéias de mulheres simplesmente passivas e obedientes, para um estereótipo positivo, pois, as mesmas já visualizam novas possibilidades de crescimento e de inserções sociais.”

Entretanto, percebem-se claramente necessidades constantes de debates e discussões que fomentem essa realidade dicotômica e conflituosa vivenciadas entre as práticas tidas ainda na sociedade como “machistas” ou “feministas”. Isso devido a posições adotadas em políticas públicas e atitudes de pessoas que teriam por obrigação atentar para uma formação produtiva e consciente de crianças da rede municipal de ensino, analisadas no presente trabalho, sendo estas oriundas de famílias muito pobres e sem recursos.

Esses recursos de ordem material, cultural ou psicológica, são escassos em muitas das realidades sócio-econômicas em que sobrevivem essas crianças em suas famílias. No entanto, cabe ao ambiente de educação formal e institucionalizado, as escolas, assumir o controle de suas responsabilidades não só no que concerne ao cumprimento de metas e índices estabelecidos pelo Ministério de Educação, sendo isso uma disseminação de uma educação de

aparência e fachada, e sim possibilitar, antes de começar a pensar sobre os alunos, nas mudanças curriculares, meios de se modificar e adaptar os materiais didáticos já existentes, de melhorar as relações interpessoais com os alunos, compreendendo suas dificuldades, carências e anseios.

Em concordância de Carvalho (2001b, p. 564), aplicar esse método seria um bom começo, pois, iria ocorrer uma discussão muito profunda sobre a própria identidade de gênero. Veja-se:

Particularmente, no caso da grande maioria em nossa categoria, que são mulheres, é preciso refletir: somos professoras, somos diretoras de escola, o que isso nos traz? Nós mesmas valorizamos as características socialmente articuladas à feminilidade, como a intuição, o cuidado, o envolvimento emocional com o trabalho educativo? Como percebemos nossa própria categoria, nossas lideranças, nosso movimento organizado? Começar a pensar sobre as nossas próprias concepções de gênero, criar espaços coletivos para essa reflexão, me parecem ser as tarefas iniciais por meio das quais podem deslanchar mudanças na prática.

Logo, a questão de urgência seria uma autoconsciência mediante o que foi mencionado pela autora, e por parte de todo corpo gestor e docente das instituições escolares, para que se possa estar rumo a discussões e naturalizações quanto às relações pessoais, interpessoais e conjugais no âmbito de se valorizar as fases de: desenvolvimento neurológico, cognitivo e lingüístico das crianças, além das boas repercussões que uma formação de qualidade possa impactar nas futuras relações bio-psico-sociais das mesmas.

Diante do que já vêm sendo discutido, ainda torna-se pertinente discorrer argumentações a respeito do que se tornaram os fundamentos principais do presente estudo de caso. Isso em conseqüência de ter sido realizada uma pesquisa empírica em escolas da rede municipal de ensino de Salvador.

Assim, por necessidade e coerência com a proposta do objeto de estudo, no próximo capítulo propõe-se relatar os resultados dessa pesquisa efetuada, a qual envolveu observações empíricas e entrevistas pessoais aos membros da equipe escolar, entre eles docentes e a família dos discentes das respectivas escolas.

Ademais, será previsto relações dos dados coletados na pesquisa com os autores estudados ao longo dos capítulos anteriores, e também vincular os ambientes escolar e familiar como espaços de suma importância para o aproveitamento ou rendimento quantitativo e qualitativo dos educandos.

3. RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA COM AS REPERCUSSÕES NO DESEMPENHO

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