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3.1 Aferição do 1 o Modelo OĄcial do Governo

3.1.2 Reprodução dos Resultados da LDO de 2012

Na segunda etapa de avaliação do 1o modelo, buscou-se, a partir das informações disponíveis no Anexo IV das LDOs e dados demográĄcos e previdenciários públicos, repro- duzir as projeções de receita e despesa divulgados pelo governo. Atualmente, a Secretaria de Previdência Social (SPS) do Ministério da Fazenda é responsável pelas projeções des- critas no Anexo IV das LDOs. No entanto, a SPS não compartilha informações suĄcientes sobre os procedimentos de projeção e, como resultado, nenhuma avaliação quantitativa totalmente independente havia sido realizada. A possibilidade de reprodução de projeções e compartilhamento de dados é amplamente compreendida e aceita em toda a comunidade cientíĄca (KASHIN; KING; SONEJI, 2015a).

Inicialmente, examinou-se os Anexos de todas as LDOs de 2002 a 2017 e identiĄcou- se que as equações são exatamente as mesmas em todos os documentos. No entanto, a partir da LDO 2009, é mencionada uma versão atualizada do modelo de projeção, que, por exemplo, adotou um novo conceito de taxa de participação e descartou o uso direto da taxa de desemprego. Não obstante este fato, as equações especiĄcadas não mudaram e a taxa de desemprego ainda é usada como uma das variáveis. Em (SCHWARZER; PEREIRA; PAIVA., 2009), os autores descrevem um conjunto de melhorias no modelo de projeção, como a inclusão da taxa de formalização do emprego e no Anexo IV da LDO de 2014 é mencionado uma segunda atualização do modelo. Mas, novamente, não são realizadas alterações nas equações do modelo. Dado esses fatos, não está claro qual modelo foi usado nas projeções, diĄcultando muito uma reprodução independentes dos resultados.

Em um segundo momento, um conjunto de dados da Previdência Social foi obtido junto a DATAPREV3. Os dados obtidos foram do período de 2010 a 2014. Por Ąm, a LDO de 20124 foi escolhida como referência na tentativa de reprodução dos resultados. Os dados e parâmetros utilizados na projeção são descritos na Tabela 4.

Tabela 4 Ű Fontes de dados e parâmetros utilizados na tentativa de reprodução das pro- jeções da LDO de 2012.

Período projetado 2012-2031

Dados populacionais Projeções do IBGE de 2008

Dados de mercado de Trabalho Tabela 5.1 do Anexo III da LDO de 2012

Dados de Estoque Dados de 2010 da DATAPREV

Dados de receitas e despesas Dados de 2010 da DATAPREV

Densidade de contribuição 1

Alíquota de contribuição do trabalhador 8, 9 ou 11% dependendo do salário

Alíquota de contribuição do empregador 20%

Crescimento da produtividade do trabalho 1,6% ao ano

Algumas variáveis descritas no modelo 1o modelo de projeção (Seção 2.2.1) não

3 Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social.

têm seus valores ou equações apresentadas nas LDOs, como, por exemplo, o valor da densidade da contribuição e os cálculos das probabilidades de entrada e sobrevivência. As probabilidades de entrada foram estimadas com base no Ćuxo de benefícios concedidos nos últimos anos e as probabilidades de sobrevivência foram calculadas com base nos dados da população fornecidos pelo IBGE como descrito anteriormente nas Equações 2.2 e 2.4, respectivamente.

Conforme descrito previamente, a LDO de 2012 menciona um modelo de curto prazo que é usado para prever os primeiros cinco anos (2011 a 2015) e, em seguida, um modelo de longo prazo usado nos anos restantes. Nas LDOs, não há descrição do modelo de curto prazo e nenhum outro documento descrevendo foi encontrado. Portanto, todos os resultados apresentados são baseados apenas no modelo de longo prazo.

As equações do 1omodelo foram implementadas no software MATLAB e projeções para receitas e despesas do RGPS foram realizadas. A Figura 7 mostra as diferenças (em %) entre os valores constantes na LDO de 2012 e os resultados obtidos.

Figura 7 Ű Diferença (em %) entre os resultados da LDO de 2012 e os obtidos com a implementação do 1o modelo.

No que diz respeito às despesas, a variação inicial é de 11% e aumenta ao longo dos anos5, chegando a 39% em 2031. Existem várias razões possíveis para essas diferenças entre resultados obtidos e os valores oĄciais. Em primeiro lugar, não há informações sobre o modelo de curto prazo. A LDO menciona que os resultados a curto prazo são fornecidos pela Secretaria de Política Econômica no Ministério da Fazenda, seguindo a chamada grade de parâmetros lançada em 8 de abril de 2011. No entanto, uma análise mais detalhada do documento não revela informações particularmente úteis que poderiam ser

5 A mudança no padrão de crescimento observado no gráĄco para o ano de 2015 é consequência da

usadas. Em segundo lugar, existe uma clara ausência de conjuntos de dados6 e parâmetros (ex: densidade de contribuição, taxas de desemprego, etc.) utilizados nas projeções. Todos os dados necessários deveriam ser descritos ou, pelo menos, referenciados, para viabilizar projeções independentes.

Analisando a Figura 7, observa-se uma variação média de 53,7% nas receitas, com pequenas mudanças. Como a LDO não descreve nenhuma outra fonte de receita, e a partir da Tabela 5, tem-se que a contribuição de funcionários e empresas corresponde a aproximadamente metade da receita da Previdência, acredita-se que algum ajuste é aplicado à previsão de cada ano para contabilizar outras receitas (COFINS, CSLL, etc.). Tabela 5 Ű Proporção da receita de contribuições de empregados e empresas (RCEE) em

relação à receita total.

Ano RCEE Receita Total (%)

2011 143.3 242.2 59.1

2012 156.4 268.8 58.1

2013 159.5 292.6 54.5

2014 167.4 312.7 53.5

2015 170.3 319.6 53.2

O fracasso na tentativa de replicação reforça a falta de transparência nos métodos utilizados pelo governo brasileiro para prever receitas e despesas da Previdência Social. Em relatórios Ąnanceiros futuros, o governo deve incluir uma descrição detalhada dos métodos, dados utilizados, uma discussão sobre os erros de projeção de relatórios anteriores, o que foi aprendido e quais ações podem ser necessárias para melhorar as projeções.

Todos os códigos referente ao 1o modelo e conjuntos de dados utilizados para o cálculo das projeções apresentadas estão disponíveis em (SILVA, 2017a).

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