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Requalificação do Mercado da Graça – Estudo Prévio

Capítulo II – M-arquitectos, São Miguel e Açores

M- arquitectos

2. Capítulo II – M-arquitectos, São Miguel e Açores

3.10. Requalificação do Mercado da Graça – Estudo Prévio

Tipo de Projeto:

Arquitetura e Design de Equipamento

Duração do Projeto:

Cliente:

Proposta a Câmara Municipal de Ponta Delgada

Local do Projeto:

Ponta Delgada, São Miguel

3.10.1. Descrição e Objetivos do Projeto

O Mercado da Graça localiza-se na freguesia de São Pedro, na cidade e concelho de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.

Remonta ao meado do século XIX, para substituir os primitivos locais de comércio de produtos agrícolas e de gado no lado sul da Matriz, o ‘Mercado do Pelourinho’, e nas arcadas do Cais Velho, ao lado do cais da terra, as’ Arcadas da Feira’.

Este mercado agrícola, construído ao lado do Convento da Graça, destinava-se, dentro dos ideais do liberalismo que se afirmava no país, a constituir-se num novo mercado para a cidade, em local próprio e digno, do mesmo modo que o ‘Mercado do Peixe’, no Cais da Sardinha, e o ‘Mercado do Gado’, na Cerca dos Frades do Convento dos Franciscanos ao Campo de São Francisco.

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As suas obras iniciaram-se em 1848 por deliberação da Câmara de 16 de março de 1847. A 30 de dezembro de 1849 a Câmara deliberou acerca da construção de um segundo mercado em São José.

«Foi ultimada a pintura do gradeamento da praça nova, as hastes estão de

rocho-terra – globos amarelos e lanças verdes, achando-se quase todo completo

o Mercado em tudo grande, em tudo maravilhoso, (…)»

(Açoriano Oriental

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, 1852)

Este é um projeto concebido por recriação do ateliê para apresentar à Câmara Municipal de Ponta Delgada como proposta de requalificação do espaço em estudo.

Os objetivos deste trabalho visam a requalificação do espaço, retirando por completo a cobertura existente construindo uma nova, a cobertura existente apesar de ser vista como um marco histórico no mercado e na cidade nem sempre foi como demonstra, ao longo dos anos sofreu muitas alterações, hoje em dia, considerado pelos mais antigos moradores da zona, uma ‘manta de retalhos’. Outro objetivo latente na execução deste projeto é a procura de tornar um espaço que chame tanto turistas como os locais, para isto foi necessário ir beber ao conceito existente em Portugal continental, como é o caso do Mercado da Ribeira, figura 197.

3.10.2. Proposta

Este foi um projeto denominado relâmpago, sendo que apenas havia uma semana para conclui-lo, deste modo houve a necessidade de dividir tarefas.

Atendendo ao facto de ser um estudo prévio, não havia a carência de desenvolver pormenores construtivos, em relação aos desenhos técnicos, desenhou-se plantas, cortes, alçados e visualizações 3D.

21 Açoriano Oriental é um periódico diário açoriano, publicado na ilha de São Miguel. Trata-se do mais antigo jornal

em circulação em Portugal e um dos dez mais antigos de todo o mundo em publicação contínua e regular com o mesmo nome.

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Após análise cuidada do espaço, foi executado visualizações 2D, de modo a perceber como seria feita a transição entre a zona de restaurantes e venda de produtos agrícolas.

Como é possível verificar na figura 198, esta é uma planta esquemática das valências do espaço, possibilita que haja uma maior perceção do desenho no que diz respeito á distribuição funcional do espaço.

Prevê-se um espaço amplo e sem barreiras visuais, com a exceção feita às tradicionais bancas de venda, na zona rosa esta localizado o talho, mantendo-se na posição existente; a zona laranja foi projetada também no local existente, sendo esta a peixaria, havendo a possibilidade de manter os sistemas de drenagem de águas e o afastamento propositado da maior parte das zonas do mercado, devido principalmente ao cheiro; a zona cinza na fachada é onde está também atualmente a loja de queijos; a zona azul escuro é considerado uma alteração em relação ao existente, sendo assim prevê-se que os compartimentos projetados sirvam para a venda de peças de artesanato tradicionais da região, aumentando assim a possibilidade de tornar conhecidos certos artesãos e as suas peças; a zona verde vai de encontro com o que foi anteriormente referido como objetivo, a introdução de espaços de restaurantes, bem como as mesas que servem de apoio a estes, sendo possível ter uma refeição num local emblemático na cidade; a zona vermelha mantem se como existente, embora com uma distribuição diferente,

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as bancas de venda de produtos agrícolas; a zona azul claro prevê-se a construção das instalações sanitárias de apoio aos utilizadores do espaço; a zona amarela está subdividida em dois espaços, um interior com mesas para tomar uma água ou café, ou apenas para ler o jornal diário, sendo o outro espaço exterior, este a céu aberto, como é possível verificar na planta de coberturas, sendo colocado uma arvore no centro, onde a ideia é promover a natureza onde tudo o que nos rodeia, na ilha, é o verde da paisagem.

Não é possível perceber na figura 198, porém sob este piso está edificado um parque de estacionamento subterrâneo, oferecendo aos utilizadores do mercado a possibilidade de parar as suas viaturas, tendo em consideração o tráfego acentuado e a falta de lugares para estacionar na zona.

Ao longo do desenvolvimento das visualizações 2D e posteriormente 3D, foi dado sempre importância, como já tem sido habitual nos outros projetos, aos materiais endógenos da região, neste caso a madeira de criptoméria e a pedra de basalto. Este é mais um método, utilizado tanto no gabinete como na região em geral, de dinamizar os produtos e matérias primas existentes na região dos Açores.

Como foi referido anteriormente, uma das alterações a fazer no Mercado da Graça incide sobre a cobertura. Esta possui uma forma que foge ao tradicional, como de uma rampa se tratasse, muita gente comenta o facto de esta assemelhar-se às ombreiras dos cavaleiros.

A ideia é retirar esta cobertura, figura 199, porque apesar da historia acoplada a esta, durante o passar dos anos houve alterações constantes, fazendo com que a peça existente não correspondesse ao aspeto inicial, tomando a identidade de ‘Manta de Retalhos’.

Figura 199 - Cobertura existente do Mercado da Graça. Fonte: Biblioteca Digital M-arquitectos

Figura 200 - Fachada e cobertura existente do Mercado da Graça

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Como é percetível nos alçados anteriores, o objetivo passa pela troca da cobertura existente por uma peça com uma linguagem simples e que vá de encontro com o projetado, linhas retas e coerentes. Prevê-se um pé direito de aproximadamente 7m, não tornando o espaço claustrofóbico, como o existente. Um dos problemas existentes na cobertura existente é não evitar a entrada de chuva no interior do mercado, como é possível observar nas seguintes figuras 202, 203 e 204, prejudicando a visita por parte dos clientes, e por consequente o comércio local.

Figura 202 - Cobertura existente Figura 203 - Cobertura proposta

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Após a conclusão das visualizações 2D, deu-se início ao desenvolvimento da proposta tridimensional, tendo sempre em consideração as condicionantes colocadas pelo arquiteto gerente e arquitetos sénior, estes auxiliaram em todo o processo, no sentido de evitar erros e dado o prazo limitado de entrega do projeto.

O objetivo era criar uma maqueta virtual, imagens do interior e da fachada principal, onde fosse possível perceber todas as alterações propostas pelo ateliê.

A primeira imagem incidia sobre uma maqueta virtual, deste modo, era possível ter uma visão geral de todo o edifício e as coberturas propostas, bem como as suas inclinações e a componente de ligação entre as mesmas.

A figura 206 demonstra a fachada principal do mercado, incluindo os módulos laterais, à esquerda o talho e à direita a loja de queijos. O objetivo desta visualização 3D recai sobre a ligação entre os módulos existentes e a cobertura proposta.

Figura 205 - Maqueta virtual do Mercado da Graça

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Em relação ao interior do mercado, como já foi referido anteriormente, o objetivo era criar um espaço com múltipla função, figura 207, ao fundo está a zona dedicada aos restaurantes e mais próximo as bancas de venda de produtos agrícolas. Também é percetível no lado esquerdo da figura a divisória criada em vidro, criando uma barreira entre a zona ajardinada e a zona de comercio. Na figura 208 é percetível a zona de estar, junto ao jardim, referida anteriormente na planta esquemática.

Figura 207 - Visualização 3D e fotomontagem da proposta do Mercado da Graça

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3.10.3. Síntese Conclusiva

Este projeto destacou-se pelo facto de o espaço em estudo ser diariamente visitado por centenas de pessoas, por vezes em localidades ‘pequenas’ o projetar algo contemporâneo utilizando algo histórico não é bem visto pela sociedade.

Tentou-se criar um espaço organizado e funcional, que possibilitasse a interação entres as diversas zonas do mercado, ao mesmo tempo criando barreiras não físicas entre estas. Sendo um local com história na região, é importante criar um meio termo, evitando assim vulgarizar um ‘monumento’ tão acarinhado pela população micaelense.

Tratando-se de um local considerado expositor regional, foi importante mais uma vez projetar utilizando os materiais da região, havendo assim uma preocupação com a sustentabilidade e ecologia como também na projeção destes mesmo materiais.

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