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2 CONCRETO AUTOADENSÁVEL – estado da arte

2.3 MATERIAIS CONSTITUINTES E A INFLUÊNCIA NAS PROPRIEDADES DO

2.3.2 Adições minerais

2.3.2.2 Resíduo de marmoraria

As rochas ornamentais e de revestimento são extraídas da natureza em forma de blocos, transformadas em placas e posteriormente são cortadas em formatos variados e beneficiadas por meio de esquadrejamento, polimento e lustro. Podem ser aplicadas tanto como peças isoladas, em esculturas, tampos e pés de mesa, balcões, lápides, quanto em edificações, principalmente em revestimentos internos e externos de paredes, pisos, pilares, colunas, soleiras, dentre outros. (J.MENDO CONSULTORIA, 2009d).

A produção brasileira de rochas ornamentais e revestimento foi estimada, em 10.100.000 toneladas, no ano de 2014, classificando-se em 4º lugar no ranking mundial, representando 7,4 % da produção. (BRASIL, 2016b). Cerca de 1.000 variedades comerciais de rochas são colocadas nos mercados interno e externo. Os estados do Espírito Santo e Minas Gerais são polos de extração de rochas ornamentais no Brasil, sendo produzidos mármores, granitos, ardósias, quartzitos, pedra-sabão, pedra-talco, serpentinito, itabirito, dentre outros tipos. O setor de rochas ornamentais ainda é essencialmente integrado por micro e pequenas empresas, principalmente, de beneficiamento (serrarias) e acabamento (marmorarias) com elevado nível de informalidade. (J.MENDO CONSULTORIA, 2009d).

As empresas mineradoras de rochas ornamentais provocam impactos ambientais em três diferentes etapas: primeira, grandes problemas hidrológicos, gerados pelo desmatamento da área de extração; segunda, a geração de elevada quantidade de resíduos para a obtenção dos blocos com dimensões padronizadas, e terceira, a produção do resíduo na forma de polpa

(CAVALCANTI, 2006). Na lavra de rochas maciças, apresentam-se como resíduos, basicamente, os blocos extraídos com qualidade e dimensões inferiores aos teares convencionais, impossibilitando a serragem das peças. Na China, o aproveitamento de rejeitos de lavra e beneficiamento, já chega a 65 % do total geral. (J.MENDO CONSULTORIA, 2009d).

Na etapa de desdobramento ou serragem, que consiste no processo de corte dos blocos de rocha em chapas, por meio dos teares, gera a maior quantidade de resíduo entre as demais etapas. O tipo de tear usado no processo de serragem das rochas, pode gerar diferentes tipos de resíduos. Teares multilâminas de aço utilizam uma polpa de cal, granalha de ferro e água para lubrificar e resfriar as lâminas, bem como evitar a sua oxidação e manchamento das chapas. Esse processo gera uma quantidade significativa de resíduo em forma de lama abrasiva, chegando a atingir 30 % dos blocos, na forma de costaneiras e lamas. Outras perdas costumam ocorrer por quebra de placas, falhas de empilhamento, defeitos de corte, uso de polpa abrasiva de composição inadequada, lâminas de corte pouco tencionadas e blocos fraturados. Aconselha-se a utilização de um tear diamantado que utilize apenas lâminas ou fios diamantados, dispensando o uso de cal e granalha de aço, facilitando o aproveitamento dos resíduos para usos diversos. (J.MENDO CONSULTORIA, 2009d); (CAVALCANTI, 2006).

Na etapa de acabamento para obtenção do produto final, as chapas são cortadas de acordo com as dimensões comercializadas e realizado o polimento da superfície superior, sem utilização de lama abrasiva, gerando uma pequena quantidade de resíduo, até 2 %, do total de volume processado. (CAVALCANTI, 2006); (KUMAYAMA, 2014).

Conforme Kumayama (2014) essa lama gerada no processo de polimento pode representar grande volume no final de um mês de produção. Normalmente, esse resíduo é armazenado em tanques subterrâneos e retirado com pá para ser transportado por caminhões até o local de descarte, podendo ser lançado de forma inadequado gerando impactos ao meio ambiente. Nas pesquisas de Barros (2008), foram fabricados concretos autoadensáveis utilizando o resíduo de corte de mármore e granito com as seguintes características: granulometria inferior a 300 μm, composição química com predominância de SiO2 (56,89 %) e Al2O3 (15,08 %),

massa específica de 2,69 g/cm³ e superfície específica de 0,34 m²/kg determinada pelo Método de Blaine. O autor verificou nos ensaios realizados acerca das propriedades de autoadensabilidade, resistência mecânica e durabilidade, que o CAA com resíduo de mármore

e granito proporciona a execução de estruturas tão duráveis quanto as estruturas com concretos convencionais, desde que obedecidas as exigências normativas quanto a especificações e controle tecnológico.

Nos ensaios de Barros (2008), a resistência à absorção da água por capilaridade, no CAA com resíduos, apresentou resultado 61 % maior que no concreto de referência, mostrando que a adição do resíduo proporcionou ao CAA uma estrutura com menor diâmetro de poros. Assim, o CAA com resíduo possui resultados favoráveis quanto à durabilidade, visto que, grande parte dos agentes causadores de deterioração penetra no concreto em forma de solução aquosa. Lisbôa (2004) utilizou um resíduo de beneficiamento de mármore e granito com as seguintes características: dimensão máxima 600 μm, densidade de 2,81 g/cm³ e composição química com predominância de SiO2 (56,89 %), Al2O3 (15,08 %) e Fe2O3 (9,58 %). Nesta pesquisa observou

a possibilidade de obter um concreto autoadensável, utilizando o resíduo de beneficiamento de mármore e granito como um fíler mineral, apresentando resultados satisfatórios em relação à habilidade passante e a resistência à segregação, além de uma facilidade no preenchimento das fôrmas. Foi observada também, uma baixa presença de grandes vazios, provocados pela presença de bolhas de ar aprisionado. Foram obtidas resistências à compressão na ordem de 37 MPa a 41 MPa em corpos-de-prova de 10 cm × 20 cm.

Cavalcanti (2006) estudou as propriedades do concreto autoadensável com resíduo de serragem de mármore e granito com granulometria 300 μm, estabelecendo comparações entre o resíduo de 300 μm e o de 600 μm, utilizado por Lisbôa (2004). O resíduo desta pesquisa é proveniente do polimento e corte de chapas, apresentando as seguintes características granulometria inferior a 300 μm, massa específica de 2,69 kg/m³ e superfície específica de 208,5 m²/kg pelo Método de Blaine.

Foi verificado por Cavalcanti (2006) que a redução na granulometria das partículas do aditivo mineral modifica de forma considerável as propriedades do CAA, principalmente no estado fresco. Sendo necessário o aumento da dosagem ótima do superplastificante e redução do volume de pasta. Além de melhorar as propriedades de autoadensabilidade do CAA, principalmente com relação à coesão da mistura.

Com relação aos resultados da resistência à compressão o CAA com resíduo de 300 μm, embora com menor volume de pasta, para uma mesma relação água/cimento, teve comportamento

concreto convencional. Os resultados de resistência à tração em razão da resistência à compressão, obtida para o CAA com resíduos, foi de 0,1 a 0,15. Os resultados do módulo de elasticidade do CAA com resíduos de 300 μm apresentou evolução com as idades de forma semelhante a resistência à compressão. (CAVALCANTI, 2006).

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