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O couro é uma biomassa de origem animal, muito utilizado para fabricação de bolsas, sapatos, cintos, revestimento de estofados, tapetes, entre outros. O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo, estimado em mais de 200 milhões de cabeças. A produção mundial de peles de bovinos em 2009 foi de 308,62 milhões, sendo que cerca de 38,5 milhões foram produzidas no Brasil. Em 2010, a produção do país atingiu 40 milhões couros bovinos, dos quais 13,59 milhões eram para consumo doméstico e o restante para exportação para mais de 80 países. O setor industrial de curtimento de couro no Brasil tem mais de 800 empresas ativas. As referidas empresas operam em condições diversas, que vão desde empresas familiares de pequeno porte, a vários grupos de médio e grande porte, incluindo o maior grupo industrial na área de curtimento no cenário mundial (TÔRRES FILHO et al., 2016).

A indústria do couro gera uma grande quantidade de resíduos sólidos e líquidos (couros e peles, gorduras, pelos e aparas, pó de lixamento, efluentes de processos, lodo, etc.), sendo que muitos desses resíduos têm um elevado potencial de poluição. O cromo III frequentemente está presente nesses resíduos, fazendo com que sejam classificados de acordo com a legislação Brasileira de normas técnicas NBR 10.004:2004, como perigoso, tornando sua disposição final com elevados custos para os curtumes. Estima-se que a indústria do couro gera cerca de quatro milhões de toneladas de resíduos no mundo a cada ano (KONG et al., 2013).

A variação dimensional da matéria-prima e as tendências da moda fazem crescer a demanda por produtos feitos de couro curtido ao cromo. Estima-se que aproximadamente 90% dos curtumes no mundo utilizam sais de cromo trivalente como agente de curtimento, gerando 600.000 toneladas de resíduos de couro curtido ao cromo em todo o mundo (KOLOMAZNIK et al., 2008; BANON et al., (2016)).

A reciclagem dos resíduos gerados pela indústria do couro é baixa, de modo que, no Brasil, a maioria das empresas optam por depositar seus resíduos contendo cromo em aterros industriais. No entanto, do ponto de vista ambiental, a disposição de resíduos de couro em

aterros é uma alternativa menos adequada, devido à lixiviação de Cr3+ para as águas subterrâneas e possível oxidação para Cr6+(DIXIT et al., 2015; KOLOMAZNIK et al., 2008).

O desenvolvimento de alternativas que permitam a utilização de resíduos de couro, ou ainda a sua conversão em produtos úteis, vem sendo estudado por alguns autores. Simioni et al., (2014) avaliaram a conversão termoquímica (pirólise) de resíduos de couro em um reator de leito fluidizado nas temperaturas 450 e 600 °C, com taxa de aquecimento de 0,25 e 0,4 K·s-1. No referido estudo, foram quantificados e caracterizados o biochar e o bio-óleo. Segundo os autores, a pirólise se mostrou uma forma atrativa de tratamento do resíduo gerado em processos de curtimento, e os produtos gerados têm potencial para outras aplicações. Gil et al., (2012) avaliaram a pirólise de resíduos de couro, visando encontrar as condições ótimas para a produção de energia dos produtos gerados (biochar, bio-óleo e gás não condensável) e produção de carvão ativado. Segundo os autores, o material carbonáceo (biochar) obtido apresenta boas propriedades como um combustível sólido, devido ao seu elevado poder calorífico e baixo teor de cinzas, e ainda apresenta características adequadas como um precursor para o preparo de carvões ativados, enquanto a fração condensável tem uma natureza predominantemente fenólica e contém quantidades significativas de compostos nitrogenados, com possíveis aplicações industriais na preparação de produtos químicos. O gás não condensável é rico em monóxido de carbono e dióxido de carbono, além de uma fração menor de metano e hidrogênio. Marcilla et al., (2012) investigaram a pirólise de resíduos de couro, visando a produção de bio-óleo. Os resultados indicam que, no intervalo de temperaturas 450, 500 e 550 °C, a distribuição do produto é pouco dependente da temperatura. Em geral, uma redução do tempo de residência ou da taxa de aquecimento favorece a presença de gases pesados (mais do que quatro átomos de carbono). A análise do líquido pirolítico mostra um largo espectro de produtos (principalmente compostos nitrogenados, fenólicos e oxigenados) que pode ser útil como uma fonte de produtos químicos. Manera et al., (2016) avaliaram a produção de um carvão ativado microporoso a partir de resíduos de couro para aplicação para a separação de líquidos e gases de diferentes correntes. Inicialmente no referido estudo o resíduo de couro foi pirolisado em um screw reactor a 450 °C para a produção de biochar, posteriormente, foi submetido a ativação física na presença de CO2 em um reator de leito fixo a 900 °C. O carvão ativado apresentou propriedades semelhantes à de carvões ativados comerciais. Outros autores também avaliaram a produção de carvão ativado a partir de resíduos de couro (KANTARLI; YANIK, 2010; OLIVEIRA et al., 2008a; YILMAZ et al., 2007).

Tôrres Filho et al., (2016) avaliaram o uso do biochar gerado no processo de pirólise de resíduos de couro curtido ao cromo em processos siderúrgicos através da produção de pelotas de minério de ferro, substituindo cerca de 10 a 25% do carvão mineral que é utilizado como material carbonoso base para a preparação das pelotas. Segundo os autores até 76,47% do cromo presente no resíduo de couro ficou retido na fração carbonosa (biochar). As pelotas de minério de ferro foram termicamente tratadas em um forno tipo “pot grate”. A substituição do carvão mineral pelo biochar de resíduos de couro aumentou a resistência a compressão das pelotas, com um valor médio de 3374,64 N·pellets-1 em comparação com 2943 N·pelotas -1 para as pelotas produzidas convencionalmente.

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