2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Resíduos Industriais
O grande avanço do desenvolvimento humano trouxe inevitáveis
impactos sobre a natureza, e uma das maiores problemáticas do mundo
contemporâneo é a intensa produção de resíduos. Isto se dá pela crescente
atividade industrial em todo o mundo e pela falta de programas eficientes de
gestão, o que implica em quantidades crescentes de resíduos gerados sem
correto aproveitamento e destinação, levando a problemas ambientais que
comprometem a qualidade de vida de gerações futuras (RIBEIRO; MORELLI,
2009). Desta maneira, estudos que busquem o correto aproveitamento de
resíduos sólidos industriais tornam-se essenciais.
2.1.1 Classificação
Para realizar o correto aproveitamento e destinação, os resíduos sólidos
industriais devem ser classificados quanto à sua periculosidade. Esta
classificação é feita segundo a NBR 10004:2004 (ABNT, 2004), e envolve a
identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, de seus
constituintes e características, e a comparação destes constituintes com
listagens de resíduos e substâncias cujo impacto à saúde e ao meio ambiente
é conhecido.
De acordo com a NBR 10004:2004 (ABNT, 2004), os resíduos sólidos
são classificados em dois grupos – perigosos e não perigosos, sendo este
ilustra a metodologia, estabelecida pela NBR 10004:2004, para a classificação
dos resíduos sólidos quanto ao risco à saúde pública e ao ambiente.
Figura 1 - Caracterização e classificação de resíduos sólidos.
Fonte: (NBR 10004/2004).
• Resíduos Classe I – Perigosos: aqueles que apresentam risco à saúde
pública e ao meio ambiente, em função de suas propriedades físicas,
químicas ou infecto-contagiosas. Estas características são:
• Resíduos Classe II – Não perigosos
– Resíduos Classe II A – Não inertes: Podem ter propriedades como:
biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água.
- Resíduos Classe II B – Inertes: Quaisquer resíduos que, quando
amostrados de uma forma representativa, segundo a ABNT NBR 10007,
e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou
deionizada, à temperatura ambiente, conforme ABNT NBR 10006, não
tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações
superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se
aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.
Os resíduos classe I ou IIA, caso não sejam tratados, depositados e
destinados de forma regular e correta, podem gerar consequências negativas
ao meio ambiente (ASSUNÇÃO et al., 2007). Sendo assim, estudos que visem
o reaproveitamento de resíduos se tornam essenciais para que haja um correto
gerenciamento de resíduos e, assim, se estabeleçam diretrizes que
proporcionem benefícios sociais, econômicos e ambientais.
Para Figueiredo (2008), a geração de resíduos em processos produtivos
está associada à perda de matérias-primas e, por isso, uma maior valoração
destes resíduos precisa ser explorada.
2.1.2 Resíduo proveniente da produção de dióxido de titânio (MNR)
O dióxido de titânio (TiO2) ou titânia é um produto de origem natural que
está presente na composição da ilmenita (FeTiO3). É encontrado em três
formas cristalinas: anatásio, rutilo, e bruquita, que exibem arranjos distintos de
partículas elementares (Figura 2). Rutilo e anatásio apresentam estrutura
tetragonal e a bruquita apresenta uma estrutura ortorrômbica (JESIONOWSKI,
2001), entretanto, a bruquita não é interessante para uso devido à sua
instabilidade. O anatásio é considerado uma fase metaestável que se
transforma exotermicamente e irreversivelmente em rutilo (fase estável)
quando submetido a uma extensa faixa de temperatura, compreendida entre
350 e 1175°C (JESIONOWSKI, 2001).
Figura 2 - Estrutura dos principais polimorfos do TiO2: (a) Anatásio, (b) Rutilo e (c)
Bruquita.
Fonte: (CASAGRANDE, 2012).
A Cristal Pigmentos do Brasil S.A. produz pigmentos de TiO2 no
município de Camaçari/BA, utilizando a ilmenita (FeTiO3) e escórias de titânio
como matérias-primas para sua produção. Em atividade desde 1971, esta
empresa produz TiO2 a partir do processo de sulfatação, o qual utiliza ácido
sulfúrico (H2SO4) (98%, em peso) para reagir com a ilmenita, minério rico em
titânio e ferro (FIGUEIREDO, 2008). Toda a ilmenita consumida é proveniente
de mineradora de propriedade da Cristal, localizada na Paraíba. A parcela de
ilmenita que reage com o ácido sulfúrico é utilizada para a produção de TiO2. O
resíduo com alto teor de TiO2, denominado minério não reagido (MNR), é
gerado a partir da parcela não reagida da ilmenita na etapa de sulfatação.
Esse minério não reagido contém uma grande quantidade de licor de
titânio solúvel, que é utilizado para a obtenção do produto final. Desta forma, o
minério segue para filtros rotativos à vácuo (FRV’s), onde parte deste licor é
recuperado, seguindo no processo produtivo. Por fim, o minério residual é
transportado até um misturador rotativo, onde é neutralizado com cal hidratada.
O minério neutralizado (MNR) é, então, transportado para a destinação final,
sendo depositado em aterros. As etapas de produção são apresentadas na
Figura 3.
Figura 3 - Processo de produção de TiO2 e geração do minério não reagido (MNR) na
Cristal Pigmentos.
Fonte: A autora.
O resíduo gerado (MNR) é depositado no pátio da empresa (Figura 4),
até sua destinação final na CETREL (Central de Tratamento de Efluentes
Líquidos), no Pólo Petroquímico de Camaçari - BA. Apesar da grande
quantidade gerada (2500 toneladas de MNR mensalmente), não existe um
plano de gerenciamento para uma adequada reutilização desse resíduo.
Figura 4 - Depósito temporário de MNR nos pátios da Cristal Pigmentos.
Em contrapartida, estão sendo e já foram desenvolvidos estudos que
visam o reaproveitamento do MNR pelo setor da construção civil. Entre os
estudos realizados, se destacam estudos que avaliaram a influência do MNR
em propriedades físico-mecânica de argamassas (ALBUQUERQUE et al.,
2018; SANTOS et al., 2017) e em propriedades fotocatalíticas de argamassas
(ALBUQUERQUE, 2017), além de uma análise que avalia a influência do MNR
em propriedades mecânicas de cerâmica vermelha (RIBEIRO et al., 2015).
Apesar de não serem observados trabalhos visando o aproveitamento
do MNR para a produção de clínquer, diversos pesquisadores (Lin et al., 2010,
Chen e Juenger, 2012; Leiva et al., 2012; Herrador et al., 2012; Gumede e
Franklin, 2013; Gomes, Brito e Bravo, 2014 e Martins et al., 2014)
desenvolveram trabalhos nos quais reutilizaram diferentes tipos de resíduos
como matérias-primas e reduziram custos e/ou impactos ambientais na
fabricação de cimento. Com base nestes estudos, este trabalho se apresenta
como uma proposta que busca inserir o minério não reagido, atualmente
disposto em aterro, como matéria-prima alternativa na produção de clínquer.
No documento
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
(páginas 33-38)