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SUMÁRIO

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.5 Resíduos sólidos e resíduos agroindustriais

O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil ocorre em um momento em que o ambiente econômico desfavorável atinge o país como um todo e registra uma situação crítica para sua gestão, pois os prazos para adequação da destinação final de resíduos estabelecidos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos venceram

em agosto de 2014 e o objetivo não foi alcançado. O encaminhamento de resíduos sólidos para locais inadequados configura-se num dos piores impactos que podem ser causados ao meio ambiente, contaminando diretamente o solo, as águas, o ar, e, consequentemente à população. Trata-se de uma prática ilegal, cujos efeitos danosos não são controláveis e que, com o passar dos anos, apresenta custos cada vez mais elevados para adoção de medidas de controle e remediação (SBERA, 2015).

A continuidade dessa prática tem deixado um efeito negativo de grandes proporções para toda a sociedade, que além de conviver com uma situação de elevação nos índices de poluição, também arcará com um aumento nos gastos com saúde e terá grandes dificuldades para consolidar ações de recuperação e reciclagem dos resíduos, desperdiçando importantes recursos (SBERA, 2015).

A geração de resíduos sólidos advém, sobretudo, de atividades econômicas e de transformações da matéria-prima, realizadas durante o processo industrial. O considerável aumento da geração de resíduos sólidos, sejam eles de origem urbana ou agroindustrial, em sua maioria possuem destinação final inadequada (OLIVIER, 2011). Quando manejados de forma inadequada, oferecem diversos riscos como por exemplo formação de lixiviados devido à sua decomposição e consequente contaminação do solo, água e demais componentes ambientais (BRAGA et al., 2005).

Resíduos sólidos são materiais heterogêneos, podem ser inertes, minerais ou orgânicos, resultantes das atividades humanas ou de origem natural. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), NBR 10004 de 31 de maio de 2004, são definidos como qualquer material nos estados sólido e semissólido, resultante de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola e de varrição. Ainda de acordo com sua periculosidade, a referida Norma Regulamentar estabelece duas categorias, são elas:

 Resíduos Classe I (Perigosos): possuem características que trazem riscos graves ao meio ambiente e/ou à saúde pública e podem ser corrosivos, inflamáveis, oxidantes, patogênicos, reativos e tóxicos.

 Resíduos Classe II (Não perigosos): possuem características de acordo com sua solubilidade, dividindo-se em:

- Resíduos Classe II A (não inertes): aqueles que não se enquadram nas classificações de resíduos Classe I (perigosos) ou Classe II B (inertes), podendo ter propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água;

- Resíduos Classe II B (inertes): quaisquer resíduos que, quando amostrados de forma representativa e submetidos a contato dinâmico e estático com água destilada ou deionizada, à temperatura ambiente, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados à concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água, excetuando-se aspecto, cor, dureza, sabor e turbidez.

No Brasil, aproximadamente 55% da composição dos resíduos sólidos são provenientes de materiais orgânicos, sendo que menos de 2% são reaproveitados de alguma forma. Além destes, existe a porção de compostos inorgânicos que, em sua composição, contêm macro e micronutrientes, conferindo ainda mais interesse em sua reutilização. Por essa abordagem – transformar resíduos em insumos – ampliam-se possibilidades de destinação menos impactantes, como alternativa à disposição em aterros sanitários ou estoque a céu aberto (OLIVIER, 2011).

Os resíduos sólidos gerados na agroindústria compreendem considerável proporção, que em determinadas situações já são reutilizados e devolvidos ao ambiente, sendo transformados em insumo agrícola e utilizados próximos às áreas de sua geração. A incorporação de resíduos agroindustriais na agricultura, desde que tratados e processados adequadamente para tal destinação, podem ser uma importante fonte de matéria orgânica, e fornecer até 50% do nitrogênio e fósforo necessários inicialmente, além de micronutrientes essenciais (OLIVIER, 2011).

Resíduos agroindustriais são oriundos do processo produtivo de alimentos, fibras, couro, madeira, etc, e possuem sazonalidade geralmente condicionada oferta da matéria-prima. Em geral, contêm elevada concentração de material orgânico

(MATOS, 2005). A indústria sucroenergética é uma das grandes geradoras de resíduos. Os avanços tecnológicos para o processamento da cana-de-açúcar, otimizando processos para obtenção de um açúcar de melhor qualidade, ocasionou aumentou significativo do volume de descartes decorrentes desse processo, principalmente à partir dos anos 90 (UDOP, 2004). Deste modo, uma destinação alternativa é sua utilização como adubo por exemplo, prática já empregada em áreas de cultivo de cana-de-açúcar, com a aplicação de torta de filtro e outros subprodutos (JORGE et al., 2010).

A utilização de resíduos sólidos na agricultura, como adubo orgânico e condicionador de solos constitui importante alternativa de gestão, ao aliar a reciclagem com destinação final adequada. Todavia, além de nutrientes e MO podem conter organismos patogênicos, compostos orgânicos persistentes e tóxicos, além de elementos inorgânicos potencialmente prejudiciais (SOUZA et al., 2001; ABREU JÚNIOR et al., 2005 a). Necessitam, portanto, de informações mais detalhadas, sobretudo por meio de estudos e pesquisas que apontem para uma aplicação segura e adequada, e que recomendem dosagens adequadas. Antes da aplicação em campo, e tendo em vista amenizar o potencial contaminante do composto, bem como promover melhorias de suas características químicas e físicas, faz-se necessário realizar sua compostagem. Durante este processo, a MO é decomposta por microrganismos, sendo transformada em um material humificado, de cor escura e odor de terra (DE BERTOLDI et al., 1983).

Trata-se de um processo de decomposição controlado, exotérmico e oxidativo de compostos de origem orgânica, por meio da ação de microrganismos autóctones, em ambiente úmido, aquecido e aeróbio, com produção de dióxido de carbono (CO2), água (H2O), minerais e MO estabilizada (composto) (PARR; HORNICK, 1992; DIAZ et al., 1993). Durante este processo, dois elementos são imprescindíveis para a decomposição microbiana, são eles carbono e nitrogênio (C e N, respectivamente). O carbono fornece a energia necessária para o metabolismo e construção de novas células microbianas, ao passo que o nitrogênio é importante para formação de proteínas, ácidos nucleicos, aminoácidos, enzimas e co-enzimas importantes ao metabolismo celular (FLORA et al., 2010).

Um fator importante a ser considerado durante a compostagem é a (relação C/N) presente no material. Para microrganismos é cerca de 10:1 (valor mais adequado para metabolismo), com intervalo de valores para C/N entre 25:1 e 40:1, definido como ideal para o início do processo de compostagem. Valores elevados na relação C/N indicam deficiência de N, interferindo no desenvolvimento de populações microbianas e reduzindo a velocidade do processo de decomposição. Valores baixos na relação C/N podem significar perdas de N na forma de amônia, sobretudo a altas temperaturas e condições de aeração forçada, ocasionando odores indesejados. Ao longo da compostagem a relação C/N decresce gradualmente, estabilizando em valores entre 10:1 a 15:1 (HAUG, 1993; HOWARTH et al., 1995).

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