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exercício das responsabilidades parentais Residência alternada: o debate fora da rede

I. Residência Alternada a caminho de padrão

Questiono-me sobre se, na actualidade a residência alternada deve ou deverá, a breve trecho, considerar-se padrão nas situações de regulação do exercício das responsabilidades parentais, na vertente da fixação da residência da criança. Os últimos anos ditaram, no segmento que ora considero, uma alteração de visão que identifico como evolução. Ditada pela experiência, pelo contributo dado por outros saberes – aos quais acedi, designadamente, por via de acções de formação como a presente, mas, também, pela dinâmica societária.

Algum de nós se atreve a tentar identificar a estrutura familiar a que cada uma destas crianças pertence?  família monoparental;  família pluriparental;  família recombinada;  família avoengas;

 família nuclear fundada no casamento por amor;

 família de facto fundada por amor;

 serão filhos de pais separados?;

 residirão apenas com um progenitor?;

 o progenitor com quem vivam terá “aniquilado” o outro?;

 terá o Tribunal imposto contactos com o progenitor não residente que fiquem aquém das necessidades afectivas da criança?.

A resposta é, indubitavelmente, negativa. A experiência dita-nos que existem famílias nucleares fundadas no casamento por amor que integram crianças problemáticas e tristes, carecendo, não raras vezes, de apoio de profissionais para lograrem inverter a situação. E encontramos crianças equilibradas, com adequado desenvolvimento físico e psicológico cujo alicerce familiar não corresponde àquele padrão.

Sintomático da evolução que trilhei é considerar dois casos, muito simples, mas que denotam a existência de reservas (preconceito?) a uma modalidade de regulação do exercício das responsabilidades parentais que, não sendo inédita, continua a ser alvo de reticências, por alguns.

Num caso opinei afirmativamente, mas só depois de saber a razão para tal pretensão dos pais. No outro caso, o não foi peremptório logo que percebi a distância entre as residências e a idade da criança.

Subjacente à diversidade de resposta estava, seguramente, um entendimento: a residência alternada só seria solução adequada em casos excepcionais e pontuais, que reunissem um conjunto de pressupostos.

De facto, em Janeiro de 2009, num ciclo de conferências organizado pela delegação da Ordem dos Advogados, afirmei que

Quando tais pressupostos não estivessem reunidos, equacionava como altamente provável um aumentar dos desentendimentos, das discussões, dos requerimentos em juízo, com tudo o que de negativo isso acarretaria, directa ou indirectamente, para a estabilidade para a criança.

Porém, ninguém passa pelos pingos de chuva sem se molhar.

Quantas regulações tão primorosas, tão atentamente delineadas, esculpidas com o melhor material – mercê, designadamente, do contributo de especialistas – desembocam em incumprimentos e são, até, letra morta, existindo apenas em termos formais.

Creio que a formação técnico-jurídica não é condição única para a feitura da justiça. O humanismo, resultante da conjugação da nossa natureza de ser social a que acresce a experiência profissional, é determinante se pretendemos respostas actuais e adequadas aos fins que prosseguimos.

A evolução acontece naturalmente e, por vezes, resulta apelar á memória histórica. A criança já ocupou diversos lugares.

A produção legislativa nacional e transnacional a partir da 1ª metade do século XX foi exuberante. Firmaram-se os grandes princípios.

Mas, sobretudo, deu-se voz à criança. Voz directa e indirecta.

Sabemos hoje, porque elas assim o veiculam, que, em regra, querem ambos os pais. E querem porque precisam. Sabemo-lo porque nos é dito por quem é especialmente formado em áreas que não

dominamos e que são fundamentais para melhor decidirmos – psicologia, pedopsiquiatria, por exemplo.

Em conflitos de forte génese pessoal a decisão não é fácil e a única certeza é a de que cada família tem um segredo e o segredo é não ser igual às outras famílias.

Talvez, atentar nas palavras de um jovem que partilha, em rede, a angústia provocada pela separação dos pais nos enriqueça a reflexão.

Quais serão, então, os parâmetros que deverão nortear-nos? Seguramente o interesse da criança…mas este importa ponderar os pais, seus direitos/deveres. São factores que entram

numa relação directa e devem ser aferidos em conjunto. Assim o ditam a maioria dos diplomas que urge considerar, como é o caso do preâmbulo da Convenção sobre os Direitos da Criança ao considerar que a família propicia o desenvolvimento pleno e harmonioso da criança e ao plasmar como direito seu, não ser afastada de seus pais, a não ser em casos excepcionais que correspondam ao seu (dela, criança) interesse.

Na linha de reflexão que temos vindo a desenvolver, julgamos dever equacionar-se como a forma ideal de fixação de residência da criança em caso de regulação do exercício das responsabilidades parentais o regime de alternância quando:

E que não se afaste a residência alternada com base

Seria esquecer que a formação/treino parental – a que a própria Lei 166/99 de 1 de Setembro, atribui especial importância mas que ainda não regulamentou – se destina, indiferenciadamente, a pais que vivem juntos mas também a pais separados.

E isto porque, existem diferentes modelos teóricos de relacionamento pais/filhos – baseados em controlo, igualdade, limites, cooperação, comunicação, por exemplo – que permitem ultrapassar diferendos entre os próprios progenitores e potenciar a manutenção de vínculos com os filhos em moldes semelhantes aos que existiam aquando do relacionamento quotidiano.

Caminho, como já se antevê, no sentido do respeito pelo acordo dos pais e da formalização da situação de facto que corresponda aos interesses da criança. Sempre norteada pelo interesse da concreta criança que estejamos a considerar, o que implica prudência e informação, como em

qualquer situação de fixação de residência de uma criança.

Aponto no sentido da oposição ao sistema de residência alternada nos casos em que a mesma represente um “salto para o desconhecido” e sem prejuízo de fixação de contactos amplos.

Regressando à questão inicial, adiantamos que não existem padrões quando o que está em causa é o superior interesse de uma criança

Existem princípios! E exige-se que quem decide reúna, a par do conhecimento técnico- jurídico, prudência e abertura aos outros saberes e à diferença que são as relações familiares em geral e entre pais e filhos em especial.

obrigações contratuais (em especial, as