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Capítulo 1 Capital Psicológico Positivo e Criatividade

1.1. Capital Psicológico Positivo

1.1.3. Dimensões do Capital Psicológico Positivo

1.1.3.4. Resiliência

Embora se trate de um conceito relativamente recente no campo da Psicologia, a noção de resiliência há muito tempo que vem sendo utilizada por outras ciências como a Física e a Engenharia, para descrever a capacidade de um material em absorver energia sem sofrer uma deformação permanente ou para descrever a resistência ao choque.

O dicionário de língua inglesa Longman Dictionary of Contemporary English (1995) oferece duas definições de resiliência: a primeira menciona a “habilidade para voltar rapidamente ao seu estado normal de saúde ou de espírito depois de passar por doenças, dificuldades, etc.”; a segunda explicação para o termo encontrada neste dicionário afirma que resiliência “é a habilidade de uma substância em retornar à sua forma original quando a pressão é removida” (Seligman, 2005).

Para a Psicologia, a definição de resiliência não é tão clara e precisa como na Física e na Engenharia, dada a complexidade e multiplicidade de factores e variáveis que devem ser tidos em conta no estudo de fenómenos humanos. Assim, na Psicologia, o termo é utilizado no estudo de processos que explicam a superação de crises e adversidades em indivíduos, grupos e organizações (Yunes, 2003).

Conforme referem Block e Kremen (1996) os indivíduos variam largamente na sua capacidade de adaptação e na sua habilidade para

equilibrar e reequilibrar como resposta à constante mudança a que estão sujeitos no mundo actual. Mesmo durante o decurso da sua vida, a capacidade de adaptação de um indivíduo às diferentes situações com que se depara é variada e díspar.

Devido ao reconhecimento destas diferenças interindividuais e intra- individuais, uma preocupação central no campo da personalidade ao longo dos anos, tem sido investigar e estudar os factores subjacentes à adaptabilidade humana.

Rutter (1987), define inicialmente a resiliência como uma “variação individual em resposta ao risco”. Mais tarde, Rutter (1999) apresenta uma definição mais ampla do termo, referindo que a resiliência diz respeito “ao fenómeno de superação do stress e de adversidades”.

Zimmerman e Arunkumar (1994) distinguem resiliência de

invulnerabilidade, salientando que a resiliência refere-se a uma “habilidade para superar adversidades”, o que não significa que o indivíduo saia da crise ileso, como implica o termo invulnerabilidade.

Masten e Reed (2005) entendem a resiliência como um “fenómeno caracterizado por padrões de adaptação positiva a um contexto de adversidade e risco significativo” e afirmam que a resiliência se reflecte numa “boa adaptação sob circunstâncias extenuantes”.

Segundo Luthans, Youssef e Avolio (2007), o conceito de resiliência faz apelo considerável ao contexto actual do trabalho, que é caracterizado pelo aumento da competitividade e pela mudança constante. Para aqueles que apenas conseguem adaptar-se de forma reactiva, este ambiente é pouco favorável, stressante e pode até mesmo ser disfuncional para o indivíduo e para a organização. Confinar a resiliência a uma descrição passiva, que apenas permite reacção e sobrevivência à adversidade, limitaria a sua aplicação à actual situação com que as organizações se deparam.

Os gestores de hoje percebem que as suas organizações necessitam de colaboradores que consigam prosperar no caos, aprender proactivamente e crescer através de dificuldades. Voltar atrás, ao ponto inicial (onde se estava antes da ocorrência de um problema ou crise), é necessário, mas não é suficiente. As organizações de hoje necessitam de sobreviver e recuperar, mas

também de prosperar e florescer através das inevitáveis dificuldades e incertezas com que se deparam diariamente e necessitam fazê-lo mais rapidamente que os seus concorrentes.

Por este motivo, a definição de resiliência no âmbito do PsyCap é mais abrangente dado que inclui, não apenas a capacidade de recuperar perante a adversidade, mas também perante eventos estimulantes e positivos, bem como a vontade de ir além do ponto de equilíbrio (Luthans, Youssef & Avolio, 2007).

No âmbito do PsyCap a resiliência é assim entendida como a “capacidade psicológica positiva de recuperar/superar da adversidade, incerteza, conflito, falha ou até da mudança positiva, progresso ou aumento de responsabilidade” (Luthans, 2002a).

Também no entendimento de Jensen e Luthans (2006), a resiliência é considerada como “a capacidade dos indivíduos em enfrentar com sucesso a mudança desafiante, adversidade e risco”.

Resiliência face aos Critérios POB: O impacto na performance

Conforme referem Luthans e Youssef (2007), apesar da existência de uma extensa construção teórica e aplicação ao campo da Psicologia, o estudo e a aplicação da resiliência ao contexto organizacional está agora a emergir. A integração desta capacidade psicológica positiva na teoria PsyCap é feita com base na investigação existente na Psicologia, extrapolando-se os temas que existem em comum e adaptando-se outros temas quando surgem descontinuidades resultantes das diferenças contextuais.

Apesar da sua aplicação, relativamente recente, ao contexto organizacional, os autores da teoria Psycap consideram existir evidência suficiente que a resiliência cumpre os critérios POB.

No que respeita o impacto desta capacidade psicológica na performance, as aplicações da resiliência ao local de trabalho estão a emergir de forma acelerada entre investigadores, praticantes e consultores.

Luthans, Youssef e Avolio (2007) apontam os trabalhos de Conner, LaMarch, Vickers e Kouzmin, Waite e Richardson, Zunz e Waterman e Collard, como exemplos deste crescimento exponencial da importância da resiliência para o contexto organizacional.

Luthans, et al (2006) referem ter encontrado, nas suas investigações, uma relação positiva entre resiliência e a performance no local de trabalho.

Nos estudos de Luthans, Avolio, Walumbwa e Li (2005), os autores revelam que, embora preliminares, os seus trabalhos indicam que a resiliência produz ganhos significativos no desempenho dos indivíduos.

Para além disso, Luthans, Youssef e Avolio (2007) apontam ainda outros resultados positivos potenciais que a resiliência pode ter no local de trabalho como o aumento da satisfação face ao trabalho, o aumento do comprometimento com a organização e a melhoria do capital social.

Coutu (2002) e Masten (2001) explicam que indivíduos resilientes tendem a ser mais efectivos na diversidade de experiências de vida, “incluindo ajustes e desenvolvimentos sob uma variedade de condições ameaçadoras no curso de vida”, o que terá um reflexo positivo no seu desempenho.

Também Luthans e Youssef (2004) indicam que as pessoas resilientes conseguem alcançar níveis elevados de performance, devido ao facto de possuírem uma capacidade de prosperar e crescer através das contrariedades e dificuldades com que se deparam.

Luthans e Youssef (2007) acrescentam ainda que existem diversas abordagens estabelecidas para o desenvolvimento da resiliência aplicáveis ao contexto organizacional e que passam pelo desenvolvimento de um conjunto de factores normalmente associados a performance elevada (como o

desenvolvimento de competências, conhecimentos, habilidades,

relacionamentos sociais, etc.).

O capital psicológico positivo é assim compreendido por capacidades psicológicas positivas que, para além de terem fundamentação na teoria e na

investigação, são ainda mensuráveis, susceptíveis de desenvolvimento e contribuem para a melhoria da performance das organizações.

Na Figura 1.3 encontra-se um esquema representativo das dimensões do capital psicológico positivo.

Figura 1.3 – Dimensões do Capital Psicológico Positivo Adaptada de Page e Donohue (2004)

D

IMENSÕES DO

C

APITAL

P

SICOLÓGICO

P

OSITIVO

Auto-eficácia

Acreditar

nas

suas

capacidades para mobilizar

recursos cognitivos para

obter

resultados

específicos

Esperança

Ter determinação orientada

a objectivos e estabelecer

caminhos alternativos para

os alcançar

Optimismo

Atribuir eventos positivos a

causas internas,

permanentes e estáveis

Resiliência

Ter

capacidade

para

recuperar da adversidade,

falha ou de mudanças

positivas

Capital Psicológico Positivo



Positivo



Mensurável



Susceptível de desenvolvimento

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