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O constructo resiliência é multifacetado e multidimensional, consiste em uma relação dinâmica entre estressores e adversidades do ambiente e as respostas e reações dos idosos frente a eles (PHILLIP et al., 2011). Subjacente ao conceito de resiliência é necessário ter

vivenciado uma experiência com exposição a um risco e a evidência de adaptação positiva (FONTES; NERI, 2015).

Há alguns fatores que são capazes de mediar à relação entre adversidades, comportamentos e as respostas protetoras e podem ser denominados repertório de resiliência, ou seja, um conjunto de habilidades ou recursos capazes de moderar as adversidades. Indivíduos podem ter diferentes fatores ou elementos em seu repertório e usá-los de diferentes formas em momentos e em circunstâncias variadas (PHILLIP, et al., 2011).

Dentro de uma perspectiva desenvolvimental, a resiliência não pode ser separada em períodos distintos. Nesse contexto, há um aspecto contextual e dinâmico da resiliência ao longo da trajetória de vida (HOSTETLER; PATERSON, 2017). Sendo assim, o repertório de resiliência depende necessariamente da história de vida de cada pessoa (PHILLIP et al., 2011).

A história de superação de desafios pode levar a um aumento da resiliência. Pessoas que quando jovens enfrentaram o preconceito por assumir a homossexualidade ou por pertencerem a uma etnia diferente, quando envelhecem, tendem a lidar com os novos obstáculos das mudanças relacionadas ao envelhecimento com mais leveza (HOSTETLER; PATERSON, 2017).

Considerando a resiliência ao longo de uma trajetória de vida, é preciso reconhecer a importância do significado atribuído pelos indivíduos aos eventos adversos da vida, e como este significado é incorporado em seu desenvolvimento contínuo de autoidentidade para manter a constância e a continuidade ao longo de sua trajetória (PHILLIP et al., 2011).

A atribuição de significado é considerada um importante elemento da resiliência. O sentido da vida, especialmente a significação atribuída aos relacionamentos com outros, espiritualidade e atividades, é a chave para a saúde e resiliência (PHILLIP et al., 2011).

O sentido da vida está sempre em mudança, sem nunca deixar de existir. De acordo com Viktor Frankl, é possível descobrir o sentido da vida em três formas: primeiro, por meio de um trabalho ou ato; segundo, ao encontrar alguém ou ao experimentar algo como bondade, verdade e beleza; e por fim, pela atitude tomada frente ao sofrimento inevitável (FRANKL, 2008).

No envelhecimento, o sentido da vida está relacionado a um equilíbrio entre perdas e ganhos, ao significado de eventos cotidianos, e em deixar o passado e redescobrir o sentido fundamental para a existência, por meio da busca de um propósito e ao encontrar sentido nas adversidades (OLIVEIRA; SILVA, 2013).

Na perspectiva do curso da vida, a trajetória da resiliência é baseada em experiências prévias de enfrentamento aos desafios da vida. Cumulativamente, cada experiência adversa ou de perda que se dá com o avançar da idade pode enriquecer e aprimorar o repertório de resiliência de cada pessoa (PHILLIP et al., 2011).

Nessa perspectiva, a resiliência não só declina ao longo da vida, mas tende a aumentar. Assim, há sugestões de que a resiliência pode ser mais prevalente entre os idosos do que adultos mais jovens (FONTES; NERI, 2015; PHILLIP et al., 2011).

O repertório de resiliência inclui fatores de saúde e fatores sociais e econômicos. Os recursos de saúde são compostos por: status de saúde, promoção da saúde, atividade física, nutrição e medicação. Já os recursos sociais e econômicos são compostos por: suporte social, atividades e finanças (PHILLIP et al., 2011).

O status de saúde é um recurso fundamental para se atingir outros objetivos de vida, uma má saúde resulta em uma série de limitações funcionais que podem se tornar uma barreira para a realização de objetivos pessoais. No entanto, não é tanto o nível do estado de saúde ou ausência de doenças, mas sim como ela é definida pelo próprio indivíduo que é importante (PHILLIP et al., 2011).

Outro componente essencial para o desenvolvimento da resiliência e envelhecimento saudável é a promoção da saúde. O cuidado de si mesmo desde jovem previne a ocorrência de problemas de saúde e é capaz de manter e ainda melhorá-la. No entanto, é necessário perceber em si o potencial para modificar e melhorar o próprio status de saúde (RIBEIRO et al., 2015).

A atividade física funciona como uma fonte para aumentar a reserva funcional. Quando em processo de adoecimento ou em uma internação hospitalar, se faz necessário ter uma reserva física capaz de resistir aos períodos de estresse fisiológico (PHILLIP et al., 2011).

Assim como a atividade física, uma boa nutrição é capaz de contribuir para a reserva funcional. É necessário ter uma boa nutrição para manter a massa muscular, a funcionalidade e, assim, ser capaz de resistir a períodos de estresse fisiológico (PHILLIP et al., 2011).

Para os idosos, a adesão a regimes de medicamentos complexos é muito importante para gerenciar as condições crônicas da pessoa, reduzindo sintomas, e para a manutenção da funcionalidade. Contudo, o plano medicamentoso deve ser coerente com os objetivos de vida da pessoa; reações adversas de medicações que impactam na realização de tarefas pela pessoa idosa devem ser modificados e ajustados aos objetivos de vida (PHILLIP et al., 2011).

Dentro do repertório de resiliência, na esfera dos recursos sociais e econômicos, o suporte social se destaca por proteger os idosos da adversidade, pessoas confiáveis que

oferecem ajuda e conforto durante as adversidades contribuem para aumentar a resiliência (PHILLIP et al., 2011).

O engajamento em atividades também contribui para respostas resilientes frente às adversidades, pessoas engajadas em atividades de lazer e de cuidados com a casa apresentam respostas mais resilientes em relação aos idosos que pouco se envolvem em atividades (HILDON et al., 2008).

Por outro lado, o baixo envolvimento em atividades pode ter relação com as limitações funcionais. Um estudo realizado em Campinas encontrou que idosos com elevada resiliência apresentavam maior número de atividades instrumentais preservadas, sugerindo uma influência da funcionalidade no desenvolvimento da resiliência (FONTES; NERI, 2015)

Condições socioculturais e econômicas também influenciam na resiliência ao interagir com os processos biológicos ao longo da vida, determinando vulnerabilidade ou condições para o desenvolvimento das respostas resilientes. As condições sociais e de renda familiar se relacionam com vulnerabilidades na velhice, sugerindo que as dificuldades financeiras podem interferir negativamente no desenvolvimento da resiliência (RODRIGUES; NERI, 2012).

O repertório de resiliência possui importantes componentes que influenciam a resiliência. No entanto, mais relevante que cada componente, é como a pessoa interpreta a sua situação, experiências e os recursos que possui para enfrentá-la (PHILLIP et al., 2011).