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Resistência Antimicrobiana

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A resistência aos antibióticos, entre os vários gêneros bacterianos, representa um problema de Saúde Pública mundial. Segundo a WHO (2012), seu aumento tem ocorrido de forma alarmante nos últimos anos, sendo estimado que, no futuro, o uso de fármacos para o tratamento de infecções possa resultar em perda de efetividade.

Para alguns estudiosos, a situação caminha para o que foi vivenciado na era do pré- antibiótico, uma vez que o surgimento de novos recursos terapêuticos não acompanha a evolução dos mecanismos de resistência (YIM et al., 2006; SANDIUMENGE et al., 2006).

Segundo Guimarães et al. (2010) a resistência bacteriana é considerada um fenômeno biológico natural e a cada vez que se introduz uma nova droga na prática clínica e/ou veterinária, micro-organismos de alta capacidade de adaptação se tornam resistentes, podendo esta ser de diferentes mecanismos. Fuchs (2004) conceitua que a do tipo primário é apresentada por espécies bacterianas naturalmente resistentes aos antimicrobianos. E a adquirida consiste em um fenômeno genético relacionado à existência de genes contidos em micro-organismos que codificam diferentes mecanismos bioquímicos, impedindo a ação de diversos fármacos (FRERE, 1995; KAYE et al., 2000).

A resistência bacteriana não respeita fronteiras e seu aparecimento em localidades remotas pode resultar em impacto para o mundo em curto intervalo de tempo. A eliminação destes micro-organismos no meio ambiente é resultante de sua utilização, muitas vezes indiscriminada, destes fármacos em medicina humana, veterinária e nas práticas agrícolas (FUCHS, 2004; ANGULO et al., 2004; PALERMO NETO e ALMEIDA, 2006; JUNIOR et al, 2010).

Particularmente na avicultura, são apontadas inúmeras considerações referentes ao seu uso na produção animal e resistência resultante do processo adaptativo de alguns micro- organismos, assim como a capacidade de perpetuar essas características para seus descendentes (KANETO et al., 1996; HOFER et al., 1998; HASMAN et al., 2005; AARESTRUP et al., 2007).

Junior et al. (2010) apontam ainda que o uso em doses sub-terapêuticas de antimicrobianos na prática veterinária, leva a seleção de um pool de genes transferíveis para bactérias comensais, os quais através de pressão seletiva, sobrevivem e se disseminam pela cadeia alimentar. Considerando ecossistema global, a resistência aos antimicrobianos

27 adquirida é descrita praticamente em todas as espécies, infectando agentes etiológicos de diferentes nosologias, entre estes, Salmonella (ASSEVA et al., 2006).

Uma série de investigações demonstra que os mecanismos de resistência podem ocorrer via modificação do DNA dos micro-organismos ou por produção de moléculas, reações ou comportamentos transmissíveis a outros descendentes ou não. Além disso, podem envolver o DNA cromossomal, como a mutação, ou ser feito pela aquisição de material genético extracromossomal por transdução, transformação ou conjugação de genes (KAYE et al., 2000; SCHWARZ e CHASLUS-DANCLA, 2001; ALEKSHUN e LEVY, 2007; SOUZA et al., 2010).

A resistência antimicrobiana extracromossômica envolve disseminação em nível clonal, associada à replicação cromossômica, através de replicons, transferência de plasmídeos ou migração de genes com replicação de transposons, os quais coexistem na natureza e se multiplicam de forma exponencial, tendo em vista que estão associados com a duplicação do DNA. Resistência a 12 drogas foi observada em um simples plasmídeo de uma enterobactéria (LEDUC, 1996). Podem ser citadas diferentes situações, por exemplo, no sudeste da Ásia observado em Salmonella ser. Typhi resistente ao cloranfenicol, tetraciclina e ampicilina (MIRZA et al., 2000).

Como abordagem da evolução histórica da resistência aos antimicrobianos em nível de Brasil, inúmeras avaliações individuais, relacionadas ao monitoramento da resistência vêm sendo efetuadas desde a década de 50, tendo Cisalpino (1957) analisado a sensibilidade de salmonelas isoladas a partir de 1947 e verificado o aumento progressivo de amostras resistentes. Entre as décadas de 60 e 70 este percentual ascendeu tendo sido apontado por Costa et al., 1964 e Hofer, 1974. Durante os anos 80, estudos realizados em diferentes regiões do país, em cepas de origem humana, alimentar, animal e ambiental, revelam a resistência simples ou múltipla em Salmonella spp., bem como capacidade de transferência destes marcos (QUEIROZ et al., 1985; CAMPOS e HOFER, 1989). Resultados similares foram obtidos por Solari et al. (1986) em Salmonella ser. Agona, Reis (1994) em Salmonella ser. Enteritidis e Reis et al. (2011) em Salmonella ser. Typhimurium, das quais foram isoladas de várias fontes e regiões do país.

Sua prospecção na cadeia de animais de produção vem sendo evidenciada em diversas partes do mundo, especialmente em países onde a avicultura é considerada uma atividade de expansão. Esta assertiva pode ser corroborada pelas observações obtidas por Frye e Fedorka- Cray (2007) quanto ao perfil de suscetibilidade em cepas de Salmonella spp. isoladas de origem animal nos Estados Unidos, Kim et al. (2012) em carne de frango processados na Coréia e Thai et al. (2012) em carne suína e de ave comercializadas no Norte do Vietnã.

Na Europa, o resultado de um estudo realizado por Carraminãna et al. (2004), em Zaragoza, na Espanha, demonstraram resistência equivalente a 96,2% entre cepas de

Salmonella spp. isoladas de um abatedouro de aves, com multirresistência em 65,4% a drogas

correspondentes as tetraciclinas, aminoglicosídeos e sulfonamidas.

Mais recentemente, a avaliação realizada por Álvarez-Fernández et al. (2012) em salmonelas isoladas de pele e cortes de carcaças de frangos de corte no Noroeste da Espanha, nos anos de 1993 e 2006, evidenciaram a resistência em 100% das cepas (N=69), com variação de 3 a até 13 marcos distintos.

Assim como Bacci et al. (2012) analisaram 123 amostras de Salmonella spp. provenientes de carnes de frango e codorna da Itália e detectaram entre os sorovares prevalentes 86,1% de resistência à tetraciclina e 30,5% de multirresistência para ampicilina, sulfametoxazol e tetraciclina. Em semelhança aos resultados obtidos por Corona et al. (2012) em carne de frango importada por Cuba, onde das 83 amostras, 32,1% mostraram-se

28 resistentes à tetraciclina, 25% à ampicilina, 17,9% à ceftazidima, 10,7% à ceftriaxona e 3,6% ao ácido nalidíxico.

No Brasil, o panorama evolutivo da resistência antimicrobiana em Salmonella spp. provenientes em aves comercializadas (carcaças, cortes e/ou subprodutos), foram catalogados por Vessoni (2004) que avaliaram a resistência antimicrobiana em cepas isoladas de carcaças, verificando nesta época um percentual acentuado de resistência para drogas utilizadas como promotores de crescimento.

Rezende et al. (2005), ao analisarem Salmonella spp. de carcaças de frangos de agroindústrias goianas, constataram resistência múltipla em cepas pertencentes aos sorovares Enteritidis, Typhimurium e Muenster, para beta-lactâmicos (incluindo ampicilinas e cefalosporinas de 1ª e 2ª geração), aminoglicosídeos e fenicóis.

Posteriormente, Ribeiro et al. (2006) analisaram os níveis de resistência em 22 cepas de Salmonella ser. Hadar provenientes de carcaças de frango congeladas no estado do Rio grande do Sul, revelando 100% de resistência à tetraciclina, estreptomicina e sulfazotrim e 86,36% ao ácido nalidíxico, 18,18% a nitrofurantoína e 4,5% ao cloranfenicol.

Já nas avaliações realizadas em cepas provenientes de carcaças de frango do nordeste brasileiro, Duarte et al. (2009) constataram que 94,7% eram resistentes a pelo menos um antimicrobiano, demonstrando entre os perfis detectados uma maior prevalência para os marcos nitrofurantoína, ácido nalidíxico e tetraciclina.

Embora estudos desta natureza venham sendo elucidados ao longo dos anos por uma série de investigações individuais, em 2004 a Agência de Vigilância Sanitária e laboratórios colaboradores em todo país, tomaram a iniciativa de implantar o Programa de Monitoramento da Prevalência e Resistência Antimicrobiana em Frango (PREBAF). Neste estudo foram coletadas 2.710 unidades amostrais de carcaças de frango congeladas colhidas no comércio, obtendo como análise preliminar, resultados equivalentes ao percentual de 4% para o isolamento de Salmonella spp. e consideraram como mais preocupante, o alto nível de resistência encontrado na totalidade das cepas (ANVISA, 2008).

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