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RESOLUÇÕES SOBRE A CONJUNTURA NACIONAL

Vivemos hoje u m a situ ação difícil p a ra o povo brasileiro. O regime im plantado atrav és do golpe m üitar de 1964, jogou o p aís n u m a crise sem precedentes. Cresce a fome e a carestia de vida. O desemprego, notad am en te nos últim os anos, tem se alastrado por todo o território nacional; a divida extem a cresce a cad a dia, chegando ã fabulosa q u a n tia de 80 bilhões de dólares (...). É neste quadro que em 15 de novembro, se realizarão a s eleições p arlam entares que, apesar das debilidades e casuísm os im postos pelo govemo, serão um m om ento privilegiado d a lu ta do povo brasileiro contra o a tu a l modelo econômico, político e social do govemo. A UNE, entendendo que a principal tarefa dos estu d an tes e de todo o povo n e ssa s eleições é d erro tar o regime, e seu partido, o PDS, tira como resoluções:

- Votò n a oposição p a ra d erro tar o PDS!

Convocação de u m a A ssem bléia Nacional Constituinte; Fim d a LSN, Lei de Im prensa, Lei dos Estrangeiros e dem ais leis de exceção;

Independência e S oberania Nacional;

Fim d a a tu a l política econôm ica e financeira do govemo.

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As propostas político-eleitoraís davam novamente o tom para a pauta da política nacional. Associada a ela, continuavam persistentemente as reivindicações de revogação de toda e qualquer lei de caráter autoritário e de exceção; e a de instalação de uma Assembléia Nacional Constituinte.

Relativo às questões educacionais, foi reafirmada pelo movimento a luta pelo ensino público e gratuito e contra o ensino pago, “conclamando o conjunto dos estudantes a lutar por uma universidade pública, gratuita, autônoma e democrática, e voltada para os interesses nacionais e populares” (Boletim Informativo da UNE n® 5 nov/82). Além da luta pela universidade pública, no congresso foi deliberada a realização de um Seminário Nacional sobre o Ensino Superior e Reestruturação da Universidade. Este seria precedido de um Seminário Nacional realizado conjuntamente com os professores e funcionários.

A luta pela universidade era desmembrada em vários outros pontos, a saber, o preenchimento de todas as vagas, bem como sua ampliação; atendimento dos pedidos de suplementação de verbas; subsídios do govemo para as escolas particulares visando o rebaixamento das anuidades; revogação da legislação autoritária da escolha de dirigentes universitários e dos órgãos diretivos, realizando eleições diretas para todos os cargos de direção, indusive o de reitor; entre outros.

No que se refere ao movimento estudantil, em particular, foi decidido que 1983 seria eleito como o ano de legalização da UNE. A campanha para este fim, bem como

para conquistar sua sede, foram tópicos aprovados em assembléia neste congresso. Abaixo, segue o quadro de pautas e reivindicações aprovadas no 34® Congresso da UNE.

Ao término do 34® foi novamente eleita a próxima direção da entidade, de maneira congressual. Pela primeira vez, em 45 anos de existência, a União Nacional dos Estudantes teve uma mulher na sua presidência e a estudante de Ciências Sociais da UFBA, Clara Araújo toma-se dirigente.

A nova gestão realiza um papel de caráter político-organizativo. A luta pela legalização da entidade - e neste sentido a promoção de fóruns com fins a mudança no estatuto da entidade bem como a realização de seminários acerca da Reestruturação da Universidade, foram atividades muito importantes para o movimento que marcaram o período.

O Estatuto da UNE foi aprovado em assembléia geral, no dia 18 de julho de 1983, no anfiteatro da Universidade Federal Fluminense e foi um passo importante na luta pela conquista da legalização da entidade, que viria anos mais tarde, em 1985.

As lutas educacionais aprovadas no congresso anterior são o fio condutor para entendermos as atividades realizadas neste período. Foi com base nestas lutas, que a UNE juntamente com a FASUBRA e a ANDES, organizou no ano de 83, o I Seminário de Reestruturação da Universidade que ao visar a reestruturação da universidade parte da lógica de reconstmção do movimento estudantil e da própria sociedade, que vinham se modificando e lutando por uma real abertura do regime militar. Abaixo, segue texto informativo da entidade referente aos acontecimentos deste Seminário.

Rèalizou-se, nos dias 2 e 3 de setembro em São Paulo, o 1® Seminário Nacional sobre R eestruturação d a Universidade promovido pela UNE, ANDES e FASUBRA. O Seminário contou com a participação de 70 delegados estudantis, 40 funcionários e 30 professores, além dos participantes. Teve s u a ab ertu ra realizada no dia 1® de setembro, com a presença de 400 pessoas e 70 entidades representativas.(...) Foram dois dias de intensos debates sobre os problem as d a universidade e do país, sendo que o d ia 2 foi reservado ao debate em grupo (democracia e autonom ia, recursos públicos, ensino e pesquisa e condições de trabalho) e no d ia 3 , foi realizada a plenária final. (...) D iscutiu-se tam bém o problem a d a crise do país e aprovou u m a forma de luta. Os estu d an tes, professores e funcionários de todo o p aís realizarão no dia 28 de setem bro, u m d ia nacional de lu ta, com m anifestação n a s escolas e n a ru a , em protesto contra a política econômica do governo, pela revogação do decreto-lei 2045 e a defesa da universidade.

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Apesar da escassa documentação deste período, pode-se constatar a existência de uma certa continuidade de ações por parte do movimento e suas entidades destacando que as pautas relativas á política educacional servem de chave de leitura para perceber o perfil das atividades e manifestações realizadas neste ano.

A realização do Seminário sobre Reestruturação da Universidade foi o último evento importante desta gestão. Em outubro de 1983 iniciava o 35® 'Congresso da UNE, realizado na cidade de São Bernardo do Campo, no estúdio Vera Cruz.

Contando com a presença de 2700 estudantes, este congresso também teve na figura de Honestino Guimarães - ex-presidente da entidade - a homenagem de honra. Na abertura do congresso, a presença de Dona Maria Rosa, mãe de Honestino, resgatou a imagem de seu filho, emocionando toda a plenária. Presentes também se fizeram na abertura, o prefeito da cidade Aron Galonte, e o representante do povo palestino El Mashini.

O 35® Congresso mantém na sua pauta de reivindicações muitos pontos dos congressos anteriores, conseguindo dar uma certa continuidade em suas lutas. A questão do financiamento das universidades, de sua democratização, e a questão da política nacional são as três diretrizes que destacam o quadro de reivindicações deste fórum.

No que diz respeito ao financiamento das universidades, algumas propostas foram adicionadas como amadurecimento de reivindicações aprovadas nos últimos congressos: a abertura do Crédito Educativo em 84 transformado-o em bolsas de estudo não-reembolsáveis, e o apoio ao projeto do senador João Calmon que estipula 13% da anrecadação dos impostos da União para a educação e 25% nos estados.

Além disso, foram aprovadas também pautas para a criação de uma política de assistência estudantil. A ampliação e/ou criação de alojamento para estudantes, o rebaixamento dos preços do RU’s, e assistência médica e odontológica para a comunidade universitária, são algumas destas resoluções.

Apesar do 1® Seminário Nacional sobre Reestruturação da Universidade, realizado neste mesmo ano, as reivindicações acerca da democratização das universidades quase não trazem aspectos novos. Continuam na pauta a luta por eleições diretas para cargos diretivos; reconhecimento e legalização das entidades; lutar por 1/3 de participação discente nos órgãos colegiados; e a participação da comunidade universitária na fomnulação de estatutos e regimentos. Entraram porém, a luta pela participação dos estudantes nos Conselhos Estaduais de Educação que asseguram o espaço democrático; e contra a participação da UNE no CFE.

nacional, são caracterizadas pela extrema consciência de luta pela liberdade: sindical, eleitoral e de independência política. Sintonizados com as aspirações populares, os estudantes reivindicam eleições diretas para presidente, livre expressão e organização de todas as con-entes políticas existentes na sociedade brasileira, e participação da UNE em todas as instâncias que fortaleçam a unidade do movimento popular e democrático. A realização de uma campanha nacional pela soberania e independência nacional com revogação do acordo com o FMI também foi bandeira de luta neste congresso.

Se a repetitividade de algumas propostas significa uma certa continuidade na lógica da luta dos estudantes, pode simbolizar também a falta de proposições mais pertinentes para uma atuação mais qualificada do movimento. Abaixo, o quadro de reivindicações do 35® Congresso da UNE.

Neste congresso foi eleita a nova diretoria da entidade, sendo Alcidon de Matos Pae, o estudante que presidiu a entidade no ano de 84, um ano muito significativo para a sociedade brasileira, que marcou a década com seu espírito de aspiração da democracia e da reconstrução política e social do país. Com o movimento das Diretas-Já, o país sonhou com a possibilidade de liberdade democrática depois de 20 anos de regime militar e junto com os partidos de esquerda, e todos os outros movimentos sociais e populares da época, o movimento estudantil participou deste momento. Sem o destaque e o protagonismo da década de 60, se envolve no movimento pela democratização do país como um entre muitos movimentos e inúmeras organizações existentes. A falta de penetração das entidades estudantis entre os universitários devido ao seu forte aparelhamento pelos grupos e tendências político partidárias foi um dos aspectos que contribuiu para o afastamento dos estudantes da política estudantil e se tomou ponto de discussão em todos os fóruns e boletins das entidades. Neste momento, no interior do debate, ganha vigor a crítica à estmturação das entidades estudantis como um dos fatores geradores deste panorama.

O texto abaixo, se refere á presença deste problema no discurso das entidades,- o distanciamento entre entidades/estudantes - , caracterizado como próprio da sua estrutura burocratizada e geradora da intolerância e doutrinação, aparelhada por pequenos grupos, situação traduzida numa prática política conservadora.