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A LDB estabelece os princípios e bases da educação nacional. Definiu os eixos educacionais: educação básica, que são o ensino infantil, fundamental e médio; e superior; e as modalidades de ensino: a jovens e adultos que não

concluíram seus estudos na idade própria, educação especial voltada para

portadores de necessidades especiais30, e educação profissional como

complemento à educação básica. Além disso, também discorre sobre os povos indígenas31.

Ainda, temos uma grande vitória da classe trabalhadora ao conquistar espaço legítimo de participação e decisão, no ensino de sua tutela, nos conselhos escolares, levando para o ambiente escolar, suas percepções e reais necessidades territoriais e culturais. Não obstante, não menos importante, destaca-se os artigos 12º e 14º e alguns de seus incisos, que são:

Art. 12º. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;

VII - informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

Art. 14º. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996).

Os parâmetros curriculares nacionais (PCN) orientam os temas a serem trabalhados em nível nacional, cabendo as secretarias, coordenações regionais e a escola – com seu plano pedagógico – construir táticas e conteúdos de forma que contemplem as necessidades locais e em nível nacional. Os PCN ditam temas

transversais para serem tratados na escola. A transversalidade32compreende que

temáticas referentes a cidadania devem ser abordadas em todas as matérias, não cabendo somente as ciências biológicas, por exemplo, o trato com a diversidade sexual e de gênero em suas aulas e materiais didáticos; também não

30 Há controvérsias entre movimentos sociais sobre o uso dos termos “portadores de necessidades especiais” e “portadores de deficiência”. Como não terei tempo de aprofundar o tema, preferi manter o termo citado na LDB. Contudo, ressalto a importância dessa discussão tendo em vista a precariedade, indiferença, esnobe, desqualificação da sociedade (capitalista, que é doente e produz doenças) e Estado brasileiro na sua relação com pessoas com capacidades e necessidades diferentes, respondida em políticas ineficientes. Fora o capacitismo!

31 Para saber mais sobre as ações do Estado perante as comunidades indígenas, as quais possuem autonomia frente as decisões e interesses próprios, ler o Artigo 78º da LDB.

32 Os eixos temáticos defendidos pela transversalidade de conteúdos à ascensão da cidadania são: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual, trabalho e consumo e pluralidade cultural.

apetece/compete somente a sociologia o trato com os valores éticos e morais da sociedade; todos esses eixos podem e devem ser abordados em todas as matérias, e para isso, precisa de um profissional capacitado que propicie um espaço de diálogo sem ferir a autonomia e dignidade de suas/seus alunas/os.

O Programa Brasil sem Homofobia (2004), defende a equiparação de direitos e ações ao combate à violência e discriminação a população LGBT. Nas ações que envolvem a educação, incentiva-se cursos de formação inicial e continuada a profissionais da educação na área de gênero e sexualidade, e produção de materiais didáticos que orientem as atividades futuras desses profissionais. Também propõe a formação de grupos multidisciplinares que avaliem documentos e materiais didáticos em alusão a qualquer ato discriminatório por identidade de gênero e orientação sexual, assim como produzir materiais educativos a fim de erradicar o preconceito.

O Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos LGBT (2008), foi criado a partir da 1ª Conferência Nacional GLBT 2008. O Plano traz as diretrizes e ações para elaborações de políticas públicas inclusivas voltadas (não só) ao segmento LGBT a fim do exercício pleno da cidadania e garantia de direitos. Trabalha em cima de dois eixos estratégicos atribuindo diversas ações. Dentre as ações, também defende no plano educacional a construção de materiais didáticos informativos no combate ao estigma e preconceito estimulando pesquisas e extensões.

Em nível internacional, Os Princípios de Yogyakarta (2006) – fruto da

mobilização de organizações de direitos humanos junto com a Comissão Internacional de Juristas e Serviço Internacional de Direitos Humanos – atenta sobre a Aplicação da Legislação Internacional de Direitos Humanos, que estabelece um conjunto de normas jurídicas relativas às violações de direitos humanos com base na orientação sexual e identidade de gênero, obrigando os Estados Nacionais adotarem medidas que afirmem a implementação dos direitos humanos. A carta possui uma série de ações voltadas ao direito individual e coletivo, e no que se refere a educação, afirma que toda pessoa têm o direito à educação sem

discriminação por motivo de sua orientação sexual e identidade de gênero, pois o gênero e a sexualidade fazem parte da autonomia e dignidade do ser humano.

Todos esses respaldos jurídicos, planos, programas, orientam e fomentam as diretrizes para a construção de políticas públicas voltadas ao combate da homo/transfobia, tendo em vista, a necessidade de se trabalhar tais temáticas. No entanto, passamos por um período de resistência em que lutamos para não perder os direitos já conquistados, não conseguindo avançar na ampliação da cidadania. Dados que mostram a importância de trabalhar as relações generificadas.

Numa conjuntura em que o Brasil é o país que mais assassina homossexuais, travestis e transexuais; com o avanço da bancada religiosa no congresso nacional que defende uma concepção de “família tradicional” (lê-se uma família constituída por mãe, pai e filhos regidos pela heteronormatividade) e pune as diferentes configurações familiares não as reconhecendo como família e embutindo paradigmas religiosos frente a um país laico; retrocesso de conquistas políticas, fechamento e demissão de funcionários dos centros de referência LGBT do Estado do Rio de Janeiro; pesquisas em nível nacional que mostram a opinião de brasileiros dizendo que as vestimentas são motivos de estupro; a culpabilização da mulher e vítima; o veto do kit anti-homofobia nas escolas por parte da presidente Dilma sobre pressão da bancada religiosa... Situações que nos mostram um grande campo de batalha e que é mais do que necessário discutir gênero e sexualidade na busca de reconhecimento pleno da cidadania e respeito entre todas/os. Temos direito de existir e não ser mortas/os (em vida).

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