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3.2 As Responsabilidades sobre as matas ciliares: administrativa, civil e penal

3.2.1 Responsabilidade administrativa

O meio ambiente, como bem essencialmente difuso, como expressão de fragilidade do planeta Terra e como instituição viva de caráter transcendente a interesses particulares e localizados, necessita de uma tutela do Estado, pois é referencial de direitos e deveres, se não dos seres irracionais, ao menos dos seres racionais em ralação ao seu entorno e aos seres que o povoam (MILARÉ, 2001, p. 280).

as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Segundo Freitas (2004, p. 324), a responsabilidade administrativa resulta da capacidade que possuem as pessoas jurídicas de direito público de baseadas na lei, imporem determinada conduta aos administradores e, em caso de descumprimento, sujeitá-los a uma sanção de natureza administrativa.

Nesta mesma seara, Milaré (2001, p. 281) assegura que a responsabilidade administrativa trata-se de:

mecanismo jurídico destinado a assegurar a coordenação de atividades quando na estrutura da Administração Pública se integram pessoas coletivas autônomas. Isto vale para a gestão ambiental, porquanto muitos são agentes que interferem ou intervêm no processo, sendo eles não somente de direito publico, como também, de direito privado; e não se podem excluir até mesmo pessoas físicas que tenham responsabilidade em ações de causa e efeito ambientais. Como bem difuso e de uso coletivo, o meio ambiente não pode gerir-se por si mesmo: ele carece de proteção. A responsabilidade administrativa está vinculada diretamente ao princípio da legalidade previsto no art. 5º, inc. II, da Constituição Federal. Isso significa que não pode existir infração administrativa do meio ambiente sem lei prévia que defina a conduta. Para Silva (2009, p. 304), a responsabilidade administrativa “resulta de infração a normas administrativas, sujeitando-se o infrator a uma sanção de natureza também administrativa: advertência, multa simples, interdição de atividade, suspensão de benefício, etc”.

A forma de defesa varia conforme o ente político. União, Estados e Municípios possuem regras próprias de procedimento administrativo. O essencial, em todas, é que se possibilite ao acusado o exercício da ampla defesa, garantia expressa no art. 5º, inc. LV, da Carta Magna. Silva (2009, p. 305) alude que

cabe as unidades (União, Estados, DF e Municípios) proteger o meio ambiente, também lhes incumbe fazer valer as providências de sua alçada, condicionando, restringindo o uso e gozo de bens, atividades e direitos em benefício da qualidade de vida da coletividade, aplicando as sanções pertinentes nos casos de infringência às ordens legais da autoridade competente.

No âmbito federal atua o Conselho de Governo, como órgão superior de assessoramento; o CONAMA, com a finalidade de estudar e propor as diretrizes governamentais sobre meio ambiente; a Secretaria do Meio Ambiente destinada a planejar, coordenar, supervisionar e controlar a política nacional e diretrizes fixadas pelo IBAMA, órgão executor da política governamental para o meio ambiente (FREITAS, 2004, p. 324).

No âmbito estadual cada unidade federativa fixa regras próprias para o exercício da imposição de penalidades. O mesmo se dá em relação aos municípios. O importante é que não se imponha pena sem observância do processo legal (CF, art. 5º, inc. LIV). Freitas (2004, p. 325) assegura que nos Estados “existem órgão correspondentes, como Secretarias Estaduais de Meio Ambiente, Conselhos Estaduais e de fiscalização, esta exercida na maior parte das vezes pela Policia Militar, denominado Policia Florestal”. No Rio Grande do Sul, atua a chamada Polícia Ambiental, pertencente à Brigada Militar do Estado.

Ainda nas palavras de Freitas (2004, p. 325),

em qualquer esfera de poder, federal, estadual ou municipal, a responsabilidade administrativa está diretamente vinculada à existência prévia de lei. Vale dizer, as infrações administrativas devem ter previsão legal, tal qual os tipo penais.

A Responsabilidade Administrativa Ambiental vem expressamente redigida na Lei n. 9.605/98, por exemplo, no artigo 70: “considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente”. Pode-se aplicar advertência, multa, apreensão de animais ou instrumentos utilizados para infração, destruição de produto, suspensão de venda de produto, embargo ou demolição de obra, suspensão da atividade, restritivas de direitos.

O Poder Público aplica penalidades administrativas, fazendo valer o Poder de Polícia Administrativa. Ainda pode suspender ou cancelar registro, licença ou autorização, impor restrições a incentivos fiscais, perda de financiamento público, proibição de contratar com a Administração Pública. “A sanção é a imposição pelo Poder Público, dotado de poderes administrativos, com vistas à realização das tarefas administrativas a ele inerente” (LEITE, 2003, p. 117).

Assim, o Poder de Polícia Administrativa é aquele que “a administração pública exerce sobre todas as atividades e bens que afetam ou possam afetar a coletividade” (SILVA, 2009, p. 304). O Poder de Polícia que condiciona e limita a atuação do particular frente à supremacia do interesse público sobre o privado pode atuar para instaurar processo administrativo e apurar infração ambiental. Autoridade que tiver notícia de infração ambiental tem o dever de atuar sob pena de corresponsabilidade.

Já para Milaré (2001, p. 283),

o poder de polícia administrativa distingue-se de outras formas de poder de polícia, tanto em sua natureza quanto em seus métodos. Não é exercido por policiais profissionais, voltados preferencialmente para a manutenção da ordem pública, mas por profissionais técnicos adrede capacitados que se ocupam de aspectos específicos do bem comum. No caso, estão em jogo a defesa e preservação do meio ambiente, a manutenção da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico essencial – tudo em função do patrimônio ambiental (que é público) e do desenvolvimento sustentável (que é do interesse da sociedade).

Quanto à questão referente às áreas de preservação permanente, o Decreto n. 3.1799/99 prevê nos artigos 25, 26 e 30 os ilícitos administrativos. Esses artigos têm a mesma redação que os crimes previstos nos artigos 38, 39 e 44 da Lei n. 9.605/98. Machado (2003, p. 714) suscita que

não basta a imposição de multa como pena para as infrações administrativas cometidas contra as florestas de preservação, ou simplesmente contra a flora. Deve ser aplicada a apreensão dos produtos ou subprodutos da flora, instrumentos (machados, serras, moto-serras), petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza (tratores, caminhões, balsas, barcos ou navios) utilizados na infração (art. 2º, IV, do Decreto 3.179/99). [...] A apreensão e a doação são obrigatórias para o servidor público que lavrar o auto da infração (art. 70, § 3º, da Lei 9.605/98. Verifica-se que todas as entidades estatais dispõem de Poder de Polícia relativo à matéria que lhes compete. Como é de incumbência das três unidades protegerem o meio ambiente, também lhes cabe tornar efetivas as providências que se encontram sob sua jurisdição, condicionando e restringindo o uso e gozo de bens, atividades e direitos em benefício da qualidade de vida da coletividade, aplicando as sanções pertinentes nos casos de infringência às ordens legais da autoridade competente.