• Nenhum resultado encontrado

Responsabilidade administrativa por facto lícito

II- O dever de boa administração numa Administração Pública de

1. Responsabilidade administrativa

2.4. Responsabilidade administrativa por facto lícito

Esta situação, não prevista como responsabilidade no RRCEEEP, visa ser olhada como um benefício do interesse público, em consequência de um sacrifício necessário de posições jurídicas subjetivas dos particulares. A administração acaba por ser responsável, independentemente, da ilicitude ou do risco. Decorre ainda, do princípio da justa distribuição dos encargos públicos, devido ao facto de comportar e determinar que os prejuízos adjacentes ao exercício de uma atividade que visa a prossecução do interesse público, devem ser suportados pela coletividade que beneficia desta, afastando a exclusividade do lesado neste capítulo. É a resposta dos órgãos e titulares de cargos da Administração que vão

75 A responsabilidade administrativa pelo risco pode ser excluída em três situações muito especificas:

- Caso de força maior: as chamadas “situações inevitáveis”. Quando a doutrina se refere a este tipo de casos,

está a mencionar as situações catastróficas, nomeadamente, cataclismos que destruam edifícios, serviços, entre outros. De salientar, que alguma doutrina ainda refere os casos fortuitos - Cfr. REBELO DE SOUSA, Marcelo & SALGADO DE MATOS, André, Responsabilidade Civil Administrativa – Direito Administrativo Geral, Tomo III, D.Quixote, 1ª Edição, 2008, pág.40 – onde se procede a uma noção de evento imprevisível, ainda que evitável se tivesse sido previsto, só levando a exclusão da responsabilidade quando a imprevisibilidade não permitisse a sua previsão, como referido.

- Culpa do lesado: aferida nos mesmos termos da responsabilidade por factos ilícitos. No entanto, a

concorrência entre o risco e a culpa do lesado, é determinado pela decisão do tribunal que, poderá, ponderando as devidas circunstâncias concretas, reduzir ou excluir a suposta indemnização. É tido sempre em conta, o grau de culpabilidade do lesado, determinando por consequência, o montante a calcular.

- Responsabilidade de terceiro: é a situação referente ao facto culposo de terceiro que contribui para a produção ou agravamento do dano. Segundo MARCELO REBELO DE SOUSA E ANDRÉ SALGADO DE MATOS, a lei aponta, para além da responsabilidade por factos ilícitos de terceiro, para uma responsabilidade pelo risco nestes casos, ainda que diferente da anterior - REBELO DE SOUSA, Marcelo & SALGADO DE MATOS, André, Direito Administrativo Geral, Tomo III, 2ª Edição, pág. 507 apud Comentário de GARCIA, Maria da Glória & PORTOCARRERO, Marta in MEDEIROS, Rui (org.) & ALMEIDA, Mário Aroso,

Comentário ao Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais Entidades Públicas,

Universidade Católica Editora, 2013, pág. 313. Diferente opinião tem CARLOS CADILHA, que aponta para os casos de concorrência de responsabilidade objetiva, considerando aplicável o art.497º do CC, uma vez que o art. 11º do RRCEEEP parece pressupor a culpa de terceiro. Dá ainda como exemplos a responsabilidade da Administração que decorre de autorização de atividades especialmente perigosas por parte de outrem – Cfr. CADILHA, Carlos, Regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado, 2ª Edição, pág.225 apud

Ibid. pág. cit.

Apesar do referido, o art.11º do suprarreferido diploma, apresenta uma solução nova, mais concretamente, a responsabilidade solidária da pessoa coletiva pública para com o lesado, ainda que seja atribuído direito de regresso no que exceder a sua responsabilidade. Existe a proteção da vitima quanto à insolvabilidade de terceiro, no entanto, pode tornar-se esta uma solução discutível, uma vez que o Estado acaba por assumir uma figura de segurador, indo além da sua própria responsabilidade – Ibid. pág.313.

Cabe assim, mais uma vez, ao tribunal aferir até que ponto o facto culposo foi gerador do dano, e determinar o montante de cálculo da indemnização a cargo da Administração Pública.

40 responder pelos prejuízos que vão provocar a quem paga os seus impostos, tomando o seu

fundamento nos princípios consagrados na CRP (art.2º e 13º)76.

Esta responsabilidade, abarca dois tipos de modalidades: a responsabilidade pelo sacrifício de bens pessoais e por danos causados em estado de necessidade e a responsabilidade civil pela legítima não reconstituição da situação atual hipotética.

1) Sacrifício de bens pessoais

Presente no art.16º do RRCEEEP, onde se procede a uma redução do âmbito de aplicação, limitando e excluindo as pretensões pelo sacrifício de direitos patrimoniais privados. Para além disso, determina-se três pressupostos para a sua aplicação:

a) Facto voluntário

Os factos determinantes e objetivos deste tipo de responsabilidade, geradores de indemnização, são aqueles que se destinam finalisticamente à imposição de obrigações determinadas aos seus destinatários: atos regulamentares legais, atos administrativos legais, atuações materiais lícitas e as omissões legais. Ainda podem configurar como atos administrativos relevantes, aqueles que se configuram como impositivos de sacrifícios e os atos ablativos, como a ocupação temporária de terrenos, entre outros.

b) Licitude

Ora, para a responsabilidade por factos lícitos, na sua modalidade de sacrifícios de bens pessoais, fazer realmente jus ao nome, o facto voluntário deve ser, obviamente, lícito. Como o art. 16º do RRCEEEP não faz referência direta a este pressuposto, procurou-se encontrar um paralelismo com os preceitos respeitantes à responsabilidade por factos ilícitos e à responsabilidade pelo risco, recorrendo aos mesmos, para que, através da conjugação de ambos, se inferir a sua génese: “No caso de responsabilidade por danos causados em estado de necessidade, a ilicitude da atuação administrativa tem que estar justificada por estado de necessidade, abrangendo todos os seus pressupostos e requisitos, designadamente a estrita necessidade da atuação administrativa para a obtenção do objetivo visado (que inclui a exigência de que ela seja ditada pelo interesse público, expressa no art.16º

76 - Cfr. REBELO DE SOUSA, Marcelo & SALGADO DE MATOS, André, Responsabilidade Civil

41 RRCEEEP); caso não haja justificação da ilicitude, recai-se na esfera da responsabilidade delitual”77.

c) Dano

São danos muitos específicos, aqueles que englobam este tipo de responsabilidade. Em primeiro lugar, terão que ser danos de bens pessoais. Se se tratar de danos patrimoniais, como vimos supra, não se admitirá, uma vez que caem na esfera da indemnização pelo sacrifício de direitos patrimoniais privados (embora se admita os danos em bens pessoais, somente em casos de estado de necessidade). Da leitura do art.16º RRCEEEP, os danos devem ser especiais e anormais, remetendo para os critérios que, oportunamente, referimos aquando do risco especial e funcionamento anormal de serviços (supra).

d) Nexo de causalidade

Tratam-se dos mesmos critérios da responsabilidade por factos ilícitos (Cfr. supra), devendo apenas ser analisada a expressão “imponham encargos ou causem danos”, do art.16º do RRCEEEP, de onde se retira o nexo de causalidade implícito na norma.

2.5. Responsabilidade pelo não restabelecimento legítimo de posições jurídicas