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Capítulo 3. Caracterização de Micro e Pequenas Empresas

3.4. Responsabilidade Social nas Micro e Pequenas Empresas

Para completar o tópico sobre as empresas de pequena dimensão, e antes de passar ao estudo prático, vai ser aqui brevemente referida a responsabilidade social da empresa - RSE, dado que este é, essencialmente, “um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. Esta responsabilidade manifesta-se em relação aos trabalhadores e, mais genericamente, em relação a todas as partes interessadas afetadas pela empresa e que, por seu turno, podem influenciar os seus resultados” (CCE, 2001, pp. 4).

Responsabilidade social da empresa assume que a empresa tem um conjunto de valores - às vezes expressos na visão, missão e objetivos da organização - e gestão de

63 práticas de negócios para produzir um impacte positivo na sociedade. Ela desafia a corporação a assumir um papel - muitas vezes anteriormente ocupado pelo setor público - na educação, ao interagir adequadamente com as partes interessadas e ao minimizar danos sociais e ambientais, para citar apenas algumas áreas (Freisleben, 2011).

“O conceito de responsabilidade social é promovido sobretudo pelas grandes empresas, embora as práticas socialmente responsáveis existam em todos os tipos de empresas, públicas e privadas, incluindo Pequenas e Médias Empresas e cooperativas” (CCE, 2001, pp. 3).

As PME que há muito resistiam na implementação de RSE, por falta de recursos, entendimento ou necessidade percebida, estão cada vez mais envolvidas no movimento de cidadania corporativa. Políticas de responsabilidade social corporativa estão assumindo um papel cada vez maior nas pequenas e médias empresas. A aplicação mais ampla de RSE em empresas menores é de importância central, porque as PME são globalmente as maiores contribuintes para a economia e o emprego (Freisleben 2011).

Os esforços voltados para as pequenas empresas têm tentado retratar a RSE como económica e de baixo custo, mas a RSE tem sido amplamente rejeitada pela premissa de ser demasiado cara. Alguns autores argumentam que muitas atividades de RSE produzem lucros ou têm o potencial para produzir lucros, mas há pouca evidência de que existe causalidade entre as despesas em matéria de RSE e melhores retornos financeiros. Isto implica que algumas pequenas empresas que se dedicam a RSE estão fazendo isso por causa de decisões não-financeiras por parte dos decisores (Dincer & Dincer, 2013).

Todavia, é um erro para as PME modelarem suas práticas de RSE com vista a programas implementados em grandes empresas globais. A tendência simplesmente de se reduzir as práticas de RSE para as PME, em vez de desenvolver iniciativas de propriedade que capturam as características únicas da pequena empresa é um grande equívoco. Por outro lado, os proprietários-gestores de PME são mais propensos a assumir a responsabilidade direta para os esforços de cidadania corporativa e princípios, moldando sua cultura da empresa em seus próprios valores e crenças pessoais ao inspirar funcionários a esses mesmos ideais. Diretores das PME podem exercer o seu poder discricionário para fundir valores com as prioridades operacionais, equilibrando como novas ideias devem ser implementadas e vantagem competitiva apreendida (Freisleben 2011).

64 Práticas relacionadas com a redução de custos através de uma gestão mais eficiente, a melhoria dos padrões de serviço, a elevação dos níveis de qualidade, o aumento da satisfação do empregado e uma melhor gestão ambiental se repetem constantemente em PME. Portanto, a adoção de práticas socialmente responsáveis para as PME também está diretamente ligada à demanda por uma maior eficácia na gestão diária dos assuntos da empresa e à criação de valor (Santos, 2011).

Estudos anteriores de PME que usaram a teoria dos stakeholders ao entrevistar proprietários-gerentes descobriram que as partes mais comumente identificadas como interessadas são clientes, fornecedores, funcionários, sociedade / comunidade e ambiente natural (Parker et al., 2015).

As PME são mais limitadas nos seus recursos do que as grandes organizações e dependem, para a sua sobrevivência, da troca com seus ambientes económicos, sociais, culturais, geográficos e políticos. No entanto, se as PME se envolvem com as partes interessadas externas e os inclui nos processos de decisão em matéria de RSE, provavelmente representará uma medida de economia. As PME geralmente sofrem menos críticas da opinião pública, de modo que a estratégia de implementação RSE da pequena empresa é usualmente caracterizada como uma ação de cooperação (Mousiolis

et al., 2015).

Segundo estudo realizado por Santos (2011), constatou-se que as principais motivações que promovem práticas de responsabilidade social dizem respeito a:

✓ Aumento do desempenho dos negócios decorrente de uma redução de custos e / ou vendas mais elevadas (71%);

✓ Aumento do nível de satisfação dos funcionários (70%); ✓ Fidelidade do consumidor e cliente (69%); e

✓ Princípios éticos e cívicos (61%).

Ainda segundo Santos (2011) e confirmando as motivações acima esplanadas é percebido um conjunto de benefícios diretos nas práticas de responsabilidade social em ordem decrescente, que são:

✓ Melhor reputação entre os clientes / consumidores e parceiros de negócios (78 %);

✓ Maior motivação dos funcionários (75%); ✓ Melhoria da qualidade (73%); e

65 ✓ Melhor produtividade (69%).

Há muitas vantagens para uma PME como resultado da implementação de uma estratégia de RSE. Por exemplo, redução de custos e aumento da eficiência podem trazer vantagem financeira. Com efeito, através da implementação de medidas mais cuidadosas e de redução de custos ou introdução de produtos menos nocivos ao ambiente, uma PME pode reduzir o desperdício e desenvolver produtos e serviços inovadores. RSE também permite a uma empresa aumentar a motivação e produtividade da sua força de trabalho. Estar ciente dos desafios da RSE pode, na verdade, constituir na base da vantagem competitiva para o negócio e reforçar a imagem corporativa (Kechiche & Soparnot 2012). Entre os principais obstáculos identificados para a prática de RSE nas PME encontra-se o facto de que os gerentes normalmente não consideram a responsabilidade social corporativa como prioridade. Além disso, a falta de qualquer relação entre as atividades de RSE e a estratégia da empresa, as dificuldades em medir o impacte de tais práticas e a falta de tempo e recursos financeiros também dificultam as práticas de RSE (Santos, 2011).

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