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A responsabilidade social também se destaca como um tema relevante quando se aborda a questão do controle social, na área pública.

Uma organização socialmente responsável deve cumprir uma série de obrigações e compromissos que incluem uma relação saudável com seus colaboradores, a observância integral à legislação que regulamenta seu funcionamento, uma comunicação ética e transparente, a preservação do meio ambiente, a disponibilização de produtos e serviços com qualidade e não lesivos à sociedade, a influência na cadeia produtiva para que todos sejam socialmente responsáveis e sua participação ativa na comunidade, conforme afirma Kuhn (2006).

Kuhn (2006) afirma que, em função da problemática social e ambiental e do consequente apelo que a sociedade faz para que as organizações se engajem nessas causas, é

lançado o desafio para que incluam em suas rotinas planejamentos e estratégias, ações que vão ao encontro dos objetivos da sociedade, garantindo a sustentabilidade da organização e contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Essas preocupações e as mobilizações realizadas despertaram o interesse em estudar e incorporar informações de caráter social e ambiental ao sistema de informações gerenciais.

Desta forma, insere-se a participação da contabilidade, contribuindo para a mensuração e divulgação das informações econômicas, sociais e ambientais.

Luca (1998) indica que a idéia da responsabilidade social foi introduzida no mundo dos negócios a partir dos anos 30, e ganhou maior enfoque na década de 60, pois grandes empresas começaram a apresentar anualmente relatórios dos resultados obtidos com suas políticas sociais.

A autora comenta que as questões sociais decorrentes das atividades das empresas passaram a ser questionadas por volta da década de 60. Foi nos Estados Unidos que se questionou pela primeira vez a questão da responsabilidade social das empresas. Paralelamente, surgiram na Europa, principalmente na França e Alemanha, movimentos sociais que proclamavam por informações sobre geração e condições de trabalho e renda nas empresas. A primeira lei que obrigava as empresas com 300 ou mais funcionários a publicar o balanço social surgiu na França em 1977.

No Brasil, estudos e pesquisas sobre essa temática iniciaram a partir da década de 1980, mas somente a partir de 1990 as organizações começaram a internalizar e discutir o tema da responsabilidade social, procurando, assim, divulgar suas ações à sociedade.

Santos (2003) afirma que a idéia de balanço social começa a surgir com a necessidade de prestar informações aos empregados e à sociedade de forma geral. Como se sabe, a Contabilidade tradicional, ao longo de sua história, esteve voltada inicialmente para o proprietário, posteriormente para credores, governo e investidores.

Tachizawa (2002) considera que o novo contexto econômico caracteriza-se por uma rígida postura dos clientes, voltada à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado.

Comenta ainda que essas alterações no perfil comportamental do consumidor provocaram variações nos procedimentos empresariais. O consumidor começa a exercer sua condição de cidadão e exige das empresas o desenvolvimento da responsabilidade social e ambiental, tanto no ambiente organizacional interno quanto no externo.

Melo, Neto e Froes (2002) definem a responsabilidade social como sendo a decisão da empresa de participar mais diretamente das ações comunitárias na região em que está

presente, e de minorar possíveis danos ambientais decorrentes do tipo de atividade que exerce. No entanto, outros fatores também são necessários para que a empresa seja socialmente responsável: apoio ao desenvolvimento da comunidade onde atua; preservação do meio ambiente; investimento no bem-estar dos funcionários e seus dependentes e num ambiente de trabalho agradável; comunicações transparentes; retorno aos acionistas; sinergia com os parceiros; satisfação dos clientes e/ou consumidores.

Os autores definem também que a atuação socialmente responsável compreende o desempenho ético das empresas, amparado por princípios e valores que norteiam as pessoas no desenvolvimento das atividades em seu dia-a-dia, no estabelecimento de relações com os diversos stakeholders, como acionistas, funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, meio ambiente (MELO NETO; FROES, 2001; ASHLEY, 2002).

Existem também concepções contrárias à responsabilidade social das empresas. Uma dessas concepções é do economista e professor da University of Chicago, Milton Friedman (1970). Seus argumentos são baseados nos conceitos de direito de propriedade. Nessa perspectiva, a direção corporativa tem a obrigação de atingir somente o objetivo de maximização dos lucros, otimizando o uso de recursos organizacionais no intuito de aumentar o retorno do capital para os acionistas.

Embora existam correntes de pensamento contrárias à responsabilidade social das organizações, a concepção de responsabilidade social, conforme Alves está ganhando um número cada vez maior de adeptos. Alves (2001) ressalta que o crescimento e a diversificação das grandes empresas nos principais países industrializados revelam que o papel da empresa na sociedade não se restringe meramente à produção de bens ou à prestação de serviços em condições eficientes, assim como não se limita à maximização do lucro para os acionistas .

Pereira et al (2004) destacam que, nesse contexto econômico, os objetivos das organizações são mais amplos, constituindo-se em geração de riqueza em termos de conhecimento, tecnologias, empregos, e contribuindo para o desenvolvimento sustentável a longo prazo, consequentemente, para a prosperidade de uma região, estado ou país. No entanto, estudo realizado em empresas varejistas de Belo Horizonte aponta que 65,87% das empresas pesquisadas apresentam perfil de médio e baixo estágio de adoção de práticas de responsabilidade social.

Segundo Melo Neto e Froes (2002), o exercício da responsabilidade social das organizações assume duas dimensões, focalizando as comunidades interna e externa. O foco interno refere-se às ações desencadeadas em benefício dos funcionários e seus dependentes. Por outro lado, a dimensão externa da responsabilidade social está centrada em ações que

beneficiam a sociedade, ou seja, a comunidade mais próxima da empresa.

Ashley et al (2006) concluem que o conceito de responsabilidade social no âmbito organizacional encontra-se ainda em ampla discussão teórica e em uma busca por meios de sua operacionalização e avaliação, tanto no ambiente das organizações empresariais quanto no das organizações públicas e sem fins lucrativos.

É notória, entretanto, a disseminação da perspectiva ampliada para o conceito de uma responsabilidade social organizacional que envolva a gestão ambiental e a gestão dos fornecedores, com o objetivo de criar uma sustentabilidade ambiental e econômica, além da sustentabilidade social promovida pelos impactos sociais da organização.

Ashley et al (2006) argumentam que, por outro lado, estruturas de governança que promovam a explicitação de valores e princípios éticos, além da transparência e da comunicação organizacional, indicam a possibilidade de difusão de condutas socialmente responsáveis em redes organizacionais de fornecedores, parceiros e clientes/usuários dos produtos oferecidos por um organização.

Continuando, a autora esclarece que, nesse sentido, pensar uma organização responsável, tanto na esfera pública quanto na privada, requer também pensar em uma comunidade de stakeholders socialmente responsáveis, entre os quais os fornecedores, a comunidade local e parceiros institucionais, que valorizem a conduta responsável das organizações e promovam a sua sustentabilidade. Conforme os estudos desenvolvidos, esse conceito de responsabilidade social organizacional pode estender-se a toda relação organização-sociedade.

Por analogia, a autora assinala uma abrangência para a responsabilidade social das IES perante as relações de trabalho com seus servidores, docentes e técnicos, as contratações de bens e serviços junto a fornecedores e as relações com o ambiente natural e construído, sobre o qual gera impacto em seus processos organizacionais, além das ações de ensino, pesquisa e extensão, já previstas na dimensão de responsabilidade social da Lei n.º 10.861.

Especificamente no que se refere à avaliação das instituições de ensino superior, cabe destacar as dez dimensões a serem avaliadas no processo de auto-avaliação institucional e avaliação externa, respeitando-se a diversidade e as especificidades das diferentes organizações acadêmicas, segundo Ashley et al (2006):

Artigo 3.º A avaliação das instituições de educação superior terá por objetivo identificar o seu perfil e o significado de sua atuação, por meio de suas atividades, cursos, programas, projetos e setores, considerando as diferentes dimensões institucionais, dentre elas obrigatoriamente as seguintes:

I) a missão e o plano de desenvolvimento institucional;

respectivas formas de operacionalização, incluídos os procedimentos para estímulo à produção acadêmica, as bolsas de pesquisa, de monitoria e demais modalidades;

III) a responsabilidade social da instituição, considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural;

IV) a comunicação com a sociedade;

V) as políticas de pessoal, as carreiras do corpo docente e do corpo técnico- administrativo, seu aperfeiçoamento, desenvolvimento profissional e suas condições de trabalho;

VI) organização e gestão da instituição, especialmente o funcionamento e a representatividade dos colegiados, sua independência e autonomia na relação com a mantenedora, e a participação dos segmentos da comunidade universitária nos processos decisórios;

VII) infraestrutura física, especialmente a de ensino e de pesquisa, biblioteca, recursos de informação e comunicação;

VIII) planejamento e avaliação, especialmente os processos, os resultados e a eficácia da autoavaliação institucional;

IX) políticas de atendimento aos estudantes;

X) sustentabilidade financeira, tendo em vista o significado social da continuidade dos compromissos na oferta da educação superior (BRASIL, 2004).

O Brasil já possui uma norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), publicada em dezembro de 2004, para a certificação de sistemas de gestão de responsabilidade social, a NBR 16001 (ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004). Tal norma aponta alguns elementos para a conceituação da responsabilidade social organizacional, incluindo o cumprimento da legislação, a gestão dos impactos ambientais, sociais e econômicos da organização e o processo dialogal para a governança das relações da organização com: aqueles que nela trabalham; os fornecedores; os demandantes dos bens e serviços que disponibilizam para a sociedade tanto os custeados tanto por recursos privados quanto por recursos públicos; a comunidade de entorno que seja direta ou indiretamente impactada pela organização; o ambiente natural; os concorrentes, e as futuras gerações, por meio de práticas sustentáveis de produção e consumo (ASHLEY et al, 2006, p.30).