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Responsabilizar os respetivos governos pela integração da língua portuguesa nos currículos

8. PROPOSTAS DE POLÍTICA DE LÍNGUA A IMPLEMENTAR NA REDE

8.7. Responsabilizar os respetivos governos pela integração da língua portuguesa nos currículos

Estas são algumas propostas de política de língua na sua dimensão micro que se podem implementar junto de famílias de lusodescendentes, decisores e instituições locais. Mas estas ações individuais podem ser limitadas e precárias se não houver uma vontade política das instituições portuguesas para as consolidar numa visão oficial estratégica mais larga e a longo prazo. Como afirma Jean-Claude Corbeil (1981:58) :

“Ce sont les communications institutionnalisées qui déterminent une situation linguistique et non les communications individuelles (…) il est dangereux de faire peser le changement linguistique sur les individus. Leur responsabilité en la matière, est très limitée. Trop faire appel à la responsabilité de l'individu pour obtenir des changements significatifs à une situation linguistique donnée conduit tout droit à une sorte de sentiment d'impuissance collective et à la dégradation accélérée de cette situation, comme le Québec l'a fort bien expérimenté entre la fin du XIXe siècle et le début des années 60.»

Vimos os limites de uma política alicerçada na motivação das comunidades portuguesas e na capacidade de iniciativa das suas associações. Confiar esta responsabilidade às associações como parece ser a perspetiva atual, marginaliza o português como língua de

91 imigrantes e não permite a sua integração e o reconhecimento oficial da sua importância económica e cultural.

Por outro lado não se pode deixar que sejam as empresas, os organismos de formação privados ou outros estados a definir uma política para a língua portuguesa. Eles definem as suas próprias prioridades em função dos seus interesses económicos, do oportunismo político ou da sensibilidade da opinião pública em determinado momento e não necessariamente na defesa do plurilinguismo. Por isso como afirmam Beacco e Byram (2003:81) as instituições do estado devem assumir as suas próprias responsabilidades na educação plurilingue:

« Les institutions d’éducation et de formation autres que celles de l’Etat (dans le commerce et l’industrie, par exemple), ont leurs propres priorités, en partie déterminées par les dynamiques de marché et des compétences professionnelles. Or, celles-ci sont susceptibles de jouer dans un sens contraire au plurilinguisme. Ce sont donc, avant tout, les institutions de l’Etat qui auront la responsabilité de l’éducation plurilingue, comme elles ont la charge de la formation à la citoyenneté. »

Os sucessivos governos de Portugal têm incorporado nos seus programas a necessidade de preservar e de estimular o uso da língua portuguesa, no seio da comunidade portuguesa ou no âmbito da lusofonia em geral. Sugeriram medidas para desenvolver uma cooperação estreita com os países de língua oficial portuguesa, e medidas em prol do Ensino Português no Estrangeiro (EPE). Vimos os limites desta política. Uma medida essencial é a sua introdução mais ampla nos currículos escolares franceses como LE ou L2, tomada a cargo pelos respetivos governos. Como afirma a ADEPBA numa carta ao Presidente da República Portuguesa em abril de 2005:

«Il est évident que l’avenir de la langue portugaise dans notre pays passe essentiellement par le système éducatif français : seul ce cadre officiel permet de donner au portugais son statut de langue internationale au même titre que les autres enseignées dans ce même système. C’est donc aussi le seul moyen de lui retirer son carcan de «langue de l’immigration» qui risque de se maintenir si son enseignement est monopolisé par diverses Associations privées, relais certes importants avec la

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culture d‘origine mais qui ne peuvent se substituer à l’enseignement officiel intégré aux études, validé par les diplômes nationaux et facteur d’intégration. »46

Uma inserção mais ampla da língua portuguesa como língua estrangeira nos currículos escolares franceses desde a escola primária, aumentaria o prestígio da nossa língua e aumentaria o número de aprendentes em geral para além dos lusodescendentes.

Em cerca de metade dos 27 países da Europa, são os países de acolhimento e não os países de origem que organizam e financiam o ensino da língua de origem, partindo do princípio de que todos os alunos oriundos da imigração têm direito ao ensino da sua língua materna. (EACEA, EURYDICE, 2009:24). Na maioria dos casos, os documentos oficiais recomendam às escolas que ofereçam aulas de língua materna no ensino básico e secundário, onde é ensinada uma grande diversidade de línguas.

Ora em França no ensino primário é o estado português que, no quadro de um acordo bilateral, contrata e renumera os professores de português. A França fornece unicamente as infraestruturas. Portugal apoia também com o envio de assistentes o ensino no collège e no lycée.

Por outro lado, em Portugal, o ensino do francês está inteiramente a cargo do estado português. O estado português poderia negociar uma reciprocidade para que o estado francês financie também o ensino de português nos vários níveis. Esta participação financeira evitaria que os pais paguem propinas47 como está previsto em França para o ano letivo de 2013/2014, já muito contestada pelos próprios pais, professores, sindicatos, partidos da oposição e dirigentes associativos.

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Carta da ADEPBA ao Presidente da República Portuguesa em abril de 2005. Disponível em: http://www.adepba.fr/event.htm#sampaio

47 A Portaria n° 102/2013, publicada a 11de março de 2013, decreta o pagamento duma propina pelos alunos do

EPE, no montante de 100 euros anuais, a ser paga unicamente pelos alunos que frequentam o ensino paralelo, isentando aqueles do ensino integrado.

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