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Resposta Imune no hospedeiro vertebrado e mecanismos de invasão

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1. Leishmania e Leishmanioses

1.7. Resposta Imune no hospedeiro vertebrado e mecanismos de invasão

Segundo Moraes et al. (2014) a interação leishmania-homem pode ser uma relação de equilíbrio (sem doença) ou desequilíbrio (leishmaniose), e o que vai determinar o tipo de interação são as características do parasita, como virulência e patogenicidade; e as características genéticas e imunológicas do hospedeiro vertebrado.

Embora as espécies de leishmania sejam, predominantemente, patógenos intracelulares obrigatórios de macrófagos, estudos demonstraram que estes protozoários infectam outras células hospedeiras, tais como neutrófilos, fibroblastos e células dendríticas (KAYE; SCOTT, 2011).

O início da infecção nos hospedeiros vertebrados acontece quando as formas promastigotas são inoculadas na pele através da picada dos insetos vetores infectados. Em seguida, o hospedeiro irá responder através de mecanismos da imunidade inata e adquirida (PATIL, 2012). Como estratégia de invasão, proteínas presentes na superfície celular da leishmania, são responsáveis pela interação com a célula do hospedeiro garantindo a sobrevivência, multiplicação e patogênese no hospedeiro vertebrado (GARG et al., 2005).

No momento da picada do inseto vetor, ocorre a liberação de alarminas, citocinas e quimiocinas que imediatamente recrutam neutrófilos, que passam a atuar contra os parasitas através de espécies reativas de oxigênio (ROS), neutrófilos elastase (NE), e redes extracelulares dos neutrófilos (NET) (KEYKE; SCOTT, 2011). Uma resposta imune é gerada a partir da secreção de citocinas anti-inflamatórias IL-6, IL-1β, IL-10 e da ativação da cascata do sistema complemento, através da via clássica ou alternativa dependendo da espécie.

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Para evitar a destruição, a forma promastigota se utiliza da proteína GP63, que é capaz de converter a proteína C3b em sua forma inativa, C3bi, a qual se unirá a superfície do parasito evitando assim o ataque por parte das proteínas do sistema complemento (SCOTT; NOVAIS, 2016).

De acordo com Peters et al. (2008), a internalização da forma promastigota no macrófago pode ser explicada por duas teorias. Na primeira, denominada “cavalo de Troia”, os neutrófilos fagocitam de forma massiva as promastigotas infectadas no lugar aonde ocorreu a picada do inseto vetor; e após o tempo médio de vida desses neutrófilos, cerca de 6 a 10 horas, essas células entram espontaneamente em apoptose e os macrófagos então fagocitam os restos celulares que contém o parasito no seu interior (LASKAY et al., 2008). A outra teoria, denominada “coelho de Troia”, postula que o parasito não entra no interior do neutrófilo, e sim fica próximo a um neutrófilo em apoptose e aproveita o momento em que será fagocitado pelo macrófago e assim entrar na célula (RITTER et al., 2009).

De modo geral, a fagocitose de micro-organismos por macrófagos é iniciada pela interação de receptores presentes na superfície do fagócito com ligantes na superfície do micro-organismo (ZAK; ADEREM, 2009). No caso da fagocitose de formas promastigotas de leishmania, o parasita vai se ligar aos receptores componentes do sistema complemento, CR1 e CR3, localizados na superfície dos macrófagos (SAHA et al., 2004). Além disso, na superfície celular

do parasita estão presentes proteínas ancoradoras, denominadas

glicosilfosfatidilinositol (GPI), que formam uma cobertura protetora e mediam a interação parasita-hospedeiro (ALEXANDER; BRYSON, 2005). Uma das glicoproteínas ancoradas por GPI presente na superfície da leishmania é a GP63, cuja função é clivar a molecular C3b em C3bi, impedindo assim a ação do sistema complemento sobre o parasita (KAYE; SCOTT. 2011). Outra proteína presente na superfície do parasita e a lipofosfoglicano (LPG), esta proteína tem um importante papel na interação leishmania-complemento e, ainda, se liga e interage com outras proteínas para promover a entrada do parasita na célula (SAHA et al., 2004).

Quando as formas promastigotas são internalizadas, a resistência do hospedeiro pode ser determinada por uma resposta do tipo Th-1, composta principalmente por componentes celulares, cujas evidências apontam que com

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esse tipo de resposta há uma proteção durante a infecção (GABRIEL et al., 2010; SCOTT; NOVAIS, 2016); enquanto a susceptibilidade do hospedeiro pode ser mediada por uma resposta do tipo Th-2, caracterizada por exacerbar a doença (KEMP, 2000).

Uma vez incorporada pelos macrófagos as formas promastigotas de leishmania sofrem uma reorganização estrutural, no qual perde o flagelo e troca a composição da membrana, transformando-se na forma amastigota. O destino das formas amastigotas no interior do macrófago vai depender do seu estado de ativação. Os linfócitos ativados pela rota clássica (M1), participam da resposta protetora produzindo predominantemente citocinas inflamatórias Th-1, que são produtoras de interferon gama (IFN-γ), essa citocina interage com os macrófagos e desencadeia a liberação do Fator de Necrose Tumoral alfa (TNF-α) (TUON et al., 2008). A ação conjunta de IFN-γ e TNF-α ativa o gene que produz a enzima óxido nítrico sintetase induzida (iNOS) e que resulta na produção de NO a partir de L-arginina (BALAÑA-FOUCE et al., 2012b). Os mediadores mais bem descritos e envolvidos na morte do parasita por macrófagos ativados com IFN-γ e TNF-α são: superóxido (O2-), peróxido de hidrogênio (H2O2), óxido nítrico (NO) e o peroxinitrito, que são formados durante o burst respiratório (LINARES et al., 2001). Os macrófagos ativados por Th-2 promovem uma rota alternativa (M2), mediada por citocinas que incluem TFG-β, IL-4, IL-10 e IL-3, fazendo com que a célula imune permita o desenvolvimento do parasito, devido a ativação da síntese de poliaminas a partir da L-arginina; essas citocinas têm sido associadas com a desativação dos macrófagos e inibição da produção de NO, exacerbando, assim, a infecção pelo parasita (MURRAY et al., 2006) (FIGURA 8).

Figura 8 – Resposta imune do hospedeiro vertebrado a Leishmania sp.

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Segundo Balaña-Fouce et al. (2012b), o metabolismo de L-arginina é fundamentalmente importante tanto no parasito como no hospedeiro, uma vez que realizam um importante papel de ativação do macrófago assim como na sobrevivência do parasito durante a infecção. Caso este substrato venha a ser utilizado pela enzima iNOS, que está nas células M1, irá promover a síntese de óxido nítrico, importante para a eliminação do parasito. Mas caso esse aminoácido seja utilizado pela arginase, que está em células M2 irá fazer com que ocorra a síntese de poliaminas, que são utilizadas como fonte de energia do parasito, aumentando assim sua infectividade e consequentemente proliferação da infecção.

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