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Tive muitas respostas A primeira foi que o processo foi arquivado porque não apresentei uns documentos solicitados pelo juiz e que uns comprovantes de

pagamento estavam muito ruim de ver... faziam muito anos que eu tinha pago os primeiros. O advogado alegou que não conseguiu me achar e outras desculpas, o cara do Arquivo me explicou, por que no resumo do processo tem as informações básicas, mas como a linguagem do Direito é complicada eu não entendi bem, mesmo tendo formação superior. Assim, eles me orientaram a solicitar o desarquivamento na Vara levando aquele mesmo resumo que eu trouxe para cá, e que eles vão mandar ao arquivo assinado e carimbado... porque eu perguntei se eu não poderia solicitar lá mesmo no Arquivo, para ganhar tempo, mas ele explicou que precisa da comprovação que o processo foi pedido pelo setor onde foi julgado. É muita burocracia, mas entendo a parte deles se sentirem seguros para liberar o documento. Agora vou procurar o mesmo advogado e dar toda a documentação e os comprovantes originais para que tudo se resolva o mais brevemente possível.

Antes:

Juri 04 – Não sei lhe dizê o que quero, porque num sei falar direito. Mas quero vê, vê não, sabê mesmo. Quando dei entrada na aposentadoria, porque caí no trabalho, o negócio que prova que a gente não pode mais cuidar nem em casa [laudo médico

para dar entrada no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS)]... ai negaram. Como

pode? A pessoa alejada, num uso nem sapato mais e esse povo ainda nega, né? Quero sabê como faço para me aposentar, preciso de remédio e num tem quem me dê, num é possível que me vendo assim doente não me aposente né não? Aqui a precisão [sua necessidade pessoal] é maior que a vergonha, é meu direito.

• Depois:

Juri 04 – Na hora que fui dizendo o que era, com vergonha de que ele num entendesse, mais aí o moço já me disse que o ... [pausa] como é o nome? Sim, sim... o processo como o meu, tem que passar pelo médico daqui da Justiça [no

caso de processos referentes a aposentadoria vinculados ao INSS por invalidez, é comum que as pessoas sejam encaminhados para a perícia médica] para ficar mais

fácil de eu conseguir o que tenho direito. Eu num to mentindo, todo mundo ta veno [vendo] minhas dor e também o moço disse que como eu tenho um bocado de exames já feito e um laudo do médico do trauma, num tem como num conseguir não. Ele falou que é porque o INSS é “muito assim” tem que ver bem direitinho, porque tem muita gente que enrola eles [sentido de ser criterioso quanto a liberação

dos benefícios, devido há um grande número de fraudes]. Mais ai, eu num preciso,

todo mundo ta veno. Então posso ficá tranquila, o moço ligou para o outro canto [o

profissional do Arquivo, visando a facilitação do desenvolvimento das atividades por parte da usuária, ligou para a Vara Judicial competente e avisou que a usuária externa iria até lá para buscar mais informações do seu processo de aposentadoria, que estava arquivado], me deu um papel com meu nome e pediu para que eu fosse

lá, ainda hoje, que sai mais rápido para abrir de novo. Estou com esperança.

Comparando esses discursos de antes e depois dos usuários externos, contatamos que estes apresentam muitas dúvidas, dentre elas até mesmo o que buscar no Arquivo Judicial, enquanto unidade informacional. Não obstante, eles elaboram um roteiro estratégico baseado no que gostariam de saber sobre os seus casos particulares e até mesmo em suas vidas – já que sua motivação vai além dos aspectos informacionais do documento.

Com essas falas, percebemos que os jurisdicionados apresentavam a angústia de não saber exatamente o que procuravam tão pouco o que fazer após a visita ao Arquivo e a obtenção ou não das informações que necessitavam ou que esperavam receber. Mas, o que serviu de estímulo à busca informacional, declarado por todos, foi a de que para tomarem algum tipo de atitude relacionada ao processo de cada um, o “não saber” era inviável. Quando queremos ir para determinado lugar, é preciso ter primeiramente uma referência de onde nos encontramos.

as informações obtidas “para onde quero ir”, com a esperança de “onde quero chegar”.

Os esclarecimentos prestados no setor de Arquivo auxiliaram os usuários a criarem novas metas e estratégias de busca para dar continuidade a suas vidas dentro e fora da esfera judiciária, pois como percebemos especificamente nos discursos dos Juri 02 e Juri 04, mais do que a resolução processual, as NIs representam uma mudança real em suas vidas, as expectativas são grandes nestes dois casos que relatamos.

Com isso respondemos aos dois últimos objetivos específicos: identificar as NIs dos usuários (neste item especificamente os jurisdicionados) e descrever as estratégias por eles utilizadas no ambiente informacional.

As NIs apresentadas pelos usuários externos estão diretamente ligadas aos seus processos judiciais, estando arquivados ou não, na JFPB. Suas necessidades partem do princípio que eles não detêm determinada informação sobre sua causa processual e dessa forma ficam impossibilitados de tomar algum tipo de atitude para resolver a situação estagnada – na perspectiva pessoal de cada um – em que se encontram.

As motivações que os incitam a direcionar-se à JFPB - mesmo com a opção de consulta processual online, ou seja, com a possibilidade de busca em acesso remoto – é que: se as informações obtidas na unidade informacional forem completas o suficiente em seu ponto de vista, eles terão os meios para resolver mais facilmente a situação conflitante em que se encontram, e já estarão fisicamente na JFPB para dar mais celeridade ao que for preciso, visando assim a resolução dos seus problemas informacionais e jurídicos

7.2 Usuários internos: servidores

A apresentação dos resultados, tendo como sujeito os usuários internos ou os servidores das Varas Judiciais e sua relação direta com o Arquivo Judicial apresentamos de forma mais sucinta, porque as similaridades nos discursos foram mais constantes do que apresentados pelos usuários externos.

superiores (sua grande maioria) e o ingresso à instituição foi feito mediante concurso público. Os servidores das Varas Judiciais foram tipificados como sendo usuários internos dentre todos os demais servidores da JFPB, pois eles são os que mantêm uma relação constante de solicitações de serviços ao Arquivo Judicial. Esses usuários possuem vínculo empregatício com a JFPB, mas não estão subordinados ao Arquivo Judicial.

Sobre esse tipo de usuário, especificado como interno Núñez Paula (2000) afirma que eles devem ter uma espécie de relação administrativa ou mesmo metodológica com a unidade informacional. Ou seja, o uso de algum tipo de rede em comum pode ser usado para alimentar essas relações; como exemplo dessa rede, no caso específico da JFPB, temos o SRI Tebas, o sistema que é utilizado tanto pelas Varas Judiciais quanto pelo Arquivo, cada um como seu módulo específico, mas com acesso a informações comuns sobre os processos que estão sobre a jurisdição da Justiça Federal.

Núñez Paula (2000) também explica que se tratando de usuários internos, essas perspectiva pode se modificar de acordo com as relações existentes entre eles: usuário e unidade informacional. “É importante destacar que se entre a unidade informacional A e o usuário X existisse outra unidade informacional B, subordinada metodologicamente a A, X seria considerado interno de B e externo [...] de A.” (NÚÑEZ PAULA, 2000, p. 111, tradução nossa).

Essa relação lógica nos mostra que o usuário interno pode assumir o papel de externo se relacionado à outras unidades informacionais subordinadas a mesma entidade mantenedora, é importante refletirmos a respeito destas perspectivas que podem assumir um mesmo usuário, dependendo das relações existentes no ambiente informacional.

No caso dos usuários internos da JFPB, não aplicamos essa lógica por sua relação com o Arquivo Judicial ser direta, sem necessitar de intermediários ou permissão de outros setores, o acesso e uso dos serviços oferecidos pelo arquivo pode ser facilmente usufruídos pelos usuários internos que deles necessitem.

O roteiro para a entrevista guiada com os usuários externos foi o mesmo utilizado para com os internos, por tratar-se de um roteiro que empregamos para que não nos perdêssemos à medida que realizávamos o procedimento de coleta

informacional; desta forma, ao longo da exposição das informações coletadas identificamos as falas dos usuários internos como: Serv 01, Serv 02, Serv 03 e Serv 04.

O primeiro ponto abordado que tratava sobre a frequência no Arquivo Judicial, foi respondido por todos os usuários internos da mesma maneira: “toda semana!”.

Servi 02 - A quantidade de visitas passa a ser maior quando tem algum processo