• Nenhum resultado encontrado

Efeito da restrição alimentar na expressão de genes que codificam para a síntese de enzimas reguladoras do Metabolismo Proteico

No metabolismo proteico, a GDH, enzima interveniente no catabolismo das proteínas, revelou comportamentos distintos nas duas raças animais, como resultado da imposição da condição de restrição alimentar. A raça Merino Australiano não revelou diferenças significativas entre os grupos experimentais de controlo e de restrição. Nos animais Dorper, a GDH, teve um comportamento diferente, revelando influência da restrição

Triglicéridos Acetil-CoA

ACOAC

Ácidos Gordos HL FAS (Merino: ↓ mRNA) (Dorper : ↓ mRNA)

63 alimentar e apresentando uma redução de 46% nos animais Dorper restringidos quando comparados com os animais alimentados ad libitum desta raça.

Em situações de carência alimentar é imprescindível que surja uma fonte de glucose alternativa àquela que é absorvida na dieta. Decorrente desta necessidade, tem início um aumento das vias de degradação de proteínas no músculo, com subsequente conversão destas em glucose, através das vias de oxidação dos aminoácidos. Os aminoácidos constituem assim as principais fontes de carbono para a síntese de glucose nesta situação (Kozloski, 2002; Paulino e Sartori, 2006).

O nosso trabalho experimental apresentou resultados distintos aos apresentados em diversos trabalhos experimentais. Em 1899, Feuers et al., detectaram no final do seu ensaio experimental, um aumento da actividade enzimática de 42% da GDH em ratos sujeitos a restrição alimentar (60% da alimentação ad libitum) quando comparados com o grupo de controlo. Dhahbi et al., em 1999, também estudou o efeito da restrição calórica no metabolismo azotado, utilizando ratos sujeitos a dois tratamentos nutricionais distintos: um grupo de controlo (com consumos de ~105 kcal por semana) e um grupo de restrição (com consumo de ~52 kcal por semana.) Os resultados obtidos demonstraram um aumento da expressão génica para a glutaminase. Em ratos jovens o valor encontrado para o grupo restringido foi 2,5 vezes superior ao do grupo de controlo, e para ratos adultos foi 2,2 vezes superior. A glutaminase e a glutamato desidrogenase desempenham papéis semelhantes dentro metabolismo proteico. A glutaminase é a enzima que catalisa a reacção de desaminação da glutamina. No fígado, a glutaminase liberta amoníaco e ácido glutâmico. O ácido glutâmico no fígado pode suprir mais amoníaco através da glutamato desidrogenase. A GDH, enzima estudada neste trabalho experimental, teria à partida um comportamento semelhante à glutaminase, avaliada por Dhahbi. No trabalho desenvolvido pelos mesmos autores em 2001, em ratos sob as mesmas condições experimentais, ficou evidenciada, mais uma vez, o aumento da expressão génica ao nível do mRNA da glutaminase nos ratos restringidos. Também Hagopian et al., em 2003a, utilizando um grupo de ratos restringidos e um grupo de controlo, com consumos diários de 9 e 12 kcal, respectivamente, avaliou o efeito da restrição calórica na actividade da GDH, verificando que a condição de restrição estava associada a um aumento da actividade desta enzima. Os valores obtidos revelaram aumentos de actividade enzimática de 44% (ratos adultos ~ 30 meses) e de 31% (ratos jovens ~ 3 meses) no grupo de animais aos quais se impôs a restrição calórica. van Harten e Cardoso (2010) obtiveram para coelhos bravos restringidos valores 2,28 maiores aos detectados no respectivo grupo de controlo.

64 Ainda no metabolismo proteico, a enzima CPS não apresentou diferenças significativas nos animais sujeitos a restrição alimentar quando comparados com os animais alimentados ad libitum de ambas as raças, tendo apenas ficado evidenciado o efeito da raça na expressão génica desta enzima. Neste caso, os valores da expressão génica da CPS obtidos para os animais Dorper foram significativamente superiores aos valores encontrados nos animais da raça Merino Australiano.

Tal como a GDH, a CPS é uma enzima reguladora do catabolismo proteico, e portanto seria de se esperar, que apresentasse expressões enzimáticas aumentadas em situação de restrição alimentar, como resultado de uma degradação proteica activa, com consequente aumento de aminoácidos disponíveis como fonte de carbono. Neste caso especifico, não se conseguiu evidenciar esta situação; a CPS manteve a sua expressão génica inalterada pela condição de alimentação restrita nos animais de ambas as raças. No entanto, existem na bibliografia vários trabalhos, onde ficou demonstrado o aumento da expressão génica dessas enzimas como resultado da restrição alimentar, provando que o catabolismo proteico está, de facto, aumentado nessa situação. É de salientar o trabalho desenvolvido no ano de 1996, por Tillman et al., no qual os ratos restringidos (restrição calórica de 50% da alimentação ad libitum do grupo controlo) revelaram valores da actividade enzimática para CPS 5 vezes superiores aos do grupo de controlo, e valores de expressão génica para esta enzima, aproximadamente 3 vezes maiores. Para a CPS, Dhahbi et al., em 1999, detectaram valores para os ratos restringidos (jovens e adultos) aproximadamente 2 vezes superior ao evidenciado nos grupos de controlo. Mais recentemente, van Harten e Cardoso (2010), obtiveram dois resultados distintos no seu trabalho. No seu estudo, utilizando coelhos da raça neozelandesa e coelhos bravos, sujeitos a duas condições nutricionais distintas, controlo, com alimentação ad libitum, e restrição (~30% da alimentação ad libitum), verificaram que os coelhos neozelandeses, não sofreram influência da condição de restrição alimentar na expressão génica da enzima CPS. No entanto, nos coelhos bravos a limitação alimentar conduziu a um aumento da expressão génica dessa mesma enzima, com valores 2,52 vezes maiores aos obtidos no grupo de coelhos com alimentação ad libitum, o que corrobora uma degradação de proteínas aumentada em situações de alimentação restrita.

65

Figura 13 – Resumo do efeito da restrição alimentar na expressão de genes que codificam

para a síntese de enzimas reguladoras do metabolismo proteico para ambas as raças Ácido Glutâmico NH3 Ureia GDH (Merino: = mRNA) (Dorper: ↓ mRNA) CPS (Merino: = mRNA) (Dorper: = mRNA)

66 VI. Conclusões

As condições experimentais deste trabalho contribuíram para performances produtivas distintas no metabolismo intermediário entre os diferentes grupos de animais.

A condição de restrição alimentar (80% das necessidades diárias de manutenção) conduziu a um decréscimo significativo no peso vivo dos animais em ambas as raças, evidenciando diminuições de 15,3% e de 7,5%, respectivamente, para os animais Merino Australiano e Dorper restringidos, relativamente ao inicio do ensaio experimental. Desta forma, os animais Dorper parecem apresentar um melhor desempenho nutricional quando comparados com os animais da raça Merino Australiano, convertendo mais eficientemente os suplementos em ganhos de peso.

A condição experimental de limitação alimentar apresentou ainda os seguintes efeitos, ao nível da expressão de genes que codificam para a síntese de enzimas reguladoras, nos respectivos metabolismos intermediários:

METABOLISMO GLUCÍDICO: