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7 RESTRIÇÕES AOS USOS DA PLATAFORMA COM BASE NA COMPOSIÇÃO SEDIMENTAR

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Os recursos marinhos têm ganho crescente destaque como fontes alternativas aos cada vez mais escassos recursos continentais, representando assim, uma fonte estratégica de energia e de minérios para a manutenção das atividades humanas (SOUZA, 2010).

As principais atividades mineradoras realizadas no ambiente de plataforma propriamente dito são a extração de areia e cascalho para utilização na construção civil, a exploração de algas calcárias e conchas, a mineração de nódulos polimetálicos em mar profundo e a exploração de hidrocarbonetos de petróleo. No Brasil, com exceção do petróleo, a exploração de recursos minerais marinhos tem sido pontual e descontínua, restringindo-se à extração de areias siliciclásticas para regeneração de praias e extração localizada de conchas e algas calcárias no Rio de Janeiro e Espírito Santo (GOMES, PALMA; SILVA, 2000).

Na plataforma continental de Sergipe foram identificados três depósitos de areias quartzosas com potencial de exploração, sendo dois localizados na porção sul da plataforma e o terceiro, no litoral norte. A área mais indicada para essa atividade, possivelmente, corresponde a área situada na porção norte da plataforma estudada por ser mais extensa e mais rasa, localizando-se entre 10-20 m de profundidade. Além disso, esta área encontra-se mais próxima que as demais do trecho com erosão mais severa na costa sergipana, o que poderia contribuir no caso de uma necessidade de intervenção para conter esse processo. Segundo Oliveira (2003), a erosão mais marcante da costa sergipana foi registrada para uma área imediatamente a sul da foz do São Francisco. Segundo a autora, o intenso processo erosivo que destruiu a Vila do Cabeço (Brejo Grande-SE), parece decorrer da refração e difração de ondas em torno da barra de desembocadura do rio São Francisco e pela

déficit de sedimentos localizado. Bittencourt et al. (2006) destaca ainda a constante redução na descarga sólida do rio São Francisco, por conta da construção das barragens das hidrelétricas, como um aspecto que intensifica a restrita disponibilidade de sedimentos na área. Os depósitos situados na porção sul, além de possuem uma área menor e com percentuais mais modestos de contribuição de siliciclastos, encontram-se em profundidades acima de 20 m.

Os depósitos carbonáticos compostos principalmente por algas calcárias representam outro recurso natural de crescente interesse. Segundo Dias (2000), os depósitos de algas calcárias podem ter aplicação na agricultura para correção de acidez de solos; tratamento de águas, indústria de cosméticos na fabricação de dentifrícios e sais de banho, indústria de alimentos sendo utilizado como complemento alimentar e na medicina como implantes de cirurgia óssea.

Kempf (1980) identificou em frente a cidade de Recife uma área de 1350 Km², limitada pelas isóbatas de 20 e 30 m, como sendo mais propícia a exploração do carbonato, levando-se em conta a distancia da costa e o local de desenvolvimento máximo das formas livres de algas calcárias. O autor recomenda o afastamento do limite inferior dos depósitos siliciclásticos (18-20 m), por ser uma zona de mistura que pode atingir altos percentuais de sílica. Os principais aspectos limitantes a exploração desses recursos são a composição química dos depósitos a depender do seu uso final, e a profundidade e a distância da linha de costa por elevarem o custo da atividade.

Na plataforma continental de Sergipe possivelmente a profundidade dos depósitos carbonáticos seria um fator limitante, uma vez que os teores de carbonato superiores a 70% ocorrem em geral em profundidades superiores a 30 m. Apenas na porção norte esses depósitos se aproximam da isóbata de 20 m, em um local com uma distancia superior a 20 km da costa, o que poderia elevar os custos da exploração. Além disso, os depósitos carbonáticos da plataforma de Sergipe carecem de trabalhos específicos a respeito de sua

composição geoquímica e espessura e de levantamentos detalhados que possam subsidiar avaliações de prováveis impactos negativos dessa atividade.

A plataforma sergipana abriga grande atividade de exploração de recursos da indústria do petróleo, gás natural, evaporitos e minerais. A atuação da Petrobrás está concentrada no complexo de Atalaia, com cinco campos de produção quase que totalmente situados no litoral Sul (BRASIL, 1996). A figura 27 mostra a distribuição das plataformas de petróleo na costa sergipana plotadas sobre o mapa de distribuição dos constituintes biogênicos.

Figura 27 – Localização das plataformas fixas de petróleo sobre o mapa de contribuição dos bioclastos na plataforma continental de Sergipe.

Contribuição de bioclastos (%)

físicas e nas concentrações de metais pesados em sedimentos afetando o desenvolvimento dos biogênicos. Além disso, a distribuição de metais pesados nos sedimentos superficiais pode ser influenciada pelo aporte continental e pela precipitação autóctone dos carbonatos. Uma plataforma continental com importante aportes fluviais e atividade de exploração de petróleo necessita de uma caracterização detalhada da composição dos depósitos sedimentares e mesmo da geoquímica desses depósitos a fim de garantir avaliações confiáveis a respeito de possíveis alterações na dinâmica sedimentar e prevenção de impactos ambientais.

A dragagem de portos marítimos é outra atividade que tem sido realizada no ambiente plataformal e que pode causar alterações na dinâmica ecológica e sedimentar. A resolução do CONAMA nº 344 de 25 de março de 2005, estabelece as diretrizes gerais e os procedimentos mínimos para a avaliação do material a ser dragado e dos locais de bota-fora em águas jurisdicionais brasileiras. Essa resolução determina a importância de caracterização da composição dos sedimentos e enfatiza os cuidados com o descarte de material fino e em locais onde haja o risco de eutrofização (MMA/CONAMA, 2006).

O porto de Sergipe situa-se no litoral norte nas proximidades do rio Japaratuba, que corresponde a uma área com grande concentração de lama.A maior preocupação na plataforma sergipana quanto a descartes de resíduos sólidos deve ser com a mobilização de material fino numa plataforma estreita e com concentração relativamente elevada de lama terrígena. Estudos quanto ao comportamento das correntes na plataforma de Sergipe são escassos e seriam de grande valia para o monitoramento da dinâmica sedimentar em potenciais áreas de bota-fora.

A maior heterogeneidade textural dos sedimentos abriga biocenoses diversas por conta de uma maior diversidade de habitats (DIAS, 2000). Nunes (2009) propôs que na plataforma externa da região da costa do Dendê,

características ligadas a composição do sedimento superficial podem ser fundamentais para a manutenção das comunidades de peixes demersais e pelágicos costeiros que são explorados na região. A pesca tem um importante papel econômico para as comunidades litorâneas do Estado de Sergipe, com destaque para a pesca do camarão (BRASIL, 1998). Assim as atividades exploratórias podem transformar o ambiente físico, causando danos expressivos direta ou indiretamente aos organismos vivos.

O mapeamento dos componentes sedimentares permite uma maior compreensão a respeito da dinâmica ecológica da plataforma de Sergipe. Identificações dos grupos taxonômicos que compõem os sedimentos a níveis específicos, comparações entre a distribuição dos bioclastos e a fauna bêntica viva, como também monitoramento das correntes litorâneas e oceânicas na plataforma continental de Sergipe são recomendados.

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As principais fontes de sedimento para os depósitos sedimentares na plataforma continental de Sergipe correspondem ao material trazido em suspensão pelos rios; aos antigos depósitos subaérios de areias; e a produção in situ dos organismos bioclásticos;

A comparação entre a contribuição dos componentes bioclásticos e suas frequências nas amostras analisadas demonstra a importância das ponderações para a compreensão da contribuição efetiva dos grãos para os depósitos sedimentares. Enquanto as frequências refletem os padrões de distribuição espacial dos mesmos.

Os componentes siliciclásticos contribuem para a formação do sedimento superficical principalmente na plataforma interna, e os componentes bioclásticos contribuem de forma expressiva para os depósitos sedimentares da plataforma externa e do talude superior de Sergipe. A porção intermediária da plataforma é caracterizada como uma zona de transição;

A largura dos domínios bioclastos e siliciclastos varia em função da influência fluvial e da largura da plataforma continental de Sergipe.

As algas coralinas correspondem ao principal constituinte dos depósitos carbonáticos, seguida dos moluscos, foraminíferos bentônicos e briozoários;

A associação carbonática que melhor descreve a plataforma de Sergipe é do tipo foramol ou heterozoan, característica de um ambiente com disponiilidade de nutrientes e pouca luminosidade.

A distribuição superficial dos principais componentes bioclásticos está de acordo com os hábitos de vida de cada constituinte: moluscos e foraminíferos apresentam uma distribuição ampla sendo encontrados em todos os intervalos

de profundidade; os briozoários concentram-se na profundidade de 30m; as algas coralinas predominam na plataforma externa acima do limite dos depósitos siliciclásticos.

Os fragmentos vegetais, as lamas siliciclásticas e a matéria orgânica apresentam semelhanças em seus padrões de distribuição e na plataforma de Sergipe sua principal fonte é de origem fluvial;

Os depósitos de areias quartzosas são distribuídos de forma localizada por conta da grande quantidade de lama existente na plataforma interna que recobre esses depósitos nos locais de baixa hidrodinâmica.

As areias quartzosas da porção norte da plataforma formam um extenso depósito, perpendicular à linha de costa com potencial para exploração, sendo necessários maiores estudos e avaliação de prováveis impactos associado;

A exploração dos depósitos carbonáticos não é viável em um primeiro momento por conta da profundidade em que se encontram (acima de 30m) e da distancia da costa (até 20km). São necessários maiores informações sobre a composição desses depósitos e os riscos que essa atividade pode representar para a dinâmica ecológica;

A identificação e a distribuição superficial dos constituintes sedimentares permitiram uma maior compreensão a respeito da contribuição dos constituintes bioclásticos e siliciclásticos para a formação da cobertura sedimentar plataformal no estado de Sergipe, assim como um maior entendimento sobre as contribuições fluviais.

A plataforma sergipana ainda carece de muitos estudos. A identificação das espécies que contribuem efetivamente para os depósitos bioclásticos e a comparação entre a fauna viva e os bioclastos podem fornecer informações bastante relevantes ao entendimento da dinâmica ecológica e sedimentar.

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ABSALÃO, R. S.; PIMENTA, A. D.; GOMES, R. S.; CECCHETTI, F. 1999. Associações Malacológicas dos substratos inconsolidados na área de proteção ambiental do Arquipélago de Santana, Macaé, Rio de Janeiro. In: SILVA, S. H. ; LAVRADO, H. P. (Eds). Ecologia dos Ambientes Costeiros do Estado do Rio de Janeiro. Oecologia Brasiliensis. Rio de Janeiro, Programa de Pós Graduação em Ecologia, UFRJ, Vol II: 173-289.

ACKER, K. L.; STEARN, C. W.; 1990. Carbonate-siliciclastic facies transition and reef growth on the northeast coast of Barbados, West Indies. Journal of Sedimentary Research, 60(1): 18-25.

ALMEIDA V. E. S. 2006. Estudo dos briozoários do sedimento superficial

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