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3. ANALISANDO FRAGMENTOS, CONSTRUINDO UM CONTEXTO: UMA

3.3. Resultados

Mediante do que foi exposto, resolveu-se analisar o conjunto lítico e cerâmico de modo sistêmico, compreendendo todos os elementos como constitutivos de um cenário onde houve diferentes ocupações e/ou reocupações.

Como não foi possível o registro de estratigrafias, a cultura material surge como o esteio que sustenta duas ocupações distintas: uma de grupos caçadores- coletores pré-cerâmicos, construtores de cerritos, e outra posterior por grupos Guarani.

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As datas obtidas para o Sítio Corredor do Bolso através de sedimentos e fragmentos cerâmicos, divulgadas por Soares (2005), mostram uma ocupação atribuída a caçadores que se estende de 2.600 A.P a 2.400 AP, uma ocupação para a cerâmica Vieira por volta de 1.370 A.P. e uma data para a cerâmica Guarani em 175 A.P. Essa sobreposição de culturas citada por Soares é descrita anteriormente como hipótese nos Relatório emitidos logo após a escavação. No entanto, o material analisado não mostrou diferenças tecnológicas no material lítico e também não foram percebidos de maneira afirmativa fragmentos de cerâmica Vieira. Dessa forma, pode-se considerar uma ocupação de grupos cerriteiros, que se estende de 2.600 A.P a 1370 A.P. e uma ocupação Guarani mais recente, que se mostra superficial no sítio por volta de 175 A.P.

Seriam necessárias mais datações e uma estratigrafia clara para chegar a conclusão de crescimento contínuo dos cerritos, como mencionado por Bracco Boksar e Pantazi (1999). Mesmo assim, ao que parece, os cerritos foram ocupados por um longo período de tempo.

Contudo, esse trabalho vai se ater nas estruturas monticulares e no material arqueológico lítico atribuído a seus construtores, e tentar relacionar como a ocupação ceramista Guarani.

Sendo assim, embora o sítio estivesse bastante impactado, buscou-se inicialmente, entender a dispersão espacial da cultura material lítica resgata, para que agregada com sua análise fosse possível reconstituir um contexto de ocupação do grupo cerriteiro (Figura 23).

Figura 23 – Dispersão espacial do material lítico resgatado Fonte: Acervo LEPA, 2010, elaborado pelo autor.

Como vimos na figura acima, existe uma área de concentração de materiais líticos podendo indicar o local do acampamento, ou uma área de atividades específica dentro do grupo. Essa ideia fica mais evidente quando relacionamos a dispersão de todo o material lítico com a dispersão dos instrumentos.

Figura 24 – Dispersão espacial dos instrumentos líticos identificados Fonte: Acervo LEPA, 2010, elaborado pelo autor.

Quanto às áreas circunscritas pelo cerritos, alguns instrumentos foram encontrados13 nas áreas escavadas, como podemos ver a seguir:

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Infelizmente, devido a problemas no catálogo, houve dúvidas quanto à localização de alguns instrumentos, outros ficaram fora da área delimitada pela área de intervenção (n°. catálogo 238), e algumas peças tinham seu número de catálogo apagado. Mesmo assim acredita-se que para ilustrar a área de ocupação e a concentração de materiais sobre o cerritos os dados disponíveis foram usados com êxito.

Figura 25 – Dispersão espacial dos instrumentos líticos identificados na área escavada do Cerrito “A” Fonte: Acervo LEPA, 2010, elaborado pelo autor.

Figura 26 – Dispersão espacial dos instrumentos líticos identificados na área escavada do Cerrito “B” Fonte: Acervo LEPA, 2010, elaborado pelo autor.

Como fica claro, os instrumentos também se mostram recorrentes dentro da área delimitada dos cerritos e em área adjacente.

Esses dados colocam em dúvida a ideia de cerritos como uma estrutura de habitação, possuindo sim essas estruturas, um significado simbólico dentro do grupo que os construíram.

Mas e os materiais escavados nos cerritos? E que tipo de simbolismo os cerritos possuem?

Considerando o aspecto do solo arenoso da região dos cerritos, é possível que o grupo ao construí-los tenha percebido que ao juntar esse solo à erosão pluvial e também fluvial, logo faria com que a estrutura desaparecesse.

Dessa forma, os membros do grupo passaram a misturar ao solo materiais rochosos que estavam disponíveis, como fragmentos de rochas. Muitos desses fragmentos sequer foram lascados, e também amontoar resíduos de lascamento e instrumentos sem serventia, a citar a meia ponta de projétil.

Agregar componentes no solo para a sua estabilização é atualmente usado em projetos de engenharia como construção de estradas. O processo de agregar componentes rochosos no solo modificando a granulometria chama-se Estabilização Mecânica ou Granulométrica (WALLAU, 2004).

Bracco e Pantazi (1999) observaram algo semelhante nos cerritos por eles escavados, mas em relação a resíduos de combustão, que estavam dispostos de forma “empacotada” na estrutura dos cerritos, que levou à interpretação de que o carvão estava sendo usado como material construtivo junto com o material lascado.

Os diários de campo falam em solo antropogênico nas estruturas do cerrito; é provável que esse solo tenha sido levado para a estrutura juntamente com os materiais lascados. Mas isso também não descarta por completo o significado simbólico desse solo para o grupo, visto que é o solo de sua ocupação.

Quanto ao simbolismo das estruturas como um todo, embora não tenham sido encontrado indícios de enterramento, parece que elas tenham sido construídas para esse fim. Essa afirmação traz à tona uma discussão quanto a complexidade social do grupo cerriteiro que não será abordada (Milder, et al. 2003a).

Um aspecto que colabora com essa hipótese de estrutura funerária é a ocupação Guarani. Mais que apenas fragmentos cerâmicos e um indício de ocupação, os Guaranis deixaram evidências de pelo menos uma urna funerária sobre um dos cerritos, o que mostra uma forma de dominação simbólica de um grupo sobre o outro, ou mesmo, uma percepção do grupo Guarani do significado cultural da área onde estavam inseridos os cerrito, fazendo dali um lugar apropriado para seus enterramentos. Embora sejam conjecturas hipotéticas, esse tipo de associação material, cultura Guarani disposta superficialmente sobre os cerrito, é bastante comum. Como exemplo temos os trabalho de Milder et al. (2003a), Ribeiro (1983) e Cabreira e Marozzi (1997a).

Entre estos rasgos cabe destacar la localización de una urna funeraria de tipo tupiguaraní, la única ubicada en nuestro medio asociada a “cerritos de indios”; enterramientos humanos diversos que incluyen individuos de variadas edades (niños, jóvenes, adultos de edad avanzada), mostrando em algunos casos ofrendas funerarias complejas y elaboradas. (CABRERA e MAROZI, 1997a, p.55)

A partir da dispersão do material cerâmico (visível na Figura 27), mais a análise apresentada anteriormente, fica possível fazer algumas inferências:

• A primeira é quanto a baixa densidade de fragmentos cerâmicos como um todo, e principalmente fora da área circunscrita pelos cerritos. O baixo número de fragmentos cerâmicos é muito reduzido em comparação á uma área de habitação Guarani, não havendo uma área de concentração dos mesmos, como ocorre com o material lítico;

• A concentração de fragmentos sobre os cerritos remete a ideia de apropriação simbólica dos cerritos como estrutura funerária, corroborado pela presença da urna funerária.

• Seguindo, os fragmentos estão bastante dispersos na área considerada para a atividade de campo, ocorrendo quadrantes com ausência de fragmentos. Quando eles ocorrem é perceptível sua ampla distribuição, sem uma área de concentração fora dos cerritos. Isso decorre devido a ocupação Guarani ser bastante superficial, sendo mais suscetível ao impacto de atividades agrícolas;

• Como foi visto, existe uma dúvida em relação a associação tecnológica de 30% dos fragmentos cerâmico, que são atribuídos intrinsecamente

a Tradição Vieira, atrelada a construção de cerritos. No entanto, faltam dados para essa associação se torne efetiva, e na visão desse trabalho a ocupação ceramista é atribuída somente ao grupo Guarani devido alguns fatores: o solo arenoso, mais o impacto ocasionado pela atividade agrícola acelerou a degradação de muitos fragmentos cerâmicos dificultando sua análise e a dinâmica de adaptação do grupo ceramista ao ambiente pode ter ocasionado uma variabilidade local nas características da cerâmica Guarani (Milder et al. 2003b). Dessa forma, acredita-se que houve uma associação antecipada da ocorrência de cerâmica Vieira no Sítio Corredor do Bolso, dada principalmente pela existência dos cerritos e pelo aspecto erodido de alguns fragmentos.

Figura 27 – Dispersão espacial dos fragmentos cerâmicos Fonte: Acervo LEPA, 2010, elaborado pelo autor.

Voltando à área de concentração material adjacente ao cerrito “A” podemos considerar alguns aspectos para essa ocupação.

Ao que parece, a julgar pela quantidade de cultura material resgatada e pelas datas obtidas, a densidade populacional do grupo é baixa e o tempo de permanência no local é esporádico, provavelmente sazonal. Talvez, por isso, não se tenha encontrado indícios de estruturas domésticas, como fogueiras, nas áreas de maior concentração material.

A indústria lítica do grupo é constituída basicamente sobre lascas com o caráter expeditivo. A técnica empregada para o lascamento é predominantemente a unipolar. O emprego da técnica bipolar é constatado nas peças de matéria-prima quartzo, que pela sua dureza e resistência ao lascamento necessitam de maior força para o rompimento inicial de seixos ou blocos. Na sequência, alguns produtos do lascamento bipolar, são também debitados pela técnica unipolar. Dessa forma a técnica utilizada para o lascamento está diretamente ligada a oferta de matéria- prima, como muito bem coloca Dias (2007), ou se referir á sítios arqueológicos vinculados à da Tradição Umbu:

As estratégias de seleção das matérias-primas nos sítios da Tradição Umbu indicam exploração preferencial dos recursos mais abundantes nos locais de implantação dos sítios. O aproveitamento das matérias-primas apresenta-se relacionado com as tecnologias de produção utilizadas, sendo a variabilidade observada entre sítios decorrentes das estratégias tecnológicas predominantes em cada conjunto (p. 41).

Os instrumentos, com exceção das pontas de projétil e as boleadeiras, são pouco elaborados e utilizam suportes pequenos, o que dificultaria o reavivamento constante dos gumes, ou então, a reformulação morfológica da peça. Com isso, é mais apropriado produzir um novo suporte e rapidamente confeccionar um novo instrumento, o que explicaria a recorrência de instrumentos na estrutura dos cerritos, descartados e/ou reutilizados como material construtivo.

Em contrapartida, a recorrência de pequenos instrumentos de fácil elaboração e de caráter aparentemente expeditivo, pode indicar uma espécie de encabamento, já que a morfologia de muitos instrumentos tem ângulos abruptos opostos aos bordos ativos. No entanto, esse encabamento deveria ser realizado com resina, pois não haveria superfície suficiente para a fixação de um cabo por amarração, por

exemplo. De palpável, não foram encontrados vestígios de encabamento durante a atividade de campo.

As dimensões reduzidas dos instrumentos podem causar limitações em seu uso ou reaproveitamento, por outro lado, para um grupo caçador-coletor de mobilidade sazonal representaria facilidade no transporte. Quintana (2010) chama a atenção para outro fator que vai de encontro com a realidade dos instrumentos do Sítio Arqueológico Corredor do Bolso:

Outro fator que influencia no funcionamento do instrumento é o formato da linha de gume. Linhas de Gume curvas são apropriadas para cortar e talhar. Sua área de ação é maior e melhor aproveitada. Já as linhas de gume retas são mais adequadas a furar e fatiar, mas limitam-se a uma área de ação menor. Note-se que os instrumentos da coleção em estudo possuem linhas de gume de ambos os tipos, entretanto seus ângulos são maiores de 70°, encaixando-se nas atividades de raspar. (p. 96)

Quanto à pouca quantidade de núcleos, acredita-se que tenham sido esgotados e fraturados após não terem mais como dar condições de obter novas lascas. Essa atitude pode indicar uma forma de economia de matéria-prima, que embora abundante e diversificada, não é presente próxima ao sítio arqueológico. Ainda segundo Dias (2007) a baixa frequência de núcleos indica que as matérias- primas sofreram um processamento inicial nos locais de coleta. O baixo número de lascas corticais também converge para a ideia de uma redução inicial dos suportes nas áreas de obtenção de matéria-prima.

Assim em comparação com outros sítios arqueológicos com a presença de cerritos, o Sítio Arqueológico Corredor do Bolso segue um padrão de assentamento típico dessas estruturas: área alagadiças, próximos a várzeas de rios. Mas possuir uma variabilidade regional parece ser uma constante entre os cerritos, principalmente quanto ao material lítico e a existência ou não de fragmentos cerâmicos.

Talvez seja essas diferenciações, encontradas de um sítio para o outro, que dificulte afirmações concretas sobre essas estruturas, o que torna cada dado obtido uma verdadeira descoberta.

CONCLUSÃO

Apesar do longo histórico de pesquisas os cerritos são estruturas ainda pouco conhecidas pela arqueologia, principalmente quanto sua finalidade. Esse fato se dá pela grande variabilidade regional, principalmente em termos de recursos naturais, oferta de matéria-prima e formas de relevo, que reflete na cultura material encontrada.

Mesmo assim, existem recorrências quanto o estabelecimento dessas estruturas em áreas alagadiças, o talhe bipolar de quartzo e a presença de pontas de projétil e boleadeiras na cultura material.

Pensando nisso, esse trabalho objetivou contribuir em três escalas: a primeira, de caráter desafiador, foi dar um significado em um contexto mais amplo as peças resgatadas no Sítio Corredor do Bolso, depois de 12 anos da realização das atividades de campo; a segunda, de aspecto regional, foi iniciar as pesquisas com cerritos na região central do Estado do Rio Grande do Sul, uma área tida como longe da “área nuclear” de concentração dessas estruturas; e a terceira, de alcance macro, levantar novos dados para o estudo dos cerritos como estruturas arqueológicas recorrentes nas “tierras bajas” da Região Platina.

Para tanto, buscou-se conhecer a coleção arqueológica, entender o modelo de ocupação dos grupos cerriteiros, reconstruir o espaço natural e interpretar o espaço social desses indivíduos, preservando a identidade do Sítio Arqueológico Corredor do Bolso dentro de um contexto mais amplo. Como resultado obteve-se uma série de elementos que quando relacionados reconstituem um cenário.

Partindo da análise da cultura material, documento remanescente de imediato foi possível perceber três dados bastante importantes para o início das pesquisas: a presença de duas estruturas monticulares; vestígios arqueológicos de duas ocupações distintas; e uma diversidade de rochas usadas como matéria-prima para o lascamento.

Diante desse quadro, optou-se por entender melhor os cerritos e seu grupo construtor, direcionando o trabalho para a análise dos materiais líticos diretamente associada a essas estruturas. Posteriormente fazer uma relação com o outro grupo, no caso, a Cultura Guarani.

Os cerritos do Sítio Corredor do Bolso estavam localizados em uma região privilegiada quando a recursos naturais, devido o encontro de diferentes formações geológicas, refletidas em dois compartimentos geomorfológicos, a Depressão Central e o Escudo Sul Rio-Grandense, de características distintas, permitindo uma ampla biodiversidade e ofertas de matérias-primas rochosas. Em um raio de apenas 30 a 40 km era possível a captação de diversas rochas aptas para ao lascamento.

Essas rochas, principalmente o quartzo e o arenito, eram então escolhidas, recebiam uma redução inicial no seu local de captação e levadas ao acampamento. Acredita-se que talvez pela distância entre o acampamento e os afloramentos, ou mesmo pela mobilidade constante dos grupos caçadores-coletores, os suportes escolhidos eram de pequeno e médio porte, refletindo em instrumentos de tamanho bem reduzido.

A dispersão espacial dos materiais lascados mostrou uma concentração de vestígios em uma área adjacente ao cerrito denominado “A”. A ideia de que ali seja o local de habitação, ou mesmo uma área de atividades específicas do grupo é corroborada pela dispersão dos instrumentos líticos.

A indústria lítica do grupo construtor dos cerritos era toda sobre lascas, ou por vezes utilizava-se como suporte outros produtos do talhe, na análise aqui apresentada denominado de fragmentos. A escolha de suportes pouco elaborados e de pequeno tamanho reflete uma indústria expeditiva, sem uma morfologia preferencial de instrumentos, mas com características recorrentes em sua maioria, com uma face abrupta em um dos bordos; a formação frequente de uma “ponta entre entalhes” no bordo ativo; tamanho reduzido; e gumes ativos com ângulos entre 70° e 90°, o que indica a função de raspar.

A questão da face abrupta é curiosa, por sua origem muitas vez intencional e pela sua localização em oposição ao bordo ativo, que reflete a possibilidade encabamento.

No acampamento, essas rochas escolhidas como matéria-prima além de serem utilizadas para a confecção de instrumentos, eram empregadas na construção dos cerritos, juntamente como os refugos de lascamento, como elemento agregador do solo, pois sem isso a textura arenosa do solo não permitiria a formação do monte, sendo facilmente erodido. Os refugos de lascamento, provavelmente eram reunidos e transportados junto com o solo antropogênico de ocupação, e por isso a coloração

diferenciada do solo foi percebida na escavação dos cerritos, sem formar um piso de ocupação, sem delinear uma “mancha preta”, ou estar vinculada a uma estrutura de fogueira, por exemplo. O caráter expediente dos instrumentos da coleção é visível na presença deles nos cerritos, principalmente em áreas escavadas. O tamanho pequeno dos instrumentos não permite muitas retiradas que reavivam o gume tornando o inativo rapidamente e facilmente descartado.

Mas para que tanto trabalho para amontoar esses materiais e construir os cerritos?

Embora não se tenha encontrado nenhum vestígio arqueológico relacionado a enterramentos, é possível que os cerritos tenham sido concebidos como estruturas funerárias e/ou ritualísticas. É conhecido bibliograficamente inúmeras ocorrências de cerritos com enterramentos.

No caso, dos cerritos do Sítio Arqueológico Corredor do Bolso,o que colabora com essa hipótese e a existência da cerâmica Guarani.

A distribuição espacial dessa cerâmica mostra a concentração dos fragmentos sobre os cerritos, inclusive uma urna com restos mortais de um indivíduo, cujas características pertencem a uma dieta horticultora.

Assim, é possível que o grupo Guarani tenha assimilado o aspecto simbólico e funerário dos cerritos e ter realizado seus próprios rituais de enterramento sobre essa estrutura. É comum a ocorrência de enterramentos Guaranis sobre cerritos.

Quanto à possibilidade de contato entre o grupo cerriteiro e o grupo Guarani é bastante difícil, devido às datações apresentadas e a superficialidade da cerâmica encontrada no sítio. Os poucos fragmentos estão bastante espalhados pelo quadriculamento da atividade de campo, o que pode indicar o impacto ocasionado pelas atividades agrícolas.

Dessa forma, os resultados alcançados aproximam-se dos dados obtidos pelas pesquisas uruguaias, onde os cerritos são concebidos com estruturas ritualísticas. No entanto, não se acredita no caráter multifuncional dessas estruturas, que também atuariam como demarcadores de território e referenciais geográficos para os grupos que os conceberam.

Assim, demarcadores territoriais e mesmo referências geográficos necessitam de certa visibilidade no terreno e a longas distâncias, o que não ocorre com os cerritos do Corredor do Bolso, construídos próximos a mata ciliar do Rio Vacacaí e

Arroio Salso e há poucos quilômetros da escarpa do Escudo Sul-Riograndense prejudicando sua visibilidade.

Como qualquer proposta de trabalho, sabe-se que a pesquisa acadêmica é uma construção constante, que não se apresenta de forma fechada, correta e concluída. Mas sim, de forma viva e ativa, tendo consciência dos avanços e retrocessos de metodologias e conceitos aplicados, é sempre cabível de novas interpretações.

A dificuldade de se obter respostas definitivas através da análise desses materiais faz com que as pesquisas realizadas sejam permeadas de hipóteses, e muitas vezes dúvidas. A arqueologia não é uma ciência linear.

REFERÊNCIAS

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o homem pré-histórico: variedades, definições e conceitos. Revista do Museu

de Arqueologia e Etnologia. São Paulo, 1991. p. 63-75.

ARAUJO, Astolfo Gomes de Mello. As propriedades físicas dos arenitos

silicificados e suas implicações na aptidão ao lascamento. Revista do Museu de

Arqueologia e Etnologia. São Paulo, 1992. p. 63-75.

ARRUDA, Hilda Mirian da Rocha. Evolução do uso da terra com ênfase aos

plantios florestais no município de São Grabriel. Monografia (Conclusão de

Curso em História) - Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria. 2008.

BEOVIDE, Laura. MALÁN, Maira. Arqueología em los humedales costeiros del

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BRACCO BOKSAR, Roberto; LOPEZ MAZZ, José M.; CABRERA, Leonel. La Prehistoria de las Tierras Bajas de la Cuenca de la Laguna Merín. In: COIROLO, Alicia Duran; BRACCO BOKSAR, Roberto (Org). Arqueología de las Tierras Bajas.

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