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PARTE II RASCUNHANDO RESPOSTAS

CAPÍTULO 4 RESULTADOS DOS EXPERIMENTOS

4.7 Resultados: Autores, Obras e Leitura

Para além de dados sobre as formas linguísticas, enquanto digitávamos o corpus, ao observar as listas de palavras e os dados obtidos nos experimentos, elaboramos tabelas com estatísticas sobre a presença de obras e de autores em nosso corpus. Dos 341 textos do CVUFRGS-2014, encontramos referências a livros dos mais variados, que estão descritos na tabela do banco de dados. Os autores mais presentes no corpus são, conforme apontamos na Tabela 8:

Tabela 8. Autores mais citados nas redações do CVUFRGS-2014. Machado de Assis 17 4,99% J. K. Rowling 15 4,40% J. R. R. Tolkien 13 3,81% Érico Veríssimo 12 3,52% George Orwell 12 3,52%

Sem identificação de autor/obra não encontrada 12 3,52%

Antoine de Saint-Exupéry 11 3,23%

Bíblia 9 2,64%

Fonte: Elaborado pela autora.

Chama a atenção que figuram entre os autores mais citados autores da literatura universal, como J. K. Rowling, J. R. R. Tolkien e Orwell. Entre os autores da literatura brasileira mais citados estão Machado de Assis e Érico Veríssimo, este autor da literatura gaúcha, que sempre foi tema do vestibular da UFRGS. Com relação aos autores brasileiros e estrangeiros, obtivemos os seguintes dados, descritos na Tabela 9:

Tabela 9. Autores estrangeiros x brasileiros.

Literatura Brasileira Literatura Estrangeira Literatura Portuguesa Desconhecido

117 198 5 21

34,31% 58,6% 1,47% 6,16%

Fonte: Elaborado pela autora.

Essas informações nos fizeram buscar as listas de leituras obrigatórias23 do CVUFRGS dos anos anteriores a 2014, de modo a procurar cruzar as leituras citadas nas redações com leituras sugeridas pela prova. Nas 341 redações de nosso corpus, 72 mencionam autores e obras que foram adaptadas para filmes, seriados e videogames.

Quadro 9. Autores de leituras obrigatórias citados nas redações.

LEITURAS OBRIGATÓRIAS

2014 LEITURAS OBRIGATÓRIAS 2013 LEITURAS OBRIGATÓRIAS 2012

JORGE AMADO GUIMARÃES ROSA JOSÉ DE ALENCAR

NELSON RODRIGUES CRISTÓVÃO TEZZA FERNANDO PESSOA

LYA LUFT MACHADO DE ASSIS JOÃO CABRAL DE MELO NETO

JOSÉ SARAMAGO MOACYR SCLIAR

JOÃO SIMÕES LOPES NETO

Fonte: Elaborado pela autora.

Verificamos, por meio do Quadro 9, que muitos dos autores citados nas redações do CVUFRGS-2014 apresentam autores que estavam arrolados na lista de leituras obrigatórias do CVUFRGS-2014. Os autores dos anos anteriores são menos citados. Com relação a essas informações obtidas, retomamos os dados publicados pelo Instituto Pró-Livro, em pesquisa realizada em parceria com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, que publicou a quarta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (RLB) (INSTITUTO PRÓ-LIVRO, 2016). A pesquisa foi realizada com 5.012 pessoas com 5 anos ou mais, alfabetizadas ou não, residentes no Brasil, no período de novembro a dezembro de 2015. Os resultados traçam o perfil não só daqueles que se declaram leitores (ou que leram ao menos um livro nos últimos três meses), mas também daqueles que se declaram não leitores. De acordo com a pesquisa, 56% dos entrevistados são leitores, e os 44% restantes são não leitores. Já o grupo dos não leitores é composto por indivíduos entre 18 e 59 anos (61%), das classes C e D, sendo que 35% têm até a 4ª série do Ensino Fundamental e 36% cursaram da 5ª. até a 8ª. série do Ensino Fundamental ou o Ensino Médio.

Os leitores, ao serem perguntados se gostariam de ter lido mais livros nos últimos três meses, responderam massivamente que sim (77%), e 43% afirmaram não ter lido mais livros por falta de tempo (INSTITUTO PRÓ-LIVRO, 2016, p. 35). Ou seja, a leitura é associada a uma atividade que consome uma grande porção de tempo, e podemos inferir que esse obstáculo possa estar associado à dificuldade de leitura ligada

ao nível de Letramento médio desses leitores. Entre os não leitores, a falta de tempo também foi a razão mais mencionada para não ler (32%), isto é, há um contingente de leitores em potencial que leriam mais caso a leitura não fosse associada, de certa forma, com perda de tempo.

Na terceira edição da pesquisa RLB (AMORIM, 2012), entre os dez livros mais importantes na vida dos leitores (resposta espontânea e com uma única opção), seis são livros infantis ou infanto-juvenis, e os quatro escritores brasileiros mais admirados (resposta espontânea e com uma única opção) são Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho e Jorge Amado, cujos textos, bem sabemos, são altamente acessíveis. Machado de Assis aparece em quarto lugar na edição de 2007, e os quatro autores mais votados receberam quase metade das indicações. Percebe-se, então, que os leitores declaram preferir autores de linguagem “fácil”, ainda que se leve em conta que o universo demográfico da amostra inclui crianças (13% dos entrevistados têm de cinco a dez anos).

Embora nem todos figurem na tabela dos mais citados no corpus, muitos dos autores citados nas edições da RLB aparecem nos textos das redações do CVUFRGS- 2014, como apontado no Quadro 10 a seguir.

Quadro 10. Autores da RLB citados nas redações.

Monteiro Lobato 1 Machado de Assis 17 Paulo Coelho 4 Jorge Amado 8 Chico Xavier 1 John Green 2 José de Alencar 3

Fonte: Elaborado pela autora.

Ainda sobre os autores e obras citados no corpus, separamos os autores citados por faixa de nota, com a finalidade de observar se havia correspondência entre nomes consagrados mencionados e notas mais ou menos baixas dadas pelos avaliadores.

Gráfico 3. Autores por faixa de nota.

Com relação aos dados apresentados no Gráfico 3, preferências de leitura de acordo com as faixas de nota são percebidas. Essas preferências, de acordo com nossa leitura, estão relacionadas com a possibilidade de acesso à cultura. Note-se que autores como John Green e Erico Verissimo são autores bastante citados nos textos com notas mais baixas, da Faixa 1. Esses autores tiveram suas obras adaptadas para cinema, novela e seriados, que frequentemente são veiculados em canais abertos da televisão.

Já nos textos que fazem parte da Faixa 2, destacam-se os autores Tolkien e Rowling, autores de obras que também possuem adaptações cinematográficas. Autores como Dostoievski, Galeano e João Cabral de Melo Neto, cujas obras são clássicos da literatura e que não têm reconhecidas adaptações para as telas, são autores que aparecem apenas em redações da Faixa 3. Com essas informações, não podemos afirmar que há uma relação causal entre citar um autor clássico e ter uma nota maior na redação, mas nos parece que há uma tendência a isso acontecer, visto que leitura e escrita andam juntas e que leitores de Dostoievski, por exemplo, são leitores, normalmente, com um percurso de leitura amadurecido. Os dados sobre as obras citadas dizem mais sobre os autores das redações e seus hábitos de leitura do que sobre o comportamento avaliativo dos professores que corrigiram as redações do tema do CVUFRGS-2014.

Além dessas informações interessantes sobre as preferências de livros em uma ou outra faixa de nota, há obras que estão bem distribuídas entre todas as faixas e redações. Selecionamos as que são citadas 5 vezes ou mais no corpus e as tabelamos a seguir:

Tabela 10. Distribuição de obras por notas e faixas.

Obra Notas Faixa

O Pequeno Príncipe 3, 5, 12, 16, 17, 20, 21, 22, 24 (Faixa 1, Faixa 2 e Faixa 3)

1984 14, 15, 18, 20, 21 (Faixa 2, Faixa 3)

Bíblia 4, 5, 7, 8 , 9, 11, 14, 21 (Faixa 1, Faixa 2 e Faixa 3)

Capitães da Areia 2, 3, 7, 15, 19, 20 (Faixa 1, Faixa 2 e Faixa 3)

Dom Casmurro 16, 17, 21, 20, 22 (Faixa 2 e Faixa 3)

Destacam-se no quesito popularidade “O pequeno príncipe” e a “Bíblia”, que são obras citadas em redações de todas as faixas de nota e que foram elencadas como

clássico pessoal por motivos muito distintos. Isso demonstra que o processo avaliativo

do CVUFRGS, de fato, prima pelo treinamento dos avaliadores de modo que não ocorra julgamento das redações a partir de um juízo de valor. As redações são avaliadas de acordo com os critérios elencados nas grades de avaliação e nada mais.

Ainda sobre as obras citadas nas redações, na Faixa 2 encontramos duas obras dignas de nota, que podem corroborar nossa observação sobre juízos de valor na avaliação das redações: “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de Olavo de Carvalho, e “Mein Kampf”, de Adolf Hitler. Essas redações ficaram com notas 18 e 12, respectivamente, e, muito embora sejam livros polêmicos, verificamos que essas notas foram atribuídas pela baixa qualidade argumentativa dos textos e por apresentarem desvios de ortografia e, principalmente, de semântica.