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5. PANORAMA DA MORTALIDADE POR CAUSAS EXTERNAS EM

6.3 Ajuste da curva de anos de vida perdidos

6.3.1 Resultados comparativos entre os modelos

Os resultados mostraram que, após o ajuste, os anos de vida perdidos passaram a apresentar, como era esperado, valores sempre mais baixos do que aqueles calculados pelo método de Arriaga e, do mesmo modo, inferiores aos resultados calculados pelo método dos Riscos Competitivos, em todo o período estudado, tanto para homens quanto para mulheres, e em todos os grupos de causas.

Os ganhos que hipoteticamente a população masculina de Manaus acrescentaria na esperança de vida ao nascer, caso fossem eliminadas as causas específicas, acabaram se traduzindo em perdas de anos, tendo em vista que as causas não foram eliminadas e, como resultado, a esperança de vida ao nascer observada deixou de aumentar. No caso das mortes causadas por armas de fogo, os homens, em 1980, deixaram de agregar 0,38 ano na esperança de vida pelo modelo dos Riscos Competitivos e 0,57 ano no caso das mortes causadas por ferimentos sem utilização de arma de fogo. Quando se utilizou a metodologia de Arriaga, obteve-se uma perda média de anos de vida de 0,45 ano para as mortes

causadas por lesões com arma de fogo e 0,70 ano de perdas de vida para mortes consumadas sem arma de fogo. Após o ajuste, fazendo a interação entre os grupos etários, tem-se uma perda média, em anos de vida, de 0,34 e 0,53, respectivamente.

Para as mulheres vítimas de arma de fogo, em 1980, o ajuste não foi tão significativo quanto para os homens. O método dos riscos competitivos indicou perdas de 0,07 ano, ao passo que o modelo de Arriaga apontou 0,06 ano de vida perdido e obteve-se 0,05 ano de vida perdido após o ajuste (TAB. 15).

Tabela 15 – Ganhos na esperança de vida ao nascer e Anos de Vida Perdidos calculados pelo modelo de Múltiplo Decremento, Arriaga e ajustados, segundo sexo e grupo de causas, Manaus, 1980, 1991, 2000 e

2009

1980 1991 2000 2009 1980 1991 2000 2009 OBSERVADA 61,2 67,2 69,3 71,8 66,3 72,0 75,5 77,6 Excluída as Armas de Fogo 61,5 67,9 69,8 72,6 66,3 72,1 75,5 77,7 Excluída as sem Armas de Fogo 61,7 68,0 70,0 72,2 66,4 72,2 75,6 77,7 Excluída Todas as Agressões 62,1 68,7 70,5 73,0 66,5 72,3 75,6 77,7 Excluída os Acidentes de Transporte 62,5 68,0 69,9 72,3 66,8 72,4 75,7 77,8 Excluída Demais Causas Externas 62,1 67,8 70,0 72,3 66,6 72,2 75,6 77,8

Excluindo as Armas de Fogo 0,38 0,69 0,51 0,81 0,07 0,07 0,06 0,06

Excluindo as sem Armas de Fogo 0,57 0,78 0,70 0,45 0,17 0,18 0,11 0,08

Excluindo Todas as Agressões 0,93 1,46 1,21 1,26 0,22 0,24 0,16 0,13

Excluindo os Acidentes de Transporte 1,31 0,80 0,62 0,49 0,50 0,34 0,20 0,19

Excluindo Demais Causas Externas 0,92 0,62 0,69 0,56 0,37 0,23 0,19 0,18

Agressões com Arma de Fogo 0,45 0,77 0,57 0,87 0,06 0,07 0,05 0,05

Agressões Sem Arma de Fogo 0,70 0,85 0,76 0,49 0,18 0,17 0,10 0,07

Todas as Agressões 1,15 1,62 1,33 1,35 0,23 0,24 0,15 0,11

Acidentes de Transporte 1,59 0,86 0,66 0,50 0,53 0,33 0,18 0,17

Demais Causas Externas 1,12 0,68 0,74 0,56 0,39 0,22 0,16 0,15

Agressões com Arma de Fogo 0,34 0,62 0,46 0,74 0,05 0,06 0,04 0,05

Agressões Sem Arma de Fogo 0,53 0,69 0,62 0,41 0,14 0,14 0,09 0,06

Todas as Agressões 0,87 1,33 1,10 1,14 0,19 0,20 0,13 0,10

Acidentes de Transporte 1,21 0,70 0,54 0,41 0,43 0,28 0,16 0,15

Demais Causas Externas 0,86 0,55 0,61 0,47 0,32 0,19 0,14 0,13 Fonte dos dados básicos: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS/MS); IBGE - Tábuas de vida abreviada

Anos de vida perdidos (ajustados)

Homens Mulheres

Esperança de Vida

Ganhos na Esperança de vida ao nascer

Anos de vida perdidos (Arriaga)

Em 1991, os homens alcançaram uma esperança de vida ao nascer de 67,2 anos, ao passo que as mulheres atingiram o patamar de 72,0 anos. Porém, caso fosse

possível eliminar o efeito da mortalidade por armas de fogo, a população masculina agregaria 0,69 ano e passaria a ter uma esperança de vida ao nascer de 67,9 anos, ao passo que as mulheres teriam uma esperança de vida ao nascer, praticamente igual, de 72,1 anos. Para os homens a expectativa de vida aumentaria ainda mais, caso fosse possível eliminar o risco de mortes por todas as agressões, o que resultaria em um ganho de 1,46 ano, elevando a esperança de vida ao nascer para 68,7 anos, ao passo que para as mulheres a esperança de vida ao nascer apenas passaria para 72,2 anos, de acordo com o procedimento metodológico dos Riscos Competitivos. Com base na metodologia dos anos de vida perdidos proposta por Arriaga, as perdas de anos de vida provocadas pelas armas de fogo e por todas as agressões, para os homens, em 1991, seria de 0,77 ano e 1,62 ano, respectivamente. Teoricamente, se esses homens vítimas de agressões não tivessem ficado expostos ao risco de mortalidade por essa causa, essas perdas de anos de vida se traduziriam em ganhos. Após o procedimento de ajuste, tem-se perdas de anos de vida menores, 0,62 ano e 1,33 ano, respectivamente (TAB. 15).

No ano 2000, tanto os ganhos na esperança de vida ao nascer quanto as perdas de anos de vida foram menores do que em 1991, para todas as causas, exceto para as demais causas externas, que apresentaram valores maiores. Em contrapartida, em 2009, com o aumento da mortalidade por violência, os valores para os homens voltaram a ser significativos. Ratificando os resultados encontrados pelo modelo de Riscos Competitivos e anos de vida perdidos proposto por Arriaga, tem-se uma maior mortalidade por arma de fogo, que passa a causar maior impacto na esperança de vida ao nascer da população masculina de Manaus.

Os anos de vida perdidos devido às agressões por arma de fogo, para os homens, a partir de 2000, seguem uma tendência de crescimento, como pode ser visto pela inclinação da reta em todo o período de 1980 a 2009, e mais acentuadamente no final desse período. Já o grupo de causas de óbitos sem a utilização de arma de fogo apresentou declínio por todo o período, levando à conclusão de que as maiores perdas de anos de vida, para os homens residentes no município de Manaus, são causadas pelas armas de fogo (GRAF. 14).

Gráfico 14 – Ganhos na esperança de vida ao nascer e Anos de Vida Perdidos calculados pelo modelo de Arriaga e ajustados, segundo sexo e

Em 2009, a esperança de vida ao nascer masculina em Manaus teria atingido o patamar de 72,6 anos, caso a população não estivesse submetida ao risco de mortalidade por agressões com arma de fogo. Porém, como isso não ocorreu, a esperança de vida ao nascer dos homens alcançou 71,8 anos, resultando numa perda de 0,81 ano. Pelo método de Arriaga essa perda ainda seria maior (0,87 ano), ao passo que, após aplicação do ajuste, os homens teriam perdido apenas 0,74 ano de vida.

Para as outras causas, tem-se uma tendência de declínio, sempre com menores perdas para a curva de ajuste dos AVP. No outro extremo, os AVP calculados pelo método do Arriaga apresentam os maiores valores. Para as mulheres, considerando todas as causas de mortalidade, há uma tendência de queda, com menores perdas de anos de vida calculadas pelo método de Arriaga ajustado. Outra informação complementar para essa análise diz respeito às variações das diferenças entre os resultados dos AVP calculados pelos diferentes métodos. As maiores diferenças proporcionais no cálculo dos AVP entre o modelo de Arriaga e o modelo ajustado ocorreu no ano de 1980. A diferença do valor dos AVP pelos Riscos Competitivos e aquele calculado com base no método de Arriaga, para os homens vítimas de armas de fogo, correspondeu a uma variação entre 20,1% em 1980 e 7,42% em 2009. As variações ocorridas entre o ajuste e o modelo de Riscos Competitivos foram, em média, 10,0% entre 1980 e 2009 (TAB. 16).

Entretanto, em 2009, os ganhos de vida, que poderiam ter sido agregados à esperança de vida ao nascer masculina, calculados pelo método de Riscos Competitivos, tendem a estarem mais próximos dos AVP pelo método de Arriaga do que pelo método de Arriaga ajustado. Isso pode ser explicado pelas menores probabilidades de morte, principalmente por acidentes de transporte e demais causas, em 2009, em relação aos demais anos, tornando menos eficaz o ajuste realizado por meio da interação entre os grupos etários.

Tabela 16 – Variação relativa da diferença dos anos médios de vida perdidos dos AVP ajustados em relação aos AVP e Riscos Competitivos, segundo o

sexo e grupo de causas, Manaus 1980, 1991, 2000 e 2009

1980 1991 2000 2009 1980 1991 2000 2009

Excluindo as Armas de Fogo 20,07 11,31 10,08 7,42 -19,75 -13,18 -19,12 -15,17 Excluindo as sem Armas de Fogo 21,67 10,07 9,14 8,49 2,04 -7,54 -11,24 -14,11 Excluindo Todas as Agressões 23,35 11,14 10,13 6,84 5,00 -3,79 -7,28 -13,70 Excluindo os Acidentes de Transporte 21,92 7,98 6,05 1,72 5,81 -3,98 -12,87 -12,52 Excluindo Demais Causas Externas 21,72 9,33 7,09 1,57 6,43 -2,93 -13,99 -18,54 Agressões com Arma de Fogo 32,38 22,82 22,04 18,73 21,34 15,99 13,81 10,94 Agressões Sem Arma de Fogo 32,37 23,30 22,27 20,07 22,85 17,25 13,32 11,92 Todas as Agressões 31,61 22,08 21,42 18,49 22,39 16,80 13,42 11,77 Acidentes de Transporte 31,28 23,41 23,39 20,98 22,08 16,27 13,63 11,79 Demais Causas Externas 30,87 22,98 22,46 20,39 22,30 15,43 12,21 11,38 Agressões com Arma de Fogo 10,26 10,34 10,87 10,53 51,19 33,60 40,72 30,78 Agressões Sem Arma de Fogo 8,79 12,02 12,03 10,67 20,39 26,82 27,66 30,31 Todas as Agressões 6,70 9,84 10,25 10,90 16,56 21,40 22,33 29,52 Acidentes de Transporte 7,68 14,28 16,36 18,93 15,38 21,09 30,41 27,78 Demais Causas Externas 7,52 12,49 14,35 18,53 14,90 18,91 30,46 36,73

Fonte dos dados básicos: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS/MS); IBGE - Tábuas de vida abreviada Variação (%) entre Riscos Competitivos e AVP ajustado

Homens Mulheres

Causas de Morte

Diferença entre Riscos Competitivos e Arriaga

Variação (%) entre Arriaga e AVP ajustado

Para as mulheres, sempre menos expostas ao risco de mortalidade por violência, tem-se uma variação sempre menor, porém, ainda assim observam-se maiores perdas quando se utiliza o método de Riscos Competitivos, a partir de 1991.