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4. ESTUDO DE CASO

4.3. Resultados

4.3.2. Resultados da fase qualitativa

Obtidos os resultados da fase quantitativa, procedeu-se à condução das entrevistas semiestruturadas com os gestores e coordenadores de laboratório a fim de se complementar a compreensão dos dados. Foram então realizadas entrevistas semiestruturadas com quatro gestores, membros da equipe de planejamento e gestão orçamentária da instituição e com dois coordenadores de laboratórios dentre as unidades com a menor taxa de utilização. Embora convidados a participar da pesquisa, outros dois coordenadores de laboratórios preferiram não se manifestar.

As entrevistas realizadas com a equipe responsável pelo planejamento e gestão orçamentária da UNIFEI (dois administradores e dois economistas) tiveram por objetivo verificar suas respostas (percepções subjetivas) quanto à adequação dos indicadores propostos ao construto denominado de “propriedades essenciais e complementares de um indicador”. O conjunto de propriedades essenciais e complementares de um indicador foi ilustrado no Quadro 10 da fundamentação teórica. Trata-se de uma relação adaptada do documento de referência Indicadores - Orientações Básicas Aplicadas à Gestão Pública (2012), do

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. O roteiro das entrevistas realizadas com os gestores pode ser encontrado no apêndice L. Os dados coletados pelas entrevistas foram examinados qualitativamente pela técnica de análise de conteúdo. A análise de conteúdo propicia a obtenção de uma descrição objetiva e sistematizada da comunicação por meio de procedimentos nos quais se procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões e relações no conteúdo das mensagens (BARDIN, 2000). Essa análise consiste no exame das entrevistas por meio da categorização. O sistema de categorização implica na identificação de categorias, que se apoiam em unidades de registro. As unidades de registro são recortes do texto (palavras, frases, parágrafos) que são agrupados tematicamente e interpretados pelo pesquisador (SILVA e FOSSÁ, 2013).

Como resultado, os dados das entrevistas com os gestores indicam, em sua maior parte, consenso entre os membros da equipe de planejamento e gestão orçamentária quanto à correspondência entre os indicadores propostos e propriedades. Isto é, do ponto de vista dos entrevistados, os indicadores de (U), (F) e (O) apresentam as seguintes propriedades: utilidade; validade; disponibilidade; sensibilidade; desagregabilidade; economicidade; mensurabilidade; e auditabilidade ou rastreabilidade.

Não houve, entretanto, concordância quanto às propriedades simplicidade e clareza na medida em que os entrevistados relataram perceber essas propriedades com mais facilidade nas taxas de (F) e (O) em comparação com a taxa de (U). Quanto à confiabilidade, descrita como a propriedade do indicador ter origem em fontes confiáveis, que utilizem metodologias reconhecidas e transparentes de coleta, processamento e divulgação, essa foi objeto de argumentação. Não foi argumentada a inexistência intrínseca de confiabilidade nos indicadores propostos, mas o fato de que uma possível adoção das medidas de desempenho pela instituição poderia ser afetada por erros de coleta. Na visão dos entrevistados, isto ocorre, principalmente, porque o sistema SIGAA ainda é vulnerável à imprecisão de dados incluídos manualmente. Assim, enfatizou-se a necessidade de garantir que os dados incluídos no sistema SIGAA sejam fidedignos e precisos na hipótese de que os indicadores de desempenho dos laboratórios sejam adotados. Em relação à estabilidade, os entrevistados destacaram a necessidade de se padronizar uma regra para a aferição da capacidade máxima dos laboratórios, sob pena de haver prejuízo no estabelecimento de séries históricas. O Quadro 17 sumariza as categorias e as unidades de registro analisadas quanto à concordância ou discordância de sua correspondência aos indicadores.

Quadro 17 – Entrevistas com gestores

CATEGORIAS UNIDADES DE REGISTRO

Utilidade

"...tem inclusive no Planejamento Estratégico a previsão de um indicador que expressa a mesma preocupação com a ociosidade"

Validade "...ele é válido para medir a dedicação à graduação” Confiabilidade

"...essa é uma ressalva em relação à confiabilidade do dado do portal acadêmico, ele eventualmente não expressa a realidade" "...o campo local de oferta da disciplina ainda é digitado

manualmente"

“...ele já pediu para aprimorar o SIGAA nesse sentido" “...então tem esses problemas aí porque ainda é manual"

Disponibilidade

“...isso é fácil”

"...é o pedido que a gente tem feito periodicamente ao DSI, eles não têm dificultado a disponibilidade dos dados"

Simplicidade

“...taxa de frequência ficou mais simples” “...a taxa de ocupação também ficou mais clara”

“ só a taxa de utilização não é simples”

Clareza “só a taxa de utilização não é tão clara” Sensibilidade

“...eu diria que sim”

“...perceber se o indicador vai variar com uma ação” “capacidade de perceber através do indicador alguma intervenção”

Desagregabilidade

"você consegue fazer esse tipo de mensuração com vários universos" "você pode usar em turmas, na universidade inteira, você pode

segmentar"

Economicidade “sim, sim” Estabilidade

“é preciso uma regra clara para verificar a capacidade dos laboratórios”

“porque se você mexe nisso (capacidade), você mexe no indicador inteiro”

Mensurabilidade

“é mensurável a qualquer momento que você queira” “a qualquer momento é possível fazer esse cálculo”

Auditabilidade ou Rastreabilidade

“se está no sistema, está no sistema” “uma vez que esteja no sistema...”

Fonte: Dados da pesquisa

As entrevistas realizadas com os dois coordenadores, selecionados dentre os laboratórios com menor taxa de utilização apurada, seguiram o roteiro apresentado no apêndice M. Os nomes dos coordenadores e dos laboratórios serão mantidos em sigilo na apresentação dos resultados.

Com base nas informações obtidas por meio dessas entrevistas, o quadro 18 apresenta quatro categorias identificadas por meio das unidades de registro. Essas categorias representam uma relação de possíveis fatores ou razões que podem ter impactado os baixos índices apresentados pelos laboratórios, de acordo com a compreensão de seus coordenadores. São eles:

1. Laboratório sofre com efeito negativo do Programa Ciência Sem Fronteiras;

2. Laboratório é considerado por seu coordenador como predominantemente de pesquisa;

3. Laboratório é constituído por um único equipamento necessário para atender determinado tópico do conteúdo programático de uma disciplina do curso;

4. Laboratório é recém-criado, oriundo de desmembramento de outro laboratório. O item 1 relaciona o impacto sofrido pelos cursos de graduação como resultado da mobilidade acadêmica internacional promovida pelo programa Ciência Sem Fronteiras. Embora ainda não tenham sido divulgados estudos oficiais do governo federal sobre o efeito do programa, a percepção do entrevistado aponta para um grande impacto na taxa de ocupação do laboratório do qual é coordenador, principalmente, pelo esvaziamento da turma. A condução de um estudo interno sobre o impacto do programa na ocupação tanto dos laboratórios quanto das salas de aula poderia mensurar esse efeito no contexto da instituição.

O item 2 informa sobre a necessidade de a instituição realizar a classificação dos laboratórios quanto à sua função preponderante. Durante a entrevista, o laboratório foi considerado por seu coordenador como predominantemente de pesquisa, o que justifica a baixa taxa de utilização do laboratório para atividades didáticas. Esse argumento reforça a necessária adoção por parte da gestão superior de uma nomenclatura de distinção a ser atribuída aos laboratórios, quanto aos seus objetivos e uso:

• de Ensino: quando exclusiva ou dominantemente destinados às atividades práticas das disciplinas dos cursos de graduação e pós-graduação;

• de Pesquisa: quando exclusiva ou dominantemente destinados à produção de conhecimento científico e tecnológico, vinculados ou não a programas acadêmicos de pós- graduação;

• de Extensão: quando exclusiva ou dominantemente destinados às experiências de aplicação prática de conhecimentos com caráter educativo, social, cultural, científico e tecnológico;

• misto: quando destinados, em proporções semelhantes, às atividades de ensino e de pesquisa, de ensino e de extensão, de pesquisa e de extensão ou ensino, pesquisa e extensão.

O item 3 diz respeito à constatação de que o laboratório do qual o entrevistado é coordenador é constituído por um único equipamento necessário para atender um tópico do conteúdo programático de uma disciplina do curso. Esse fato assinala a necessidade de definição pela instituição do que seja efetivamente um laboratório e quais são os requisitos

para sua criação. A baixa taxa de utilização de um espaço físico destacado para abrigar um único equipamento aponta para a subutilização.

O item 4 relaciona o fato de que um dos laboratórios com menor taxa de utilização é considerado recém-criado, oriundo de desmembramento de outro laboratório. Portanto, justifica-se sua baixa utilização por seu funcionamento não estar ainda plenamente ativo. Este reconhecimento retoma a necessidade acima mencionada de revisão dos critérios para criação e funcionamento dos laboratórios e de uma normatização que expresse em quais condições a unidade é considerada “em implantação” e quais são os parâmetros para avaliar o seu pleno funcionamento.

Quadro 18 – Entrevistas com coordenadores

CATEGORIAS UNIDADES DE REGISTRO

Ciências Sem Fronteiras

1.“...teve aquela questão do pessoal que foi pro programa do Ciências

Sem Fronteiras, e quem ficou efetivamente mesmo, era uma turma pequena”

2. “Então vários alunos saíram pro Ciências Sem Fronteiras... foram

bastante alunos”

3. “...reduziu, ficaram poucos alunos...”

4. “Era pouquinho... porque a turma era bem pequenininha...”

Unidade com predomínio da

pesquisa

1. “Na verdade, o laboratório sempre atendeu a pós-graduação”

2. “...nós dividiríamos para nossas pesquisas”

3. “...que atendesse apenas as iniciações científicas e os meus alunos de

mestrado”

4. “...continua sendo um laboratório de iniciação científica e da pós-

graduação”

5. “Então, ele foi sempre utilizado mais para os alunos de pós-

graduação e pra alunos de iniciação científica”

Unidade incompleta

1.“...ele só tem o espaço físico... porque precisamos equipar ele e não

tem verba para equipar o laboratório”

2.“Então a única coisa que a gente tem é uma máquina que chama...”

3. “...só tem um equipamento, que é uma máquina que dá pra ensaiar”

4.“Com os equipamentos... A gente ainda não tem”

5. “A gente ainda não tem e é bastante complicado, né”

6. “... é basicamente assim: a gente tem o espaço, como eu disse... e a

gente está tentando parcerias”

Unidade recém-criada

1.“...foi criado o Laboratório, desmembrado do Laboratório de...”

2. “...a gente... está começando a engatinhar agora...”

3. “A partir de 2015 que a gente montou esse laboratório com essa

estrutura”

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