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Resultados da Observação Participante de uma Reunião com a

Educativa

de 3 de Fevereiro, emitido pelo Ministério da Educação, que visava efectivar a autonomia dos estabelecimentos de ensino e da sua gestão: “A autonomia da escola exerce-se através de competências próprias em vários domínios, como a gestão de currículos e programas e actividades de complemento curricular, na orientação e acompanhamento de alunos, na gestão de espaços e tempos de actividades educativas, na gestão e formação de pessoal docente e não docente, na gestão de apoios educativos, de instalações e equipamentos e, bem assim, na gestão administrativa e financeira” (Diário da República, I Série: 456).

Perante esta tentativa de, através da Legislação, integrar o Auxiliar de Acção Educativa no novo conceito de autonomia e gestão própria das escolas, verificámos que a atitude assumida pela Presidente do Conselho Executivo na reunião com os Auxiliares de Acção Educativa de abertura do ano lectivo reflectiu um estilo de liderança que aponta para o estilo de gestão que se insere no conceito de Escola das Relações Humanas de Mayo (“informalidade” e “abertura ao diálogo” – INF). No entanto, apesar de se apelar à motivação para o trabalho, dizendo a Presidente que “os Auxiliares de Acção Educativa devem demonstrar iniciativa, persistência e predisposição para actuar, recorrendo ao Conselho Executivo sempre que tenham dúvidas ou sugestões” (OBS), ao reconhecimento do desempenho (“A capacidade de adaptação e a melhoria contínua são também fundamentais” – OBS) e à aprovação social, através da “cooperação entre todos” (OBS), a verdade é que o papel dos Auxiliares de Acção Educativa é muito reduzido, limitando-se estes a aceitar as decisões previamente tomadas, pedindo apenas mudanças de horário.

Comando de Fayol pois, como ficou claro na parte final da reunião, as condições essenciais do bom Auxiliar de Acção Educativa são a disciplina (“têm de manter a disciplina”, “têm de dar o exemplo” – OBS), a conformidade (“têm de cumprir”, devem fazer como se estabeleceu” e “é importante respeitar as hierarquias” – OBS) e “a pontualidade e assiduidade” (OBS).

Decorrente do estilo de gestão praticado que, como vimos, é um híbrido entre a realidade praticada e um ideal que se deseja, também as redes de comunicação utilizadas se entrecruzam entre redes formais e informais.

Assiste-se assim a uma estrela comunicacional que se centra na emergência do líder como fonte de informação (“vou enumerar”, “vou relatar”, “ouçam até ao fim”, “pediu silêncio e chamou a atenção” – OBS). Contudo, vários momentos da reunião caracterizaram-se por uma rede de comunicação informal que aumentou a rapidez da comunicação (“Auxiliares de Acção Educativa falavam entre si a combinarem trocas”, “A Presidente deixou-os falar entre si à vontade durante algum tempo” e “chegaram sozinhos a acordo” – INF).

De acordo com as teorias de Licínio Lima (op. cit.) a reunião a que assistimos enquadrar-se-ia no conceito de participação organizada, já que as decisões que importam já estavam tomadas. Apesar disso, parece-nos que o carácter da reunião não pode ser abordado nesta perspectiva pois na sua maioria as decisões tomadas referem-se a factos estabelecidos no regulamento interno que segue, por sua vez, a lei vigente em Portugal.

Assim, caracterizamos esta reunião como de participação informal, pois não segue regras rígidas pré-estabelecidas. Para além disso, caracteriza-se pela participação directa, pois todos os participantes foram livres de intervir sempre que achavam necessário, sem a necessidade de qualquer tipo de mediatização (“não se verificou muito diálogo, não por não haver abertura para tal, mas porque não haviam muitas razões para dialogar”, “conversaram entre si”, “agitação e comentários”, “AAE C pediu a palavra e disse [...]”, “os Auxiliares de Acção Educativa reclamaram” – INF).

A propósito da importância da participação no trabalho, foram referidos pela Presidente “dois factores importantes: a participação honesta na auto-avaliação e a participação com aproveitamento nas acções de formação” (OBS). Verificámos, assim, que apenas se privilegiaram aspectos práticos e técnicos da carreira e não se abordou directamente o papel dos Auxiliares de Acção Educativa no grupo mais alargado de trabalho do estabelecimento de Educação, pois apenas foram referidos “os objectivos deste grupo de trabalho” (OBS).

Tal como sucedeu com a participação, em relação à cooperação e integração a maior preocupação na reunião foi em garantir “o espírito do trabalho de equipa” (OBS) dentro “deste grupo de trabalho” (OBS). No entanto, a Presidente referiu que deve haver “cooperação entre todos”, salientando que “não devem ter medo nem vergonha de pedir ajuda aos professores ou outros técnicos da educação, se precisarem” (OBS). Garantiu ainda que o Conselho Executivo existe para ajudar “sempre que tenham dúvidas ou sugestões” (OBS).

como tivemos oportunidade de verificar aquando das leituras, as situações de conflito são perfeitamente naturais sempre que existe comunicação entre membros de um grupo.

Os conflitos registados, referentes à sala de convívio dos Auxiliares de Acção Educativa no que diz respeito às condutas de utilização, tiveram a sua causa em questões de território; Os Auxiliares de Acção Educativa masculinos queixaram-se de que “as mulheres querem que a gente bata à porta quando entramos na sala de convívio” (OBS), o que estes acharam incorrecto pois “se a sala é de todos, porque é que não podemos entrar à vontade?” (OBS). Os elementos femininos responderam dizendo que “todos temos de bater à porta antes de entrar” (OBS).

Uma das funções do líder numa reunião é promover a resolução de conflitos, o que pode ser conseguido através do uso da autoridade ou através de estratégias que promovam a abertura da discussão às diferenças entre os envolvidos. Observámos nesta reunião que a Presidente do Conselho Executivo promoveu várias destas estratégias. Começou por não temer a abordagem directa do problema (“a PCE pede calma e resume o problema para ver se todos estão de acordo quanto ao que está a ser discutido” – OBS) incentivando depois os interessados a exprimir e clarificar as suas ideias através do diálogo directo (“preferia que resolvessem isso entre vocês”, “Deixou então os Auxiliares de Acção Educativa conversarem entre si” – OBS). Mais ainda, demonstrou respeito pelos Auxiliares de Acção Educativa ao afirmar a confiança de que conseguiriam resolver a questão entre si sem a sua mediação e sem recurso à sua autoridade. Ao fazê-lo, promoveu igualmente o respeito mútuo entre os próprios Auxiliares de Acção Educativa.

Apurámos, ainda, que é pedido a estes profissionais que, em relação aos alunos, devem “intervir com autoridade” (OBS) no caso de situações de violência e falta de disciplina em geral. Como é função dos Auxiliares de Acção Educativa “ir buscar e entregar correspondência aos correios, efectuar pagamentos e depósitos bancários” (OBS), vemos que lhes é exigido um certo grau de responsabilidade, ainda agravado pela “responsabilidade na gestão dos materiais” (OBS). A autonomia concedida relaciona-se com a capacidade de “demonstrar iniciativa” (OBS) e promoção do “desempenho pessoal e disponibilidade para o serviço” (OBS), informações imediatamente seguidas pela necessidade de “cumprir regras” (OBS).

Verifica-se, assim, que é exigida responsabilidade aos Auxiliares de Acção Educativa, mas esta não é acompanhada pela autonomia suficiente para poder ser levada a cabo com eficiência.

Durante a reunião observada, os Auxiliares de Acção Educativa demonstraram, no geral, ter conhecimento das funções a desempenhar pois “estavam em silêncio, mas denotavam alguma falta de atenção, talvez pelo facto de já conhecerem o conteúdo” (INF). Este conhecimento tornou-se notório, por exemplo, quando se falou do trabalho de reprografia e “A grande maioria dos Auxiliares de Acção Educativa parece concordar que o trabalho na reprografia é complicado” (OBS).

Observaram-se, ainda, diferenças entre os Auxiliares de Acção Educativa mais antigos e os mais novos, uma vez que “os Auxiliares de Acção educativa mais antigos, já habituados a este discurso, dispersaram um pouco” (OBS/INF). Os profissionais mais novos reflectiram a sua falta de experiência através de pequenas questões, como

“quando se pode proibir uma brincadeira perigosa?” ou o que significava “intervir com firmeza” (OBS).

Apesar de não ser objecto de estudo deste trabalho as dinâmicas que se estabelecem numa reunião deste carácter, verificámos que as interacções ocorridas nesta reunião reflectem o contexto organizacional que influencia o desempenho dos Auxiliares de

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