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CAPÍTULO III – ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE PREÇOS

III. 3 – Resultados da UEM

Um dos maiores questionamentos, que se fez ao fim dos dez anos do Euro, foi a respeito do sucesso da União Monetária. O professor Caselli (2008), da London School of Economics, foi um desses questionadores. Para ele, qualificar a UEM como um sucesso depende, inicialmente, de como se define sucesso. Segundo o professor, o sucesso deve ser avaliado em termos da melhoria do bem-estar em relação a um cenário em que a UEM não tivesse acontecido.

Obviamente é impossível fazer essa análise, assim, a comparação mais próxima a ser feita seria entre os membros e os não-membros da UEM. Como quase todos os membros da UEM participam da OCDE, o grupo de controle será formado pelo resto dos países da organização. Como muitos economistas consideram que a inflação afeta indiretamente o bem- estar de uma população, o dado de comparação da evolução do bem-estar será a inflação per

se.

Gráfico 3 – Taxas médias de inflação (%)

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 UEM Grupo de Controle

O gráfico 3 mostra que, apesar das taxas médias de inflação dos países da UEM serem ligeiramente menores, em relação à redução da inflação os demais países da OCDE tiveram maior sucesso. No início do período analisado, a inflação era mais baixa nos países da UEM, e o que se pode observar é que, com a passagem do tempo, ela se manteve no mesmo patamar. Assim, ao fazer essa comparação percebe-se que a UEM, ao criar o Banco Central Europeu, tirou a função das instituições nacionais, que vinham fazendo um bom trabalho, e provavelmente teriam continuado obtendo sucesso, como se pode observar pela experiência dos demais países da OCDE.

Dessa forma, ao comparar a UEM com o grupo de controle, não é consistente afirmar que a UEM tenha levado aos cidadãos de seus países-membros melhorias tão superiores quando comparadas às obtidas pelos países “semelhantes”. Assim, ao considerar a análise realizada, pode-se chegar à mesma conclusão de Caselli (2008):

“Dada a semelhança de desempenho entre UEM e o grupo de controle fora da UEM, dizer que a UEM trouxe ganhos de bem-estar significa dizer que os países da UEM teriam demonstrado um desempenho pior que o resto da OCDE caso a UEM não tivesse sido introduzida.”(p.62)

Também se deve levar em consideração na análise, o cenário macroeconômico da formação da União Econômico e Monetária. Segundo Caselli (2008), os primeiros dez anos da UEM foram marcados por um período sem precedentes de estabilidade macroeconômica. Assim, graças ao período conhecido como Great Moderation, qualquer acordo monetário entre os países europeus teria obtido sucesso.

CONCLUSÃO

A experiência da integração monetária na Europa é a tentativa mais audaciosa na história de obter as vantagens do uso de uma moeda única em um grupo amplo de Estados. Seu sucesso promoveria a integração tanto política quanto econômica da Europa, porém, seu fracasso, faria a tentativa da unificação política européia regredir. Apesar do Euro já ter completado dez anos de existência, por se tratar de uma proposta bastante ambiciosa, esse período pode não ser suficiente para avaliar um possível sucesso ou fracasso.

No que tange ao alcance da estabilidade de preços pura e simplesmente, essa meta pode ser considerada bem sucedida, uma vez que foram observadas as taxas de inflação mais baixas dos últimos 20 anos. No entanto, ao considerar o processo de forma mais ampla, avaliando o cenário que se apresentou, percebe-se que muitos dos resultados obtidos foram fruto de um ambiente econômico positivo, e que provavelmente, outras tentativas de adoção de moeda única também teriam sido bem sucedidas. Dessa forma, pode-se concluir que durante esse período a UEM não havia sido testada.

Diante desse contexto, a crise financeira mundial iniciada em meados de 2008 e que ainda tem efeitos até os dias de hoje, pode ser considerado o grande desafio para a UEM e para o BCE. Em um cenário de choques assimétricos e grande instabilidade do sistema, o primeiro passo para mostrar o sucesso da União Monetária é o foco na estabilidade de preços em médio prazo e na independência do Banco Central Europeu.

Além disso, ao observar as consequências que o cenário internacional provocou em diversos países da UEM, outra questão que se torna essencial para buscar uma integração de sucesso, é a avaliação do tamanho do bloco. A adesão à UEM tem ajudado alguns países a proteger sua estabilidade macroeconômica em meio à crise financeira mundial. Portanto, não é surpreendente que muitos países queiram entrar na Zona do Euro de uma maneira mais ágil e fácil. No entanto, não deve haver atalhos, pois a introdução rápida do Euro não resolverá os problemas estruturais do país candidato e ainda pode enfraquecer a UEM. Ajustes estruturais e convergência real e nominal são necessários para a adoção do Euro, assim como de qualquer outra moeda única.

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