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O PCV-2 é aceito como o principal agente causador da PMWS, mas o mecanismo pelo qual este vírus causa a doença clínica e o porquê somente alguns animais a manifestam, ainda não está bem entendido (Misinzo et al., 2008; Opriessnig et al., 2007; Timmusk et al., 2009). As análises deste trabalho foram realizadas utilizando amostras de suínos que não manifestaram a doença clínica durante a vida produtiva e, portanto, chegaram até o abate subclinicamente infectados pelo PCV-2. Lesões histopatológicas, títulos de anticorpos anti- PCV-2 e a quantificação do DNA viral confirmaram a infecção (Tabela 2).

Tabela 2

Análise descritiva dos parâmetros laboratoriais e produtivos de suínos de abate clinicamente sadios.

Parâmetros N Média Desvio padrão Erro padrão

Parâmetros laboratoriais      

Carga viral (Linfonodo)*   64 4,96 0,69 0,62 Carga viral (Soro)**

Titulação de anticorpos   64 64 2,16 0,68 0,08 1593 656 82,02 Parâmetros produtivos Peso vivo (Kg) 64 116 11 1,4 Peso da carcaça quente (Kg) 64 81 10,2 1,3

*Cópias de PCV-2 (log10)/500ng de DNA total; **Cópias de PCV-2 (log10)/5μL DNA

 

De acordo com os resultados, a carga viral presente nos linfonodos inguinais e nos soros variou de 103,82 a 106,77 cópias de PCV-2/500ng de DNA total e de 0 a 102,89 cópias de PCV-2/5μL de DNA, respectivamente. Não houve diferença significativa entre os valores das cargas virais considerando o sexo (Tabela 3), mostrando possível semelhança da resposta imunológica ao PCV-2 entre machos e fêmeas.

27 Tabela 3

Valores de mediana (valores dos quartis 25-75) dos parâmetros laboratoriais e produtivos em relação ao sexo de animais de abate clinicamente sadios.

Parâmetros Machos Fêmeas H* p

Parâmetros laboratoriais      

Carga viral (Linfonodo)**   4,8 (4,4-5,5) 5,0 (4,5-5,3) 0,24 0,62 Carga viral (Soro)***   2,3 (2,1-2,5) 2,2 (2,1-2,5) 1,09 0,29

Parâmetros produtivos

Peso vivo (Kg) 118 (103-124) 115 (109-123) 0,14 0,70 Peso da carcaça quente (Kg) 84 (69-89) 83 (76-88) 0,00 0,95

*Teste Kruskal-Wallis; **Cópias de PCV-2 (log10)/500ng de DNA total; ***Cópias de PCV-2 (log10)/5μL DNA

 

Segundo Quintana et al. (2001), as cargas virais encontradas nos tecidos de suínos clinicamente sadios são geralmente mais baixas, quando comparadas aos animais doentes, e as lesões teciduais nos linfonodos também se apresentam mais leves. Porém, neste trabalho, os valores da carga viral se mostraram variados, não havendo diferença significativa entre a carga viral nos tecidos analisados, considerando o estágio de lesão histopatológica no linfonodo. Os mesmos resultados foram encontrados por Ladekjaer-Mikkelsen et al. (2002), onde esses autores encontraram uma grande variação da carga viral em tecidos de suínos experimentalmente inoculados pelo PCV-2.

A interferência da carga viral no ganho de peso diário dos animais tem sido demonstrada em estudo, utilizando uma vacina comercial para o PCV-2 (Cline et al., 2008). Suínos vacinados aumentaram em até 9,3% o ganho de peso diário na fase final de crescimento, aumentando em até 8,8Kg de peso vivo, no momento de abate, em relação ao grupo controle (Horlen et al., 2008). Estes dados suportam a hipótese de que a carga viral, principalmente no soro, pode influenciar o desempenho produtivo dos suínos subclinicamente infectados. Apesar der ter sido detectada a presença do PCV-2 nos tecidos, não foi possível

28 encontrar nenhuma associação significativa com os parâmetros produtivos analisados neste trabalho (Tabela 4).

Tabela 4

Teste de correlação entre os parâmetros laboratoriais e produtivos de suínos de abate clinicamente sadios.

Par de Variáveis (x:y) n Spearman R*** t(N-2)**** p

Carga viral (Linfonodo) : PV* 64 0,01 0,10 0,92 Carga viral (Soro) : PV 64 - 0,07 - 0,55 0,58 Título de anticorpos neutralizantes : PV 64 - 0,18 - 1,50 0,14 Carga viral (Linfonodo) : PCQ ** 64 - 0,01 0,10 0,90 Carga viral (Soro) : PCQ

Título de anticorpos neutralizantes : PCQ

64 - 0,02 64 - 0,24

- 0,15 0,88 - 1,98 0,05

* PV: Peso vivo; **Peso da carcaça quente; ***Teste de Spearman;, ****Teste t com grau de liberdade N-2.

Os linfonodos inguinais foram avaliados quanto ao estágio de lesão tecidual. Trinta e quatro suínos (53,13%) não apresentaram nenhuma lesão significativa (Figura 1), sendo classificados em SLS - sem lesão significativa (Figura 2), 24 (37,5%) apresentaram centros germinativos conservados, leve depleção linfóide (Figura 3) e leve proliferação de histiócitos, sendo classificados como estágio I de lesão (Figura 4) e 6 (9,37%) apresentaram os centros germinativos alterados com moderada depleção folicular (Figura 5) e moderada proliferação de histiócitos, sendo classificado em estágio II de lesão (Figura 6). Estes resultados mostram que apesar da não manifestação clínica da doença, alguns animais estavam com os linfonodos inguinais lesionados em associação ao PCV-2.

29 Figura 1. Frequência dos estágios de lesões encontrados nos

linfonodos inguinais de suínos clinicamente sadios. (SLS - sem lesão significativa)

Figura 2. Fotomicrografia de linfonodo inguinal de suíno sem

lesões significativas (SLS) (aumento 100x); Setas mostram a presença de centros germinativos bem delimitados e íntegros.

30 Figura 3. Fotomicrografia de linfonodo inguinal de suíno

classificado como estágio I (aumento de 40x); Setas mostram centros germinativos conservados e leve diminuição da quantidade de linfócitos nos folículos.

Figura 4. Fotomicrografia de linfonodo inguinal de suíno

classificado como estágio 1 (aumento de 400x); Setas mostram leve infiltrado de células do sistema mononuclear fagocítico (macrófagos).

31 Figura 5. Fotomicrografia de linfonodo inguinal de suíno

classificado como estágio II (aumento de 100x); Setas mostram centros germinativos alterados e sem arquitetura mantida.

Figura 6. Fotomicrografia de linfonodo inguinal de suíno

classificado como estágio II (aumento de 400x); Setas pretas mostram moderado infiltrado do sistema mononuclear fagocítico com presença de inúmeros macrófagos substituindo os linfócitos residentes. Seta branca mostra a formação de célula gigante indicando processo inflamatório mais avançado.

32 Resendes et al. (2004) mostraram que quanto mais severa a lesão, maior a carga viral no soro. Porém, não houve diferença significativa entre os valores da carga viral no linfonodo e no soro, considerando os diferentes estágios de lesão tecidual (Tabela 5). Apesar disso, foram encontradas depleções linfóides consideráveis entre os animais analisados, mostrando que o PCV-2 pode estar envolvido no aparecimento de lesões histopalógicas em órgãos linfóides de suínos subclinicamente infectados, indo de acordo com os achados de Krakowka et al. (2005), onde se detectou depleção linfóide em amostras de linfonodos de animais sadios, porém positivos para PCV-2.

Tabela 5

Valores de mediana (valores dos quartis 25-75) dos parâmetros laboratoriais e produtivos em relação aos estágios de lesão histopatológica dos linfonodos de animais de abate clinicamente sadios.

Parâmetros

Sem lesão

significativa (SLS) Estágio I Estágio II H* p

Parâmetros laboratoriais

Carga viral (Linfonodo)** 5,0 (4,8-5,7) 4,6 (4,2-5,2) 4,6 (4,5-4,8) 5,82 0,05 Carga viral (Soro)*** 2,3 (2,1-2,5) 2,2 (2,1-2,5) 2,3 (2,2-2,4) 0,05 0,97

Parâmetros produtivos

Peso vivo (Kg) 115 (108-124) 119 (105-125) 113 (112-114) 0,32 0,84 Peso da carcaça quente (Kg) 83 (76-89) 84 (69-88) 78 (77-79) 2,53 0,28

*Teste Kruskal-Wallis; **Cópias de PCV-2 (log10)/500ng de DNA total; ***Cópias de PCV-2 (log10)/5μL DNA.

 

Os animais adquiridos para a realização deste trabalho vieram de uma granja não afetada pela PMWS, ou seja, nenhum histórico da doença clínica foi observado até o momento da coleta. De acordo com Rodriguez-Arrioja et al. (2000), as lesões histopatológicas típicas da PMWS podem também ser observadas em animais clinicamente normais, indicando que a infecção subclínica pelo PCV-2 ocorre frequentemente em granjas afetadas e não afetadas pela PMWS. Segundo Olvera et al. (2004), a dinâmica da infecção viral, relacionada

33 com o desenvolvimento da lesão e tempo de recuperação por conta do animal, ainda é desconhecida. Entretanto, a ausência da doença clínica não significa que o animal esteja fora do comprometimento produtivo (Grau et al., 2001; King et al., 2008).

A titulação de anticorpos neutralizantes (AN) mostrou-se variada entre os suínos analisados. Os títulos variaram de 64 a 2048, sendo este último representado por 65,62% dos animais (Figura 7). Foi encontrada diferença significativa entre os valores da carga viral nos linfonodos em relação aos títulos de AN (p<0,05), sendo identificada entre os títulos 512 e 2048 (Tabela 6). Esses resultados mostram a relação entre a resposta imune humoral e a replicação viral no tecido linfóide de suínos subclinicamente infectados. De acordo com Opriessnig et al. (2007), indivíduos infectados pelo PCV-2 podem resistir à infecção por apresentarem um sistema imune bem desenvolvido e, portanto, baixos níveis de viremia, levando a uma soroconversão eficiente fazendo com que a doença permaneça na sua forma subclínica.

Figura 7. Frequência dos títulos de anticorpos neutralizantes

34 Tabela 6

Valores de mediana (valores dos quartis 25-75) dos parâmetros laboratoriais e produtivos em relação aos títulos de anticorpos neutralizantes de animais de abate clinicamente sadios.

Parâmetros 64 512 1024 2048 H* p

Parâmetros laboratoriais      

Carga viral (Linfonodo)** 3,9 (3,9-3,9)a,b 4,5 (4,2-4,9)a 4,8 (4,5-5,5)a,b 5,0 (4,7-5,7)b 9,29 0,02 Carga viral (Soro)*** 0,0 2,3 (2,1-2,6) 2,3 (2,0-2,4) 2,2 (2,1-2,5) 2,82 0,42

Parâmetros produtivos

Peso vivo 125 (125-125) 116 (109-126) 1121 (114-127) 115 (105-123) 3,29 0,34 Peso da carcaça quente 89 (89-89) 84 (78-90) 87 (79-92) 80 (69-85) 5,65 0,12

*Teste Kruskal-Wallis. Medianas seguidas por diferentes letras são significativamente diferentes pelo Teste U Mann-Whitney, p < 0,05. **Cópias de PCV-2 (log10)/500ng de DNA total; ***Cópias de PCV-2 (log10)/5μL DNA.

O aparecimento dos AN contra o PCV-2 acontece entre 14 e 21 dias pós-infecção e coincide com a diminuição da taxa de transmissão do vírus entre os animais (Meerts et al., 2006; Fort et al., 2007; Andraud et al., 2009) e consequente queda da carga viral (Pensaert et al., 2004). Suínos afetados pela PMWS apresentam uma menor resposta de AN quando comparados aos subclinicamente infectados (Meerts et al., 2006; Fort et al., 2007). Os títulos de AN dos animais avaliados neste trabalho possivelmente podem ser considerados suficientes por ter impedido a manifestação clínica da doença e, provavelmente, no momento do contato com o PCV-2, o sistema imune destes animais se mostrou bastante eficiente.

Os títulos de AN não apresentaram correlação significativa com os parâmetros produtivos (Tabela 4). Porém, estudos realizados com outros animais mostraram que o sistema imune exige grandes quantidades de energia sempre que é estimulado, implicando em maior mobilização de energia metabólica para o sistema imune e consequente diminuição no desenvolvimento produtivo do animal (Heugten et al.,1996).

Não houve diferença significativa entre os valores de peso vivo e peso da carcaça quente em relação ao estágio da lesão histopatológica dos linfonodos inguinais (Tabela 5). O mesmo aconteceu em relação ao título de AN (Tabela 6). Também não foi possível

35 demonstrar nenhuma associação entre os parâmetros produtivos e as cargas virais nos tecidos (Tabela 4).

Neste trabalho, amostras teciduais de animais subclinicamente infectados pelo PCV-2 foram examinadas e associadas aos parâmetros produtivos apresentados no abate. A possível influência de outros fatores como idade, idade ao desmame e presença de outros patógenos durante a vida destes animais não podem ser excluídos. Entretanto, foi demonstrada a ocorrência da doença subclínica associada ao PCV-2 no rebanho analisado. Desta forma, permanecem ainda como objeto de pesquisa maiores estudos sobre a implicação desta nova apresentação da doença nos rebanhos de suínos tecnificados.

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