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Afim de melhor visualizar os resultados e facilitar a discussão destes, este capítulo está apresentado em três seções. A primeira refere-se à caracterização dos grupos de irmãos, apresentando cada um dos grupos, seguida de uma discussão geral sobre as variáveis encontradas nos quatro grupos. Os dados apresentados nesta seção descrevem e analisam o perfil geral dos grupos de irmãos do EAPI. A segunda seção faz a análise do tempo e dos parceiros de interação, que identifica através de um sociograma o papel de emissor ou receptor da ação, o tempo de interação entre cada díade e o parceiro preferencial de interação. E por fim, a terceira seção apresenta o conteúdo das interações, estabelecendo comparações entre os irmãos, entre crianças do mesmo dormitório e de dormitórios diferentes.

3.1. Caracterização das crianças

3.1.1. Grupo 1

Este grupo é composto por quatro irmãos (três meninos e uma menina, sendo um menino de sete anos, outro de cinco e um casal de gêmeos de quatro anos), oriundos de uma família nuclear, composta por pai e mãe e mais cinco irmãos, que estão em outras instituições. No tocante a situação sociofamiliar, o grupo tem como responsável legal os pais: a mãe possui 30 anos e não trabalha, já o pai tem 35 anos e é vendedor informal. Não há informações quanto à renda e ao grau de escolaridade dos pais. Antes do abrigamento as crianças moravam com a família biológica, em casa própria, com dois cômodos, de alvenaria e madeira, com saneamento básico, água encanada e energia elétrica.

Apresentaram como causas do abrigamento: abandono, negligência, pobreza, violência física e pai e mãe dependentes do uso de drogas. Foram encaminhados ao abrigo em 2007,

quando as crianças tinham seis meses (o casal de gêmeos), 17 meses e 41 meses de vida os dois meninos, permanecendo acolhidos por quatro meses. Após este período retornaram ao convívio familiar, e encaminhados novamente ao abrigo em maio de 2008, pelos mesmos motivos, sendo então destituídos do poder familiar e no momento da pesquisa aguardavam o processo de adoção.

Em relação ao tempo de acolhimento institucional, a tabela 2 apresenta dados comparativos do tempo total de abrigamento (primeiro e segundo abrigamento) em relação ao tempo de convívio familiar das crianças.

TABELA 2

Comparação entre o tempo de acolhimento e o tempo de convivência familiar do grupo 1.

Criança Idade Tempo de abrigamento Convivência familiar

I1 4a 2a 10m 1a 2m

I2 4a 2a 10m 1a 2m

I3 5a 2a 10m 2a 4m

I4 7a 2a 10m 4a 2m

Durante o período em que estavam acolhidas, as crianças recebiam visitas do pai e da mãe a cada três meses e esporadicamente eram marcados encontros com os irmãos que se encontravam em outros abrigos. Geralmente estes encontros ocorriam em locais fora da instituição.

3.1.2. Grupo 2

O segundo grupo é composto por uma díade de irmãos (um menino e uma menina, de quatro e seis anos respectivamente). As crianças são oriundas de família monoparental, chefiada pela mãe e possuem mais oito irmãos, distribuídos em outras instituições de acolhimento e vivendo com outras pessoas da família extensa.

No que diz respeito à situação sociofamiliar, o grupo tem como responsável legal a mãe, que está desempregada e não possui renda fixa. Nos prontuários, as informações sobre idade e escolaridade estão ausentes. O paradeiro do pai das crianças é desconhecido e as duas crianças da pesquisa não possuem o nome do pai no registro civil. Antes do acolhimento, as crianças moravam com a mãe, em uma casa de alvenaria cedida, com três cômodos, com energia elétrica, sem água encanada e sem informações quanto ao saneamento básico.

No que tange ao processo de institucionalização, as crianças apresentaram como principais motivo o abandono, negligência e mãe com doença mental. As crianças foram encaminhadas ao abrigo em 2006, permanecendo acolhidos por quatro meses, retornaram ao convívio familiar e foram reacolhidos em 2007 pelos mesmos motivos, permanecendo na instituição até o momento da pesquisa. Durante o período de acolhimento, as crianças eventualmente recebiam visitas somente da mãe.

Os dados referentes ao tempo de abrigamento em comparação ao tempo de convivência familiar encontram-se representados na tabela 3.

TABELA 3

Comparação entre o tempo de acolhimento e o tempo de convivência familiar do grupo 2.

Criança Idade Tempo de abrigamento Convivência familiar

I5 4a 3a 1m 9m

I6 6a 3a 1m 3a 6m

3.1.3. Grupo 3

Este grupo é composto por dois irmãos do sexo masculino (um de cinco e outro de seis anos). Os meninos são oriundos de família nuclear, com a mãe de 23 anos, sem escolaridade, trabalha apenas em casa e não possui renda; o pai tem 44 anos, analfabeto, trabalha como autônomo e possui renda inferior a um salário mínimo.

No que se refere à situação sociofamiliar, as crianças moravam em casa cedida na periferia de Belém, de madeira, composta por apenas um cômodo, com acesso a energia elétrica e sem água encanada e saneamento básico. As causas para o abrigamento estão relacionadas à violência física, pais dependentes de álcool e drogas e a mãe portadora de doença mental.

Os meninos foram encaminhados ao abrigo quando tinham um ano e seis meses e dois meses de vida, respectivamente, e permanecerem na instituição até o termino da pesquisa. durante o período de acolhimento eles não receberam visitas de nenhum familiar ou outra pessoa. As crianças foram destituídas do poder familiar e estavam aguardando processo de adoção.

Com relação ao tempo de acolhimento, a tabela 4 apresenta dados comparativos do tempo de acolhimento institucional do grupo 3 em relação ao tempo de convivência familiar. TABELA 4

Comparação entre o tempo de acolhimento e o tempo de convivência familiar do grupo 3.

Criança Idade Tempo de abrigamento Convivência familiar

I7 6 a 4a 10m 1a 6m

I8 5 a 4a 10m 2 m

3.1.4. Grupo 4

O grupo 4 é composto por dois irmãos (um menino e uma menina), com seis e três anos respectivamente. As crianças possuem mais uma irmã (quatro anos), que foi acolhida com os outros dois, mas foi encaminhada à outra instituição de acolhimento pois apresentava atraso considerável ao desenvolvimento neuropsicomotor.

Antes do acolhimento as crianças eram oriundas da família extensa. O menino morou com a avó paterna até os três meses de vida depois foi dado à uma amiga da avó, que criou as três crianças. A mãe possui 23 anos e não se tem informações sobre sua escolaridade, renda e

profissão. O pai tem 19 anos e está preso. A responsável pelas crianças era a amiga da avó paterna que trabalhava como empregada doméstica e tinha renda mensal de um salário mínimo. No que se refere às condições de moradia, as crianças moravam na periferia de Belém, em casa própria, mas não existem registros sobre as condições de abastecimento de água e luz e saneamento básico, bem como o número de cômodos e de pessoas residentes na casa.

Os motivos do acolhimento institucional estão relacionados ao abandono, negligência, pobreza e pai presidiário. As crianças foram encaminhadas ao abrigo em 2009, permanecendo acolhidos até o termino da pesquisa. Durante o período de acolhimento, as crianças recebiam visitas esporádicas da amiga da avó paterna que estava requerendo judicialmente a guarda.

A tabela 5 apresenta a comparação entre o tempo de acolhimento institucional das crianças e do tempo de convivência familiar.

TABELA 5

Comparação entre o tempo de acolhimento e o tempo de convivência familiar do grupo 4.

Criança Idade Tempo de abrigamento Convivência familiar

I9 5a 1a 9m 3a 3m

I10 3a 1a 9m 1a 4m

Discussão dos casos

Dos casos descritos, nota-se que as crianças eram oriundas em sua maioria da família biológica, com exceção do último grupo, do qual as crianças vinham da família extensa1. Estes achados corroboram com o estudo de Cavalcante (2008), que detectou, em Belém, que do total de 287 crianças de zero a seis anos em acolhimento institucional, 93,73% eram oriundas

1 Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (Lei n. 12.010, 2009).

da família biológica, tanto da nuclear como da família extensa, onde 66,91% das crianças viviam em comunidades formadas pelos pais, majoritariamente pela mãe.

As mudanças sofridas na estrutura familiar da sociedade atual, com famílias separadas, recompostas, com filhos de diferentes uniões, pais separados, famílias chefiadas por mulheres, fazem com que pessoas diferentes passem a assumir ou compartilhar o cuidado das crianças e adolescentes. No caso das crianças que vivem nas periferias dos centros urbanos, mesmo com suas famílias biológicas, em virtude da carência de equipamentos sociais e culturais as crianças passam boa parte do tempo livre em companhia de seus pares e irmãos, substituindo em grande parte as trocas afetivas e emocionais com os pais (Almeida, Maehara & Rossetti-Ferreira, 2011).

Levando-se em consideração que o acolhimento institucional está muitas vezes associado às condições de pobreza, abandono e negligência (Cavalcante, 2008; Serrano, 2008; Silva, 2004; Yunes, Miranda & Cuello, 2004), isto é, fatores ligados às condições família, as crianças quando acolhidas trazem consigo uma vivência que fez com que os irmãos ocupassem um lugar importante em suas vidas (Almeida, Maehara, Rossetti-Ferreira, 2011).

Na pesquisa realizada por Almeida (2009), com ênfase na perspectiva da criança sobre sua rede de relações, as crianças apontaram que as pessoas mais importantes para elas são os membros da família, sendo a mãe, o pai e os irmãos os únicos desenhados pela maioria das crianças. Esta fato aponta para os membros da família nuclear como as figuras mais significativas para as crianças, mostrando a importância da manutenção da convivência familiar para a criança.

Apesar da pobreza ser encontrada em todas as crianças do universo pesquisado, esta condição não constitui, isoladamente, o principal fator para o acolhimento institucional. Os motivos que levaram ao acolhimento foram principalmente o abandono e a negligência

(ambos presentes em oito das 10 crianças), violência física (6) pai e/ou mãe usuários de álcool e/ou drogas (6), pai e/ou mãe portadores de doenças mentais (4) e pai presidiário (2).

Os achados deste estudo se assemelham aos resultados de Serrano (2008), que encontrou em quatro abrigos que atendiam crianças de zero a seis anos, em Ribeirão Preto, os motivos de abrigamento relacionados à negligência (41%), seguido de falta temporária de condições (23,6%), abandono (21,3%) e outros motivos (21,3%). A soma de motivos ligados a vitimização é de 18,1%. Houve a entrega da criança para alguma instituição (Conselho Tutelar, Poder Judiciário ou abrigo) em 6,2% casos e 1,5% das crianças foram devolvidas por família substituta.

Já a pesquisa de Carreirão (2005), em Florianópolis, mostrou que a maioria dos grupos de irmãos foram acolhidos devido dependência química dos pais, seguida de negligência, distúrbios psiquiátricos dos pais, uso dos filhos na mendicância, prática de sexo na frente dos filhos, maus tratos, abandono, desemprego dos pais, dificuldade financeira, dentre outros, sendo que na maioria dos casos houve a sobreposição de mais de um fator de risco. De maneira semelhante Cavalcante (2008) ao realizar um estudo no mesmo abrigo desta pesquisa, no período de 2004 a 2008, revelou a negligência e o abandono como principais causas para o abrigamento.

No entanto, tanto os dados desta pesquisa quanto daqueles encontrados por Carreirão (2005), Cavalcante (2008) e Serrano (2008) divergem daqueles encontrados na pesquisa realizada pelo IPEA (Silva, 2004), onde o principal motivo para o abrigamento foi a pobreza (24,2%). Apesar da pobreza ser encontrada em todos os grupos de irmãos, esta não é causadora da vitimação das crianças e adolescentes, mas mostra que, ao aumentar a vulnerabilidade social das famílias, a pobreza pode potencializar outros fatores de risco, contribuindo para que crianças e adolescentes mais pobres tenham mais chances de ter incluídos na sua trajetória de vida episódios de abandono, violência e negligência.

Outro achado interessante refere-se ao fato de que a maioria das crianças possui mais irmãos fora do abrigo, que se encontram em outra instituição de acolhimento por não se enquadrarem na faixa etária da instituição, ou ainda no último caso, por apresentar situação de saúde que merece atenção especial. Esta situação descumpre os princípios do ECA, que prevê a convivência familiar e comunitária e o não-desmembramento dos grupos de irmãos.

Estes resultados corroboram com os estudos de Carreirão (2005), que encontrou que as instituições de acolhimento em Florianópolis não conseguem cumprir o princípio estatutário do não-desmembramento dos grupos de irmãos. Dos 41 grupos encontrados, 10 grupos, totalizando 39 membros, foram separados por instituições, sendo que destes, 27 ficaram com pelo menos um irmão no mesmo abrigo e 12 se encontravam sós em outra instituição. Os 31 grupos restantes (72 membros) foram mantidos com seus irmãos na mesma instituição. Já em Ribeirão Preto, Almeida (2009), ao investigar a rede de relações de crianças com irmãos em acolhimento institucional, identificou a presença de irmãos acolhidos em instituições diferentes de acordo com o sexo e ainda crianças que continuavam no seio familiar.

Sobre o assunto, Silva e Mello (2004) afirmam que os programas de abrigo devem evitar especializações e atendimentos exclusivos a determinadas parcelas da população infanto-juvenil, como adotar faixas etárias muito estreitas, atender exclusivamente portadores de necessidades especiais ou de HIV, ou divisão por sexo, dentre outros. Caso haja necessidade de atenção especializada, esta deve ser proporcionada por meio da articulação com outros serviços públicos ou ainda da adaptações no espaço e no abrigo.

Compreende-se ainda que o acolhimento de ambos os sexos e faixas etárias diferentes além de contribuir para o cumprimento do princípio do não-desmembramento dos grupos de irmãos previsto no estatuto, promove a construção da identidade das crianças e adolescentes abrigados, uma vez que a convivência com crianças em faixas etárias e sexos diferentes favorece o estímulo mútuo e o melhor aproveitamento das atividades educacionais, onde os

mais velhos estimulam a independência e o desenvolvimento das crianças mais novas, assim como ocorre em uma família com filhos em diferentes faixas etárias (Bronfenbrenner, 1979/1996; Silva & Mello, 2004).

O direito à convivência familiar e comunitária é assegurado na Constituição Federal (1988) em seu artigo 227, enfatizado no ECA (Lei n. 8.069, 1990) e priorizado na Lei 12.010 (2009), e é entendido como o direito de se viver com os membros do grupo familiar sob a proteção de pais responsáveis, bem como de participar da vida da localidade onde a família se insere. No que se refere aos grupos de irmãos estende-se este direito àqueles irmãos que se encontram sob medida de proteção em regime de abrigo, entendendo que mantê-los juntos em um mesmo local, em condições para que construam ou para que mantenham seus laços familiares é uma das formas para se preservar este direito.

Considera-se assim, que a organização da estrutura e da rotina da instituição, pautada na faixa etária das crianças, pouco privilegia a manutenção ou desenvolvimento dos vínculos afetivos entre grupos de irmãos. Assim, para que o reordenamento ocorresse, isto é, para que as condições contextuais fossem favoráveis so desenvolvimento, seriam necessárias diversas alterações na instituição, como: divisão das criança em unidades pequenas de acolhimento, em caráter residencial, com poucos integrantes, onde os irmãos fossem acolhidos em uma mesma casa e a convivência entre eles fosse garantida; participação em atividades comunitárias; atendimento personalizado; acolhimento de crianças de ambos os sexos e diferentes faixas etárias em uma mesma residência, dentre outros.

Outro fator que merece destaque é o número de reincidentes, isto é seis das 10 crianças pesquisadas retornaram a família de origem e continuaram sendo submetidas à situações de risco, necessitando ser acolhidas novamente. Esta é uma questão que merece atenção especial, uma vez que se questiona de que maneira está sendo feito o acompanhamento dos egressos e por que eles estão retornando às instituições de acolhimento.

As orientações técnicas para o serviço de acolhimento de crianças e adolescentes (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente [CONANDA] & Conselho Nacional de Assistência Social [CNAS], 2009) propõem que as ações por parte dos profissionais da equipe técnica das instituições devem se iniciar desde o momento do acolhimento, tendo como objetivo proporcionar a conscientização por parte da família de origem dos motivos que levaram ao afastamento da criança e/ou do adolescente e das conseqüências que podem resultar do fato. Esta conscientização é fundamental para que sejam desenvolvidas ações que contribuam para a superação de situações adversas ou padrões violadores que possam ter levado ao afastamento.

As ações devem continuar mesmo após a reinserção familiar para que ocorra um período de adaptação de pelo menos seis meses entre a criança e/ou adolescente e a família, sendo avaliada a necessidade da continuidade do acompanhamento. Segundo as orientações técnicas (CONANDA & CNAS, 2009), durante o período de acolhimento institucional ocorrem mudanças em cada um dos membros, podendo haver um descompasso entre expectativas construídas e realidade, o que pode gerar aos integrantes da família insegurança e conflitos na relação devido à necessidade de readaptação da rotina e regras familiares. Torna- se necessário, assim, que ocorra de fato um acompanhamento eficiente por parte da equipe do abrigo e do poder judiciário a fim de evitar reincidência.

Uma questão que merece discussão refere-se às mudanças presentes na nova lei de adoção (Lei n. 12.010, 2009) que afirma que o tempo máximo de permanência nas instituições de acolhimento é de dois anos. Contudo, embora o tempo deva ser um eixo central, as decisões não podem ser prematuras ou tomadas de modo precipitado. Quando isso ocorre sem uma preparação adequada da criança, do adolescente e da família, a reintegração familiar pode ser conflituosa e acabar resultando em um novo afastamento do lar de origem. Este fato mostra que além de um acompanhamento pós-abrigamento eficaz, são necessárias

políticas públicas mais eficientes, sobretudo no aspecto social, que garanta condições para que as situações de risco sejam resolvidas e a criança seja educada e criada pela sua família biológica.

Sobre o assunto Oliveira (2006) refere que os motivos para o (re)abrigamento parecem estar relacionados à precariedade de políticas públicas que atendam às múltiplas demandas dessa população. A autora considera que o investimento em políticas de maior amplitude, direcionadas à habitação, à saúde, à educação e ao trabalho, contribuiria para que grande parte das crianças e adolescentes em acolhimento institucional permanecesse na sua família.

No tocante aos laços familiares, os dados indicam um número acentuado de crianças que não recebem visitas da família, vizinhos ou amigos, corroborando com os achados do IPEA (Silva, 2004), onde apenas 58,2% das crianças recebem visitas e com a pesquisa de Serrano (2008), quando este percentual cai para 55%.

Na instituição pesquisada, as visitas das crianças são agendadas pelo setor técnico, com a estipulação dos dias, horários e duração. Nos finais de semana, as visitas ocorrem somente se for combinado com antecedência com o técnico responsável pelo caso. Avalia-se, então, que este procedimento não favorece a convivência familiar, que é assegurada por lei.

A viabilização do contato entre o abrigado e a família é direito das crianças e dos adolescentes e esse contato deve ser favorecido e estimulado tanto pelo abrigo, como por aqueles que intermediaram o abrigamento, como as Varas da Infância e da Juventude e os Conselhos Tutelares. Assim, o argumento de que o estímulo e a facilitação das visitas é a forma imediata de atender ao princípio de preservação dos vínculos familiares após o abrigamento, sendo desejável que exista flexibilidade diante das necessidades das famílias e das crianças.

Este argumento é reforçado por estudos de Guará (2006) e Oliveira (2006), ao enfatizarem que os horários de visita flexíveis ajudam as famílias que e sentem muitas vezes

culpadas ou penalizadas pelo acolhimento dos filhos. A aproximação entre família e criança acontece ao garantir à família as visitas, o tempo permitido a elas e uma acolhida agradável. Assim, para que as instituições de acolhimento sejam fator de proteção ao desenvolvimento da criança, a relação entre a criança e a família, incluindo os irmãos deve ser resguardada e estimulada, garantindo o direito à convivência familiar, bem como garantir uma rede de apoio social e afetivo eficazes, proporção educador-criança adequada, participação na comunidade e intercâmbio com a escola, minimizando o sofrimento das crianças em acolhimento institucional e os danos ao desenvolvimento (Abaid et al., no prelo; Siqueira & Dell‟Aglio, 2006).

Ainda sobre a convivência familiar, ao se comparar o tempo de convivência familiar com o tempo de acolhimento institucional, os resultados mostraram que sete das dez crianças investigadas possuíam maior tempo de abrigamento do que em convivência com sua família

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