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5. PROASPER, um Modelo de Apoio à Decisão para Projeto de Sistemas de Rega Por

5.3. Resultados e Discussão

Nas primeiras simulações efetuadas foram utilizados os dados recolhidos nas avaliações de campo efetuadas nos aproveitamentos hidroagrícolas da Vigia e Lucefecit, Região do Alentejo, Sul de Portugal, durante as campanhas de rega de 2000 e 2001 (Pereira, 2002). Nas avaliações de campo efetuadas verificou-se a ocorrência das seguintes situações: 1) espaçamento excessivo, inadequado para os diâmetros do bolbo molhado observados; 2) fraca manutenção, com bocais danificados em alguns casos; 3) para alguns sistemas, perdas de carga excessivas devido a reduzidos diâmetros das condutas; 4) em condições extremas, uma seleção deficiente do equipamento, com o uso de diferentes aspersores e diferente espaçamento na mesma parcela; 5) rega desprezando a velocidade e direção do vento; 6) fraco conhecimento dos agricultores acerca dos sistemas e da sua gestão.

A Tabela 5.1 resume os indicadores de desempenho relativos a 4 sistemas onde as avaliações foram repetidas 2 a 3 vezes. Analisando esta Tabela verifica-se que todos os sistemas apresentam baixos desempenhos, com CU geralmente abaixo dos 80% e UD abaixo dos 75%.

CU e UD do sistema não são muito inferiores a estes valores. Estes resultados podem ser

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Tabela 5.1. Indicadores de desempenho de sistemas em operação Sistemas

Vigia H-104 Lucefecit H-304 Vigia H-134

Cultura Milho Sorgo Milho

Pressão média dos aspersores (kPa) 243 224 252 254 256 83 94 Caudal médio dos aspersores (m3 h-1) 1.6 1.6 1.3 1.3 1.3 1.0 1.0 Carga piezométrica a montante (kPa) 325 318 390 390 380 162 177 Caudal a montante (m3 h-1) 24.0 23.8 64.6 58.3 63.9 36.3 36.6 Velocidade do vento (m s-1) 2.4 1.9 1-3 1-3 1-3 <2.0 >2.0 Altura média de água recolhida (mm) 14.0 14.0 5.1 5.2 5.7 5.0 5.6 Taxa média de aplicação (mm h-1) 8.0 8.2 3.9 3.9 4.0 3.0 3.0 Uniformidade de distribuição, UD (%) 41.4 52.7 59.7 65.8 78.3 73.7 53.5 Coeficiente de uniformidade, CU (%) 68.6 66.4 75.5 78.9 85.3 77.4 70.1

UD do sistema (%) 40.5 50.5 57.7 63.5 76.5 60.0 43.5

CU do sistema (%) 67.6 64.5 73.8 77.0 83.9 67.9 61.4 Eficiência potencial, PELQ (%) 45.0 56.6 61.5 Eficiência potencial do sistema (%) 43.8 55.2 53.1

Nos sistemas da Vigia, a pressão média variou de avaliação para avaliação devido ao fraco desempenho do sistema de distribuição em pressão, o que produz variações na carga piezométrica a montante. As taxas de aplicação foram baixas e, para a maior parte dos casos, estão de acordo com as características hidráulicas do solo. Contudo, verificou-se que existia escoamento superficial em locais onde os terrenos possuem maior declive.

Como os regantes gerem os seus sistemas fixos de modo igual ao das rampas pivotantes, utilizam uma elevada frequência de rega e baixas dotações (5 a 14 mm). Verificou-se, que neste caso de estudo, os sistemas fixos são utilizados para regar os cantos não regados pelas rampas pivotantes. A PELQ é muito baixa devido à baixa UD e às perdas adicionais provocadas pelo vento e evaporação. A PELQ foi estimada a partir de uma quadrícula de coletores colocada entre 4 aspersores.

Os resultados apontam para um mau projeto visto que os sistemas foram adotados pelos regantes de acordo com o seu custo e não pela sua adequação técnica. Demonstram, também, que os agricultores não têm qualquer serviço de apoio e que os vendedores possuem fraco conhecimento acerca do equipamento que representam.

Por forma a resolver os problemas identificados no decurso das avaliações de campo foram efetuadas simulações, modificando diversas características do sistema (Tabela 5.2) tais como

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redução do espaçamento entre aspersores, limitação da variação de pressão (< 15% para todas as condutas), redução da velocidade (< 1.5 m s-1). A disposição dos sistemas não foi alterada. Nas simulações efetuadas dispuseram-se os aspersores em quadrícula em alternativa ao existente (em triângulo), diminuíram-se os espaçamentos entre aspersores (e.g., no Lucefecit H-304 de 16 para 14 m) e aumentou-se o diâmetro interno das rampas e porta-rampas (e.g., no Vigia H-104 de 70 para 80 mm). O número médio de iterações foi 8 no caso das parcelas do Lucefecit e de 11 para as da Vigia. Nas simulações, foram utilizados aspersores com as mesmas características dos avaliados, assumindo os mesmos caudal e pressão médios.

Tabela 5.2. Indicadores de desempenho obtidos por aplicação do PROASPER aos sistemas

referidos na Tabela 5.1 melhorando os espaçamentos e as dimensões dos tubos

Sistemas

Vigia H 104 Lucefecit H-304 Vigia H 134

Taxa média de aplicação (mm h-1) 8.44 5.07 2.32 Uniformidade de distribuição, UD (%) 81.13 83.33 78.95 Coeficiente de uniformidade, CU (%) 85.90 87.06 88.76

UD do sistema (%) 80.32 82.01 77.72

CU do sistema (%) 85.32 86.14 87.84 Eficiência potencial, PELQ (%) 81.49 83.01 85.25 Eficiência potencial do sistema (%) 80.68 82.17 84.40 Variação máxima de caudal (%) 4.73 6.67 7.59 Variação máxima de pressão (%) 7.49 11.59 11.21

Os resultados demonstram que todos os sistemas teriam melhor desempenho se o projeto tivesse sido mais cuidado. Além disso, teriam sido obtidos melhores desempenhos se o limiar objetivo de CU fosse aumentado para 85 %. Porém, reduzindo o espaçamento resultaria um aumento da taxa de aplicação pelo que aumentando CU teria conduzido a menores espaçamentos que levariam a que a taxa de infiltração do solo fosse excedida.

5.4. CONCLUSÕES

Um sistema de rega bem projetado é condição necessária a um regadio rentável e “amigo” do ambiente. Um sistema mal projetado, ainda que bem gerido, acarreta perdas de produção e baixa produtividade da água. Para alcançar tal objetivo torna-se necessário produzir informação para agricultores e gestores que possa auxiliar na tomada de decisão no projeto

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dos sistemas de rega. O modelo PROASPER responde a estes objetivos devido a sua fácil utilização e capacidade de suporte para avaliações de campo.

Os resultados de avaliações de campo efetuadas demonstram que os desempenhos dos sistemas em operação são baixos. A aplicação do modelo PROASPER a estes sistemas, com o objetivo de solucionar os problemas identificados durante as avaliações, produziu resultados claramente melhorados para os mesmos aspersores.

Conclui-se, assim, que se os gestores dos sistemas e os regantes dispuserem de ferramentas informáticas de projeto simples podem encontrar soluções que levam a melhores desempenhos. O modelo PROASPER pode ser aplicado com este objetivo quando integrado num sistema de informação para regantes, em conjunto com informação sobre a calendarização de rega. O modelo necessita de melhorias adicionais que estendam as suas capacidades, nomeadamente em termos de formulação de escolhas recorrendo à análise multicritério de forma a tomar em consideração conjuntamente critérios hidráulicos, económicos e ambientais.

Agradecimentos

Estes estudos foram apoiados pelo Centro de Estudos de Engenharia Rural (POCTI-SFA-7- 245) e pelo projeto “Gestão do risco em secas: Identificação, monitorização, caracterização, predição e mitigação” (PTDC/AGR-AAM/71649/2006).

5.5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Capítulo 6

Necessidades de Água e

Produtividade Económica da Rega

de Milho Em Condições de Escassez

Rodrigues, G.C., Paredes, P., Rosa, RD, da Silva, F.G., Pereira, L.S., 2011. Necessidades de água e produtividade económica da rega de milho em condições de escassez. In: VI Congresso Ibérico de Agro-Engenharia, Évora, Portugal

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6. NECESSIDADES DE ÁGUA E PRODUTIVIDADE ECONÓMICA DA

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