• Nenhum resultado encontrado

2. Ensino e Aprendizagem Matemática

2.1 Resultados do PISA

O PISA (Programme for Internacional Student Assessement) é um projecto lança- do em 1997 pela OCDE que pretende supervisionar os sistemas educativos relativamen- te ao desempenho dos alunos e “procura medir a capacidade dos jovens de 15 anos para

usarem os conhecimentos que têm de forma a enfrentarem os desafios da vida real, em vez de simplesmente avaliar o domínio que detêm sobre o conteúdo do seu currículo

escolar específico” (GAVE, 2004). As áreas de estudo incidem nos três domínios funda-

mentais, leitura, matemática e ciências, sendo, de três em três anos, avaliado um domí- nio principal. Em 2000 foi avaliado a literacia de leitura, em 2003 a literacia matemática, em 2006 a literacia científica e, em 2009, novamente, a literacia de leitura. Para além da avaliação destes dados, o PISA recolhe informação “sobre a escola e o contexto dos alu-

nos em casa, as suas estratégias de aprendizagem, ambientes de aprendizagem e sua familiaridade com computadores” (Serrão, Ferreira, & Sousa, 2010, p. 4). O PISA procura

adquirir respostas não só sobre das competências da Matemática, língua materna e ciências, mas fundamentalmente, sobre a conformidade do nível das aprendizagens às necessidades da vida quotidiana na sociedade actual. Tem como objectivo principal:

“(…) assentar numa avaliação incidindo nas competências que evidenciem o que os jovens de 15 anos sabem, valorizam e são capazes de fazer em contextos pessoais, sociais e globais. Esta perspectiva difere das que se baseiam exclusiva e exaustiva- mente nos curricula oficiais; no entanto, inclui problemas situados em contextos educativos e profissionais e reconhece o papel essencial do conhecimento, dos métodos, atitudes e valores que definem as disciplinas científicas. A expressão que melhor descreve o objecto de avaliação nas diferentes áreas no PISA é a de litera- cia.”(Serrão, Ferreira, & Sousa, 2010, p. 4)

O PISA apresenta o conceito de literacia como “a capacidade dos alunos aplica-

rem os seus conhecimentos e analisarem, raciocinarem e comunicarem com eficiência, à medida que colocam, resolvem e interpretam problemas numa variedade de situações concretas” (Carlos Pinto-Ferreira, Anabela Serrão, Lídia Padinha, 2007, p. 6). Para a aná-

lise e comparação dos dados, foram definidos valores de referência de desempenho em cada um dos domínios de literacia, pretendendo-se que “(…) no conjunto dos países da

OCDE, a média fosse de 500 pontos e que cerca de dois terços dos alunos tivessem entre 400 e 600 pontos.” (2001, p. 1).

Analisando os ciclos 2000, 2003 e 2006, os resultados dos níveis de literacia de alunos portugueses de 15 anos, que se encontram perto de completar ou que já comple- taram a escolaridade obrigatória, revelam carências significativas, situando Portugal abaixo da média da OCDE com 474 pontos. Embora se observe uma evolução positiva no desempenho da literacia científica, os dados relativos ao insucesso escolar, à repetição do ano lectivo ou retenção dos alunos pesam negativamente nesta avaliação quando comparados com outros países mais desenvolvidos. Salienta-se o facto de os alunos que frequentam o 7º e o 8º ano carecerem de capacidades, conhecimentos e competências

consideradas mínimas neste estudo. Também na avaliação do desempenho da literacia de leitura,os alunos do 10º ano de escolaridade apresentam percentagens mais eleva- das e com níveis de desempenho altos, melhorando e contribuindo positivamente para o resultado final. Contudo,

“enquanto os alunos dos 7º, 8º e 9º anos exibem resultados modestos – quando comparados com a média dos países da OCDE – os alunos dos 10º e 11º anos reve- lam desempenhos muito acima dessa média. A elevada repetência – e a respectiva recorrência – são, também neste caso, uma das razões do relativamente fraco desempenho dos alunos portugueses em literacia de leitura.” (Carlos Pinto-Ferreira,

Anabela Serrão, Lídia Padinha, 2007)

O PISA 2003 merece uma atenção especial pois, embora avalie os três domínios (leitura, matemática, ciências e resolução de problemas), a área predominante de análi- se é a Matemática. A literacia matemática é definida

“como a capacidade de um indivíduo identificar e compreender o papel que a matemática desempenha no mundo, de fazer julgamentos bem fundamentados e de usar e se envolver na resolução matemática das necessidades da sua vida, enquanto cidadão construtivo, preocupado e reflexivo.” (GAVE, 2004, p. 11)

O PISA 2003envolveu mais de 250 000 alunos de 41 países. A população alvo era constituída por estudantes que frequentavam os 7º, 8º, 9º, 10º e 11º anos de escolari- dade de instituições públicas ou privadas e com idades compreendidas entre 15 anos e três meses e 16 anos e dois meses. Nesta avaliação, são estabelecidas as quatro áreas de conteúdo – espaço e forma, mudança e relações, quantidade e incerteza, assim defini- das:

“- espaço e forma tem a ver com os fenómenos e as relações espaciais e geométri- cas, muitas vezes presentes na disciplina de geometria.

- mudança e relações envolve manifestações matemáticas de mudança bem como de relações e dependências funcionais entre variáveis; está muito relacionada com a álgebra.

- quantidade envolve fenómenos numéricos, tais como relações e padrões quantita- tivos.

- incerteza abrange os fenómenos e as relações probabilísticos e estatísticos.”

(GAVE, 2004, p. 12)

Para avaliar cada uma destas áreas de conteúdo, o PISA 2003 estabeleceu escalas e níveis de desempenho. As pontuações nas escalas de literacia matemática foram aglu-

tinadas em seis níveis de proficiência5 que apresentam conjuntos de tarefas de dificul- dade crescente: o nível 1 equivale ao mais baixo e o nível 6, ao mais elevado. Por exem- plo, os alunos que obtiveram menos de 358 pontos na escala foram classificados abaixo do nível 1.

Os resultados finais indicam que cerca de 11% do total dos alunos se situa abaixo do nível 1, isto é, não foram capazes de utilizar as capacidades matemáticas solicitadas pelas tarefas mais simples do estudo. Apesar da heterogeneidade de resultados, dos vários níveis e nos diferentes países, Portugal exibe um elevado número de estudantes com níveis muito baixos de literacia matemática. Em termos quantitativos,

“cerca de 30% dos alunos têm um nível (…) igual ou inferior a 1, quando entre os países da OCDE esse valor é de 21%. Isto significa que quase um terço dos nossos jovens de 15 anos se limita a responder correctamente a questões que envolvem contextos familiares, em que toda a informação relevante para a resolução está presente, e só consegue identificar informação e levar a cabo procedimentos de rotina de acordo com instruções, em situações explícitas. Esses jovens obtêm suces- so em acções que se podem considerar óbvias e que decorrem directamente dos estímulos apresentados.” (GAVE, 2004, p. 16)

Contudo, há que destacar os 5% dos alunos portugueses que se situam nos níveis de proficiência 5 ou 6 do PISA, embora, os alunos da OCDE atinjam os 15%.

“Apesar de, em todas as subescalas, as percentagens de alunos identificados com baixo nível de literacia serem sempre superiores às médias da OCDE, o afastamento é maior nas subescalas de espaço e forma (38% em Portugal versus 25% na OCDE) e quantidade (31% versus 21%) e menor em incerteza (27% versus 20%) e mudança e relações (31% versus 23%). As percentagens de alunos com níveis elevados de litera-

5

No nível 6, os estudantes são capazes de conceptualizar, generalizar e utilizar informação, com base nas suas investiga- ções e na modelação de situações problemáticas complexas. (…). Neste nível, os estudantes dispõem de pensamento e raciocínio matemáticos avançados. Estes estudantes são capazes de aplicar a perspicácia (insight) e a compreensão, a par do domínio de operações e relações matemáticas simbólicas e formais, no desenvolvimento de novas abordagens e estra- tégias face a situações novas (…).

No nível 5, os estudantes (…) são capazes de seleccionar, comparar e avaliar estratégias adequadas de resolução de pr o- blemas, para lidarem com problemas complexos relacionados com estes modelos. Neste nível, os estudantes são capazes de trabalhar estrategicamente, usando capacidades mentais e de raciocínio amplas e bem desenvolvidas, representações adequadamente ligadas, caracterizações simbólicas e formais e a perspicácia (insight) apropriada a estas situações. (…) No nível 4, os estudantes (…) conseguem seleccionar e integrar representações diferentes, inclusivamente simbólicas, ligando-as directamente a aspectos de situações da vida real. Neste nível, os estudantes são capazes de utilizar capacidades bem desenvolvidas e de raciocinar de modo flexível, com alguma perspicácia (insight), nestes contextos. (…).

No nível 3, os estudantes são capazes de executar procedimentos descritos com clareza, incluindo os que requerem deci- sões sequenciais. Conseguem seleccionar e aplicar estratégias simples de resolução de problemas. Neste nível, os estudan- tes são capazes de interpretar e usar representações, com base em diferentes fontes de informação, e de raciocinar direc- tamente a partir delas. (…)

No nível 2, os estudantes são capazes de interpretar e reconhecer situações em contextos que não requerem mais do que inferência directa. (…) Os estudantes, conseguem empregar algoritmos, fórmulas, procedimentos ou convenções a um nível básico (…)

No nível 1, os estudantes são capazes de responder a questões que envolvem contextos familiares, em que toda a infor- mação relevante está presente e as questões são claramente definidas. São capazes de identificar a informação e de exec u- tar procedimentos de rotina, de acordo com instruções directas, em situações explícitas. Conseguem executar acções que são óbvias e cujo desenvolvimento parte directamente dos estímulos dados. (GAVE, 2004, pp. 13-14)

cia matemática nas várias subescalas são, também, sempre inferiores às médias da OCDE. O afastamento decresce da subescala espaço e forma (5% em Portugal versus 16% na OCDE), para a subescala incerteza (5% versus 15%), quantidade (6% versus 15%) e, finalmente, mudança e relações (8% versus 16%).” (GAVE, 2004, pp. 16-17)

De uma forma global e de acordo com a análise dos resultados médios dos alu- nos portugueses, verificamos que a situação é constrangedora e preocupante. Os valo- res da média portuguesa situam-se abaixo da média dos restantes países da OCDE (466 pontos) e muito distanciados daqueles que obtiveram melhores classificações.

Assim, dos estudos analisados e relativamente aos outros países da OCDE, con- clui-se:

- nos três domínios apresentados (leitura, matemática, ciências e resolução de problemas) os estudantes portugueses apresentam um desempenho modesto;

- à escala global, Portugal está próximo da Federação Russa e da Itália;

- no que respeita, às subescalas de literacia matemática, os resultados dos alunos portugueses são semelhantes aos da Grécia (subescala espaço e forma), Espanha, Fede- ração Russa e Itália (subescala mudança e relações), Estados Unidos da América, Itália, Federação Russa e Sérvia (subescala quantidade), da República da Eslováquia, Letónia, Itália e Grécia (subescala incerteza). Contudo, os resultados dos alunos portugueses são superiores aos alunos da Grécia, Turquia, México.

No PISA 2006, apesar dos alunos do 9º ano apresentarem desempenhos superio- res a literacia matemática, comparativamente aos resultados de 2003 (443 em vez de 417), factores como o número mais elevado de alunos nesse ano de escolaridade, aliado ao menor número de estudantes nos 10º e 11º ano que apresentam desempenhos signi- ficativamente superiores, não contribuíram para elevar o valor global de desempenho dos alunos a literacia de matemática. Os alunos do 7º e 8º ano apresentam, de novo, um baixo desempenho na literacia matemática.

Contudo, um novo quadro se apresenta, pois o último estudo do PISA, de 2009 (Serrão, Ferreira, & Sousa, 2010), revela que Portugal melhorou substancialmente os seus desempenhos nos três domínios em avaliação. É de realçar que, desde o início do projecto, o desempenho dos alunos portugueses, em termos de pontuação atingida, finalmente se equipara à média dos resultados dos países da OCDE no domínio da litera- cia da leitura. Conclui-se que o contributo de novas práticas de ensino, novos serviços e

apoios apresenta resultados positivos a médio e longo prazo. Como refere Rodrigues, M.L.

“O Plano de acção para a Matemática e o Plano Nacional de Leitura (…) são exem- plos de intervenção, cujo principal objectivo é o de melhoria da qualidade das aprendizagens em áreas disciplinares básicas e essenciais. (…) A melhoria das práti- cas pedagógicas, de acompanhamentos dos alunos, essenciais à garantia de quali- dade das suas aprendizagens. Por outro lado, a generalização da avaliação externa das aprendizagens dos alunos no 9º ano de escolaridade, a introdução de provas de aferição no 4º e 6º ano de escolaridade em Português e Matemática, bem como a alteração ao regime de exames do ensino secundário constituíram passos essenciais no desenvolvimento de informação sobre a qualidade das aprendizagens dos alu- nos.” (2010, p. 23)

O PISA 2009 envolveu uma amostra de 6298 alunos. Em 2009, os resultados dos alunos portugueses atingiram resultados positivos e animadores nos três domínios em avaliação. Pela primeira vez, os resultados situam-se na média dos países da OCDE em literacia da leitura, domínio de estudo principal. Entre 2003 e 2009, o desempenho dos alunos a literacia matemática com níveis médios a excelentes aumentou 9,5 pontos e os níveis negativos diminuíram 2,9 pontos (2010).

Podemos concluir que, entre o ano de 2000 e 2009, Portugal foi o 4º país da OCDE que mais progrediu na literacia da leitura assim como na literacia matemática: a variação do desempenho dos alunos entre 2003 e 2009 passa de 466 para 487. No que respeita à literacia científica, a variação de desempenho dos estudantes portugueses, entre 2006 e 2009, passa de 474 para 493, colocando Portugal no segundo país da OCDE que mais evoluiu.

Como se lê nos resultados do PISA (OCDE, 2010), Portugal “é o 6.º país cujo sis-

tema educativo melhor compensa as assimetrias socioeconómicas (…) é um dos países com maior percentagem de alunos de famílias desfavorecidas que atingem excelentes níveis de desempenho em leitura”. Como refere Isabel Alçada, ex-Comissária do Plano

Nacional de Leitura:

“Os hábitos de leitura de uma comunidade dependem de um conjunto complexo de factores. Em Portugal muitas circunstâncias têm concorrido para os alterar. A melhoria das condições económicas das famílias, medidas de política educativa e cultural como a escolarização progressiva e mais prolongada da população, o lan- çamento da rede de bibliotecas públicas (…) decerto contribuíram para alargar as possibilidades de acesso aos livros, revistas e jornais.” (Santos, Neves, Lima, &

Em síntese, concluímos que os alunos portugueses têm vindo a progredir nas competências matemáticas, quer pela melhoria da qualidade de vida, do acesso à infor- mação e ao conhecimento, quer pelos resultados visíveis nos estudos efectuados e, citando Andreas Schleicher, responsável da OCDE, “pode ser explicada em primeiro lugar

pelas políticas seguidas nos últimos anos e por uma conjugação de factores como a ava- liação de professores e um controlo sério da qualidade do ensino”6.

Os resultados dos alunos portugueses no PISA 2009 mostraram uma evolução considerável entre 2006 e 2009, apresentando variações significativas nos três domínios principais: a matemática apresenta um aumento de 21 pontos, as ciências e a leitura 19 e 17 pontos, respectivamente. Os progressos assinalados resultam do aumento (1,3 pon- tos nas ciências e 3,6 pontos na leitura e matemática) da percentagem de alunos com resultados dos níveis mais elevados (níveis 5 e 6) assim como da redução (7 a 9 pontos) da percentagem de alunos com resultados situados nos níveis mais baixos (níveis 1 e inferior a 1) (OCDE, 2010).