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3 CAPÍTULO 1 – ESTAQUIA DE LOURO-PARDO

3.3 Resultados e discussão

Não houve interação entre o tipo de estaca e a dose de AIB aos 40 dias de avaliação, indicando que estes fatores são independentes. Para todos os parâmetros de brotação, não houve diferença significativa entre as estacas basais e apicais de louro-pardo (Tabela 1). Essa resposta não era esperada, pois ao longo do ramo pode existir diferença no conteúdo de carboidratos, aminoácidos e de outras substâncias, como auxinas, que servirão como reserva energética necessárias para que ocorram respostas morfogênicas nos propágulos (HARTMANN et al., 2002). Além disso, não foi observado o enraizamento das estacas. Dessa forma, é provável que o fator de maior influência nas respostas obtidas, foi o alto grau de lignificação das estacas lenhosas, dificultando a regeneração do material. Estacas mais lignificadas apresentam maior dificuldade para enraizar, seja pela presença de um anel de esclerênquima contínuo, que pode constituir uma barreira física à emergência das raízes, ou pela menor habilidade fisiológica em formar primórdios radiculares (TOFANELLI, 1999).

Tabela 1 – Respostas de brotação em estacas basais e apicais de louro-pardo, cultivadas em substrato composto por uma mistura de areia, substrato comercial à base de casca de pinus e vermiculita (1:1:1 v/v/v), tratadas ou não com 8000 mg L-1 de AIB, e mantidas por 40 dias em câmara úmida. Santa Maria, RS, 2010.

Tipo de estaca Brotação (%) Número de brotos Comprimento de brotos (cm) Número de folhas Basal 53 a* 1,85 a 0,62 a 6,81 a Apical 45 a 1,30 a 0,61 a 5,05 a

* Médias seguidas de letras iguais na vertical não diferem entre si, significativamente, pelo teste de Tukey (P<0,05).

Foi observado que a aplicação ou não de AIB na base das estacas não influenciou significativamente as respostas de brotação, independente do tipo de estaca utilizado (Tabela 2).

Tabela 2 – Respostas de brotação em estacas de louro-pardo tratadas ou não com 8000 mg L-1 de AIB, cultivadas em substrato composto por uma mistura de areia, substrato comercial à base de casca de pinus e vermiculita (1:1:1 v/v/v), e mantidas por 40 dias em câmara úmida. Santa Maria, RS, 2010.

AIB (mg L-1) Brotação (%) Número de brotos Comprimento de brotos (cm) Número de folhas 0 46 a* 1,52 a 0,65 a 6,17 a 8000 53 a 1,63 a 0,58 a 5,7 a

* Médias seguidas de letras iguais na vertical não diferem entre si, significativamente, pelo teste de Tukey (P<0,05).

Um aspecto importante a ser considerado na propagação por estaquia é a idade fisiológica do ramo coletado. No presente estudo, as estacas foram coletadas no mês de agosto de 2009, período em que as árvores se encontravam em repouso vegetativo. Foi observada a porcentagem de 100% de sobrevivência aos 40 dias em câmara úmida, tanto no tratamento sem presença de AIB quanto no tratamento utilizando 8000 mg L-1 de AIB, porém não ocorreu formação de calos ou raízes. Em testes preliminares de estaquia de louro-pardo realizados no mês de abril de 2009, período vegetativo de crescimento intenso, não foi observado o surgimento de calos, brotos ou raízes em estacas apicais tratadas com 0, 6000 ou 8000 mg L-1, e antes dos 30 dias de permanência em câmara úmida, observou-se o índice de 100% de mortalidade (dados não apresentados). Além disso, neste estudo as estacas brotaram e não enraizaram, o que pode ser explicado pelo fato de que em algumas espécies, o consumo de reservas para a formação de brotos prejudica o enraizamento (HARTMANN et al., 2002). Contudo, para o louro-pardo não existem relatos sobre o enraizamento de material adulto, sendo necessária a realização de estudos complementares, testando fatores como tipos de substratos, épocas de coleta e doses de AIB, possibilitando a comprovação da existência da relação inversa entre a capacidade de brotação e o enraizamento das estacas dessa espécie. Resultado semelhante foi observado em estacas adultas

de vassourão-branco (Piptocarpha angustifolia Dusén), onde os propágulos coletados no outono apresentaram brotos, mas não enraizaram, e posteriormente morreram (FERRIANI, 2006).

O fato de as estacas, aos 40 dias em câmara úmida, apresentarem 100% de sobrevivência, sugere que a aplicação de AIB e a posição de coleta de estaca no ramo não influenciaram a sobrevivência das mesmas, e que, durante esse período, houve uma adequação do ambiente à manutenção da sobrevivência dos propágulos vegetativos de louro-pardo, o que não ocorreu para a rizogênese. A utilização de um ambiente adequado e com nebulização aumentam as chances de sobrevivência das estacas (GRAÇA et al., 1988), uma vez que as condições ideais de umidade e de temperatura garantem o seu turgor hídrico, embora a sobrevivência na casa de vegetação não seja uma garantia para o posterior enraizamento (IRITANI & SOARES,1983).

Aos 80 dias de permanência em câmara úmida foi possível realizar apenas a avaliação de sobrevivência das estacas, na qual se observou 100% de mortalidade, precedida pela morte e queda dos brotos, indicando que o surgimento dos mesmos em estacas provenientes de plantas adultas de louro-pardo não garante a sobrevivência ou o enraizamento. Além disso, estacas de espécies de difícil enraizamento, mantidas por prolongado período em câmara de nebulização, podem ser prejudicadas pelo excesso de umidade (NACHTIGAL et al., 1994). Também se observou que a morte das estacas teve início com a necrose na base, indicando que as condições do substrato podem estar envolvidas na elevada porcentagem de mortalidade.

Espécies florestais nativas apresentam grandes variações na capacidade de enraizamento de estacas obtidas de propágulos adultos. Em canela (Ocotea puberula Benth Hook e Ocotea

pretiosa Nees) não foram verificadas respostas rizogênicas nas estacas tratadas com 0, 2000 ou

4000 mg L-1 de AIB (SILVA, 1984). Estacas de açoita-cavalo (Luehea divaricata Mart.) apresentaram 26,5% de enraizamento no tratamento com 2000 mg L-1 de AIB (NAZÁRIO et al., 2007). Em estudo com o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia (Bertoloni) Otto Kuntze.) também foi verificada baixa porcentagem de enraizamento das estacas, com 10,42% de enraizamento para a testemunha e apenas 2,08% quando utilizadas as doses de 5000 mg L-1 de AIA e 1000 mg L-1 de AIB (IRITANI & SOARES, 1983). Já em corticeira-do-banhado (Erythrina crista-galli L.) ocorreram altos índices de enraizamento das estacas, variando de 60 a 100%, de acordo com o tipo de propágulo utilizado (CHAVES et al., 2003).

Os resultados de enraizamento das estacas de louro-pardo também podem ter sido afetados pela baixa capacidade genética das árvores matrizes para a formação de raízes

adventícias, uso de propágulos com idade fisiológica desfavorável ao enraizamento, e com tamanho inadequado, embora o fator preponderante na dificuldade de enraizamento de propágulos maduros seja o grau de juvenilidade (HARTMANN et al., 2002). O fator juvenilidade exerce grande influência na propagação vegetativa, pois a velocidade e facilidade de enraizamento dos propágulos decresce com a idade da planta matriz que os originou (HARTMANN et al., 2002). Para muitas espécies lenhosas, a estaquia a partir de mudas de origem seminal oferece maiores chances de sucesso no enraizamento do que com material adulto, por se tratar de material juvenil (GRAÇA et al., 1988). Em erva-mate, estacas de matrizes adultas atingiram uma porcentagem média de 26,7% de enraizamento (HORBACH, 2008). Estacas provenientes de mudas a porcentagem de enraizamento chegou a 60% (HIGA, 1985). Em estudo desenvolvido com cedro (Cedrela fissilis Vell.) houve 100% de enraizamento de miniestacas caulinares de plântulas (XAVIER et al., 2003). Em miniestaquia de louro-pardo, apesar da alta sobrevivência, apenas quatro miniestacas, submetidas ou não à aplicação de AIB, enraizaram, embora este resultado tenha sido atribuído em parte às más condições ambientais de enraizamento (FICK, 2007).

Os resultados negativos de sobrevivência e enraizamento das estacas, aos 80 dias de avaliação, demonstram que os procedimentos adotados no presente estudo não se mostraram eficientes tecnicamente para a propagação vegetativa do louro-pardo por estaquia e são ainda inconclusivos. Recomenda-se a realização de estudos com maior número de indivíduos e também com material juvenil, a exemplo de brotos coletados em minicepas (miniestacas) e a adoção de técnicas que promovam o rejuvenescimento dos tecidos das estacas, permitindo a elucidação dos processos envolvidos no enraizamento destas. Além disso, admite-se a grande importância da realização de análises anatômicas e bioquímicas das estacas, para verificar possíveis barreiras físico-químicas que possam estar impedindo a iniciação do enraizamento adventício em estacas de louro-pardo.

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