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Resultados e síntese das entrevistas

CAPÍTULO III – ENTREVISTAS E INQUÉRITOS

4.3 Resultados e síntese das entrevistas

O número de entrevistas realizadas não foi o esperado inicialmente, sendo no total 6 entrevistas a psicólogos (Anexo 27, 28, 29, 30, 31 e 32). Após a realização das entrevistas foi necessário analisar esta informação e organizá-la de maneira a ser possível retirar apenas as partes essenciais. Como as informações das entrevistas são conteúdos qualitativos foi necessário perceber como se devia proceder com a sua análise. Assim, para analisar o conteúdo qualitativo, o primeiro passo é definir o material, selecionar as entrevistas ou partes destas que sejam importantes para responder à questão da investigação. O segundo passo é analisar a situação da recolha de dados. No terceiro passo, o material é formalmente caracterizado. No quarto passo é definir a orientação da análise dos textos selecionados e o que efetivamente se deseja interpretar com base neles (Flick. 2005). Com isto, decidiu-se que a criação de gráficos seria a melhor maneira de organizar e, posteriormente, analisar esta informação, de maneira a que as conclusões obtidas sejam sólidas. Para isso foi necessário analisar cada uma das respostas individualmente e tentar perceber a relação de umas com as outras e criar um gráfico de resultado para essas perguntas. Para a criação dos gráficos com os resultados utilizou-se a plataforma digital Canvas, que permite a introdução de dados e valores obtidos em cada pergunta e, consoante a tipologia de gráfico escolhido, gere o gráfico com os resultados.

Os resultados das entrevistas foram obtidos a partir do desdobramento de cada uma das perguntas, tendo em conta que esta é uma informação qualitativa, por este motivo em cada gráfico podem aparecer mais do que o total de 6 respostas (mais do que uma por entrevistado, mais do que um total de 100%) pois a cada pergunta os entrevistados responderam a mais do que um ponto e todos estes foram contabilizados. Após a criação de todos os gráficos com os resultados das entrevistas (Anexo 33) prosseguiu-se para a análise de comparação dos dados para a obtenção das conclusões. Para tal foi necessário rever cada uma das perguntas das entrevistas e perceber quais as que tinham informações relevantes para este estudo.

Sendo assim compreendeu-se que a principal característica da geração Alpha que os psicólogos mencionaram na entrevista foi a sua ligação com as tecnologias (66,7%). O psicólogo Diego Prade (Anexo 27) é claro nesse assunto quando refere que “a maior parte dos seus temas de conversa e atividades estão relacionados com videojogos e/ou séries/filmes/televisão”, é por esta razão que também foi mencionado o excesso de atividades ligadas às tecnologias (50%). Mas outra característica referida foi a questão de que estas crianças querem que as suas necessidades sejam satisfeitas rapidamente (50%). A esse respeito, o psicólogo António Serra (Anexo 28) refere que “é uma geração com poucos recursos para lidar com a frustração e que deseja as suas necessidades/estímulos saciados o mais depressa possível”.

Como foi possível constatar, esta ligação da criança com a tecnologia é evidente, pois um dos pontos mais evidentes nesta entrevista é que as crianças já nascem a saber funcionar com as tecnologias (50%), que como disse o psicólogo António Serra (Anexo 28) “estas crianças cresceram com esta

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realidade, usando as tecnologias de uma maneira tão natural como as gerações anteriores usavam o papel e a caneta.” Tendo em conta esta relação, as crianças passaram a deixar de brincar com brinquedos que não tenham tecnologia envolvida e, para além disso, os pais (33,3%) acham que “esta fonte de satisfação configura-se como uma segurança, pois, as crianças encontram-se entretidas, sem correr qualquer risco, não estando expostas a ameaças do ambiente”, segundo a psicóloga Cláudia Tirone (Anexo 30).

Todos os entrevistados mencionaram alguns comportamentos desta criança Alpha que já podem induzir problemas futuros como, principalmente, a dificuldade na criação de relação com os outros (100%) que, como explica o psicólogo António Serra (Anexo 28), “o falso conforto que o isolamento de um smartphone proporciona à criança, impede que esta ensaie a vida, lide com a frustração e aprenda a se relacionar de uma maneira saudável.” E quando os entrevistados foram confrontados com a pergunta “Como acha que será o adulto Alpha?” todos voltaram a mencionar a dificuldade em estabelecer e manter relações, onde o psicólogo António Serra (Anexo 28) volta a acrescentar que esta geração terá “imensas dificuldades para iniciar/manter relacionamentos significativos, sejam estes amorosos, de amizade, ou até laborais” o que também está relacionada com a baixa tolerância à frustração (50%) já mencionada anteriormente.

A moda é vista como uma maneira de ajudar a criança na sua inclusão num grupo (66,7%), pois, como informou o psicólogo Diego Prade (Anexo 27), “nessas idades as crianças sentem grande necessidade de se comparar com os seus pares na maneira de vestir e de se comportar.” Mas os entrevistados acham que as marcas não estão (66,7%), ou estão muito pouco (33,3%), preocupadas com a formação social e cognitiva das crianças, porque “o objetivo último de qualquer empresa, especialmente quando com fins lucrativos, é aumentar a rentabilidade e a quantidade de venda, tornando a produção do seu produto menos dispendiosa” como informou a psicóloga Cláudia Tirone (Anexo 30). Quando os entrevistados foram abordados sobre se achavam que as marca deveriam ter responsabilidade na formação das crianças, metade respondeu “não” e a outra metade “alguma”, pois para eles o papel da formação social e cognitiva das crianças cabe aos pais (33,3%) e às escolas (16,7%), porque a moda apenas ajuda a transmitir valores de diferenciação e aceitação e a difundir comportamentos sociais assertivos. Mas quando a mesma pergunta é direcionada para as marcas de moda as respostas foram diferentes, pois a maioria respondeu que sim (66,7%), porque “a moda em si, como expressão de gostos, interesses pode ter um papel relevante de construção da identidade da criança”, como informa o psicólogo Diego Prade (Anexo 27). Para além disso referiram as campanhas pedagógicas (16,7%) como “uma mais valia para o desenvolvimento emocional e social da criança”, tal como disse a psicóloga Joana Lopes (Anexo 29).

Alguns dos psicólogos entrevistados aproveitaram a situação para alertar os pais para a sua capacidade de filtrar (16,7%) “as abordagens publicitárias mais ou menos agressivas por parte das marcas”, segundo o psicólogo António Serra (Anexo 28), pois, se os pais não controlarem, os seus filhos serão alvos de qualquer tipo de marketing, seja benéfico ou prejudicial para a sua formação.

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