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3 CRISE FINANCEIRA GLOBAL: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS

3.2 Metodologia e Dados

3.2.2 Resultados econométricos

Os resultados econométricos encontram-se sistematizados nas Tabelas 2 a 5. Foram estimados modelos com cada variável dependente adicionando em cada regressão uma nova variável independente considerando os índices de abertura financeira, KAOPEN e IFIGDP separadamente. Esses modelos foram sistematizados nas tabelas que se seguem. As estimações condicionadas pelo índice de integração financeira KAOPEN se encontram nas tabelas 2 e 3; as estimações condicionadas pelo índice de integração financeira IFIGDP se encontram nas tabelas 4 e 5.

Ao estimar as regressões poucos modelos se mostraram estatisticamente significantes pelo teste F. Assim, realizou-se testes para identificar pontos extremos (outliers)7 que poderiam estar influenciando os resultados. Por meio do cálculo dos DFITS8 foi possível observar quais os outliers estavam afetando os resultados dos modelos e, ao excluí-los das estimações9, os resultados apresentaram mudanças e o teste F demonstrou significância estatística para quase todos os modelos estimados.

O acréscimo de variáveis ao modelo inicial tem como objetivo alterar as especificações dos modelos para analisar o papel e a significância estatística de diferentes variáveis na explicação das variáveis dependentes PIBREAL1 e PIBREAL2. A contribuição das variáveis explicativas pode ser avaliada por meio da análise de grau de ajuste do modelo (� ). Para avaliar o papel e a significância estatística de diferentes variáveis independentes na explicação das variáveis dependentes foi feito o teste F. O teste F10 indicou que, embora nem todas as variáveis sejam individualmente significativas, o conjunto do modelo é.

Quanto às regressões condicionadas pelo índice de abertura financeira KAOPEN, na estimação com a variável dependente PIBREAL1 (Tabela 2), os modelos 1 e 2 não se mostraram estatisticamente significantes. A variável dívida pública apresentou significância a 10% no modelo 2, entretanto, como o modelo em si não se mostrou estatisticamente significante pelo teste F, concentrou-se aqui a explicação apenas dos modelos significativos.

7 “Os pontos extremos (outliers) são pontos que se afastam da mediana e que afetam o valor da média de uma ou mais variáveis explicativas. São considerados influentes os pontos que afetam a linha de regressão de tal forma que sua retirada altere significativamente as estimativas.” (VASCONCELLOS; PORTELA, 2001).

8 Pode ser interpretado como uma medida da alteração no valor predito da i-ésima observação ao se retirar dos cálculos seus valores observados. (VASCONCELLOS; PORTELA, 2001).

9 O Quadro com os outliers excluídos de cada estimação se encontra no Apêndice. 10 O teste F envolve o cálculo da seguinte expressão: � = �2�−

−�2/ �−�− , onde k é o número de parâmetros na regressão, n é o número de observações da amostra e R² indica o grau de ajuste do modelo.

Nos modelos 3 a 6 a variável explicativa CRESCRED se mostrou estatisticamente significante a 1% (modelos 3, 4, 5, 7 e 8) e a 5% (modelos 6) com sinal negativo o que significa que um aumento da oferta de crédito ao setor privado está associado a uma menor taxa de crescimento médio entre 2005-2007 e 2008-2009 e evidências de que países que tiveram maior oferta de crédito sofreram maior incidência da crise financeira global.

A abertura comercial apresentou sinal negativo e significância estatística a 5% no modelo 2. O coeficiente negativo da variável demonstra que a abertura comercial tem impacto negativo para o crescimento do PIBREAL1, pois, quanto maior o grau de abertura, mais vulnerável está a economia. Ou seja, está variável tende a aumentar a intensidade da crise em economias emergentes mais abertas comercialmente. O índice de integração financeira KAOPEN se mostrou estatisticamente significante a 5% nos modelos 7 e 8. O sinal positivo do coeficiente sugere que um aumento da abertura financeira diminui a incidência da crise financeira global nas economias analisadas. Em relação ao grau de ajuste, quanto maior, mais explicativo é o modelo. Nesse caso, o grau de ajuste apresentou um aumento da primeira estimação até a última, fazendo com que o acréscimo das variáveis aumentasse o R² de 0% (modelo 1) para 61% (modelo 8).

Tratando-se da variável dependente PIBREAL2 (Tabela 3) apenas os modelos 6, 7 e 8 apresentaram significância. Concentrando-se na explicação das variáveis que se mostraram estatisticamente significantes, no modelo 6, a variável CONTCOR se mostrou positiva e significante a 10% o que sugere que países com saldo da conta corrente elevado experimentaram um aumento na taxa média de crescimento do PIB entre 2008-2009 e menor incidência da crise.

A variável PIBPERCAP apresentou sinal negativo e significância a 5% (modelos 6 e 7) e a 10% (modelo 8) demonstrando que, um aumento do PIB per capita refletiu em maior impacto na intensidade da crise financeira global. Entretanto, vale ressaltar que o coeficiente estimado para PIBPERCAP é próximo de zero. Ao adicionar a variável ABCOM (modelo 7), negativa e estatisticamente significante a 1%, o grau de ajuste passou de 31% para 46%. O coeficiente negativo associado à variável abertura comercial sugere que quanto mais aberto comercialmente é o país, maior a incidência da crise.

O índice de abertura financeira KAOPEN apresentou significância a 10% (modelo 7) e 5% (modelo 8). Assim como na estimação para PIBREAL1, o sinal positivo do índice de integração financeira indica que um aumento da abertura financeira aumenta a taxa média de crescimento do PIB real entre 2008-2009 e, assim, há evidências de que diminui a incidência

da crise financeira global. As demais variáveis não apresentaram significância estatística nos modelos.

Tabela 2 – Estimação do modelo com a variável dependente Taxa Média de Crescimento do PIB entre 2005-2007/2008-2009 adicionando variáveis independentes - considerando o índice

KAOPEN Variáveis Explicativas (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) KAOPEN 0,11 0,28 0,17 0,14 0,13 0,48 0,84** 0,82** (0,34) (0,86) (0,62) (0,50) (0,44) (1,25) (2,20) (2,17) DIVPUB 0,03* 0,01 0,006 0,005 0,004 -0,008 0,008 (1,79) (0,74) (0,27) (0,23) (0,17) (-0,30) (-0,29) CRESCRE D -2,79*** -3,41*** -3,46*** -3,04** -4,07*** -4,10*** (-3,41) (-4,18) (4,09) (-2,25) (-3,36) (-3,31) CONTCOR -0,07 -0,06 0,07 0,001 0,02 (1,01) (-0,72) (0,64) (0,18) (0,21) RESINT -1,49 -6,35 -4,53 -4,01 (-0,33) (-1,27) (-0,81) (-0,67) PIBPERCA P 0,00 0,00 -0,00 (-1,02) (-1,51) (-1,34) ABCOM -0,02** -0,01 (-2,12) (-1,56) MANUF -0,02 (-0,31) C -4,12*** -5,89*** -3,95*** -3,25*** -2,91* -1,99 0,17 0,05 (-7,33) (-5,86) (-4,26) (-3,04) (-2,03) (-1,07) (0,07) (0,17) N 29 28 27 27 27 26 27 27 0,00 0,10 0,30 0,32 0,33 0,44 0,61 0,61 F 0,73 0,18 0,007 0,003 0,005 0,05 0,00 0,00

Notas: t-estatístico entre parênteses.

Tabela 3 – Estimação do modelo com a variável dependente Taxa Média de Crescimento do PIB entre 2008 e 2009 adicionando variáveis independentes – considerando o índice

KAOPEN Variáveis Explicativas (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) KAOPEN -0,32 -0,11 -0,48 -0,38 -0,26 0,60 0,74* 0,88** (-0,74) (-0,27) (-1,14) (-0,89) (-0,58) (1,42) (1,83) (2,13) DIVPUB 0,01 -0,02 -0,003 0,03 0,01 0,008 0,009 (0,53) (-0,59) (-0,10) (1,02) (0,41) (0,30) (0,32) CRESCRED -2,80** -1,35 -1,85 -0,64 -0,66 -0,60 (-2,15) (-1,06) (-1,04) (-0,42) (-0,45) (-0,39) CONTCOR 0,06 0,32 0,25* 0,17 0,16 (0,64) (2,16) (2,07) (1,61) (1,33) RESINT -0,18 -2,16 1,15 -0,84 (-0,02) (-0,27) (0,16) (-0,13) PIBPERCAP -0,0001** -0,0001** -0,0001* (-2,62) (-2,44) (-2,03) ABCOM -0,03*** -0,04** (-4,42) (-2,79) MANUF 0,07 (0,53) C 2,58*** 2,10 4,43** 3,24* 1,41 3,62 5,48** 5,48 (4,09) (1,45) (2,50) (1,91) (0,61) (1,50) (2,50) (1,81) N 29 28 28 29 27 28 29 28 0,02 0,01 0,15 0,11 0,31 0,31 0,46 0,47 F 0,46 0,80 0,17 0,54 0,21 0,03 0,00 0,00

Notas: t-estatístico entre parênteses.

*, ** e *** indicam significância a 10%, 5% e 1%, respectivamente.

Nas tabelas 4 e 5 estão sistematizados os resultados das estimações condicionadas pelo índice de integração financeira IFIGDP. Quanto às regressões estimadas com a variável dependente PIBREAL1 (Tabela 4), apenas o modelo 2 não se mostrou estatisticamente significante. Os resultados econométricos revelam que entre oito variáveis utilizadas, duas delas se mostraram estatisticamente significantes sendo elas IFIGDP e CRESCRED. O índice IFIGDP apresentou significância a 10% (modelos 1 e 5) e a 5% (modelos 3 e 4). O sinal negativo do coeficiente indica que existem evidências de que o aumento da abertura financeira aumenta a intensidade da crise financeira global de 2008-2009 na amostra de países emergentes analisados.

A taxa média de crescimento do crédito doméstico ao setor privado entre 2003 e 2007 se apresentou estatisticamente significante em todos as estimações (10% de significância no modelo 3 e 1% de significância nos demais modelos). O sinal negativo do coeficiente indica que países que ofertam mais crédito ao setor privado estão associados a uma menor taxa

média de crescimento, evidenciando maior impacto da incidência da crise nesses países. As variáveis DIVPUB, CONTCOR, RESINT, PIBPERCAP, ABCOM e MANUF não apresentaram significância estatística para as estimações com a variável dependente PIBREAL1.

Em relação aos modelos estimados com a variável dependente PIBREAL2 (Tabela 5), o índice IFIGDP se mostrou estatisticamente significante em todos a 1% de significância (modelos 1 a 6), 5% (modelo 8) e 10% (modelo 7). Novamente, o sinal negativo do coeficiente indica que existem evidências de que o aumento da abertura financeira contribuiu para o aumento da incidência da crise financeira global. A variável CRESCRED tem coeficiente negativo e apresentou significância nos modelos 3 (estatisticamente significante a 5%), 4 e 5 (estatisticamente significante a 10%). O sinal do coeficiente sugere que, assim como na estimação com a variável dependente PIBREAL1, um aumento na oferta de crédito doméstico ao setor privado suscita um aumento na incidência da crise. Ao incluir a variável PIBPERCAP (modelo 6), a taxa média de crescimento do crédito deixou de ser significativa ao modelo. A variável ABCOM, estatisticamente significante a 5% (modelo 7), também tem coeficiente negativo indicando, portanto, que países que contavam com maior abertura comercial sofreram impactos mais severos da crise financeira global de 2008-2009.

Tabela 4 – Estimação do modelo com a variável dependente taxa Média de Crescimento do PIB entre 2005-2007 e 2008-2009 adicionando variáveis independentes – considerando o

índice IFIGDP Variáveis Explicativas (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) IFIGDP -0,59* -0,50 -0,80** -0,48** -0,62* -1,23 -1,50 -1,16 (-1,77) (-1,38) (-2,37) (-2,16) (-2,01) (-1,36) (-1,56) (-1,13) DIVPUB 0,01 -0,005 0,00 -0,02 -0,02 -0,02 -0,01 (0,77) (-0,17) (0,00) (-0,69) (-0,67) (-0,66) (-0,52) CRESCRED -3,06* -3,63*** -4,44*** -4,75*** -5,58*** -5,52*** (-2,04) (-4,57) (-3,79) (-3,12) (-3,37) (-2,98) CONTCOR -0,05 -0,06 -0,10 -0,11 -0,10 (-0,77) (-0,72) (-0,98) (-0,87) (-0,76) RESINT -0,15 4,43 4,50 5,59 (-0,03) (0,80) (0,73) (0,90) PIBPERCAP -4,38 0,00 -7,93 (-0,09) (1,35) (-0,10) ABCOM -0,008 -0,001 (-0,81) (-0,80) MANUF -0,09 (-0,68) C -2,89*** -3,99** -1,24 -2,07 -0,52 -0,38 0,09 0,97 (-3,19) (-2,78) (-0,66) (-1,92) (-0,28) (-0,17) (0,04) (0,36) N 30 29 31 27 28 26 28 27 0,04 0,06 0,25 0,36 0,38 0,43 0,49 0,52 F 0,08 0,26 0,04 0,00 0,01 0,00 0,07 0,01

Notas: t-estatístico entre parênteses.

Tabela 5 – Estimação do modelo com a variável dependente Taxa Média de Crescimento do PIB entre 2008 e 2009 adicionando variáveis independentes – considerando o índice IFIGDP

Variáveis Explicativas (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) IFIGDP -1,87*** -1,77*** -2,17*** -1,72*** -1,70*** -1,80*** -1,25* -1,35** (-3,25) (-2,92) (-3,18) (-4,13) (-4,40) (-3,15) (-2,09) (-2,34) DIVPUB 0,007 -0,01 0,004 0,02 0,02 0,01 0,02 (0,26) (-0,51) (0,19) (0,83) (0,85) (0,43) (0,67) CRESCRED -2,31** -2,53* -1,46* -1,58 -1,49 -1,30 (-2,22) (-1,81) (-1,09) (-1,06) (-1,05) (-0,85) CONTCOR 0,06 0,11 0,05 0,06 0,08 (0,64) (1,18) (0,46) (0,58) (0,90) RESINT 4,66 8,41 2,21 4,07 (0,62) (1,15) (0,46) (0,74) PIBPERCAP -0,00 0,00 -0,00 (-0,34) (0,21) (-0,29) ABCOM - 0,02** -0,01 (-2,41) (-0,77) MANUF -0,14 (-0,89) C 4,58*** 4,50** 6,74*** 5,27*** 3,25 3,04 5,20 6,51** (4,18) (2,41) (3,16) (3,39) (1,61) (1,54) (2,77) (2,76) N 28 27 26 28 28 27 28 28 0,14 0,18 0,29 0,38 0,38 0,35 0,43 0,46 F 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,01 0,00

Notas: t-estatístico entre parênteses.

*, ** e *** indicam significância a 10%, 5% e 1%, respectivamente.

3.2.3 Discussão de resultados

Os resultados econométricos das variáveis CRESCRED e CONTCOR apresentados nas estimações condicionadas tanto para o índice KAOPEN quanto para o índice IFIGDP são coerentes com os reportados por Frankel e Saravelos (2012), Rose e Spiegel (2011) e Berckmen et. al (2012), os quais encontraram evidências de que o maior crescimento do crédito está associado a maior incidência da crise. Lane e Milesi-Ferretti (2010) encontram evidências de que “[...] é plausível que as economias em que o crédito privado interno estava crescendo fortemente e que estavam passando por entradas líquidas de capital durante o período pré-crise possam ter enfrentado as maiores dificuldades de ajuste quando a crise de crédito ocorreu.” (2010, p. 4, tradução nossa).

Em relação à conta corrente, assim como a literatura empírica analisada, os resultados reportam que países com maiores déficits na conta corrente experimentaram menor crescimento do PIB, ficando sujeitos a sofrer maior vulnerabilidade externa e efeitos mais

severos da crise. Quanto à abertura comercial, os resultados corroboram com as evidências apresentadas por Berckmen et. al (2012) e Lane e Milesi-Ferretti (2010), os quais reportam que a abertura ao comércio aumenta a exposição a choques de demanda externa e quanto maior esta abertura mais vulnerável e suscetível à crise a economia está.

Considerando os resultados econométricos dos índices de integração financeira KAOPEN e IFIGDP estes indicam relações opostas, quais sejam, apesar de ambos apresentarem significância estatística, enquanto o índice de jure apresentou sinal positivo, o índice de facto se mostrou negativo. Sendo assim, as estimações mensuradas pelo índice de

jure sugerem que um aumento da abertura financeira diminui a incidência da crise. Já nas

estimações mensuradas pelo índice de facto, há evidências de que o aumento da abertura financeira aumenta a intensidade da crise financeira global de 2008-2009.

Ao analisar todas as estimações tanto com o índice KAOPEN quanto com o índice IFIGDP, é possível observar que os resultados do último se apresentam mais robustos. Nas estimações condicionadas pelo KAOPEN, o índice se apresentou significante apenas em 2 modelos (Tabela 2 e 3). Entre 8 modelos estimados para cada variável dependente, o índice IFIGDP apresentou significância estatística em 3 modelos (Tabela 4) e em todos os 8 modelos na Tabela 5. Sendo assim, sugere-se que o índice de facto possui mais robustez para explicar a incidência da crise financeira global de 2008-2009. Como mencionado, o sinal do coeficiente indica um impacto negativo da abertura financeira na incidência de crise.

Na literatura consultada, Frankel e Saravelos (2012) demonstram que em suas análises a abertura financeira não pareceu ser um indicador estatisticamente significante como uma medida de intensidade de crise, entretanto, os coeficientes encontrados sugerem que os países financeiramente mais abertos sofreram mais com a crise financeira de 2008-2009. Damasceno e Baptista (2016) também encontraram evidências de que para uma amostra de 127 países emergentes e em desenvolvimento, não há relação estatisticamente significativa entre abertura financeira e a probabilidade de ocorrência de crise.

Os resultados da análise estão relacionados aos resultados da literatura sobre crises financeiras em mercados emergentes. Quanto à abertura financeira, nesta análise, os resultados relacionados aos índices de integração financeira apresentaram explicações opostas. Quando mensurada pelo índice KAOPEN, as estimações sugerem que um o aumento da abertura financeira diminui a intensidade da crise financeira global de 2008-2009, ao se mensurar a estimação pelo índice IFIGDP há evidências de que o aumento da abertura financeira aumenta incidência da crise. No entanto, os resultados para o índice IFIGDP

parecem mais robustos, o que evidencia o aumento da abertura financeira como fator significativo de maior incidência da crise na amostra de economias emergentes selecionadas.

3.3 Considerações Finais

Nesse capítulo foram abordadas as literaturas empíricas acerca da relação entre a abertura financeira e a ocorrência da crise financeira global de 2008-2009. O capítulo também abordou os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa e os resultados da análise. Os resultados econométricos corroboraram com a literatura empírica utilizada no que diz respeito às variáveis explicativas utilizadas para explicar a incidência da crise, como: crescimento do crédito doméstico o setor privado, saldo da conta corrente do balanço de pagamentos, abertura comercial, PIB per capita e abertura financeira.

4 CONCLUSÃO

Esse trabalho realiza uma análise teórica e empírica acerca do papel da abertura financeira na incidência da crise financeira global de 2008-2009. Na literatura teórica foi apresentada as teorias de crises financeiras sob a ótica dos modelos de crise de primeira, segunda e terceira geração além da visão de Minsky sobre a ocorrência de crises. Os defensores dos modelos de primeira e segunda geração acreditam que as crises são resultados da má gestão da política macroeconômica; já nos modelos de terceira geração, a questão fundamental se baseia na fragilidade dos sistemas financeiros relacionando a ocorrência de crise financeira a problemas no setor bancário. Minsky, por sua vez, desenvolve a hipótese da instabilidade financeira alegando que mesmo na ausência de choques externos, internamente a economia capitalista é passível de desenvolver instabilidades dependendo da fragilidade de suas posições financeiras.

A revisão da literatura empírica possibilita identificar variáveis mais relevantes quanto à incidência da crise financeira global de 2008-2009. As principais variáveis apresentadas são: dívida externa de curto prazo, montante de reservas internacionais, crescimento do crédito doméstico, nível de alavancagem, câmbio, conta de transações correntes, abertura comercial e abertura financeira. Algumas dessas variáveis aparecem nessa análise como estatisticamente significantes para explicar o impacto na taxa média de crescimento do PIB real. Os resultados indicam que o crescimento do crédito doméstico ao setor privado, desequilíbrios na conta corrente, elevado PIB per capita e aumento da abertura comercial são medidas estatisticamente significantes de impacto no crescimento médio do PIB real no período anterior e durante a crise, sendo assim, estas variáveis contribuíram para maior incidência da crise nos países da amostra. Para abertura financeira, foram encontradas evidências de que esta, mensurada pelo índice de jure, seria benéfica aos países emergentes quanto à incidência e severidade da crise; quando mensurada pelo índice de facto foram encontradas evidências de que quanto maior a abertura financeira de um país, mais severa foi a incidência da crise. Em geral, os resultados da análise estão relacionados aos resultados da literatura sobre crises em mercados emergentes, que identifica vulnerabilidades externas (como grandes déficits de conta corrente), booms de crédito doméstico, abertura comercial e elevado PIB per capita como fatores que ajudam a explicar a probabilidade de uma crise. Quanto à abertura financeira, a literatura neoclássica, como evidenciado no trabalho de Rose e Spiegel (2011) manifesta que países mais integrados estão menos suscetíveis a sofrer efeitos mais severos de

crises financeiras. Nesta análise, os resultados relacionados aos índices de abertura financeira apresentaram ambas as explicações, ou seja, corrobora com a hipótese neoclássica, mas também apresenta evidências de que um aumento da abertura financeira aumenta a incidência da crise. No entanto, como os resultados das estimações para o índice IFIGDP parecem mais robustos, há evidências mais consistentes de que o aumento da abertura financeira é um fator significativo de aumento da incidência da crise na amostra de economias emergentes selecionadas.

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Quadro A.1 - Variáveis por País

Países PIBREAL1 PIBREAL2 DIVPUB CRESCRED CONTCOR RESINT PIBPERCAP ABCOM MANUF KAOPEN IFIGDP

Argentina -9,53 -0,90 61,00 21,70 2,10 0,16 9.830,68 40,95 17,05 -0,84 1,17 Bangladesh -1,17 5,40 41,90 23,06 0,70 0,07 666,40 39,94 15,93 -1,20 0,38 Brasil -1,93 2,50 63,80 46,97 0,00 0,13 10.244,27 25,29 14,15 0,38 0,93 Chile -4,63 1,00 3,90 8,96 4,30 0,10 12.285,05 76,41 11,96 2,36 1,90 China -3,33 9,40 29,00 -15,87 9,90 0,43 3.487,85 62,10 32,37 -1,20 4,29 Colômbia -3,85 2,25 32,70 51,28 -2,90 0,10 5.910,29 36,33 14,46 -0,14 0,82 República Tcheca -7,38 -1,05 27,50 59,03 -4,60 0,18 20.151,18 130,37 23,48 2,36 1,79 Egito -0,18 5,95 76,30 -15,55 1,70 0,23 2.333,47 65,08 15,37 2,36 1,19 Hungria -5,75 -2,85 65,30 46,22 -7,10 0,17 13.727,73 155,20 19,01 2,36 4,96 Índia -3,27 6,20 74,00 44,20 -1,30 0,22 1.130,09 46,16 17,28 -1,20 0,78 Indonésia 0,22 6,05 32,30 10,92 1,40 0,13 2.750,62 54,83 27,05 1,07 0,80 Israel -3,08 2,25 73,10 -11,18 3,10 0,16 29.614,08 81,96 15,15 2,36 2,21 Malásia -3,98 1,65 39,90 -14,62 14,90 0,52 8.635,57 77,24 25,46 -0,14 2,40 México -5,13 -2,10 37,20 39,27 -1,00 0,08 9.392,69 192,47 26,12 1,07 0,96 Nigéria 0,80 7,80 8,10 82,75 10,50 0,31 2.056,84 56,80 15,92 -0,62 0,55 Omã 3,02 7,15 6,90 -3,34 5,80 0,23 18.302,32 64,46 11,47 2,36 1,35 Paquistão -4,07 2,70 52,40 13,20 -4,50 0,09 1.041,29 96,47 10,75 -1,20 0,62 Peru -2,38 5,05 31,90 5,39 1,50 0,26 4.362,95 32,99 13,27 2,36 1,23 Filipinas -2,88 2,65 52,40 -12,90 5,40 0,20 1.971,28 55,69 16,52 0,01 1,23 Polônia -2,07 3,50 44,20 177,94 -6,40 0,15 11.322,05 86,62 22,74 0,01 1,34 Qatar -2,38 14,85 8,90 38,61 14,40 0,12 66.761,62 80,66 16,51 2,36 3,01 Romênia -5,20 1,20 12,30 147,25 -13,50 0,21 8.061,41 96,11 12,37 2,36 1,09 Rússia -9,00 -1,30 8,00 77,86 5,20 0,36 10.532,33 70,78 21,06 -0,14 1,68 África do Sul -4,58 0,85 27,10 38,20 -5,40 0,10 7.185,75 51,71 15,11 -1,20 1,81 Coréia do Sul -3,12 1,75 28,70 17,54 1,10 0,23 20.385,32 63,68 14,36 -0,14 1,23 Tailândia -4,37 0,50 36,00 12,99 5,90 0,32 4.744,33 129,87 30,75 -1,20 1,44 Turquia -8,98 -1,95 38,20 99,84 -5,50 0,11 10.638,06 47,29 16,82 -1,20 1,01 Ucrânia -12,75 -6,45 11,80 136,62 -3,50 0,22 3.220,01 95,21 20,32 -1,20 1,39 Emirados Árabes -6,97 -1,00 7,90 54,89 7,90 0,30 48.260,01 136,80 9,03 2,36 3,72 Venezuela -8,62 1,05 26,40 167,31 6,10 0,11 14.143,72 56,20 13,34 -1,14 1,19 Vietnã -1,65 5,55 40,90 77,04 -9,00 0,30 1.138,87 154,61 19,38 -1,20 1,18

Quadro A.2 - Lista de outliers excluídos das estimações

Modelo PIBREAL1 KAOPEN PIBREAL2 KAOPEN PIBREAL1 IFIGDP PIBREAL2 IFIGDP

Modelo 1

Omã Qatar Ucrânia China

Ucrânia Ucrânia Hungria

Qatar

Modelo 2

Nigéria Hungria Omã China

Omã Qatar Ucrânia Hungria

Ucrânia Ucrânia Qatar

Ucrânia

Modelo 3

Nigéria Polônia Omã China

Omã Qatar Polônia Hungria

Polônia Ucrânia Ucrânia Polônia

Ucrânia Qatar

Ucrânia

Modelo 4

Nigéria Qatar Nigéria China

Omã Ucrânia Omã Polônia

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