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2. D ESENVOLVIMENTO DE C ARREIRA

2.4. Estudo dos Padrões de Carreira

2.4.2. Resultados empíricos

O Estudo longitudinal dos Padrões de Carreira teve como objetivo verificar, entre outros aspectos, a validade de constructo (preditiva) das variáveis da maturidade de carreira. Para tal foi feita uma nova avaliação quando os sujeitos estavam com 25 anos. Foram analisados aspectos relacionados à carreira, sucesso e ajustamento ocupacional. Trinta e três itens foram utilizados, dos quais dezessete provaram estar conceitualmente e psicometricamente adequados. Estes dezessete itens foram submetidos à análise fatorial oblíqua. Cinco fatores foram extraídos: Status Alcançado, Satisfação no Trabalho, Avanço Ocupacional, Progresso na Carreira e Satisfação na Carreira. Os dois primeiros fatores são variáveis ocupacionais, comumente usadas em estudos sobre sucesso ocupacional, já os últimos três fatores são variáveis relacionadas à carreira. Os resultados da correlação múltipla entre estas medidas estão na Tabela 1.

Tabela 1 - Validade Preditiva (9o e 12o ano) do status e desenvolvimento aos 25 anos Variáveis Critério (25 anos)

Medidas Md. Status

Alcançado Satisfação no Trabalho Ocupacional Avanço Progresso na Carreira Satisfação na Carreira

Convencional

9o ano (14 anos) .44 .69 .43 .44 .58 .43

12o ano (17 anos) .54 .80 .47 .49 .65 .54

Maturidade de Carreira

9o ano (14 anos) .34 .37 .39 .32 .34 F baixo

12o ano (17 anos) .60 .67 .56 .41 .60 .62

Combinadas

9o ano (14 anos) .57 .73 .57 .55 .60 .43

12o ano (17 anos) .64 .80 .63 .54 .64 .68

Pode-se perceber que as medidas convencionais apresentaram melhores coeficientes que as medidas de maturidade de carreira, quando os sujeitos estavam no 9o ano. A diferença na validade preditiva pode ser conseqüência das limitações dos instrumentos (entrevistas) utilizados para medir a maturidade de carreira. Além disso, a consistência interna e a estabilidade das medidas convencionais, como, por exemplo, status socioeconômico dos pais e rendimento escolar, podem ter contribuído para a obtenção destes resultados (Super, 1985).

No entanto, apesar das medidas de maturidade de carreira se mostrarem fracas no 9o ano, é importante observar que no 12o ano elas se mostraram significativas para predizer as variáveis critério, tão bem quanto as medidas convencionais. A média para as medidas de maturidade de carreira no 12o ano foi de 0,60 e a média para as medidas convencionais foi de 0,54. A diferença não é significativa, favorecendo as medidas de maturidade de carreira (Super, 1985).

As conclusões obtidas com estes resultados indicam que o fator melhor explicado, tanto no 9o ano quanto no 12o ano, foi o status alcançado aos 25 anos, refletindo a importância da família e do rendimento escolar. Aspirações, auto-conceito e maturidade de carreira exercem uma influência que ainda precisa ser melhor compreendida. Mas o que se pôde observar é que o fator que menos explicava o desenvolvimento de carreira no 9o ano (satisfação na carreira) se mostrou o melhor fator, logo após o status alcançado, quando os sujeitos estavam no 12o ano. Isto indica que a maturidade (idade e experiência) faz a diferença quando se fala em desenvolvimento de carreira (Super, 1985).

O Estudo dos Padrões de Carreira continuou a acompanhar os sujeitos até estes estarem estabilizados em uma profissão, por volta dos 36 anos. Os sujeitos (80% dos participantes) passaram um dia inteiro respondendo a entrevistas, questionários e testes, quando tinham completado seus estudos há 18 anos. Nesta idade (36 anos), normalmente os homens já estão estabilizados em uma profissão e é o tempo de consolidarem e avançarem na

carreira escolhida, embora para muitos seja um período de frustração quando a carreira fica estagnada ou regride, gerando insatisfação e instabilidade. Esta nova etapa de avaliação teve por objetivo verificar se aqueles sujeitos que estavam estabilizados na carreira aos 25 anos ainda continuavam estabilizados e avançando na sua carreira (será que a porcentagem teria aumentado?). Os resultados indicaram que 70% dos sujeitos demonstraram estabilidade ocupacional aos 25 e aos 36 anos e 30% mudaram de área no decorrer do tempo (Super, 1985).

Outros pesquisadores (Walvoord, 1979; Phillips, 1979; 1982a; 1982b; Lin, 1981, citado por Super, 1985) continuaram a analisar os resultados encontrados no Estudo dos Padrões de Carreira. Nestes estudos, os pesquisadores procuraram verificar a influência das atitudes de exploração de carreira no desenvolvimento da carreira ao longo dos anos. Os resultados indicaram que a exploração de carreira (entre 15 e 25 anos) está positivamente relacionada à satisfação na carreira, satisfação ocupacional, status alcançado e progresso na carreira na idade adulta.

Lin (1981, citado por Super, 1985) verificou a relação entre os comportamentos de carreira e os resultados alcançados. Aos 25 anos, o status socioeconômico dos pais parecia explicar todas as relações encontradas. Aparentemente, os primeiros anos de experiência profissional é resultado do suporte oferecido pela família. O que ocorre depois dos 25 anos se resume na habilidade das pessoas em tentar crescer além do status oferecido pela família. Aos 36 anos, o pesquisador encontrou evidências de que fatores como planejamento de carreira, sucesso e satisfação na carreira variavam entre os sujeitos do estudo. O autor constatou que planejamento de carreira prediz sucesso e satisfação na carreira.

Os resultados demonstraram que, à medida que a idade e a experiência aumentam, alguns traços que pareciam não se correlacionar com MC nos primeiros anos do ensino médio passam a se correlacionar nos últimos anos e nos anos de graduação. Além disso, certas

dimensões que refletem a MC nos anos de graduação intensificam-se nos comportamentos de carreira dos adultos, confirmando a natureza desenvolvimentista deste modelo. (Thompson et al., 1984).

Super (1985) concluiu que as medidas de MC (planejamento, exploração e tomada de decisão) são melhores preditores de variáveis-critério como: status ocupacional alcançado, avanço ocupacional, satisfação ocupacional, progresso e satisfação na carreira, ao longo destes 25 anos de estudo que as medidas convencionais de inteligência, status econômico, sucesso escolar e auto-conceito.

O Estudo dos Padrões de Carreira permitiu, ainda, mostrar a utilidade das medidas da maturidade de carreira como variáveis independentes para avaliar o desenvolvimento de carreira subseqüente. Além disso, tais medidas também podem servir como variáveis dependentes na avaliação da eficácia de certos métodos de Orientação de Carreira (Balbinotti, 2003).

A construção de instrumentos de medida que avaliassem a maturidade de carreira foi a preocupação seguinte destes pesquisadores. A própria atuação prática exigia deles a construção de medidas válidas para a avaliação deste constructo. Neste sentido, os resultados do Estudo dos Padrões de Carreira permitiram a elaboração do Inventário de Desenvolvimento de Carreira (Career Development Inventory) – CDI (Thompson et al., 1984). As etapas para a construção e validação deste instrumento serão descritas a seguir.