• Nenhum resultado encontrado

Inicialmente foram calculadas as estatísticas descritivas dos fatores relativos aos subtestes da Bateria de Teste de Inteligência Emocional. Os resultados serão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2- Estatísticas descritivas dos subtestes da Bateria de Teste de Inteligência Emocional N Mínimo Máximo Média Desvio

Padrão α Percepção de emoções em si- PESI-

F1 194 11,2 56,9 45 8,7 0,84

Percepção de emoções em si-PESI-

F2 194 16,7 43,8 32,3 5,2 0,65

Percepção de emoções em outros-

PEOU 194 16,4 49,1 40,1 5,2 0,81

Compreensão de Emoções- CE 194 2 29 17,6 8,2 0,92 Regulação de Emoções- Estratégias

eficazes- RE-F1 194 0,0 10 4,5 2,7 0,75

Regulação de Emoções- Estratégias

ineficazes- RE-F2 194 0,0 10 5,4 2,5 0,72

O Fator PESI- F1 apresentou média 45 e DP=8,7, o Fator PESI-F2 média 32,3 e DP= 5,2 e o Fator PEOU média 40,1 e DP=5,2. Considerando os valores das médias dos fatores é possível notar que houve um alto índice de concordância entre os participantes, apesar disso todos os fatores apresentaram uma boa variabilidade. No subteste Compreensão de emoções, os sujeitos apresentaram média igual a 17,6 e DP= 8,2. O teste apresenta 30 questões e pode ser considerado fácil com vistas à média de acertos tão alta obtida pela população. Apesar disso, o teste apresenta boa variabilidade. Por fim o subteste Regulação de emoções que apresenta dois fatores, o primeiro fator, que contém as estratégias eficazes de regulação de emoções, obteve média igual a 4,5 e DP=2,7 e o segundo fator que apresenta as estratégias ineficazes obteve média igual a 5,4 e DP=2,5. Os fatores contem 10 itens, e apresentam uma boa variabilidade com sujeitos que obtiveram desde nenhum acerto até dez acertos. Os escores relativos ao subteste Percepção das Emoções representam a porcentagem média de pessoas com a qual a resposta do sujeito concordou, já os escores relativos aos subtestes de Regulação de Emoções

e Compreensão das Emoções foram calculados pela soma do número de respostas que coincidem com a consensual.

Por sua vez, os índices de consistência interna dos fatores, avaliados pelo Coeficiente Alfa de Cronbach, variaram de α= 0,65 a α =0,92. De acordo com os valores de referência para a interpretação dos coeficientes sugeridos por George e Mallery (2002), podem ser considerados inaceitáveis (α<0,50), ruins (entre 0,50 e 0,59), questionáveis (entre 0,60 e 0,69), aceitáveis (entre 0,70 e 0,79), bons (entre 0,80 e 0,89) e excelentes (α>0,90). Desse modo, os fatores dos subtestes da bateria apresentaram coeficientes de consistência interna que variam de excelentes, como o fator de Compreensão das Emoções (CE), bons, com os fatores de Percepção de emoções em outros e em si (PESI-F1) e aceitáveis, com os fatores de Regulação das emoções (RE-F1 e RE-F2) e permitem explicar as diferenças individuais por meio dos construtos avaliados. Apenas o fator de Percepção das emoções em si (PESI-F2) apresentou valor questionável com o coeficiente alfa de 0,65.

Para investigar a relação entre os subtestes da Bateria de Testes de Inteligência Emocional, foram calculados os Coeficientes de Correlação de Pearson entre os fatores das escalas. Os resultados serão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3- Coeficiente de Correlação de Pearson entre os fatores da Bateria de testes

PESI-F1 PESI-F2 PEOU CE RE-F1 RE-F2 Percepção de emoções em si- PESI-F1 1 ,361** ,499** -,232** -,028 ,155*

Percepção de emoções em si- PESI-F2 ,361** 1 ,447** -,323** ,059 ,073

Percepção de emoções em outros-

PEOU ,499

** ,447** 1 -,012 ,150* ,211**

Compreensão de Emoções- CE -,232** -,323** -,012 1 ,424** ,305**

Regulação de Emoções- Estratégias

eficazes- RE-F1 -,028 ,059 ,150

* ,424** 1 ,403**

Regulação de Emoções- Estratégias

ineficazes- RE-F2 ,155

* ,073 ,211** ,305** ,403** 1

**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). *. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

De modo geral os subtestes das habilidades em inteligência emocional apresentaram um padrão de correlações moderados entre si. Há dois grupos de fatores que demonstra um padrão de correlação mais consistente, o primeiro grupo de correlação ocorre entre os fatores de

Percepção de emoções em si (PESI-F1 e PESI-F2) e o fator de Percepção de emoções no outro (PEOU), que apresentou um padrão de correlações positivas, moderadas e significativas. O segundo grupo de correlações é formado pelos fatores de Compreensão das emoções (CE) e os dois fatores de regulação de emoções, estratégias eficazes (RE-F1) e estratégias ineficazes (RE- F2), que também apresentou um padrão de correlações positivas, significativas e moderadas. Porém, há correlações negativas e significativas entre CE e os fatores de percepção de emoções em si (PESI-F1 e PESI-F2), e não houve correlação significativa com o fator de Percepção de emoções em outros (PEOU). Também foram observadas correlações positivas, significativas de baixa magnitude entre os fatores de PEOU e os dois fatores de Regulação de emoções (RE- F1 e RE-F2), e também entre os fatores PESI-F1 e RE-F2. Não foram observadas correlações significativas entre o fator PESI-F2 e os dois fatores de regulação de emoções e entre o PESI- F1 e RE-F2.

Para verificar a estrutura interna da Bateria de Testes de Inteligência Emocional, foi realizada uma análise fatorial de segunda ordem. Inicialmente, verificou-se que tanto a Medida de Adequação da Amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO=0,621) quanto o Teste de Esfericidade de Bartlett (χ2=260,947) demonstraram haver condições suficientes para a realização da análise. Desse modo, procedeu-se a realização da análise fatorial com o método de extração Principal Axis Factoring, e rotação Oblimin. De acordo com o critério de Kaiser (1960), recomenda-se a retenção dos fatores com eigenvalues que apresentem valores acima de um. Foram obtidos dois fatores que explicam 47,8% da variância total, também confirmado na inspeção do Gráfico de Sedimentação (Cattell, 1966). Os resultados dessa análise, suas cargas fatoriais e alfa de Cronbach, encontram-se na Tabela 4.

Tabela 4- Cargas fatoriais e Coeficientes Alfa de Cronbach

Fator

1 2

Percepção de emoções em si- PESI-F1 0,708 Percepção de emoções em outros- PEOU 0,697 Percepção de emoções em si- PESI-F2 0,649

Regulação de Emoções-estratégias eficazes- RE-F1 0,728

Compreensão de Emoções- CE 0,632

Regulação de Emoções estratégias ineficazes RE-F2 0,598

Foram encontrados dois fatores compatíveis com as áreas experiencial e estratégica (MAYER; CARUSO ; SALOVEY, 2002). O Fator 1, que compreende os subteses da habilidade Percepção das Emoções, corresponde a área experiencial, e o Fator 2 compreende os subtestes das habilidades de Compreensão e Regulação das Emoções, e corresponde a área estratégica. Os fatores apresentaram índices de consistência interna considerado bom e excelente, respectivamente (GEORGE; MALLERY, 2002). Adicionalmente, também foi calculada a correlação entre as áreas experiencial e estratégica obtida pela análise fatorial, os resultados apontam que não há correlação significativa entre os fatores (ρ=0,27).

O segundo objetivo do estudo, foi buscar evidências de validade para o instrumento com base na relação com as variáveis externas. Para isso foram analisadas as correlações entre a Bateria de Testes de Inteligência Emocional e algumas medidas adotadas como critério, mais especificamente: inteligência, desempenho escolar (por meio dos indicadores de compreensão de texto e matemática), e comportamentos agressivos entre pares no contexto escolar. Inicialmente serão apresentadas as estatísticas descritivas dessas medidas, que se encontram na tabela a seguir.

Tabela 5- Estatísticas Descritivas das medidas critério

N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão α

Compreensão de Texto 77 0 24 8,84 5,04 0,80 Matemática 77 4 16 10,57 2,61 0,76 Raciocínio Abstrato 77 1 18 8,97 4,68 0,78 Comportamentos Agressivos 77 8 20 14,74 3,05 0,70 Reação Agressiva 77 8 22 16,22 3,35 0,81 Busca de Apoio do professor 77 4 12 9,06 1,92 0,83 Reação Internalizada 77 5 12 9,06 1,85 0,88

As medidas usadas como indicadoras do desempenho escolar foram as de compreensão de texto e de matemática. A Técnica de Cloze, utilizada para avaliação da compreensão de textos (indicador de desempenho em Língua Portuguesa), contava com 40 itens e apresentou um grau de dificuldade elevada para os sujeitos que obtiveram como pontuação máxima apenas

24 itens, e como média 8,84 itens. Já o desempenho em matemática, foi avaliado por 17 problemas envolvendo aritmética, dos quais os sujeitos acertaram uma média de 10,57 itens. A medida de inteligência tradicional foi avaliada pela prova de raciocínio abstrato da BPR-5 que continha 25 itens e apresentou média de acertos de 8,97, sendo considerada de alta dificuldade para os participantes. Em relação à medida de comportamentos agressivos que conta com quatro fatores associados (Comportamentos agressivos, Reação agressiva, Busca de apoio com o professor e Reação internalizada), observa-se um padrão de médias altas obtidas pelos participantes, representando uma baixa incidência dos comportamentos agressivos na amostra em questão, já que pontuações elevadas indicam baixa frequência de comportamentos agressivos.

De modo geral, todas as medidas critério apresentaram boa variabilidade e coeficientes de consistência interna, considerados aceitáveis e bons para efeitos de pesquisa (GEORGE; MALLERY, 2002). Então, para analisar as relações entre os fatores da Bateria de Testes de Inteligência Emocional com as variáveis externas, foram realizadas análises de correlação de Pearson entre os fatores da medida de IE e as medidas critério. Os resultados encontram-se na tabela a seguir.

Tabela 6- Coeficiente de Correlação de Pearson entre os fatores do teste e as medidas critério PESI-F1 PESI-F2 PEOU CE RE-F1 RE-F2 Compreensão de Texto -,085 -,015 -,155 ,539** ,228* ,067

Matemática -,013 ,044 ,035 ,352** -,084 -,121

Raciocínio Abstrato -,080 -,105 -,105 ,181 ,176 ,109 Comportamentos Agressivos -,217 ,001 -,174 ,068 -,047 ,028 Reação Agressiva -,174 -,124 -,161 -,047 -,158 -,104 Busca de Apoio do Professor -,243* -,142 -,276* ,139 ,030 -,116

Reação Internalizada -,030 ,093 ,032 ,008 -,162 -,083 **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).

*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).

Não foram observadas correlações significativas dos fatores de IE com a medida de raciocínio abstrato. Quando se observa as relações dos fatores de IE com as medidas relacionadas ao desempenho escolar (compreensão de texto e matemática) é possível notar que apenas dois dos cinco fatores de IE apresentaram correlação com as medidas critério. O fator Compreensão das Emoções (CE) apresentou correlações moderadas, positivas e significativas

com as medidas de compreensão de texto e matemática, e o fator Regulação de Emoções- estratégias eficazes (RE-F1) apresentou correlação baixa, positiva e significativa com a medida de desempenho em matemática.

Já com relação à medida de comportamentos agressivos, uma variável voltada a questões relacionais entre pares, é possível observar que apenas o fator Busca de apoio do professor obteve correlações com os fatores de percepção de emoções em si (PESI-F1- percepção de medo e nojo) e percepção de emoção em outros (PEOU). O padrão de correlação obtido demonstra que os fatores obtiveram correlações baixas, negativas e significativas.

9 DISCUSSÃO

O presente estudo teve como objetivo investigar as propriedades psicométricas da Bateria de Testes de Inteligência Emocional. Mais especificamente, buscaram-se evidências de validade baseadas na estrutura interna e na relação com variáveis externas. Na investigação da estrutura interna, de acordo com os critérios estabelecidos por MacCann e Roberts (2008), esperavam-se correlações positivas entre os fatores das habilidades em IE que justificassem o entendimento da bateria de testes como um instrumento para avaliação global da inteligência emocional. Portanto, eram esperados que os fatores apresentassem correlações positivas significativas e moderadas entre si. Ou, que fornecessem evidências da existência das áreas experiencial e estratégica, ao apresentar um padrão de correlação entre as habilidades que compõem essas áreas, conforme os achados de Mayer, Caruso e Salovey (2002), que identificaram a existência de duas áreas mais abrangentes, em que uma concentra as habilidades de percepção e facilitação do pensamento (área experiencial), e a outra compreensão e regulação de emoções (área estratégica), respectivamente.

Foi possível observar um padrão de correlações mais proeminentes entre os fatores de percepção de emoções (PESI-F1, PESI-F2 e PEOU), correspondente à área experiencial, já que este estudo seguiu as recomendações recentes de MacCann et al. (2014) e não contemplou a habilidade de usar a emoção para facilitar o pensamento. Também foram observadas correlações entre os fatores compreensão de emoções (CE) e os de regulação de emoções (RE- F1 e RE-F2), compatíveis com a proposta de uma área estratégica.

No entanto alguns resultados inesperados foram observados como, por exemplo, o padrão de correlações negativas entre os fatores de percepção de emoções em si (PESI-F1 e PESI-F2) e o fator de compreensão das emoções (CE), bem como a ausência de correlação entre os fatores de PEOU e CE, ou PESI-F1 e PESI-F2 e RE-F1. Esse padrão de correlações inexistentes ou negativas marcada pela presença dos fatores de percepção de emoções parece indicar que há mais coerência na parte estratégica do instrumento, evidenciada pelas correlações entre os fatores de Compreensão e Regulação das Emoções. O Teste de Percepção de Emoções parece estar se comportando de forma inesperada em relação à teoria e em relação aos resultados obtidos em outros estudos, como por exemplo, o estudo de Rodrigues e Bueno (2016), no qual se observou um padrão de correlações positivas, moderadas e significativas entre todos os fatores da Bateria de Testes de Inteligência Emocional. Considerando que a amostra do referido estudo também integra a amostra usada nesta análise, faz-se necessário a realização de estudos

futuros mais aprofundados para identificar se os demais participantes do estudo, 96 estudantes de uma escola estadual, estão produzindo algum viés amostral.

Para verificar o padrão de correlações mais proeminentes que indicavam a existência das áreas experiencial e estratégica, foi empregada uma análise fatorial, que revelou uma estrutura com dois fatores compatíveis com as áreas encontradas por Mayer, Caruso e Salovey (2002). A estrutura com dois fatores também foi encontrada na versão brasileira do MSCEIT (Cobêro, 2004), o que indica que o modelo que compreende as áreas experiencial e estratégica parece ser adequado para a população brasileira. A solução bifatorial também foi encontrada na versão espanhola (SANCHEZ-GARCIA; FERNÁNDEZ-BERROCAL, 2016) e romena do MSCEIT (ILIESCU ET AL., 2013).

O resultado da análise da correlação entre os dois os fatores das áreas experiencial e estratégica, apontou a existência de correlação não significativa entre os eles (ρ=0,27). Esse resultado é inesperado, pois não apoia a suposição de um conjunto de habilidades relacionado com o processamento da informação emocional, como indicado por MacCann e Roberts (2008). Esse resultado apenas reflete a ausência de correlações ou correlações negativas, entre os fatores de Percepção de Emoções em si e no outro com os fatores de Regulação de Emoções e Compreensão de Emoções. Os resultados revelaram apenas correlações significativas de baixa magnitude variando de 0,15 a 0,21 entre PESI-F1 e RE-F2 e PEOU e RE-F1 e RE-F2, reiterando que o Teste de Percepção de Emoções parece estar se comportando de forma inesperada e diferente dos resultados obtidos anteriormente em outros estudos (e.g. MAYER, CARUSO ; SALOVEY, 1999, MAYER ET AL., 2003, RODRIGUES ; BUENO, 2016).

Uma análise ainda em andamento dos dados dessa escala sugere que as imagens usadas como estímulos são muito complexas, levando os respondentes a usarem diferentes fontes de informação para darem suas respostas. Por exemplo, uma imagem de uma arma apontada para o observador externo foi empregada para gerar uma sensação negativa de medo. No entanto, alguns respondentes identificaram mais tristeza do que medo, provavelmente porque o plano de fundo, quem segura a arma é uma criança, ainda que ela apareça um tanto desfocada, em contraste com a nitidez com a arma (Bueno ; Correia ,manuscrito em preparação). Nesse sentido, é possível que o próprio direcionamento da percepção (se para o foco ou para o fundo), pode estar sendo determinado ou influenciado pela personalidade, levando pessoas ansiosas, por exemplo, a perceberem a arma, e as depressivas a perceberem a tristeza. Se isso estiver ocorrendo, então o teste não estaria captando bem a percepção de emoções, mas o quanto os traços de personalidade podem distorcer a percepção de emoções. Esse mecanismo foi chamado

de dinacepção (CATTELL, 1967) e empregado no cômputo de escores em outros instrumentos para avaliação da percepção de emoções (MIGUEL ET AL., 2010; MIGUEL ; PESSOTTO, 2016). Diante disso, sugere-se a realização de novos estudos para se identificar o grau de influência de traços de personalidade de habilidades cognitivas (percepção de emoções) na realização das tarefas propostas no Teste de Percepção de Emoções da Bateria de Inteligência Emocional.

O segundo objetivo desse estudo foi analisar as relações com as variáveis externas, com as quais eram esperadas um padrão de correlações positivas, moderadas e significativas com as medidas de raciocínio abstrato, compreensão de texto e matemática. E também um padrão de correlações negativas, moderadas e significativas com a medida de agressividade e seus respectivos fatores. No entanto, não foram observadas correlações significativas dos fatores de IE com a medida de raciocínio abstrato. Apenas o fator Compreensão de Emoções apresentou correlações moderadas, positivas e significativas com as medidas de compreensão de texto e matemática, e o fator Regulação de Emoções-estratégias eficazes (RE-F1) apresentou correlação baixa, positiva e significativa com a medida de desempenho em matemática.

Considerando as indicações de MacCann e Roberts (2008) de que um bom instrumento de avaliação da IE deve apresentar correlações positivas com medidas tradicionais de inteligência, tal como encontrado com estudos realizados com o MSCEIT. Por exemplo, Curci et al., (2013), que obteve correlações de maior magnitude com as medidas de inteligência do que com medidas relacionadas a personalidade e no estudo realizado por Dimitrijević e Marjanović (2010), no qual também foram encontradas correlações positivas moderadas e significativas com medidas de inteligência geral. O resultado obtido com a Bateria de Testes de Inteligência Emocional foi inesperado e, portanto alguns fatos devem ser levados em consideração.

Inicialmente vale ressaltar que o instrumento que foi utilizado é um indicador de raciocínio indutivo (Gf), e, portanto é necessário investigar se outros tipos de inteligência apresentariam o padrão de correlações esperadas. Um fato importante a ser considerado é que as medidas de percepção de emoções parecem estar mais relacionadas com o processamento visual (Gv), que diz respeito à capacidade de gerar, perceber, armazenar, analisar, e transformar imagens visuais, ou seja, envolve os processos cognitivos específicos de processamento mental de imagens (Primi, 2003). Já as medidas de compreensão e regulação de emoções parecem envolver a inteligência cristalizada (Gc), que diz respeito à capacidade de raciocínio adquirida pelo investimento em experiências de aprendizagem, inicialmente baseada na linguagem. A

inteligência cristalizada também está associada ao conhecimento declarativo (fatos, ideias, conceitos) e ao conhecimento de procedimentos (raciocinar através procedimentos aprendidos previamente para transformar o conhecimento) (PRIMI, 2003).

As tarefas apresentadas no subtestes de Percepção das emoções demandam que o sujeito detecte “pistas” sobre as emoções nas imagens apresentadas, logo envolve diretamente o processamento cognitivo especifico para perceber e analisar imagens visuais. Já as tarefas relacionadas à compreensão das emoções, que envolve questões-problemas, e a regulação das emoções, que faz uso de vinhetas para o julgamento situacional, envolvem mais a capacidade de leitura e compreensão textual de problemas envolvendo emoções. Para tanto lança mão das experiências de aprendizagens anteriores, e envolve principalmente a capacidade de raciocinar por meio dos procedimentos aprendidos anteriormente. Nesse sentido, seria interessante que em estudos futuros fossem investigadas a relação entre as áreas experiencial e estratégica com variáveis relacionadas ao processamento visual e a inteligência cristalizada, para verificação dessa hipótese.

Outro ponto a ser considerado é a amostra que foi relativamente pequena e composta por adolescentes. Nessa faixa etária ocorrem muitas mudanças físicas (relacionadas à puberdade) e psicológicas, que costumam diminuir o rendimento escolar (e.g. LEMOS; ALMEIDA; GUISANDE; PRIMI, 2008). Como os instrumentos foram aplicados coletivamente, em situação de sala de aula, é possível que esses resultados sejam resultantes de um viés amostral. Nesse sentido, sugere-se que em pesquisas futuras se incluam uma quantidade maior de participantes, que devem responder aos testes em grupos menores, para um maior controle do comportamento durante a testagem. Além disso, os subtestes de inteligência emocional que compõem a bateria foram construídos inicialmente para adultos, e estão sendo testados pela primeira vez na população adolescente. Desse modo, deve-se considerar que talvez os testes não sejam adequados para essa faixa etária, o MSCEIT, por exemplo, conta com uma versão exclusiva para jovens, o Mayer-Salovey-Caruso Emotional Intelligence Test – Youth Version (MSCEIT-YV) (MAYER; SALOVEY; CARUSO, 2005) construído para faixa etária de 10 a 17 anos.

Ponderadas essas questões existe a possibilidade da Bateria de Testes de Inteligência Emocional estar medindo algo que não se correlaciona com inteligência. No entanto se faz necessário realizar estudos mais aprofundados sobre essa questão, com vistas a compreender se esses resultados são de fato relativos ao instrumento. Nesse sentido, podem ser sugeridas novas

pesquisas que investiguem as relações com outros tipos de construtos, como personalidade, por exemplo.

As correlações encontradas entre o fator Compreensão de Emoções e as medidas de compreensão de texto (ρ=0,539) e matemática (ρ=0,352), ocorreram conforme o esperado, e se assemelham aos resultados encontrados na literatura. Billings et al. (2014), por exemplo, em um estudo com pré-adolescentes australianos, observaram correlações positivas e significativas entre as competências em aritmética e alfabetização com a habilidade de compreender a analisar as emoções. Mestre et al. (2006), também obtiveram resultados semelhantes, quando mesmo ao controlar traços de inteligência e personalidade, a correlação entre a habilidade de compreender e analisar as emoções e desempenho escolar permaneceu significativa e positiva. Já Peters,

Documentos relacionados