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5. RESULTADOS

5.1 RESULTADOS ETAPAS 1 E 2

Durante a coleta de dados com técnicos da CAIXA (Porto Alegre e Vale do Sinos) e Prefeitura de São Leopoldo/RS, foi confirmada a informalidade do processo de retroalimentação do conhecimento adquirido sobre a produção habitacional do PMCMV. Segundo as percepções dos técnicos, essa retroalimentação é feita parcialmente, quando são realizadas as análises de projetos pela CAIXA (CAIXA, 2014a), ou quando é feito o cadastramento para seleção de beneficiários pelas Prefeituras para empreendimentos futuros.

Além disso, durante essas entrevistas, ficou ainda mais evidente a frequência de problemas externos à UH, em empreendimentos construídos através do PMCMV. Segundo a percepção dos técnicos, grande parte dos problemas incidentes em EHIS construídos pelo MCMV estão relacionados às áreas comuns desses empreendimentos.

Para os técnicos da Prefeitura, uma característica problemática recorrente em EHIS construídos através do programa é a predominância da tipologia multifamiliar, decorrente, principalmente, do fluxograma geral previsto pelo programa (ver Figura 5), onde a iniciativa de implantação e de projeto do empreendimento ocorre principalmente por iniciativas advindas de interesses de mercado e não de interesses do Ente Público (Administração Municipal). Somam-se a isso as dificuldades de disponibilidade e custo da terra urbana.

Os itens elencados como problemáticos para o funcionamento das áreas comuns dos EHIS do programa foram, em grande parte, mencionados pelos representantes de ambas as instituições. Esses dados puderam, então, ser agrupados em 3 categorias, conforme é possível observar no diagrama de dados coletados com técnicos (Figura 29).

No referido diagrama, o campo QUALIDADE TÉCNICA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO incluiu itens relacionados ao projeto e execução dos empreendimentos. Entre eles, há reclamações de pouca área para varal e estacionamento. É percebida também a falta de áreas de esporte e lazer, além da existência de áreas de lazer sem mobiliário ou vegetação e de difícil acesso. Nessa etapa da pesquisa, obtiveram-se já exemplos relacionados aos EHIS onde seriam realizadas, posteriormente, as coletas de dados, como a inacessibilidade de áreas de lazer do EHIS 1, acarretando sua pouca utilização e consequente insegurança.

Laura Marques de Marques – Dissertação de Mestrado – Porto Alegre – PROPUR/UFRGS/2015

Figura 29 - Diagrama dados coletados técnicos

Questões relacionadas à GESTÃO emergiram em todos os EHIS inseridos na delimitação da pesquisa, cujos relatos iniciavam sempre pela dificuldade de adaptação de um público de baixa renda (em muitos dos casos, oriundos de unidades unifamiliares, em situações precárias e de risco) à vida em condomínio, em tipologia multifamiliar, e o que decorre disso. Há desrespeito às regras condominiais, problemas de convivência entre moradores, e entre moradores e síndicos, dificuldade em estabelecer critérios de uso dos bens comuns. Os técnicos mencionaram ainda: violência, roubos, uso de drogas, mau relacionamento entre vizinhos, dificuldade de permanência de pessoa no cargo de síndico e obstáculos na criação de CNPJ para os condomínios.

São diversos os problemas relacionados à segurança dos espaços comuns nos EHIS considerados na delimitação do estudo. Segundo os técnicos, há relatos de sentimento de insegurança por parte de usuários, causado, principalmente por um cenário com tráfico de drogas, violência, roubos e crime organizado. Em um dos empreendimentos, o EHIS 7, mencionado já na pesquisa como situação extrema de falta de segurança, o salão de festas foi gradeado e destinado à venda de artigos ilícitos relacionados ao crime organizado. Há, também, casos de disputas de lideranças, que em mais de um dos EHIS geraram crimes e atentados à vida, segundo relatos de moradores aos técnicos entrevistados.

Minha Casa Minha Vida: análise da percepção de valor sobre as áreas comuns

Tais problemas, de instituição dos condomínios, também são relatados em pesquisas realizadas em outros EHIS, como a não criação de CNPJ (MEDVEDOVSKI, 1998), conflitos entre moradores e síndico e a inadimplência das taxas condominiais, com consequente acúmulo de dívidas (ROLNIK, 2014). Havia (durante as coletas das etapas iniciais da pesquisa) uma estimativa pela Prefeitura de São Leopoldo de inadimplência de cerca de 80% do pagamento de taxas condominiais, com dívidas tendo de ser pagas pelos condôminos (não inadimplentes), deixando a taxa ainda mais alta.

Em MANUTENÇÃO E USO, foram agrupados tanto os constructos relativos ao mau uso dos espaços comuns, quanto os constructos relacionados às dificuldades dos moradores em realizar a manutenção dessas áreas. Com relação ao mau uso, observa-se a ocupação indevida de espaços comuns, depredação de ambientes e equipamentos e pouco cuidado com a limpeza. As dificuldades em realizar a manutenção relacionam-se com problemas de reparos em passeios e edificações, troca de lâmpadas, etc. As questões mencionadas interligam-se, muitas vezes, quando o reparo de um equipamento estragado, motivado pelo mau uso dos moradores, torna-se impossível, pela falta de verbas disponíveis, considerando as dívidas condominiais. Grande parte das ocorrências relatadas pelos moradores a agentes da CAIXA devia-se a depredações ou utilização inadequada dos espaços e equipamentos. (CAIXA, 2014a).

Após a análise e formatação de dados obtidos junto às duas instituições, CAIXA e Prefeitura de São Leopoldo, houve a comparação dessas informações com resultados da bibliografia investigada. Considerando categorizações presentes na literatura (entre elas, BONATTO, 2010), e comparação com categorizações relativas a áreas comuns de EHIS e coleta de dados realizada com técnicos envolvidos, optou-se por utilizar a categorização de constructos presente no Quadro 16, considerando o item Manutenção e Uso como integrante da Administração Condominial. O Quadro 16 abriga a evolução da categorização de constructos relacionados aos espaços comuns.

CA TE G ORIZA ÇÃ O DE CONST RU C TO S QUALIDADE TÉCNICA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO

ADEQUAÇÃO DO ESPAÇO AO USO E QUALIDADE CONSTRUTIVA CONFORTO AMBIENTAL

SEGURANÇA: Sentimento de segurança APARÊNCIA: Qualidade estética dos espaços GESTÃO DO USO

EDUCAÇÃO E CONVIVÊNCIA CONDOMINIAL ADMINISTRAÇÃO CONDOMINIAL

Laura Marques de Marques – Dissertação de Mestrado – Porto Alegre – PROPUR/UFRGS/2015

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