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SEÇÃO 4 – ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Resultados Obtidos

Relativamente aos problemas específicos de pesquisa “i” e “ii” do presente trabalho (i.e., à investigação acerca dos critérios fáticos e jurídicos utilizados pelos magistrados para enquadrarem o voto do credor como abusivo) os dados permitem-nos aferir os seguintes resultados:

Quanto aos fundamentos legais invocados nas decisões judiciais analisadas, em um total de 20 decisões e em um já referido cenário de ausência de definição expressa do voto abusivo na LFR, o Código Civil (artigo 187) fora invocado para parametrizar a abusividade do voto como abusivo em (8) oito decisões judiciais. Em 1 (uma) decisão judicial o relator utilizou, como parâmetro legal, as previsões dos artigos 104, 166 e 171 do mesmo código, conjuntamente. Já a utilização da definição de voto abusivo contida na LSA (art. 115) foi encontrada em 2 (duas) decisões judiciais. Em 6 (seis) decisões judiciais os Enunciados n. 44 e 45 do CJF foram invocados. E, por fim, em 16 (dezesseis) decisões judiciais o voto valeu-se do princípio da preservação da empresa para parametrizar a abusividade do voto. Em cada caso analisado, por vezes, mais de um critério era invocado, razão pela qual o número de fundamentos não totaliza o número total de decisões analisadas (20).

Neste sentido, podemos definir os fundamentos jurídicos invocados para definição da abusividade, em critério decrescente de utilização como (i) o princípio da preservação da empresa; (ii) dispositivos do Código Civil (especificamente quanto ao artigo 187, dado que em apenas uma decisão judicial foram invocados os seus artigos 104, 166 e 171); (iii) os enunciados 44 e 45 do CJF e (iv) o artigo 115 da LSA.

De relevo é a constatação de que em 16 (dezesseis) decisões judiciais o relator invocara o princípio da preservação da empresa, contido no artigo 47 da LFR, para parametrizar a abusividade do voto do credor.

Destas decisões (em que se utilizou o princípio da preservação da empresa), em 13 (treze) o voto fora considerado abusivo.

No tocante aos fundamentos fáticos envolvidos na consideração acerca da abusividade dos votos, do total de decisões judiciais analisadas, o resultado pode ser sintetizado da seguinte forma: em 13 (treze) decisões judiciais encontramos a posição minoritária dos credores detentores de crédito com volume expressivo que votaram pela rejeição do PRJ como fundamento para a consideração do voto proferido como abusivo (abuso da minoria). Dentro deste grupo, incluímos os casos em que as decisões mencionam: (i) a existência de credor único na classe discordante do PRJ; (ii) a necessidade de prevalecimento da maioria quantitativa e não qualitativa dos credores na única classe votante; (iii) a rejeição por pouco número de instituições financeira em oposição à quantidade total de credores; (iv) a rejeição de número pouco expressivo de credores (não necessariamente instituições financeiras); (v) o expressivo volume financeiro do credor que rejeitou o PRJ e (vi) a falta de justificativa do voto dada a aceitação do PRJ pelos demais credores da mesma classe votante.

Em 1 (uma) decisão judicial encontramos o conflito de interesses por questões concorrenciais (casos em que o credor que rejeitou o PRJ apresentado é concorrente da sociedade devedora) como parâmetro fático da discussão acerca da abusividade do voto.

Em 1 (uma) decisão judicial encontramos o conflito de interesses por questões de coligação societária entre os credores discordantes do PRJ como parâmetro para a discussão em torno da abusividade do voto.

Em 1 (uma) decisão judicial encontramos as motivações supostamente vingativas do credor que rejeitou o PRJ (presunção de motivação vingativa) como indicador da abusividade ou não do voto proferido.

Em 2 (duas) decisões judiciais encontramos os fundamentos econômicos do voto como indicador de sua (não) abusividade.

Em 2 (duas) decisões judiciais encontramos o tratamento privilegiado conferido pelo PRJ aos credores que votaram pela aprovação do plano como fundamento fático em torno da discussão pela abusividade ou não do voto.

Neste sentido, tomando como base os resultados obtidos, podemos apontar os fundamentos fáticos para caracterização do voto abusivo, no âmbito da AGC, em ordem decrescente de número de resultados como (i) abuso da minoria (grande maioria dos casos); (ii) fundamentos econômicos do voto; (iii) tratamento privilegiado conferido pelo PRJ aos credores que votaram pela aprovação do plano e, em menor número: (iv) conflito de interesses por questões concorrenciais; (v) conflito de interesses por questões de coligação societária (conluio) e (vi) a motivação supostamente vingativa do credor discordante do PRJ apresentado pela devedora.

Relativamente à flexibilização dos requisitos do cram-down, constatamos que do total de decisões judiciais analisadas, em 13 (treze) decisões houvera a flexibilização dos requisitos constantes do seu parágrafo primeiro.

Do total deste resultado mencionado, em todas as decisões ocorreu a constatação da abusividade do voto e a consequente homologação do PRJ.

Do universo total de decisões analisadas, em 13 (treze) fora constatada a abusividade dos votos e em 7 (sete) decisões o voto proferido em discussão não fora tido como abusivo.

Dos 13 (treze) casos em que o voto do credor fora tido como abusivo, em 12 (doze) casos o fundamento fático repousa no abuso da minoria detentora de crédito com valor expressivo e em 1 (um) caso o fundamento fático repousa nos fundamentos econômicos do voto pela rejeição ao PRJ.

Relativamente à classe em que se discutiu a existência ou não da abusividade do voto proferido pelo credor, os resultados demonstram que em 7 (sete) casos o credor pertencia à classe com garantia real e em 13 (treze) casos o credor pertencia à classe quirografária. Não foram constatadas discussões envolvendo a abusividade de voto na classe dos credores trabalhistas e por acidente de trabalho, tampouco na classe que inclui os microempresários e empresas de pequeno porte.

Dos 13 (treze) casos em que se constatou abusividade dos votos, em 5 (cinco) casos o credor cujo voto era objeto de discussão pertencia à classe com garantia real e em 8 (oito) casos o credor pertencia à classe quirografária.

Dos 5 (cinco) casos em que o credor pertencente à classe com garantia real teve seu voto declarado como abusivo, em 4 (quatro) casos a abusividade decorreu da posição minoritária dos credores detentores de crédito com valor expressivo (abuso da minoria) e em 1 (um) caso a abusividade decorreu dos fundamentos econômicos do voto.

Do total de 20 (vinte) casos examinados, em 16 (dezesseis) casos a discussão em torno da abusividade do voto proferido pelo credor ocasionou a homologação do PRJ pelos juízes, em 1 (um) caso a homologação restou ainda pendente de homologação pela AGC, em 1 (um) caso a homologação do PRJ ficou pendente de julgamento de outro agravo e em somente 2 (dois) casos o PRJ não fora homologado.

Dos 16 (dezesseis) casos em que o PRJ fora homologado, em 13 (treze) a homologação se dera com a consideração do voto como abusivo e em 3 (três) casos o PRJ foi homologado e o voto não fora reputado abusivo.

Destes 13 (treze) casos em que o PRJ fora homologado e o voto foi considerado abusivo, em todos eles a homologação se dera pela flexibilização dos quóruns do parágrafo primeiro do artigo 58 da LFR.

Por fim, quanto ao terceiro quadro sinóptico:

Dos 13 (treze) casos em que se constatou a abusividade do voto, em 8 (oito) o juiz não examinou os fundamentos do voto do credor ou elementos concretos para a aferição da abusividade e em 7 (sete) o juiz, ao invocar o princípio da preservação da empresa como

parâmetro jurídico para aferição da abusividade do voto do credor, fez alusão à viabilidade econômica da empresa ou do PRJ apresentado.

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