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Todas as análises estatísticas foram desenvolvidas com recurso ao IBM SPSS Statistics 25. Em primeiro lugar foi feita uma análise preliminar dos dados, e a seguir foi criada a base de dados, nomeadamente das variáveis próprias aos questionários do estudo.

5.2 Escala Representação do familiar psicótico a cargo 5.2.1 Análise de consistência interna.

A análise de consistência interna mostra que este instrumento tem uma consistência interna fraca (α=0.458), sendo que todos os itens estão a contribuir para este resultado, à exceção do item 1, 2 e 3. A escala tem uma média de 18 e um desvio padrão de 5 (M=17.70; DP=4.92).

5.2.2 Análise fatorial.

Foi feita uma analise fatorial onde foram extraídos três fatores que expressam a estrutura convergente com a construção do instrumento

O método de Análise Fatorial é adequado para o tratamento dos dados. O valor da medida KMO (Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem) de 0.654 mostra uma boa adequação. O teste de esfericidade de Bartlett mostrou uma boa adequação do método de Analise Fatorial para o tratamento dos dados (p < 0.01).

Segundo o critério de Kaiser, foram extraídas as componentes com valores próprios superiores à unidade, pelo que foram extraídas três componentes que combinam os diferentes itens avaliados pelos indivíduos e que explicam cerca de 64% da variância global.

Estes três componentes remetem para três dimensões tematicamente distintas: representação positiva, de pena e negativa do familiar psicótico a cargo (α=0.332, α=0.753 e α=0.733, respetivamente). Portanto, a primeira dimensão apresenta um α não aceitável, por outro lado, a segunda e a terceira dimensão mostram um α razoável.

Além disso, podemos verificar que o item 2 da escala de representações do familiar a cargo satura simultaneamente nas representações de pena e representações positivas.

A percentagem de variância explicada pelos fatores comuns é maior que 50% em todos os casos, sendo o item 3 o que está menos relacionado com as outras variáveis. As variáveis apresentam um bom poder de explicação.

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5.3 Comparação amostra italiana e portuguesa 5.3.1 Escala de sobrecarga de Zarit.

Na escala de sobrecarga psíquica de Zarit, não há diferenças significativas entre a média da amostra portuguesa (M = 2.09) e da amostra italiana (M = 1.75), t(69) = -1.662, p = 0.101.

5.3.2 Escala de Bem-Estar Psicológico.

Na escala de bem-estar psicológico, há diferenças significativas entre a média da amostra portuguesa (M = 4.56) e da amostra italiana (M = 4.15), t(69) = -2,66, p = 0.01, no sentido em que os portugueses mostram níveis de bem-estar psicológico superiores aos italianos.

5.3.3 Escala de representação que o cuidador tem do paciente psicótico.

Na escala de representação que o cuidador tem do paciente psicótico, não há diferenças significativas entre a média da amostra portuguesa (M = 1.86) e da amostra italiana (M = 2.06), t(69) = 1.625, p = 0.109. Portanto, os cuidadores portugueses e italianos mostram representações semelhantes.

Quando analisados os fatores da escala separadamente, verificam-se diferenças significativas entre a amostra italiana e a amostra portuguesa unicamente na dimensão de representações negativas,

t(57,458) = 2,595, p = 0,012 (MItália = 1,44; MPortugal = 0,86).

As representações positivas (t(69) = 0,857, p = 0,395) e de pena (t(69) = -0,442, p = 0,66) não mostram diferenças significativas.

5.4 Análise das correlações

Uma vez que não apareceram diferenças significativas entre as duas amostras, comparando tudo de forma global, verifica-se uma correlação negativa entre a escala de sobrecarga e a escala de bem- estar (r = -0.262, p = 0.027), pelo que se confirmou a H1. Ou seja, à medida que o nível de sobrecarga aumenta o nível de bem-estar diminui. Além disso, verifica-se uma correlação positiva entre a escala de sobrecarga e as dimensões 2 (r = 0.364, p = 0.002) e 3 (r = 0.391, p = 0.001) da escala de representações, pelo que quanto maior o valor de representações de pena e maior o valor de representações negativas, mais elevada é a sobrecarga sentida pelo cuidador.

Verifica-se ainda uma correlação negativa entre a escala de bem-estar e a dimensão 3 da escala de representações (r = -0.477, p < 0.001), pelo que à medida que as representações negativas do familiar a cargo diminuem o nível de bem-estar aumenta.

Além disso, a dimensão 1 está negativamente correlacionada com a dimensão 3 (r = -0.249, p = 0.036), ou seja, quanto maior o nível de representações positivas o cuidador tem do familiar a cargo

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menor o de representações negativas, o que mostra que o instrumento esta a medir de facto duas dimensões opostas.

5.5 Análise das regressões

Procedemos a análise utilizando regressões para determinar o grau em que a escala de representações do cuidar de um familiar psicótico a cargo influencia o bem-estar psicológico e a sobrecarga psíquica.

Os resultados da análise mostram que a escala de representações não é um preditor significativo do bem-estar (F= 1.48, p= 0.13), nem da sobrecarga psíquica (F= 0.58, p= 0.91). Nesse sentido, decidiu-se usar os fatores da escala de representações separados.

A análise de regressão linear, utilizando como preditores a duração do papel de cuidador, a duração da doença e os três fatores da escala de representações (representações positivas, de pena e negativas) mostrou que apenas o segundo (t = 2.61, p = 0.011) e terceiro (t = 2.98, p = 0.004) fatores da escala de representações são preditores significativos da sobrecarga. Confirmou-se, assim, a H2 e a H4. Ou seja, quanto mais negativa for a representação do familiar a cargo maior é o desgaste do cuidador e as representações de pena produzem maior variância no nível de desgaste sentido pelo cuidador. Especificamente, a representação negativa do familiar a cargo explica o aumento de 0,283 da variância da escala de sobrecarga, e o fator representação de pena explica o aumento de 0,226 da variância da sobrecarga psíquica do cuidador. Ainda, observou-se que o efeito da variável duração do papel de cuidador na sobrecarga é parcialmente significativo (t = 1.776, p = 0.08), pelo que quantos mais anos no papel de cuidador, maior a sobrecarga psíquica, sendo que esta aumenta 0.021 por ano.

Quanto à escala de bem-estar, apenas o terceiro fator da escala de representações, ou seja, a representação negativa do familiar a cargo, é um preditor significativo do bem-estar (t = -3,96, p < 0,001), confirmando assim a H3. À medida que a representação negativa do familiar a cargo aumenta, o bem-estar do cuidador diminui 0,302. A H5 não se confirmou.

Portanto, tanto em relação ao desgaste no cuidador como ao seu bem-estar, nem a duração da doença do familiar a cargo nem o primeiro fator da escala de representações (representações positivas) são preditores significativos.

Num segundo passo, em que se incluiu a variável de interação entre a duração do papel de cuidador e a duração da doença do familiar a cargo, apenas o segundo (t = 2.78, p = 0.007) e terceiro (t = 3.02, p = 0.004) fatores da escala de representações são significativos a predizer a sobrecarga psíquica do cuidador.

Ainda, aplicando o mesmo passo numa regressão com a variável dependente bem-estar no cuidador, os resultados mostraram que apenas o terceiro fator das representações é um preditor

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significativo do bem-estar, pelo que a adição da variável de interação entre a duração do papel de cuidador e a duração da doença não foi significativa e não fez diferença nos resultados.

Por fim, decidiu-se fazer uma análise de regressão suplementar com a variável dependente bem- estar e os preditores desgaste psíquico do cuidador, duração da doença do familiar e duração do papel de cuidador. Esta análise mostrou que o desgaste sentido pelo cuidador é um preditor significativo do seu bem-estar (t = -2.29, p = 0.025), pelo que quanto maior o desgaste psíquico menor o bem-estar do cuidador, sendo que este diminui 0,215 por cada ponto que o desgaste aumenta.

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6. Discussão dos resultados .

A escala de representação que o cuidador tem do paciente psicótico, embora mostre uma estrutura fatorial e um poder explicativo interessante, precisa de aperfeiçoamento no nível da consistência interna do primeiro fator, ao contrario do segundo e o terceiro que tem um bom poder explicativo.

A análise Fatorial da escala de representação que o cuidador tem do paciente psicótico mostrou que o instrumento divide-se em três componentes que remetem para as três dimensões tematicamente distintas: representação positiva, de pena e negativa do familiar psicótico a cargo. Novamente, a dimensão de representações positivas (itens 1, 2 e 3) mostrou um Alfa que precisa de aperfeiçoamento, pelo que em estudos futuros dever-se-ia criar novos itens para melhorar a qualidade do primeiro fator. Podemos verificar que o item 2 (“Ele/ela merece o meu amor”) da escala satura simultaneamente nas representações de pena e representações positivas. Assim, futuramente deveríamos olhar ao significado semântico e à construção deste item de forma a melhorá-lo, no sentido de remeter para apenas uma das dimensões de representações. Por exemplo, para as representações positivas, em vez de usar “Ele/ela merece o meu amor”, optar por “Ele/ela consegue alcançar o amor dos outros” ou ”Ele/ela consegue criar intimidade com os outros”. Possíveis sugestões de melhoria para o item 1 (“Ele/ela seja um recurso para a minha vida”) seriam “Ele/ela é uma pessoa que contribui para a minha vida” e “Ele/ela é uma pessoa que acrescenta significado à minha vida”. O item 3 também poderia ser melhorado se, em vez de utilizar “Ele/ela possui os recursos para ultrapassar as dificuldades”, utilizar “Ele/ela é autónomo/a” ou “Ele/ela consegue lidar com as dificuldades que surgem no dia-a-dia”.

Não se verificaram diferenças significativas entre a amostra italiana e a amostra portuguesa em relação ao desgaste e à escala de representações, sendo que apenas na dimensão de representações negativas se verificou diferenças significativas, no sentido em que a amostra italiana mostrou mais representações negativas que a amostra portuguesa.

Este resultado pode-se encaixar numa perspetiva europeia mais ampla, sendo que alinha-se a outros estudos que mostraram que as vivencias de sobrecarga psíquica nos cuidadores de familiares com psicose são maiores em países do sul da Europa que em outros países do norte da Europa (Gonçalves Pereira et al., 2013).

Verificou-se que a escala de sobrecarga e a escala de bem-estar estão negativamente correlacionadas (H1), pelo que à medida que o nível de sobrecarga do cuidador aumenta o nível de bem-estar diminui. Este resultado é em linha com outros estudos (Anum & Dasti, 2016) que mostram essa correlação negativa. Além disso, verificou-se que quanto maior as representações de pena e representações negativas mais elevada é a sobrecarga sentida pelo cuidador. Por outro lado, à medida

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