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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 RESULTADOS

A análise exploratória dos dados foi realizada para se compreender bem mais o comportamento das variáveis analisadas no estudo. A tabela 1 descreve as características gerais da amostra, composta por 33 sujeitos acometidos por AVE.

A média de idade dos sujeitos entrevistados em T0 foi de 59,76 anos, com variação entre 15 e 81 anos, predominante nos indivíduos com até 59 anos (51,5%) e relevante na faixa etária de 60 anos ou mais (48,5%). A amostra foi predominante para o sexo feminino (57,6%). A maioria dos entrevistados (63,7%) apresentou nenhuma ou baixa escolaridade. A renda familiar per capita de até um salário mínimo foi encontrada na maior parte da amostra (93,9%), e 54,5% dos indivíduos não tinha companheiro/a.

O AVE do tipo isquêmico foi o mais referido pelos sujeitos (72,7%), e entre aqueles que declararam sequelas físicas, o comprometimento no hemicorpo esquerdo (48,5%) foi superior ao direito (39,4%). A pesquisa apontou, ainda, que 63,6% dos entrevistados tiveram o primeiro episódio de AVE; 27,3%, o segundo; e 9,1% haviam sido acometidos por três ou mais episódios. Os dados sobre hipertensão chamaram a atenção, visto que 84,8% dos pacientes acometidos por AVE eram hipertensos. Já o comprometimento funcional pós-AVE, segundo a escala modificada de Rankin, afetou 81,8% dos indivíduos e, desses, 60,7% apresentaram deficiência de moderada a grave. Dos 33 indivíduos avaliados no terceiro mês, após a alta hospitalar, 20 (60,6%) tinham um cuidador para auxiliar na execução das AVDs.

Tabela 1 - Características sociodemográficas e clínicas dos sujeitos (n= 33) CARACTERÍSTICAS n % Sexo Feminino 19 57,60 Masculino 14 42,40 Faixa etária Até 59 anos 17 51,50 60 anos ou mais 16 48,50 Escolaridade Nenhuma 9 27,30 Baixa 12 36,40 Média 9 27,30 Alta 2 6,10

Não soube informar 1 3,00

Renda familiar mensal per capita

Até 1 salário mínimo 31 93,90 De 1 a 2 salários mínimos 2 6,10 União estável Possui 16 48,50 Não possui 17 51,50 Tipo de AVE Isquêmico 24 72,70 Hemorrágico 9 27,30 Hemicorpo acometido Esquerdo 16 48,50 Direito 13 39,40 Ambos 4 12,10

Número de acometimentos ao longo da vida

1 21 63,60 2 9 27,30 3 ou mais 3 9,10 Hipertenso Sim 28 84,80 Não 5 15,20 Escala de Rankin Sem sintomas 6 18,20 Nenhuma deficiência significativa 5 15,20 Deficiência leve 2 6,10 Deficiência moderada 9 27,30 Deficiência moderadamente grave 9 27,30 Deficiência grave 2 6,10 Fonte:Dados da pesquisa. João Pessoa – PB, 2013 - 2014.

No que se refere aos hábitos de vida, conforme descrito na Tabela 2, inicialmente, 24,2% dos pacientes consumiam bebidas alcoólicas, 21% apresentaram consumo ou vício de fumar, e 87,9% declararam-se sedentários. Depois da primeira entrevista com os sujeitos acometidos por AVE, esses valores apresentaram resultados positivos, com destaque para o etilismo, que apresentou valores de consumo de 9,1%, com uma diferença em torno de 15,1%. Já na terceira etapa (T2), os resultados continuaram sendo positivos, e o sedentarismo se destacou, porém o número dos pacientes passou de 33 para 28, devido às perdas durante a realização do estudo. Tabela 2- Hábitos de vida

T0 T1 T2 CARACTERÍSTICAS n=33 % n=33 % n=28 % Etilismo Sim 8 24,2 3 9,1 3 19,7 Não 25 75,8 30 90,0 25 89,3 Tabagismo Sim 7 21,2 5 15,2 6 21,4 Não 26 78,8 28 84,8 22 78,6 Sedentarismo Sim 29 87,9 27 81,8 21 75,0 Não 4 12,1 6 18,2 7 25,0

Fonte:Dados da pesquisa. João Pessoa – PB, 2013 - 2014.

Quando foi associado o grau da severidade com os escores da EQVE-AVE, nos momentos T1 e T2, constatou-se que essas correlações são significantes e negativas e refletem o fato de que o aumento do grau de severidade se reflete numa menor QV (Tabela 3).

Tabela 3- Correlação de Spearmanentre o grau de severidade e escores da QV no momento T1 e T2

Variáveis Correlação Valor-p

Rankin x escore EQVE-AVE T1

- 0, 595 <0,001

Rankin x escore EQVE-AVE T2

-0,491 0,008

A EQVE-AVE classificou 30,3% (n=10) e 17,9% (n=5) dos indivíduos com baixa QV (escore total <147) no terceiro e no sexto meses depois da alta hospitalar, respectivamente. Os domínios da escala mais comprometidos em ambas as avaliações foram: energia, papéis sociais, papéis familiares e personalidade (Tabela 4).

O teste não paramétrico de Wilkoxon para amostras pareadas, adequado para essa escala, foi aplicado para avaliar a evolução dos escores por domínio e o total da QV. Verificou-se significância estatística em todos os domínios, exceto em energia, papéis sociais, personalidade e visão, com melhora, respectivamente, entre T1 e T2, com exceção de trabalho/produtividade e função da extremidade superior (Tabela 4). Tabela 4– Evolução dos Domínios da EQVE-AVE aplicados no 3º e no 6º mês

Domínios Média±DP T1 T2 P-Valor Energia 2,56±1,38 3,16±1,30 0,18 Papéis sociais 2,75±1,24 3,10±1,31 0,57 Papéis familiares 2,89±1,39 3,03±1,38 <0,001 Personalidade 2,89±1,45 3,08±1,45 0,13 Humor 3,20±1,06 3,45±1,08 0,00 Mobilidade 3,46±1,19 3,98±0,95 <0,001 Trabalho/produtividade 3,46±1,56 3,45±1,49 0,00

Função da extremidade superior 3,96±1,17 3,89±1,14 0,00

Memória/concentração 3,98±0,97 4,02±0,99 0,00

Linguagem 4,06±1,02 4,40±0,71 <0,001

Autocuidado 4,06±1,20 4,18±1,10 0,05

Visão 4,29±1,05 4,47±0,66 0,10

Fonte:Dados da pesquisa. João Pessoa – PB, 2013 - 2014. Nota. DP = desvio padrão da média.

A análise dos dados por meio do teste qui-quadrado apresentou que a QV, na primeira avaliação, teve associação com o comprometimento funcional e com a existência de um cuidador. A incapacidade também foi associada a todos os domínios da EQVE-AVE, exceto à personalidade, à memória e à visão. A existência de um

cuidador teve associação estatística com as dimensões autocuidado e papéis familiares (Tabela 5).

Tabela 5– Fatores determinantes da QV após o AVE no 3º mês após a alta hospitalar (n=33)

Fator p-valor Domínios p-valor

Comprometimento funcional – Rankin 0,019 E 0,02

PF 0,03 L 0,03 M 0,01 AC 0,00 PS 0,02 FES 0,00 T/P 0,04 Existência de cuidador 0,023 PF 0,02 AC 0,05

Fonte:Dados da pesquisa. João Pessoa – PB, 2013 - 2014.

Nota. E-Energia, PF-Papéis Familiares, L-Linguagem, M-Mobilidade, H-Humor, P-Personalidade, AC- Autocuidado, PS-Papéis Sociais, M/C-Memória/Concentração, FES-Função da Extremidade Superior, V- Visão, T/P-Trabalho/Produtividade, T-Escore Total.

A segunda avaliação da QV mostrou que ela esteve associada à faixa etária e à existência de um cuidador, que apresentou associações com os domínios papéis familiares, mobilidade, personalidade, papéis sociais, função da extremidade superior e trabalho/produtividade, e a faixa etária, com as dimensões humor e papéis familiares (Tabela 6).

Tabela 6– Fatores determinantes da QV após o AVE no 6º mês após a alta hospitalar (n=28)

Fator p-valor Domínios p-valor

Existência de cuidador 0,017 PF 0,00 M 0,01 P 0,03 PS 0,03 FES 0,04 T/P 0,00 Faixa etária 0,045 PF 0,03 H 0,03

Fonte:Dados da pesquisa. João Pessoa – PB, 2013 - 2014.

Nota. E-Energia, PF-Papéis Familiares, L-Linguagem, M-Mobilidade, H-Humor, P- Personalidade, AC-Autocuidado, PS-Papéis Sociais, M/C-Memória/Concentração, FES-Função da Extremidade Superior, V-Visão, T/P-Trabalho/Produtividade, T-Escore Total.

De acordo com a topografia social da cidade de João Pessoa (BRASIL, 2009), suas áreas de moradia foram classificadas quanto à vulnerabilidade em: nenhuma, baixa, média e alta, conforme as situações sociais, culturais, políticas, étnicas, econômicas, educacionais e de saúde de vida da população. Em relação às características demográficas das residências dos acometidos, 27 (81,82%) dos pacientes deste estudo acometidos por AVE residem nas periferias urbanas, enquanto seis (18,18%) são residentes de regiões não periféricas, tais como regiões litorâneas e centrais. Do total de 33 sujeitos, 18 (54,5%) residem em áreas de alta vulnerabilidade social, nove (27,3) correspondem a áreas de média vulnerabilidade, e seis (18,2%), a áreas de baixa vulnerabilidade. Quando se relaciona o comprometimento da QV com as áreas de moradia, constata-se que a maioria dos pacientes reside em regiões periféricas e de alta vulnerabilidade social.

Figura 1 - Distribuição espacial da amostra dos pacientes acometido porAVE na cidade de João Pessoa–PB

Na análise de agrupamento (AA), a métrica utilizada foi a euclidiana, e o método, de agrupamento AvarageLinkage (Ligação Média). Assim, podem-se dividir os dendrogramas da figura 2 em grupos, conforme mostra a tabela 7. No período T2, os domínios 1 e 12, que correspondem à visão e à energia, ficaram isolados em relação ao período T1. Isso significa que a visão e a energia foram os domínios que mais se destacaram entre esses períodos na evolução do AVE.

Quanto ao teste estatístico Mann-Whitney, não apresentou evidência estatística de que o grau de severidade seja diferente nos tipos de AVEs isquêmicos e hemorrágicos no período T0, uma vez que seu valor p foi igual a 0,958, o que resultou em não rejeição da hipótese nula de igualdade das medianas dos dois grupos comparados.

Figura 2- Dendograma de qualidade de vida utilizando ligação média dos domínios

1= visão, 2= Autocuidado; 3= Memória - Concentração; 4= Linguagem; 5= Função de MMSS; 6= Humor; 7= Trabalho/produtividade; 8= Mobilidade; 9= Papeis Sociais; 10= Personalidade; 11= Papeis Familiares; 12= Energia.

Tabela 7 - Agrupamento dos Domínios

Períodos Grupos Médias Ordens

T1 G1={1, 2, 3, 4, 5}; 4,07 1º G2={6, 7, 8}; 3,38 2º G3= {9, 10, 11, 12} 2,78 3º T2 G1={1}; 4,48 1º G2={2, 3, 4, 5}; 4,123 2º G3={6, 7, 8}; 3,63 3º G4={9, 10, 11}; 3,07 5º G5={12} 3,17 4º

Fonte:Dados da pesquisa. João Pessoa – PB, 2013 - 2014.

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