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Os resultados desse trabalho foram publicados em 2005, em colaboração com o pesquisador Eduardo Ottoni (Borsari & Ottoni, 2005) e são apresentados a seguir.

Com exceção das castanhas de indaiá, todas as outras variedades de coco foram imediatamente abertas e consumidas por todas as aves, sem uso de ferramentas. Os cocos de indaiá foram abertos e consumidos pelas aves adultas e por apenas duas das jovens (Bella e Luiza não foram vistas abrindo indaiá. Apesar disso, Bella foi observada por períodos de 42 minutos e Luiza por períodos de até 35 minutos trabalhando na mesma castanha, sem sucesso). Todas as aves usaram ferramentas durante a manipulação da castanha de indaiá, conforme descrito abaixo. Os resultados estão resumidos na Tabela 1.

Tabela 1 - Número de episódios (períodos durante os quais a ave manipulou o mesmo item alimentar), tipo de alimento manipulado

(encapsulado ou não encapsulado), número de cocos de indaiá abertos com sucesso, tempo médio gasto em tentativas para abrir o coco de indaiá, em minutos (medidos do momento em que a ave pegava o coco da mão da experimentadora até a abertura ou descarte do coco) e ocorrência ou não ocorrência de uso de ferramentas durante a manipulação do alimento (respectivamente: F ou SF), por sujeito.

Alimentos encapsulados Alimentos não encapsulados

Indaiá castanhas Outras Castanhas abertas Quebradas Cápsulas Frutas Outros Sujeitos Episódios Abriu

Tempo Médio (Desvio Padrão) F SF F SF F SF F SF F SF F SF Barney 9 8 7,87 (4,39) 9 - - - - Safira 9 8 9,87 (5,37) 8 - - 1 - - - - Simon 19 4 20 (7,03) 8 3 2 - - 2 1 - 1 2 - - Bella 26 0 11 (12,44) 12 5 - - 2 5 - - - - 1 1 Hillary 21 7 27,28 (11,94) 12 1 - 1 - 1 1 - - 3 2 - Luiza 30 0 10,25 (7,01) 9 4 2 10 - - - - 2 1 1 1

2.3.1. Descrição do uso de ferramentas por araras azuis

Após pegar a castanha, a arara a posicionava sob a sua mandíbula superior, sempre segurando a castanha com um dos pés, e começava a sulcá-la, forçando sua mandíbula inferior contra a cápsula. Em alguns momentos, ainda segurando a castanha em seu bico ou pé, a arara retirava uma lasca de madeira do poleiro (Fig. 2), a qual era posicionada, com o auxílio da língua, imediatamente sob a mandíbula superior. O animal então segurava a castanha com seu pé em contato com o pedaço de madeira, já fixo no bico. Com a mandíbula inferior, empurrava a castanha contra o pedaço de madeira, novamente fazendo sulcos nela (Fig. 3a).

A ave reposicionava a ferramenta e o coco diversas vezes usando a língua, o bico e/ou o pé. De modo geral, mais de um pedaço de madeira era usado na quebra de uma mesma castanha, mas a ave também intercalava tentativas de quebra sem nenhuma ferramenta. Outros itens foram usados como ferramentas e posicionados da mesma forma descrita aqui para o pedaço de madeira, por exemplo, folhas, galhos, arame, penas.

Ao se deslocar pelo piso do viveiro, segurando a castanha em seu bico ou pé, a ave de vez em quando encontrava pedaços de madeira ou outros objetos que já haviam sido usados como ferramentas e voltava a usá-los como tal. Todos os outros itens usados como ferramentas foram posicionados pelas aves conforme descrito acima para os pedaços de madeira.

Apesar de todos os episódios que culminaram na abertura da castanha terem envolvido o uso de ferramentas, as aves podiam ou não estar usando ferramentas no momento exato da quebra. Para o macho adulto, isso aconteceu em cinco dos oito episódios em que teve sucesso; para a fêmea adulta, em apenas um dos oito episódios; para o macho jovem, em apenas um dos quatro episódios e para a fêmea jovem, em cinco dos sete episódios em que teve sucesso em abrir o coco.

2.3.2 Diferenças entre jovens e adultos

Enquanto os adultos usavam ferramentas apenas durante a quebra de castanhas intactas, os filhotes usaram-nas em uma diversidade de situações, chegando a empregá-las com alimentos não-encapsulados (frutas, legumes e ração) e na quebra de pedaços de casca de castanhas previamente abertas, de forma muito parecida com aquela de quando estavam abrindo castanhas intactas.

Os jovens usaram muitos objetos distintos como ferramentas: pedaços de madeira, folhas, galhos e outros materiais: arame, penas, elásticos de borracha, areia, o comedouro, e até combinaram mais de um tipo enquanto manipulavam a mesma castanha (por exemplo: galho + pedaço de madeira), o que não foi observado nos adultos (os quais usaram apenas folhas e lascas de madeira). Uma das fêmeas mais jovens foi vista tentando usar fezes da mesma forma com que usava as outras ferramentas, e outra usou a anilha de aço presa em sua perna (Fig. 4) como auxílio na quebra de pedaços de casca de castanha. O padrão de quebra diferiu entre adultos e filhotes: os primeiros abriam a castanha em dois pedaços assimétricos (Fig. 3b), geralmente a partir de um único sulco inicial que era aumentado aos poucos; depois de abrirem o coco, inseriam a ponta de suas mandíbulas superiores no orifício, retiravam porções do endocarpo que comiam, para então descartar as cascas vazias. Os filhotes, por sua vez, fizeram mais de um sulco, girando a castanha em seus bicos. Quando finalmente a quebravam, o faziam em muitos pedaços, desperdiçando uma parte do endocarpo (Fig. 3c). Após comerem o que restava, muitas vezes continuavam a quebrar as cascas vazias. Algumas vezes uma larva de Coleoptera foi encontrada dentro do coquinho (Fig. 3d), mas apenas a fêmea adulta (Safira) foi vista comendo essa larva.

O tempo de quebra foi significativamente maior para os juvenis do que para os adultos (Komolgorov-Smirnov, z=2,00, p<0,001), evidenciando uma maior proficiência de quebra destes últimos.

Figura 2. Indivíduo cativo de arara azul (A. hyacinthinus) retirando uma lasca do poleiro a ser usada como ferramenta durante a quebra do coco de indaiá (Attalea dubia). Foto: Andressa Borsari.

Figura 3.- Uso de ferramenta por arara azul (A. hyacinthinus) durante a quebra do coco de indaiá (A. dubia) em cativeiro: a) ave usa lasca de madeira como ferramenta (seta), b) coco de indaiá abertos por araras adultas, c) tentativas de quebra por araras jovens e d) larva de besouro encontrada dentro do coco. Foto: Andressa Borsari.

a

b

c

Figura 4. Indivíduo jovem de arara azul (A. hyacinthinus) usando a anilha de aço em sua perna durante a quebra de um pedaço de casca da castanha de indaiá (Attalea dubia). Foto: Andressa Borsari.

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