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Diante da intensificação da globalização, incluindo a globalização financeira, e a abertura comercial do Brasil no final da década de 1980, o debate de como o desenvolvimento financeiro pode afetar o comércio internacional se faz importante. Neste sentido, dado a maior estabilização do sistema financeiro nacional após o Plano Real, bem como a grande relevância das exportações para a economia brasileira, o presente estudo propôs analisar como o grau de desenvolvimento financeiro tem afetado as exportações brasileiras em determinados setores, no período de 1995 a 2014.

96 Deste modo, a análise realizada nesta pesquisa dividiu-se basicamente em três partes. A primeira considerou os efeitos do desenvolvimento financeiro sobre o valor exportado pelo Brasil e verificou-se como esta relação foi afetada ao se avaliar o grau de dependência financeira de cada setor. Na segunda parte foi analisado como o funcionamento do sistema financeiro impactou o número de produtos exportados pelo Brasil. Nestas duas partes do estudo foram estimadas equações gravitacionais com base nos métodos de Seleção Amostral de Heckman e Seleção Quantílica. Por fim, a terceira parte tratou da análise dos efeitos que o desenvolvimento do sistema financeiro exerceu sobre o número de parceiros comerciais do Brasil, por meio de modelos de dados de contagem estimados via Poisson e Binomial Negativo.

Quanto à primeira parte, para os diferentes métodos de estimação, foi possível verificar coeficientes estatisticamente significativos e sinais conforme o esperado para a maioria das variáveis gravitacionais e de controle. Considerando a existência do viés de seleção amostral, a estimação pelo método de Heckman por máxima verossimilhança, indicou que o desenvolvimento financeiro brasileiro não foi importante estatisticamente para determinar as suas exportações. Para a regressão quantílica, foi encontrado resultado semelhante em todos os quantis, em que se observou coeficiente não significativo para esta variável.

Contudo, quando se analisou o grau de dependência financeira dos setores, encontrou-se relação positiva e significativa entre o desenvolvimento financeiro nacional e o valor exportado, confirmando a hipótese de que o bom funcionamento do sistema financeiro exerce maior influência nas exportações dos setores mais dependentes de capital externo. Além disso, na estimação da regressão quantílica, resultados semelhantes a estes foram obtidos para os três quantis analisados, ou seja, tanto para menores montantes exportados pelo Brasil quanto para os maiores valores de exportação.

A relação positiva entre o desenvolvimento financeiro brasileiro e o valor das exportações nos setores mais dependentes de financiamento evidenciou a importância de o país angariar esforços para aperfeiçoar o sistema financeiro nacional. Estes avanços devem estar relacionados à maior disponibilidade de crédito na economia, aumento no ativo dos bancos, à expansão do tamanho do setor de intermediação financeira, à melhoria na qualidade das instituições econômico-financeiras e facilidade de acesso ao crédito. Neste contexto, o ambiente financeiro mais desenvolvido pode levar ao aumento dos investimentos em tecnologia, infraestrutura, expansão da capacidade produtiva, bem como auxiliar na redução dos custos de comércio, riscos e incertezas das transações

97 financeiras. Como consequência, maior pode ser o valor exportado pelo Brasil, principalmente nos setores mais dependentes de financiamento.

A segunda parte da análise buscou investigar os efeitos do desenvolvimento financeiro sobre o número de produtos brasileiros enviados ao exterior. De acordo com os resultados obtidos, a hipótese de que o bom funcionamento do sistema financeiro aumenta a gama de produtos exportados pelo Brasil principalmente nos setores mais dependentes de financiamento, foi aceita tanto para o método de Heckman por máxima verossimilhança quanto para a regressão quantílica com correção para a seletividade amostral. Especificamente à regressão quantílica, observou-se que o termo de interação entre o desenvolvimento financeiro brasileiro e a dependência financeira dos setores, exerceu maior impacto sobre os menores quantis, ou seja, para as menores quantidades de bens exportados pelo país.

Estes resultados sinalizam a importância de o país adotar medidas que sejam capazes de promover melhorias em seu ambiente financeiro, já que nestas circunstâncias é possível expandir o capital, a produtividade e, consequentemente, pode-se diversificar ainda mais a pauta exportadora brasileira, especialmente nos setores que apresentam maior dependência de recursos de terceiros. Isto ocorre pois, o sistema financeiro mais desenvolvido pode permitir que o Brasil se torne menos dependente de um conjunto mais reduzido de produtos de exportação e consiga ampliar suas cestas de bens enviados ao exterior, o que possibilita ao país melhores condições para enfrentar crises internacionais e domésticas.

Os resultados obtidos nas duas primeiras partes do estudo também permitiram caracterizar o efeito do desenvolvimento do sistema financeiro dos principais parceiros comerciais sobre o valor e o número de produtos exportados pelo Brasil. De maneira geral, foi possível concluir que o ambiente financeiro do país importador é um fator importante para promover as exportações brasileiras, já que pode auxiliar a reduzir os custos de importação e os riscos associados ao comércio internacional. Portanto, a promoção de esforços conjuntos que visem não só a melhoria do ambiente financeiro brasileiro como também de seus principais importadores, podem trazer benefícios ainda maiores para o comércio entre eles.

Quanto à terceira parte da pesquisa, o principal objetivo foi investigar como o desenvolvimento financeiro afetou o número de mercados de destino das exportações do Brasil. Neste sentido, os resultados observados permitiram concluir que a melhora no sistema financeiro nacional reduziu o número de parceiros comerciais, rejeitando-se a

98 hipótese de que o desenvolvimento financeiro tem efeito positivo sobre o número de destinos das exportações brasileiras. Este resultado permitiu concluir que, uma melhoria no sistema financeiro brasileiro pode estar mais associada ao desenvolvimento do mercado doméstico ou ao aumento das exportações, porém para um menor número de países de destino, do que à ampliação do número de parceiros no mercado internacional. Ao levar em consideração o grau de dependência financeira de cada setor analisado, a hipótese de que o desenvolvimento financeiro aumenta o número de parceiros comerciais relativamente mais nos setores que são financeiramente vulneráveis, não foi confirmada, visto que o coeficiente associado a essa variável não foi estatisticamente significativo.

Como limitação deste estudo aponta-se a proxy utilizada para a dependência financeira de cada setor. Isto decorre do fato de que essa variável foi obtida diretamente do estudo de Kroszner, Laeven e Klingebiel (2007), e representa um valor médio para as empresas norte-americanas de capital aberto no período de 1980 a 1999. Portanto, não abrange os anos empregados na presente pesquisa (1995 a 2014).

Por fim, como sugestão para futuros trabalhos, indica-se que sejam incorporados dados ao nível de firma e para um maior número de setores. Além disso, a utilização de outras medidas para o cálculo do índice de desenvolvimento financeiro faz-se relevante como forma de garantir maior robustez dos resultados. Sugere-se ainda que futuros trabalhos se atentem para a análise dos efeitos da volatilidade da taxa de câmbio sobre as exportações brasileiras e como esta relação é afetada pelo nível de desenvolvimento financeiro.

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