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4. Resultados

4.4 Resumo e considerações sobre os principais resultados

As análises iniciais apontaram que os setores onde há um melhor desempenho social, segundo os critérios dessa pesquisa, foram aqueles onde existe algum nível de exigência governamental (energia) ou cujas atividades industriais tenham maior visibilidade em função das características de seus processos produtivos (papel e celulose, transportes e auto- indústria). Por outro lado, alguns setores ainda apresentam baixa adoção das práticas de responsabilidade social analisadas, como no caso da agroindústria e do comércio.

As estatísticas descritivas das empresas abertas apontaram para melhores níveis de desempenho social do que as empresas fechadas, tanto na proporção de empresas que apresenta algum nível de desempenho social como na proporção das práticas por elas adotadas. Além disso, proporcionalmente ao número de empresas, as empresas abertas presentes nos níveis de governança corporativa da BOVESPA apresentam com maior freqüência algum nível de desempenho social do que as não presentes. No entanto, na análise

de regressão censurada realizada com o desempenho social como variável dependente, nem as variáveis de governança corporativa e nem a dummy de empresas abertas apresentaram coeficientes significantes estatisticamente, contrariando as expectativas inicialmente obtidas pelas estatísticas descritivas. Desse modo, não há evidências de que a maior exposição no mercado de capitais possa fomentar a adoção de práticas de responsabilidade social.

As estatísticas descritivas, no geral, não fornecem indícios da relação entre o desempenho social e o desempenho financeiro, seja entre as companhias abertas ou entre as maiores empresas. Esses resultados, de forma geral, também se confirmaram nas regressões que utilizam a métrica de desempenho social agregada, com exceção do modelo em tem o EBITDA/AT como regressando na amostra de empresas abertas.

Em relação ao risco, o coeficiente da variável desempenho financeiro não foi significante em nenhum dos modelos analisados, tanto para a amostra de empresas abertas como para a de maiores empresas, não permitindo rejeitar a hipótese nula de não relação entre desempenho social e risco. Nas sete regressões auxiliares referentes ao risco, nas quais utilizam-se os vários componentes do desempenho social desagregados como regressores, a maioria das variáveis não foi significante (com três exceções, uma no modelo das empresas abertas que tem beta como regressando, uma no modelo de empresas abertas que tem volatilidade como regressando e uma no modelo das maiores empresas que tem o endividamento a longo prazo como regressando). Além disso, para a amostra de empresas abertas, essas variáveis apresentam, em 50% dos casos, sinais distintos do esperado (conforme tabela 10). Neste sentido, apenas a variável Akatu é mais coerente com o esperado, já que apresenta sinais negativos para quatro das cinco variáveis dependentes (beta, volatilidade, alavancagem operacional e endividamento a longo prazo).

Quanto ao desempenho financeiro, dentre os seis modelos principais estimados (quatro para a amostra de empresas abertas e dois para a de maiores empresas), apenas em um deles o coeficiente da variável desempenho social foi significante (naquele que tem EBITDA/AT como regressando). Assim, apenas um dos modelos ofereceu evidências favoráveis à hipótese H1, segundo a qual existe uma relação positiva entre desempenho social e desempenho financeiro. Deve-se ressaltar, no entanto, que os sinais dos coeficientes da variável desempenho social foram positivos em todos os modelos exceto um (o que tem valor de mercado/PL como regressando), coerentemente com o esperado por H1. Nos modelos auxiliares, para a amostra de empresas abertas, o coeficiente da variável que indica a presença nas melhores empresas para trabalhar foi significante e positivo tanto para o ROA como para o EBITDA/AT como regressandos, ao passo que, o coeficiente da variável ISO 14000 foi

negativo e significante para o ROA como regressando nessa mesma amostra. Já nas regressões auxiliares que utilizam a amostra de maiores empresas, três indicadores foram significantes (Akatu, Ethos e DJSI) para o modelo que tem a margem como variável dependente e, ainda, no modelo em que o ROA é o regressando (a variável mais frequentemente empregada nos estudos internacionais nessa área), sete dos doze sinais das variáveis desagregadas de desempenho social foram positivos, coerentemente com o esperado pela hipótese H1.

Relativamente à distribuição de valor, nos dois modelos estimados (um para cada amostra), não foi possível rejeitar a hipótese nula, segundo a qual não há relação entre desempenho social e distribuição de valor. Além disso, os sinais do coeficiente da variável desempenho social foram positivos em ambos os casos, de forma contrária ao esperado.

Nesse ponto, cabe, porém, uma ressalva quanto à adequação da variável utilizada para mensurar a distribuição de valor. O ROE foi escolhido seguindo estudo similar realizado por Becchetti et al. (2004). No entanto, essa métrica é normalmente empregada para mensurar rentabilidade, que é uma das formas de medir desempenho (ROSS, 2002, p.50). Se for avaliado nesse sentido, os resultados encontrados em relação ao ROE são coerentes com aqueles encontrados para as demais métricas de desempenho financeiro, ou seja, apesar de não significantes, os coeficientes das variáveis de desempenho social apresentam coeficientes positivos.

Além dos modelos apresentados e discutidos anteriormente, outros modelos foram estimados a partir de duas ponderações diferentes para composição do desempenho social. No primeiro caso, foram atribuídos pesos maiores para as variáveis que implicam, de alguma forma, em maior investimento financeiro por parte das empresas, como por exemplo, na implantação da ISO 14000 e da SA8000. No segundo caso, foram atribuídos pesos maiores para as variáveis que refletem percepções de terceiros a respeito da organização, como os indicadores de mercado (ISE/DJSI) e os prêmios. No entanto, em nenhum desses modelos, os resultados diferiram dos apresentados em relação ao coeficiente do desempenho social corporativo, ou seja, nesses modelos adicionais, cujos resultados não foram apresentados, os coeficientes do indicador de desempenho social não foram significantes.