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A crise económica e financeira, sentida na Europa a partir de 2008, levou a que alguns países, os que estavam mais vulneráveis às perturbações do sistema financeiro internacional, tivessem que pedir ajuda externa, para poder financiar as suas economias, através da assinatura de memorandos de entendimento, com a Troika, ou seja, Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

Dos critérios de convergência instituídos pelo Tratado da Comunidade Europeia, os que tiveram um desempenho mais crítico no conjunto dos países europeus, foram as situações relativas às finanças públicas (défice público anual e a dívida pública) e taxas de juro de longo prazo.

De acordo com o estudo “The impact of the financial crises on European Defence, 2011”, publicado pela UE, o indicador relativo ao défice público e dívida pública bruta, excede os valores definidos nos critérios de convergência para a maioria dos países, independentemente de se enquadrarem nas Categoria A, B ou C, ou seja, classificação utilizada no estudo para agrupar os países em função dos seus orçamentos de defesa, contribuições para as capacidades da UE e, também, o tamanho das respectivas indústrias de defesa. Apenas três países estão dentro dos parâmetros estabelecidos para os indicadores (Suécia pertencente à Categoria A e Estónia e Luxemburgo pertencentes à Categoria C).

A análise da situação relativamente aos países que constituem a OTAN, permite constatar também a situação de crise económica e financeira que vêm enfrentando, dado que 22 dos países da UE pertencem também à OTAN e, por outro lado, a informação publicada pela OTAN (Communiqué PR/CP 2012-04-13 047) permite verificar que, em 2011, 15 dos aliados viram o PIB diminuir, atingindo valores negativos em alguns deles. Se nos reportarmos a 2009 essa situação de crise é ainda mais acentuada, pois dos 28 países

A análise do peso relativo das despesas da defesa em relação ao PIB no âmbito da UE, permite concluir que 18 países veem diminuir essa percentagem (7 da Categoria A, 7 da Categoria B e 4 da Categoria C). Em relação ao número de efectivos a tendência é semelhante, diminuindo em 11 países, mantendo-se em 9 e aumentando ligeiramente em 7.

Se nos reportamos à OTAN, constata-se que em 18 países se verificou uma diminuição da despesa da defesa em relação ao PIB e que o desajustamento estrutural ao analisarmos a distribuição orçamental por categorias de despesas (Pessoal, Operação e manutenção e Investimento) é grande, apresentando 15 membros da Aliança valores superiores ao padrão definido, 55%.

Relativamente a Portugal foram analisadas as despesas da defesa, no período de 2001 a 2012, com a criação de série pela autora e quando disponível analisada a informação de 2013 e os valores previstos no orçamento para 2014. Procedeu-se a uma análise a preços correntes e a preços constantes, dos diversos orçamentos que financiam a defesa (orçamentos de funcionamento e orçamentos de investimensto), designadamente: OE – Orçamento de Estado; PIDDAC – Programa de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central; LPM – Lei de Programação Militar; e LPIM – Lei de Programação de Infraestruturas Militares.

Em relação ao OE, foram feitas diversas análises, salientando-se: a variação anual das despesas da defesa, a comparação das despesas da defesa, despesas públicas e PIB, peso das despesas da defesa nas despesas públicas e no PIB em percentagem, PIB por habitante e despesas da defesa por habitante, despesas globais da defesa, e distribuição das despesas por capítulos do MDN.

A análise das despesas da defesa a preços constantes no período de 2001 a 2012, permite concluir que existem ciclos compostos por cerca de cinco anos, em que as mesmas crescem atingindo valores muito idênticos aos valores cinco anos atrás, baixando de seguida no quinquénio seguinte. Essa constatação pode ser evidenciada se nos centrarmos nos anos de 2005 e 2010. Verificamos que as despesas da defesa em relação ao PIB têm apenas uma amplitude de 0,2 %, situando-se entre 1,1 e 1,3 %. Analisado o PIB por habitante e despesas da defesa por habitante, apuramos também um decréscimo para o período. A

análise das despesas por natureza permite também constatar um desajustamento estrutural, estando as despesas com o pessoal acima dos 65% na maioria dos anos.

Se nos centrarmos nas despesas por capítulos, verificamos uma diminuição dos orçamentos do EMGFA, Marinha, Exército e Força Aérea, a favor dos Serviços Centrais do Ministério da Defesa Nacional.

Para os orçamentos de Investimento constata-se igual tendência de decréscimo, sendo de relevar que a LPM já não é revista desde o ano da sua publicação e tem sido anualmente sujeita a reduções (cativações) por via do OE, na ordem dos 45%.

Os efeitos da crise económica e financeira, com expressão na redução dos orçamentos afetos à área da defesa, levaram a que os vários países implementassem planos de redução e reorganização das suas forças armadas, diminuindo o número de efetivos, a estrutura de forças, a redução de capacidades e meios, o cancelamento de encomendas, a recalendarização das aquisições, a redefinição do nível de ambição e participação em missões internacionais, o prolongamento da vida útil dos meios, e a racionalização das aquisições com a finalidade de obter sinergias através da criação de capacidades conjuntas, entre países.

Desta forma, no âmbito da OTAN e com grande relevância na Cimeira de Chicago, em 2012, foram dados passos e iniciados os trabalhos para a implementação da “Smart Defence”, que incentiva os Aliados a cooperarem no desenvolvimento, aquisição e manutenção de capacidades militares. Nesta data encontra-se sedimentada uma lista de projetos, dividida em três níveis, os denominados “Tier”, que identificam o nível de desenvolvimento e integração do projeto, ou seja, no “Tier 1” já esta identificada uma “lead nation” e os países que participam já se encontram identificados, no “Tier 2”, estão os projetos promissores com participantes identificados que ainda estão por lançar e no “Tier 3”, apenas ideias de cooperação.

No âmbito da UE também foi desenvolvida uma iniciativa com o mesmo enfoque, a que se chamou “Pooling and Sharing”. Esta iniciativa embora não esteja estruturada da mesma forma que a “Smart Defence”, traduziu-se na apresentação de 313 propostas de projetos, as

áreas de atuação. Em Novembro de 2011, no Steering Board da EDA, foram identificadas e aprovadas diversas áreas de cooperação prioritária, encontrando-se em desenvolvimento um conjunto de projetos.

Para aferir a participação portuguesa nestas iniciativas, SD e P&S, além da informação recolhida por via da revisão da literatura, foram realizadas um conjunto de entrevistas a personalidades das áreas política e da área militar funcionalmente envolvidos com estas questões, quer nas organizações nacionais, quer internacionais.

O guião, validado por três especialistas da Divisão de Planeamento Estratégico Militar do Estado-Maior-General das Forças Armadas, foi utilizado nas dez entrevistas solicitadas/realizadas, verificando-se a realização de 6 (seis) entrevistas presenciais (PCDN; DGPDN; DGAEID; MILREP; CEMGFA; CEMFA) , a obtenção por escrito de 2 (duas) respostas (MDN; CEMA), a não concessão de uma entrevista (CEME) e a posição do representante da Delegação da Comissão Europeia, concluindo “que as questões que se colocam são mais do âmbito de Portugal enquanto membro da OTAN e da UE em matéria de Defesa do que em termos de políticas destas organizações” e “estão longe dos temas de política que dominamos”.

Dos trabalhos de revisão da literatura e das entrevistas, foi possível apurar que Portugal também acolheu e está a implementar projetos no âmbito da SD e iniciativas no âmbito do P&S. Nesta data, no âmbito da SD, Portugal está envolvido em 12 projetos, quatro em cada um dos níveis “Tier”, liderando dois desses projetos, e tendo anunciado, em novembro de 2013, que assumirá a liderança de um projeto relacionado com o treino e educação em Cyber Defence. Recentemente manifestou o interesse adicional na observação do projeto 2.79 (Establishment of a Tactical Air Comand and Control Training Centre) e está em curso a avaliação do interesse nacional no projeto 1.19 (Multinational Logistics Partnership – Fuel Handling). Em relação ao P&S, embora não tenha assumido a liderança de nenhum dos projetos, participa com grande envolvimento nos seguintes: Helicopter Training Programe/Helicopter Exercise Programme; European Air Transport Fleet (EATF); Military Implementation of SESAR (MIOS) e Maritime Surveilance (MARSUR).