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RETENÇÃO DE PLACENTA EM ÉGUAS

No documento REVISTA COMUNIDADE VET SMART (páginas 35-38)

1. PROFESSORA SUBSTITUTA DE FISIOPATOLOGIA DA REPRODUÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (UFPEL), PELOTAS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL. EMAIL: CARLINI@PORTOWEB.COM.BR

responde à expulsão das membranas fetais (CHRIS- TENSEN, 2011).

A placenta equina é classificada como epiteliocorial, difusa e adecídua, em que a troca de nutrientes, resíduos e gases entre o feto e a égua ocorre por meio dos microcotilédones, interdigitações entre as vilosidades formadas pelo alantocórion e o epitélio endometrial (SAMUEL et al., 1974). A retenção placentária é definida como a falha na expulsão de parte ou da totalidade da membrana alantocoriôni- ca, com ou sem a membrana amniótica, em um intervalo de até 3 horas após o parto (BLANCHARD & MACPHERSON, 2010). A etiopatogenia da retenção placentária está relacionada principalmente a quadros de inércia uterina, distocia e alteração no perfil hormonal (BLANCHARD & MACPHERSON, 2007; BLANCHARD & MACPHERSON, 2010), podendo resultar em alterações sistêmicas, representando risco de morte.

Mais comum em quais raças/sexo/idade O parto distócico está associado a uma maior incidência de retenção placentária que o eutócico (PROVENCHER, 1988).

Equinos de tração apresentam mais incidência de partos distócicos, devido à musculatura bastante desenvolvida, resultando em estreitamento físico do canal do parto (TIBARY, 2012), o mesmo ocorre em fêmeas com sobrepeso ou muito jovens. Equinos de raças miniaturas são mais predispostas à má forma- ção fetal com consequente distocia (TIBARY, 2012). Éguas que já tiveram um episódio de retenção são mais susceptíveis à reincidência (PROVENCHER, 1988), necessitando monitoração no período pós-parto.

Diagnóstico Clínico Durante as primeiras horas após o parto, as membranas fetais são observadas pendentes na vulva da égua, por um período acima de 3 horas. Embora de forma infrequente, estas membranas podem estar localizadas somente na vagina (PRESTES & ALVARENGA, 2006), sendo reco- mendada a palpação e inspeção com auxílio de espéculo nas fêmeas com suspeita clínica.

Após 12h, podem ser observados sinais de desidra- tação, apatia, inapetência, febre, decréscimo na produção de leite, metrite, síndrome cólica e endoto- xemia (CARD, 2003).

Diagnóstico por Exames A palpação seguida de ultrassonografia via retal permite a avaliação do lúmen uterino e segmentos placentários, no entan- to, o tamanho do útero no pós-parto dificulta a visu- alização do órgão na íntegra (CARD, 2003). Áreas hiperecoicas indicam presença de gás, debris celu- lares ou segmentos placentários (CARD, 2003).

Título: RETENÇÃO DE PLACENTA EM ÉGUAS

Tipo de Conteúdo: Protocolo - Conduta Clínica

Categoria: Obstretícia

Espécies: Equinos

Palavras-Chave: Anexos Fetais, Obstetrícia, Parto, Placentária

Resumo A principal complicação que ocorre no puerpério de fêmeas equinas é a retenção placentá- ria, sendo caracterizada pela falha na expulsão das membranas fetais em período superior a 3 horas após o parto. A presença da placenta no lúmen uteri- no causa reações inflamatórias, atrasando a involu- ção do órgão, podendo evoluir para alterações sistê- micas com risco à vida. O diagnóstico é baseado no exame clínico e ultrassonográfico, em que o hemo- grama auxilia na monitoração da evolução do quadro e a histopatologia da placenta auxilia na detecção de patologias gestacionais. O tratamento inclui administração parenteral de ocitocina, pros- taglandina, anti-inflamatórios, antibióticos, fluido- terapia e lavagem uterina. As principais complica- ções incluem lesões uterinas, metrite, laminite, peritonite e endotoxemia. A retenção placentária em égua pode evoluir para alterações sistêmicas, representando risco de morte, sendo necessária a instituição de terapia adequada e monitoração da evolução do caso.

Introdução à doença/Importância A gestação é o período compreendido entre a data da ovulação e o parto. Na espécie equina, o parto ocorre geralmente no período noturno e pode ser dividido em três fases: a primeira denominada prodrômica; a segun- da caracterizada pela expulsão fetal e a terceira

SOBRE A AUTORA

Fernanda Carlini Cunha

Outras Informações / Conclusão A retenção placen- tária apresenta risco à vida da égua, sendo necessá- rio atendimento veterinário precoce, instituição de terapia adequada e monitoração da evolução do caso.

Referências

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Esse artigo foi publicado na Comunidade Vet Smart e pode ser acessado através do link: www.vetsmart.com.br

A histologia da placenta fornece subsídio para iden- tificação de fatores predisponentes, sendo princi- palmente relacionados a patologias do período gestacional, incluindo ,na maioria das vezes, a placentite (BLANCHARD et al., 1990).

Tratamento Terapêutico A administração de ocitoci- na estimula a eliminação da placenta por contra- ções uterinas. Os principais protocolos são: admi- nistração de 10-20 UI a cada 15 minutos; IM ou IV durante 2 horas de manhã e 2 horas à tarde; 10-20 UI a cada hora; IM ou IV durante 24 horas ou infusão IV contínua de 1 UI por minuto dissolvida em ringer com lactato (TURNER, 2007).

Nos casos refratários à ocitocina, a administração de prostaglandina é uma opção, uma vez que este hormônio tem efeito uterotônico mais prolongado (LE BLANC, 1994). No entanto, durante um processo inflamatório, há aumento na produção de prosta- glandinas, e a administração exógena apresenta potencial risco de exacerbação do quadro em pacientes com sinais de resposta inflamatória sistê- mica.

A carbetocina também atua como estimulante de tonicidade uterina, com ação prolongada, no entan- to, ainda há escassos trabalhos científicos compro- vando sua ação na retenção de placenta em éguas (TURNER, 2007), apesar de sua frequente utilização empírica.

A lavagem do útero tem como intuito a remoção de bactérias e resíduos do lúmen uterino, favorecendo a regeneração e involução do órgão (CARD, 2003), não recomendada nos casos de suspeita de lesões/lacerações/rupturas na parede uterina. Em relação à remoção manual da placenta, este procedimento é recomendado em casos específicos, tendo em vista as principais complicações, como hemorragia, retardo na involução uterina, endome- trite, cérvix, permanecendo aberta por longo período e dano permanente ao endométrio devido à excessi- va manipulação, resultando em redução na fertilida- de (THRELFALL, 2007).

Além disso, a administração de fluidoterapia, infla- matórios e antibióticos auxilia nos casos com alterações sistêmicas.

Complicações Éguas com retenção placentária apre- sentam atraso na involução uterina, além de outras complicações, como lesões uterinas, metrite, lami- nite, peritonite, endotoxemia e septicemia (CARD, 2003; BLANCHARD et al., 1990). As lacerações e rupturas de útero são infrequentes, porém acarre- tam sérias complicações secundárias na égua e apresentam risco potencial de morte (SANTOS et al., 2014).

No documento REVISTA COMUNIDADE VET SMART (páginas 35-38)

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