Retenção, evasão e equidade: possíveis relações no Campus Cedro

Em 2019, o número de estudantes matriculados no Campus Cedro variou de 1.529 para 1.584 nos dois períodos de matrículas80, estudantes dos cursos técnicos (integrado ao ensino médio e concomitante), nas graduações, na pós-graduação e dos cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC), cursos de curta duração que objetivam capacitar os estudantes para inserção ou retorno ao mercado de trabalho. O ano de 2019 é o foco de avaliação e análise, pois a pesquisa de campo e o contexto sociopolítico e econômico retratam esse momento particular da AE, dados dos anos anteriores se farão presentes na medida em que forem necessários para complementar a análise avaliativa. A configuração dos dois períodos de matrícula supracitados era a seguinte:

Tabela 7 - Matrículas Campus Cedro (2019.1 e 2019.2)

Cursos 2019.1 2019.2

Ingressantes Matriculados Ingressantes Matriculados

FIC 6 7 128 130 190 219

Concomitante 2 60 313 46 307

Integrado 3 98 322 0 244

80 _{Os dados foram retirados do IFCE em Números, instrumento digital que copila uma série de informações}

acadêmicas da instituição. Sua primeira versão foi lançada em novembro de 2015 pela Pró-Reitoria de Ensino (Proen). Ele é uma base de dados aberta ao público que serve para subsidiar decisões estratégicas da instituição, pode ser acessado via site: ifceemnumeros.ifce.edu.br.

Cursos 2019.1 2019.2

Ingressantes Matriculados Ingressantes Matriculados

Graduação 4 127 737 129 791

Pós-Graduação 1 24 27 0 23

Total 16 17 437 1529 365 1584

Fonte: Elaboração do autor. IFCE em Números (2020).

Os dados de matrículas destacam que o maior número de estudantes se concentra nos cursos do ensino superior (Mecatrônica Industrial, Sistemas de Informação e as Licenciaturas em Física e Matemática) com dois períodos de ingresso anualmente, seguido do ensino técnico com os cursos concomitantes (Mecânica Industrial e Eletrotécnica) e com os do integrado ao ensino médio (Informática, Mecânica Industrial e Eletrotécnica). Os cursos FIC e a pós-graduação em Docência do Ensino Superior ficam com o menor número de estudantes. Comparando os dois períodos, nota-se um número maior de matrículas no segundo, apesar do menor número de ingressantes, dado que nos remete ao êxito ou ao número de concludentes nos respectivos períodos do ano passado:

Tabela 8 - Situação acadêmica dos estudantes do Campus Cedro (2019.1 e 2019.2)

Cursos

2019.1 2019.2

Em

curso Retidos Evadidos Formados Em

curso Retidos Evadidos Formados

FIC 8 15 36 71 97 21 34 67 Conc. 37 191 66 19 81 189 30 7 Integr. 163 50 41 68 163 50 19 10 Grad. 384 219 122 13 498 218 64 13 Pós-Gr. 19 1 5 2 19 1 1 2 Total 611 476 270 173 858 479 148 99 % 40% 31% 18% 11% 54% 30% 10% 6%

Fonte: Elaboração do autor. IFCE em Números (2020).

Quando se soma o valor referente à retenção e à evasão nos dois períodos e se compara a porcentagem dos estudantes em curso no tempo regular mais os formados, verifica- se que os valores de retenção e evasão são altos e impactam no índice de conclusão final dos cursos, os casos mais graves são os dos cursos concomitantes e os de graduação. Desde 2017

que o IFCE enfatiza ações de combate à evasão e de permanência com êxito. Dentro do seu Plano Estratégico (IFCE, 2017a) atenta que a evasão e a repetência estão relacionadas a múltiplos fatores de ordem socioeconômica, política, ideológica e psicopedagógicas e que, apesar da ampliação dos recursos destinados aos programas da AE, é preciso ações que promovam a participação dos estudantes em atividades de ensino, pesquisa e extensão, viabilizando-os “(...) um percurso exitoso de formação acadêmica e profissional, no sentido de garantir reais condições de permanência” (Id., ibid., p. 2). Quanto à questão da evasão e da retenção, um dos técnicos entrevistados comenta:

A política é para permanência dos estudantes, mas têm estudantes que têm permanecido para além do tempo que os regulamentos permitem e isso acaba refletindo (...) nos auxílios. Esses fatores da execução da política precisam ser mudados, ver os índices de alunos que estão retidos e esses que estão saindo para se ter uma efetivação da política. (TAE181₎

A retenção interfere diretamente na concessão dos auxílios, pois como previsto em seu Regulamento (IFCE, 2019), ultrapassar o tempo regular do curso é motivo para cancelamento do auxílio com a anuência do gestor da AE. A permanência com êxito é esperada em um tempo institucional específico que implica no uso dos recursos da AE no Campus Cedro nos últimos anos, eles se caracterizaram da seguinte forma:

Tabela 9 - Estudantes matriculados e recursos da AE Campus Cedro (2015 a 2019)

Dados 2015 2016 2017 2018 2019 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 Estudantes matriculados 1.120 1.330 1.367 1.452 1.434 1.270 1.421 1.384 1.529 1.584 Recursos AE (2994) R$ 879.038,00 972.072,00 832.881,00 1.029.061,00 1.058.389,00 Fonte: Elaboração do autor. IFCE em Números (2020) e Sistema de Captação de Proposta Orçamentária (SCPO) (2020).

Infere-se com os dados que os recursos da AE têm aumentando ano a ano, excetuando 2017 quando apresentou decréscimo, o aumento poderia manter relação direta com o número de estudantes, embora o ano de 2017 contradiga isso, se comparado com 2015, portanto, para além da relação, existem fatores inerentes aos recursos disponíveis para

81 _{Desse ponto em diante, os participantes da pesquisa serão identificados por letras e números: Estudantes (E1,}

E2, E3, E4, E5, E6 e E7); Professores (P1 e P2); Técnicos da Assistência Estudantil (TAE1 e TAE2); Gestores (G1 e G2).

consecução das políticas públicas anualmente e as prioridades elencadas. Outra percepção é que o montante de recursos da AE do Campus Cedro já ultrapassa a casa do milhão, esse valor é subdivido para as seguintes rubricas: despesas com atividades esportivas, bolsas de estudo no país e no exterior, material destinado à assistência social e mercadorias para doação. As maiores quantias vão para as bolsas e para os materiais da assistência social, rubricas de onde saem os auxílios específicos e universais, que são o destaque da PAE e se sobressaem em relação aos serviços, mas será que eles são suficientes para atender equitativamente aos discentes? A retenção e a evasão são problemáticas educacionais que devem ser tratadas pela AE, elas aparecerem nas falas dos participantes e na realidade educacional gerando inclusive ações institucionais como o Plano Estratégico do IFCE (IFCE, 2017a), essas problemáticas representam a negatividade da inclusão social proposta na AE82.